JoãoDias depois, recebo o resultado dos exames e eu mais uma vez consegui boas notas e fui aprovado sem a necessidade de provas finais. Suspiro ao olhar para a tela com a tabela das matérias e a palavra “aprovado” ao lado de cada uma delas. Era para estar festejando, pulando de alegria, pois a cada semestre que cumpro, minha formação está mais próxima.Mas a alegria não me invade. Camila sumiu, e como não obtive uma resposta sua, vou cumprir o que disse e voltar para a roça.Assim que o sistema permitir, vou trancar a faculdade. Essa é mais uma atitude que me dói no peito. Estava gostando dos estudos, da formação, da ideia de ter uma faculdade e trabalhar em uma grande empresa como a do Gabriel. Mas tudo será enterrado por causa dela.Ergo meu corpo da cadeira e pego a mala, começo a colocar as roupas dentro dela.— O que está fazendo, João? — Minha mãe fala ao abrir a porta, me observando fazer as malas. — Vai viajar?— Vou voltar pra roça — respondo decidido.— Vai mesmo fazer essa
CamilaQuase um mês que não vejo o João. Ele me deu um curto espaço de tempo pra pensar. Como vou decidir toda a minha vida em apenas duas semanas? É claro que eu não tinha uma resposta pra dar e ele se mandou pra roça.Converso com Luma pelo aplicativo de mensagens quase todos os dias e ela me disse que ele estava muito triste, mas disposto a cumprir o que prometeu. Ele até pediu demissão do emprego, mas ela me disse que o Gabriel o colocou de férias. Sem João saber, é claro. Assim ele tem um tempo pra pensar e decidir se é isso mesmo que ele quer.Tento afastar João da minha cabeça e me preparar para mais uma noite de trabalho. A maquiagem pesada disfarça a minha tristeza. Não adianta mentir para mim mesma, é fato, estou triste por João ter cumprido o que prometeu.Os cabelos bem cacheados e volumosos destacam bem o meu rosto maquiado; o vestido colado destaca minhas curvas e o salto alto compensa um pouco a minha altura.Chego no salão exalando sensualidade. Me sento no bar com al
CamilaEstou deitada na cama, meio de lado, com a cabeça sobre o colo da minha amiga Luma. Ela está recostada em um monte de travesseiros com os pés para o alto e, enquanto eu reclamo da vida, ela afaga meus cabelos.— Você sabe que corre esse risco, não é? — Luma fala enquanto passeia os dedos delicadamente pelos fios do meu cabelo.— Mas nunca havia acontecido algo assim antes — reclamo.— Não? O que foi aquele ato do Rafael, então? Fez até Nice contratar um segurança pra ficar na porta do lado de fora!— Mas isso é diferente.— A única diferença é que ele tentou me obrigar a subir na cara de pau, na frente de todo mundo. E esse cara foi mais esperto. Te seduziu, te levou pro quarto primeiro, onde você estava totalmente vulnerável.— E ele voltou, ontem! — Pontuo estarrecida, pois não esperava que depois daquilo ele fosse voltar — Teimou com Nice que queria estar comigo novamente, mas eu já tinha informado a ela o que havia acontecido.— O que está esperando pra largar essa vida, Ca
JoãoQuando Camila me ligou dizendo que estava aqui, eu me sentei imediatamente em uma cadeira, pois minhas pernas amoleceram. Não podia ser. Eu fujo da mulher e ela vem atrás de mim.Depois, quando ela disse que havia se decidido, eu senti as pernas amolecerem novamente. Mas também senti que havia algo a mais, algo por trás de sua decisão e eu preciso saber o que é.Combinamos de conversar no quarto onde estou ficando na mansão do meu pai. E agora estamos frente a frente.— Pronto, Camila, agora você pode falar.Ela me encara, coloca um sorriso no rosto e responde, estendendo o braço, vindo na minha direção para me abraçar.— Eu me decidi, meu amor. Escolhi ficar com você.Seguro os seus braços para que ela não me abrace.Era tudo o que eu queria ouvir há até pouco tempo atrás, mas depois de três semanas, essa simples frase esconde algo que ela não quer me contar.— Camila, o que fez você mudar de ideia?— Poxa, João. Eu me despenco até aqui, falo exatamente o que você sempre quis o
JoãoDurante a última semana, peguei o celular várias vezes, mas desisti de ligar ou mandar mensagem pra Camila. Não sei o que fazer.Ela veio até mim, disse o que eu precisava ouvir e agora, o que falta? Sinto que ainda falta algo, mas o quê?— Tá muito esquisito esses dias, moleque?Meu pai me questiona. Estamos sentados à mesa tomando café da manhã. Ainda é muito cedo, o Sol ainda está muito tímido e aquele friozinho da manhã invade a cozinha.A fumaça do café fumegante dança na minha frente.— Quem tá esquisito? — Levo um gole do café até a boca.— Ocê tá esquisito. Só fica encarando esse telefone e não fala nada com ninguém.— Ah, pai...— É aquela moça que esteve aqui, não é? Eu vi como ocê ficou. Fugia da garota como o diabo foge da cruz.— Eu não sabia como agir na frente dela, pai. Por isso ia me refugiar no serviço pesado.Passo manteiga no pão e dou uma mordida.— Nem parece meu fio. — Ele beberica seu café.Antes que eu pudesse responder, meu telefone toca e quando verific
Três anos depoisJoãoPrimeiro ano de casamento. Mal consigo acreditar que estamos completando um ano de casados. Nos casamos dois anos depois que começamos a namorar de verdade e eu não me arrependo nem por um segundo.Estamos com as malas prontas em nosso quarto, mas antes de viajarmos, fomos convidados para um jantar em família na casa de minha mãe. Mas se engana quem acha que ela está morando sozinha naquele apartamento. Aos pouquinhos o senhor Antônio, novo porteiro do condomínio, começou a se aproximar de minha mãe e já tem dois anos que os dois estão de namorico. Gosto de ver a felicidade brilhando em seus olhos como eu nunca vi antes, ela merece ser feliz com alguém que além de amar, saiba respeitar.— Vamos, João. Sua mãe vai reclamar que nos atrasamos — apressa-me minha esposa.— Eu já estou indo, meu amor. Só estava conferindo os documentos.Coloco uma mala sobre a outra e as arrasto pelo quarto até a porta de saída da casa em que moramos. Camila não quis um apartamento, es
LumaA chuva caía e se misturava com minhas lágrimas, molhava meu corpo enquanto soluçava com as mãos sobre meu ventre levemente inchado.“— Sai da minha casa agora, sua vagabunda”As palavras duras de meu pai rondavam minhas lembranças. Nunca imaginei que amar pudesse doer tanto.“— Eu te amo, Gabriel.— Também te amo, meu amor.— E se seus pais não concordarem com nosso namoro? - pergunto insegura.— Então nós fugiremos. Tenho algumas cabeças de gado. Eu sou jovem, mas meu pai já me ensinou muito, posso começar com o que tenho.— Então você me ama de verdade?— É claro que te amo. Jamais permitirei que nossa diferença de classe social nos separe.Meu coração idiota deu um pulo de felicidade e me entreguei a ele.” Gabriel era um rapaz bonito, tinha acabado de fazer dezoito anos e eu uma jovem imbecil e romântica de dezessete.Acreditei que tudo o que ele queria era o meu amor.Há dois meses, quando descobri o resultado de nossa noite de amor, ele pareceu feliz.“— Gabriel, eu preciso
LumaMeu coração dói, minha cabeça dói, tudo dói. Tremo de frio e chego a conclusão que morreremos, meu filho e eu. Sem ter onde recostar a cabeça, sem ter abrigo, acabarei doente e então morreremos. Talvez seja melhor assim.Na verdade, começo a pensar se morrer não seria uma solução. Meu pai se sentiria culpado se descobrisse que me matei logo após ter me abandonado grávida? Gabriel sofreria pelo resto da vida sentindo o peso de sua decisão covarde?Ponho-me de pé realmente considerando me enfiar na frente de um carro... carro não, um caminhão. Um caminhão, sim, poderia acabar com meus sofrimentos em poucos segundos.— Ei, você está bem? — levanto os olhos com os cílios pesados da chuva e vejo um carro parado à minha frente.Era um carro luxuoso e havia uma mulher no volante. Ela tinha o cabelo preto e curto, o batom vermelho destacava-se bastante em sua face.Não respondo a sua pergunta, apenas a encaro. Ela estende o braço e abre a porta do lado do carona.— Entra, sai dessa chuva