Passamos algumas horas na clínica, mas minha mãe passou por uma bateria de exames e saímos de lá com outras consultas agendadas e já deixei todas pagas. Não poderei estar aqui, mas cuidarei de tudo para que ela não perca nenhuma consulta.Agora estávamos no quarto de hotel que eu aluguei. Havia tomado meu banho antes de minha mãe e agora arrumava a cama para que pudéssemos conversar bastante e depois dormir juntinhas, como fazíamos muitas vezes quando eu era mais jovem.— E meu neto, eu quero saber como está meu neto — falou ela ao sair do banho. — Você falou muito dele, mas eu quero ver como ele está.Minha mãe estava ansiosa para ver as fotos de Kayo. Não pude mostrar antes, pois meu celular havia descarregado e deixei carregando um pouco enquanto tomamos nosso banho e arrumamos a cama para dormirmos.— Já deve ter carga o suficiente pra mostrar as fotos do seu neto — falo me virando para a mesa de cabeceira e pegando o aparelho. — Está 25%, dá pra mostrar as fotos. — Minha mãe se s
GabrielEstou encarando o celular há uns trinta minutos e não tenho coragem de mandar mensagem pra Lu. Entrei em seu contato uma dezena de vezes, vi que estava on-line em algumas dessas vezes, mas eu não conseguia mandar mensagem para ela.Estou confuso, meus sentimentos estão em conflito. Principalmente nesse momento que percebi que Luma me afeta agora tanto quanto me afetava há doze anos, quando eu precisei me afastar dela para conseguir viver com sua ausência.Alguém bate na porta do meu quarto. Tento não responder, fingir que não tem ninguém aqui, mas não funciona.— Gabriel, não adianta fingir, eu não estou com pressa. Posso ficar aqui o dia inteiro esperando por você. — Ouço a voz de Rosa e isso me causa arrepios. — Eu sei que você está aí, e vou ficar aqui até abrir essa porta.Bufo, sabendo que ela pode muito bem cumprir a ameaça.Abro a porta de repente e ela quase cai para dentro do quarto, pois estava escorada na porta.— Ai, Gabriel, custa ser mais gentil?— Não é gentil p
Luma— Você encontrou a Rosa? — Minha mãe pergunta levando a xícara até seus lábios.Estávamos fazendo um pequeno lanche antes de levá-la de volta pra casa.— Pois é, mãe. Eu sei que ela não presta, mas sempre fui amiga do irmão dela. Mas depois do que a senhora me disse ontem a noite... eu comecei a pensar em algumas coisas.O bolo de mel da venda do senhor José é o mais delicioso que já comi, por isso fui lá só pra buscar e acabei trombando com a cobra da Rosa. E depois do que minha mãe me revelou ontem a noite, muita coisa começa a se encaixar.— Hum! Esse bolo é uma delícia. — Ela saboreia.— Não pode comer muito, ouviu, mãe. Está medicada, mas não pode abusar.— Só um pedacinho, filha. E o café está amargo. — Ela levou a xícara até a boca. — Mas, filha, você precisa entender que Rafael nunca foi seu amigo. Você poderia ser amiga dele, mas ele gostava de você como mulher e não te queria como amiga.— Mas só de pensar que ele pode ter me prejudicado pra tentar ficar comigo... nossa
GabrielEncaro o telefone em minha mão e leio repetidas vezes a mensagem de Lu. Não sei o que responder, meu sentimento está confuso.“Bom dia, Gabriel, está tudo bem com você?”Essa é a mensagem que leio e releio e não sei como responder.Dor física não sinto, mas há uma ferida em minha alma que não se fecha e com a proximidade de Luma esta ferida volta a se abrir.Decido responder a mensagem, mas a respondo de forma fria:“Bem, obrigado.”Ela saberá que há algo de errado, mas não consigo pensar em mais nada para responder. Não sinto mais a empolgação que eu sentia em falar com a Lu.Rolo a tela de mensagens para visualizar as anteriores e vejo nitidamente a diferença entre elas.Nossa conversa era cheia de emojis bonitinhos, risadas, áudios longos... mas desde que fiquei sabendo que Luma está aqui, eu não consigo... não consigo conversar com a Lu.Bloqueio a tela do telefone antes que ela veja e comece a fazer perguntas. Hoje o dia será cheio e fico agradecido, pois isso tirará Luma
— Gabriel... Gabriel! — Ouço a voz do meu pai estridente em meu ouvido, e acabo voltando a realidade.— Oi, pai... caramba! — levo a mão ao peito, onde meu coração está disparado. — Quer me matar do coração?— Se você não estivesse em outro planeta enquanto falo contigo não precisaria disso.— Eu não estou bem, pai. Preciso tomar um remédio pra dor de cabeça.— Não, você não está doente, não está com dor de cabeça. A sua doença se chama Luma, aquela puta!— Não fale assim dela, pai. Ela me traiu, mas...— Mas o quê? — Ele se levanta de sua cadeira, bravo. A barba grisalha maior que de costume e o seu chapéu de boiadeiro inseparável. — Uma mulher que trai um homem é uma puta. E é isso que ela é.Me levanto também, somente a mesa de madeira antiga nos separa.— Mesmo assim, não quero essa palavra relacionada a ela. — Suspiro, não sei o motivo, mas Lu vem a minha mente. Ela foi abandonada grávida e por falta de opção acabou se tornando uma... mulher da vida. — Eu vou pro currau.— Não te
LumaAntes de pegar a estrada pra casa enviei uma mensagem para Gabriel. Ele sumiu do mapa, não manda mensagem, não liga nem nada. Quando paro na metade do caminho, vejo sua mensagem fria. Ele me respondeu assim. Seria por causa da Rosa? Ele teria descoberto que eu estava na cidade? Que eu estava escondendo a minha verdadeira identidade?Torço para que não. Quero eu mesma contar a ele, quero que ele escute o que eu passei. Meu plano é começar a contar a minha história como Lu, para que ele esteja aberto a ouvir e entender o que passei e esperar que ele comece a juntar os pontos e descubra que a sua ex-namorada sou eu. Mas eu quero que ele descubra por mim.“Gabriel, preciso conversar com você. É sério.”Mando mais uma mensagem e espero que ele visualize, mas as horas passam e nada.Chego na mansão e assim que estaciono o carro, vejo a porta da frente se abrir e um menino de cabelos pretos correr na minha direção. Kayo, meu filho.— Mamãe!Mal me coloco de pé e sou atingida por meu fur
(Capítulo de domingo de manhã já postado)LumaÉ madrugada. Estou no meu sono mais profundo quando o barulho do meu celular me desperta. Quem pode ser a essa hora?Pego o aparelho e vejo a foto de Gabriel na tela. Acho estranho, pois ele foi frio mais cedo.Olho para a cama do outro lado do quarto e meu filho está em sono profundo. Atendo o telefone, falando baixo.— Oi, Gabriel.— Está no meu apartamento?— Não, estou no meu quarto na mansão. Meu filho está dormindo.Viro a tela do celular, talvez ele consiga identificar o abajur aceso.— Eu quero conversar com você, não quero ninguém por perto.Passo a mão no rosto. Estou perdendo a paciência com ele.— Gabriel, você fica em silêncio e me responde friamente. Depois me liga de madrugada e quer que eu o atenda? Olha, me liga amanhã, tá bom. Boa noite.Levo o dedo para cancelar a chamada, mas ele me faz parar.— Descobri tudo.“Tudo? Tudo o quê? Tudo mesmo?” — Me pergunto mentalmente.— E o que tenho a ver com isso?Faço a pergunta ten
GabrielSubi as escadas para avisar meu pai da presença de Ernesto e sua filha Amanda, as pessoas que eu menos esperava e eu tenho a maior surpresa quando menciono a presença dos dois.— Estava esperando por eles, manda entrarem.— O quê?— Está surdo, moleque. Manda entrar.— Mas pai, Ernesto foi seu rival a vida toda, esse homem sempre quis sua fazenda e você nunca aceitou, o que está acontecendo? O que mudou?— A fazenda é minha, Gabriel. Eu sei o que faço.— Não tenho mais tanta certeza quanto a isso. O senhor pode ao menos me falar que tipo de participação ele terá?— Quem é o pai aqui? Vai lá e manda entrar e você pode fazer o que quiser.Bufo de raiva, pois meu pai está me tratando como uma criança. Mas preciso ir com o Rafael ver o que a louca da Rosa arrumou desta vez.— Eu vou, mas isso não vai ficar assim. Eu não sou mais uma criança e os negócios também são meus, tenho direito de saber o que está fazendo. — Ele balança a mão na minha direção como uma sinal de dispensa.Abr