Demoramos um pouco para chegar no aeroporto. Como eu disse, moro no fim do mundo e tudo é distante. Ainda bem que me despedi de Michelly no dia anterior. Sei que não vou ver ela durante um tempo. Ou talvez nunca mais. Porém, a gente combinou de se falar pela internet.
— Chegamos.
Olhei para fora da janela do carro. Não era um lugar muito grande e principalmente não tinha cara de aeroporto. Só parecia ser uma pista de pouso. Saí do carro e segui Alessandro, o guarda-costas dele ficou encarregado de pegar as malas. Quando vi no que íamos voar, fiquei paralisada no mesmo lugar.
Era um jato particular! Meu Deus!
— Já voou alguma vez?
— Não.
— Vai gostar — disse sorrindo.
— Vamos para onde?
— Passar uns dias na Itália e depois voltamos.
— Você não mora lá?
— Não. Tenho muitas propriedades. Vamos para lá encontrar meu filho e voltamos em alguns dias.
— Filho? — perguntei engasgada.
Era só o que me faltava! Eu não sei lidar com criança! Elas estão sempre pentelhando e deixando as pessoas loucas! Não tenho paciência para isso! Às vezes, os meus primos mais novos iam visitar a gente na fazenda e eles tratavam de fazer da minha vida um verdadeiro inferno. Mas eu também fazia a deles.
— Vamos. Temos um longo trajeto pela frente.
— Que ótimo — falei desanimada e ele sorriu.
Dormi a maior parte da viagem. Nos momentos que acordava, era por sonhos com crianças se pendurando no pescoço da Teci e eu enlouquecida atrás.
Eu nunca vou querer ter filhos!
— Vamos pousar agora.
— Até que enfim! — falei com as mãos para o ar. Alessandro riu do meu drama.
Descemos do jato e entramos em um carro muito chique. Não entendo de marcas, até porque não ando de carro e sim a cavalo. Ficamos alguns minutos dentro do carro. Eu não aguentava mais! Queria chegar logo! E não pense que estou ansiosa para conhecer o filho dele, ou para ver a casa que sei que deve ser enorme. Estou com pressa, pois quero dormir. Sim, eu dormi a viagem toda, mas isso não quer dizer que ainda não esteja cansada.
O lugar que passávamos agora era muito bonito. O carro estava na estrada reta, parecia não ter fim. Ao lado, o gramado era verde e enorme. Lindo como nunca vi, nem nos terrenos da minha casa, ou ex-casa. Via poucas casas, mas as que tinham eram muito bonitas. Pequenas e arrumadas. Amei esse lugar.
O motorista entrou em uma rua de chão. Mesmo assim ainda era bonito o lugar. Ele parou na última casa, ou será que digo mansão? O lugar era enorme! A casa era perfeita e muito grande. Duas ou três vezes maior do que a que morava com meus pais. Uau!
— Chegamos. — Ofereceu a mão para me ajudar a sair do carro. Segurei a mão dele e continuei olhando o local. Era incrível! Acho que vou gostar de passar uns dias aqui! — Vamos conhecer meu filho agora.
Retiro o que disse.
Entramos na mansão e era tudo tão bem arrumado e bonito. A sala de estar era imensa, lareira, sofás chiques e uma tevê gigante. Perto da lareira tinha um homem parado olhando a gente. Deve ser mais algum empregado do Alessandro. Se bem que não parece usar uniforme ou andar como pinguim como o Marcos (o guarda-costas e motorista).
— Daniela, esse é meu filho, Guilherme. — Apontou para o homem parado ao lado da lareira.
Não consegui me manifestar. Estava chocada demais com a novidade. Meu Deus! Ele tem um filho mais velho do que eu! Que merda! Ele é completamente diferente do pai. É alto, bem encorpado. Tem olhos verdes e cabelo loiro médio espetado. Deve ter enchido o cabelo de gel para ficar daquele jeito...
— Você está brincando, né pai?
Me recompus do transe e olhei o Alessandro.
— Claro que não.
— Ela é uma menina!
Cruzei os braços e amarrei a cara.
— E você acha que eu queria estar aqui?
Os dois me olharam. Alessandro com um meio sorriso e o tal do Guilherme com uma sobrancelha levantada.
— Dá para me explicar isso? — Ele parecia muito aborrecido agora. Se ele não gosta da minha presença, tomara que me mande de volta!
— Eu também gostaria de explicações, afinal, você disse que ia dar e até agora não ouvi — falei olhando Alessandro. Ele deu uma risadinha.
— Eu explico tudo.
— Ótimo! — falei junto com Guilherme e a gente trocou olhares raivosos.
— Preciso me casar novamente para poder manter nossas propriedades.
O olhei com nojo e depois meus olhos correram para Guilherme involuntariamente. Ele estava de braços cruzados olhando na minha direção. Fiquei séria no mesmo momento.
— E o que eu tenho com isso?
— Bem, como seu pai estava procurando um marido para você, encaixou perfeitamente.
— Então você é um pedófilo? — desafiei e vi o Guilherme se aproximar de mim.
— Olha como fala com meu pai!
— Que eu me lembre, estou falando com ele e não com você.
— Parem com isso! — Alessandro brigou. Ele afagou a barriga e passou a mão pelo cabelo, ou o resto que tinha. — É para vocês se darem bem e não entrarem em guerra!
— Me explique melhor então. Esse casamento é como um “negócio”?
— Podemos dizer que sim.
— Por isso disse que posso me divorciar depois?
— Isso.
— Graças a Deus!
Alessandro caiu na gargalhada, me assustando. Olhei Guilherme e vi um vestígio de sorriso, mas ele disfarçou assim que meus olhos estavam sobre ele.
— Você é sempre assim? — Guilherme perguntou.
— Assim como?
— Sem filtro.
— Falo o que quero?
— É.
— Sim.
— Ótimo! — disse irônico e olhou o pai. — Você não podia arrumar pelo menos alguém mais educado?
— Gui! — repreendeu.
— Olha quem fala! O poço de delicadeza! — falei irritada e Alessandro riu.
— Vejo como isso vai ser fácil — falou com ironia.
— Muito — respondi no mesmo tom.
— Bom. Venha comigo. Vou te mostrar a casa.
— Ok.
Segui Alessandro. Quando estávamos saindo da sala, olhei para trás. Guilherme me encarava de braços cruzados. Sorri irônica e ele tentou, mas não conseguiu segurar o sorriso.
Alessandro me mostrou todo o local, era muito grande! E muito bonito. O bom de ser grande é que não tenho que cruzar com o filho marrento e bonitão dele. Que foi? Ele é irritante, mas não vou ser mentirosa. É lindo de morrer! Então não vamos ser falsos aqui.
— Aqui é o seu quarto.
Entrei e reparei tudo. Era duas vezes maior do que o meu e muito bem arrumado. A cama era de casal — coisa que a minha não era —, o armário era enorme e exagerado na minha opinião. E dentro dele tinha um banheiro.
Um banheiro só meu!
— Gostou?
— É muito bonito.
— Que bom. Sente-se e vamos conversar um pouco.
— Tudo bem. — Me sentei na beirada da cama e ele se sentou ao meu lado.
— Sei que essa situação não deve ser nada agradável para você.
— Isso não é um segredo.
Alessandro riu com minha resposta.
— Eu sei. Mas veja bem, como é um "negócio" como você mesma disse, não precisamos ser marido e mulher de verdade. Você entende?
— Ainda bem! Essa era a parte que mais me preocupava.
— Não vou fazer isso com você, menina. Poderia me aproveitar da situação, mas não vou fazer isso.
— Obrigada.
Ele sorriu e várias rugas apareceram em seu rosto.
— Você pode ter sua vida normalmente, entendeu? Só não quero que seja vista com ninguém por aí.
— Como assim?
— Pode namorar se quiser. Não estou te prendendo, até porque isso não é bem um matrimônio, não para nós dois.
— Está dizendo que posso ficar com outras pessoas se eu quiser? — perguntei perplexa.
— Exatamente. Não vou te privar de viver sua juventude por um desejo estranho de seu pai.
— Estou começando a gostar de você, sabia?
A gargalhada foi alta e me fez rir junto.
— Tenho certeza de que vamos nos dar bem, menina Daniela.
— Se você não mudar de ideia quanto ao que disse agora, também acho que vamos nos dar bem.
— Vou deixar você descansar agora. Se quiser, pode dar uma volta pelo lugar, mas cuidado para não se perder!
— Obrigada.
Alessandro saiu do quarto e eu continuei no mesmo lugar ainda anestesiada sobre o que ouvi.
Isso é muito esquisito!
No dia seguinte, acordei com alguém batendo na porta. Abri e era uma mulher. Era baixinha como Alessandro, porém pele morena e cabelos cacheados. Tinha um sorriso amigável no rosto.— Bom dia, senhorita! Meu nome é Maria e eu sou a cozinheira.— Prazer, Maria.— Vamos descer para tomar café da manhã? Os patrões já estão sentados à mesa.— Desço em dois minutos.— Tudo bem.Ela saiu dali e eu troquei de roupa. Segui até a sala de jantar e quando cheguei, os dois estavam sentados e a mesa estava lotada de comida. O que eu achei um exagero já que pelo visto só nós três que vamos comer.— Bom dia, menina! Sente-se.— Bom dia.— Gui... — Alessandro o olhou sugestivo. Ele revirou os olhos.— Bom dia.— E eu que sou a sem educação — resmunguei alto o suficiente para ele ouvir. Guilherme me encarou com o rosto sério. É impressão minha ou ele está mais bonito hoje?— Dormiu bem? — Alessandro perguntou.— Sim. Obrigada. Eu queria saber uma coisa...— O que?— Como vai buscar a Teci?— O que é Te
Cometa cheirou meu cabelo me fazendo rir. Isso sempre faz cócegas.— Você está muito nervoso. Sabia que os cavalos sentem isso?— Sim, mas ele...— Ele gostou de mim. Pode morrer de ciúmes agora!Guilherme riu quando falei isso e eu sorri.— É a primeira.— Segunda, ele já gosta de você. Não dá para entender isso, mas tudo bem.— Você é implicante mesmo hein!?— Ainda não viu nada — falei sorrindo e ele sorriu. Sorrindo é mais bonito ainda... Para com isso, Daniela! Que droga! Foco no cavalo!— Vou te mostrar o resto.— Tudo bem.Segui Guilherme e ele mostrou os outros cavalos e o lugar onde eles passeiam e pastam. Paramos e ficamos observando o enorme lugar. Subi na cerca e me sentei para observar melhor. Senti que ele me encarava e olhei para o lado. Tinha uma sobrancelha levantada.— O que? Que droga! Por que fica me encarando tanto?— Não é nada demais. — Deu de ombros.— E o que é então?— Você parece bem mais à vontade aqui fora.— E estou mesmo — falei olhando o horizonte.Guilh
Acordei com alguém batendo na porta. Levantei e abri, em seguida, arregalei os olhos ao ver Guilherme ali. Ele sorriu debochado me olhando.Merda! Devo estar igual a uma bruxa!— Resolvi deixar você montá-lo.— Jura? — Sorri largamente e o sorriso dele aumentou.— Sim, mas eu vou ficar do lado.Revirei os olhos.— Quer colocar rodinhas também? — perguntei cínica e ele soltou uma risada.— Você é terrível, garota!Desviei o olhar.— Posso trocar de roupa ou quer que eu vá descabelada mesmo? — Se você quiser espantá-lo, pode ir assim mesmo.O encarei com fúria.— Vou tomar café da manhã. Te espero lá embaixo.— Tá. — Fechei a porta na cara dele e respirei fundo. Consegui ouvir sua risada e logo ficou silêncio do lado de fora.Troquei de roupa e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Ele estava mesmo rebelde hoje. Assim que cheguei à sala de jantar, vi que só Guilherme estava sentado.— Cadê seu pai?— Teve que sair cedo hoje.— Hum...Me sentei na cadeira em frente a dele e peguei o qu
— Só?— Achou que eu era mais velho?— Na verdade, sim.— E você, tem quinze?— Eu não pareço ter quinze anos! — Fiz careta.— Às vezes, parece.— E você parece ter noventa! — falei irritada.— Por que? — Franziu a testa.— Porque tem momentos que parece um velho resmungão!Guilherme caiu na gargalhada e eu resmunguei contrariada.— Vai querer ir comigo ou não?— Sim.— Então, vamos.Seguimos de volta para a mansão e cada um foi para o seu quarto. E agora eis o dilema: Com que roupa eu vou? Ele disse que é uma lanchonete. Ah! Pode ser qualquer coisa. Fui até a minha mala e procurei algo. Que foi? Eu não vou desfazer a mala se vamos embora daqui uns dias. Encontrei um vestido simples e fiquei encarando-o. Que dúvida... Parei de pensar em roupa e segui até o banheiro. Tomei um banho demorado. Amo água!Então depois do banho coloquei aquele vestido mesmo. Era de cor azul e bem simples. Tinha alça fina e era acima do joelho. Tenho que lembrar de não sentar igual moleque...Penteei meu cabe
Assim que a música começou, as pessoas gritaram incentivando. Que merda! A música era da Taylor Swift, Blank space.Eu comecei a música e ele fez tipo uma segunda voz. Meu pai me obrigou a estudar inglês e sei do que se trata o que estou falando. As pessoas gritavam empolgadas. O amigo de Guilherme parou até de cantar e ficou me olhando com um sorrindo. Continuei sozinha e cantando naturalmente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.Sim, eu canto bem. Michelly disse que eu deveria ser vocalista de uma banda, mas eu não ligo para isso.Olhei para a mesa de Guilherme agora e ele tinha a boca aberta me olhando. Dei uma risada e acompanhei a letra passando na tevê. Todos estavam em pé e agitados agora. A música acabou e todos aplaudiram. Ao mesmo tempo que ria da cara do Guilherme e do amigo dele, eu estava com vergonha. Tinha muita gente ali...— Você sabia que ia arrasar, por isso aceitou! — Me acusou. — Uau, é a primeira vez que alguém arrasa aqui.— Não exagera! — falei descendo d
Maria veio de novo me acordar e chamar para o café da manhã. Desci para comer e os dois estavam sentados à mesa. Sempre sou a última a chegar...— Bom dia, menina! — Alessandro disse alegre.— Bom dia.— Bom dia, Daniela.Olhei para o Guilherme e engoli uma ofensa. Sorri falsamente.— Bom dia.— O que vão fazer hoje? É o último dia aqui. Vamos voltar à noite.— Vamos voltar antes? — disse Guilherme.— Sim.— Teci já está na sua casa?Alessandro sorriu.— Sim. Ela é meio bravinha, não é?— É sim. — Dei uma risada.— Dizem que os animais se parecem com os donos... — Guilherme murmurou e bebeu seu café.— Por isso você disse que o Cometa é antissocial, não é? — perguntei, cínica.— Ele não é antissocial. É indomesticado.— Dá no mesmo. Ele não respeita as pessoas — falei amarga e ele me encarou sério. Deve ter entendido o duplo sentido no que eu disse.— Vocês não vão parar com isso nunca? — Alessandro perguntou com uma sobrancelha levantada. — Por Deus! Vamos começar a se entender melhor
— Chegamos.Quebrei o olhar quando Marcos falou isso. Entramos no jato e ficamos esperando Alessandro aparecer. Como não estava dando ideia para Guilherme, peguei meu celular e coloquei os fones de ouvido. Sentia que ele estava me olhando, mas ignorei e fingi que ele nem estava ali.A demora foi grande. Eu já estava cansada antes mesmo de começar a viagem.Olhei o Guilherme finalmente e ele estava sorrindo, olhando na minha direção. Franzi a testa. Que diabos? Ele deve ser maluco! Guilherme fez sinal para eu tirar os fones. Tirei um deles e esperei o que ele ia falar.— Você realmente canta muito bem.Desviei o olhar e senti meu rosto esquentar levemente. Maldição! Estava cantando junto com a música que tocava em meu celular e nem percebi! Mas eu não consigo evitar quando essa música toca. Continuei cantando, ignorando o homem que estava me comendo com os olhos. A música é da Jessie J — Flashlight.Alessandro entrou no jato e eu parei no mesmo instante. Tirei os fones de ouvido.— Desc
Acordei com o celular despertando e resmunguei. Os únicos dias em que posso dormir até tarde, são nas minhas férias e eu vejo isso como um prêmio e não posso perder. Não a oportunidade de dormir, mas hoje tenho uma coisa boa para fazer! Troquei de roupa e prendi meu cabelo em rabo de cavalo. Sempre fazia isso quando ele estava rebelde ou quando ia ficar no estábulo, ou seja, sempre. Meu cabelo é um espécime estranho... Às vezes está bom, às vezes está lambido, como se uma vaca tivesse passado a língua e deixado ele colado ao couro cabeludo. Isso tudo por ser liso demais.Fui até a cozinha e Guilherme já estava lá. A cozinha era muito grande e bonita.— Bom dia! — disse sorrindo.— Bom dia.Maria apareceu e sorriu ao me ver.— Bom dia, menina!— Bom dia — falei sorrindo.— Fiz um bolinho delicioso!— Aposto que sim. — Ela sorriu. Comi o bolo e suspirei. — Só conheço uma pessoa que cozinha tão bem quanto você.— É mesmo? Quem é?— A Maria. Ela trabalha para os meus pais... — Desviei o ol