4º Capítulo

Demoramos um pouco para chegar no aeroporto. Como eu disse, moro no fim do mundo e tudo é distante. Ainda bem que me despedi de Michelly no dia anterior. Sei que não vou ver ela durante um tempo. Ou talvez nunca mais. Porém, a gente combinou de se falar pela internet.

— Chegamos.

Olhei para fora da janela do carro. Não era um lugar muito grande e principalmente não tinha cara de aeroporto. Só parecia ser uma pista de pouso. Saí do carro e segui Alessandro, o guarda-costas dele ficou encarregado de pegar as malas. Quando vi no que íamos voar, fiquei paralisada no mesmo lugar.

Era um jato particular! Meu Deus!

— Já voou alguma vez?

— Não.

— Vai gostar — disse sorrindo.

— Vamos para onde?

— Passar uns dias na Itália e depois voltamos.

— Você não mora lá?

— Não. Tenho muitas propriedades. Vamos para lá encontrar meu filho e voltamos em alguns dias.

— Filho? — perguntei engasgada.

Era só o que me faltava! Eu não sei lidar com criança! Elas estão sempre pentelhando e deixando as pessoas loucas! Não tenho paciência para isso! Às vezes, os meus primos mais novos iam visitar a gente na fazenda e eles tratavam de fazer da minha vida um verdadeiro inferno. Mas eu também fazia a deles.

— Vamos. Temos um longo trajeto pela frente.

— Que ótimo — falei desanimada e ele sorriu.

Dormi a maior parte da viagem. Nos momentos que acordava, era por sonhos com crianças se pendurando no pescoço da Teci e eu enlouquecida atrás.

Eu nunca vou querer ter filhos!

— Vamos pousar agora.

— Até que enfim! — falei com as mãos para o ar. Alessandro riu do meu drama.

Descemos do jato e entramos em um carro muito chique. Não entendo de marcas, até porque não ando de carro e sim a cavalo. Ficamos alguns minutos dentro do carro. Eu não aguentava mais! Queria chegar logo! E não pense que estou ansiosa para conhecer o filho dele, ou para ver a casa que sei que deve ser enorme. Estou com pressa, pois quero dormir. Sim, eu dormi a viagem toda, mas isso não quer dizer que ainda não esteja cansada.

O lugar que passávamos agora era muito bonito. O carro estava na estrada reta, parecia não ter fim. Ao lado, o gramado era verde e enorme. Lindo como nunca vi, nem nos terrenos da minha casa, ou ex-casa. Via poucas casas, mas as que tinham eram muito bonitas. Pequenas e arrumadas. Amei esse lugar.

O motorista entrou em uma rua de chão. Mesmo assim ainda era bonito o lugar. Ele parou na última casa, ou será que digo mansão? O lugar era enorme! A casa era perfeita e muito grande. Duas ou três vezes maior do que a que morava com meus pais. Uau!

— Chegamos. — Ofereceu a mão para me ajudar a sair do carro. Segurei a mão dele e continuei olhando o local. Era incrível! Acho que vou gostar de passar uns dias aqui! — Vamos conhecer meu filho agora.

Retiro o que disse.

Entramos na mansão e era tudo tão bem arrumado e bonito. A sala de estar era imensa, lareira, sofás chiques e uma tevê gigante. Perto da lareira tinha um homem parado olhando a gente. Deve ser mais algum empregado do Alessandro. Se bem que não parece usar uniforme ou andar como pinguim como o Marcos (o guarda-costas e motorista).

— Daniela, esse é meu filho, Guilherme. — Apontou para o homem parado ao lado da lareira.

Não consegui me manifestar. Estava chocada demais com a novidade. Meu Deus! Ele tem um filho mais velho do que eu! Que merda! Ele é completamente diferente do pai. É alto, bem encorpado. Tem olhos verdes e cabelo loiro médio espetado. Deve ter enchido o cabelo de gel para ficar daquele jeito...

— Você está brincando, né pai?

Me recompus do transe e olhei o Alessandro.

— Claro que não.

— Ela é uma menina!

Cruzei os braços e amarrei a cara.

— E você acha que eu queria estar aqui?

Os dois me olharam. Alessandro com um meio sorriso e o tal do Guilherme com uma sobrancelha levantada.

— Dá para me explicar isso? — Ele parecia muito aborrecido agora. Se ele não gosta da minha presença, tomara que me mande de volta!

— Eu também gostaria de explicações, afinal, você disse que ia dar e até agora não ouvi — falei olhando Alessandro. Ele deu uma risadinha.

— Eu explico tudo.

— Ótimo! — falei junto com Guilherme e a gente trocou olhares raivosos.

 — Preciso me casar novamente para poder manter nossas propriedades.

O olhei com nojo e depois meus olhos correram para Guilherme involuntariamente. Ele estava de braços cruzados olhando na minha direção. Fiquei séria no mesmo momento.

— E o que eu tenho com isso?

— Bem, como seu pai estava procurando um marido para você, encaixou perfeitamente.

— Então você é um pedófilo? — desafiei e vi o Guilherme se aproximar de mim.

— Olha como fala com meu pai!

— Que eu me lembre, estou falando com ele e não com você.

— Parem com isso! — Alessandro brigou. Ele afagou a barriga e passou a mão pelo cabelo, ou o resto que tinha. —  É para vocês se darem bem e não entrarem em guerra!

— Me explique melhor então. Esse casamento é como um “negócio”?

— Podemos dizer que sim.

— Por isso disse que posso me divorciar depois?

— Isso.

— Graças a Deus!

Alessandro caiu na gargalhada, me assustando. Olhei Guilherme e vi um vestígio de sorriso, mas ele disfarçou assim que meus olhos estavam sobre ele.

— Você é sempre assim? — Guilherme perguntou.

— Assim como?

— Sem filtro.

— Falo o que quero?

— É.

— Sim.

— Ótimo! — disse irônico e olhou o pai. — Você não podia arrumar pelo menos alguém mais educado?

— Gui! — repreendeu.

— Olha quem fala! O poço de delicadeza! — falei irritada e Alessandro riu.

— Vejo como isso vai ser fácil — falou com ironia.

— Muito — respondi no mesmo tom.

— Bom. Venha comigo. Vou te mostrar a casa.

— Ok.

Segui Alessandro. Quando estávamos saindo da sala, olhei para trás. Guilherme me encarava de braços cruzados. Sorri irônica e ele tentou, mas não conseguiu segurar o sorriso.

Alessandro me mostrou todo o local, era muito grande! E muito bonito. O bom de ser grande é que não tenho que cruzar com o filho marrento e bonitão dele. Que foi? Ele é irritante, mas não vou ser mentirosa. É lindo de morrer! Então não vamos ser falsos aqui.

— Aqui é o seu quarto.

Entrei e reparei tudo. Era duas vezes maior do que o meu e muito bem arrumado. A cama era de casal — coisa que a minha não era —, o armário era enorme e exagerado na minha opinião. E dentro dele tinha um banheiro.

Um banheiro só meu!

— Gostou?

— É muito bonito.

— Que bom. Sente-se e vamos conversar um pouco.

— Tudo bem. — Me sentei na beirada da cama e ele se sentou ao meu lado.

— Sei que essa situação não deve ser nada agradável para você.

— Isso não é um segredo.

Alessandro riu com minha resposta.

— Eu sei. Mas veja bem, como é um "negócio" como você mesma disse, não precisamos ser marido e mulher de verdade. Você entende?

— Ainda bem! Essa era a parte que mais me preocupava.

— Não vou fazer isso com você, menina. Poderia me aproveitar da situação, mas não vou fazer isso.

— Obrigada.

Ele sorriu e várias rugas apareceram em seu rosto.

— Você pode ter sua vida normalmente, entendeu? Só não quero que seja vista com ninguém por aí.

— Como assim?

— Pode namorar se quiser. Não estou te prendendo, até porque isso não é bem um matrimônio, não para nós dois.

— Está dizendo que posso ficar com outras pessoas se eu quiser? — perguntei perplexa.

— Exatamente. Não vou te privar de viver sua juventude por um desejo estranho de seu pai.

— Estou começando a gostar de você, sabia?

A gargalhada foi alta e me fez rir junto.

— Tenho certeza de que vamos nos dar bem, menina Daniela.

— Se você não mudar de ideia quanto ao que disse agora, também acho que vamos nos dar bem.

— Vou deixar você descansar agora. Se quiser, pode dar uma volta pelo lugar, mas cuidado para não se perder!

— Obrigada.

Alessandro saiu do quarto e eu continuei no mesmo lugar ainda anestesiada sobre o que ouvi.

Isso é muito esquisito!

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