A semana passou rápido demais para o meu gosto. Era o maldito dia que o baixinho voltaria aqui e ainda não tenho certeza para que. Isso ao mesmo tempo que me irrita, me deixa muito nervosa e ansiosa. Meu pai não fala nada! Absolutamente nada! Nem para me dizer o que ele vem fazer, se já está certo ou não essa merda que ele inventou. Que droga!
— Ele chegou — disse Maria.
Estava sentada no chão do estábulo. Não queria aparecer em casa, mas claro que eu não tinha opção.
— Eu tenho que ir agora?
— Seu pai disse para te chamar, querida.
— Diga que já vou.
Maria saiu dali e eu encostei na parede e suspirei profundamente. Queria tanto que minha vida fosse minha! Mas o que posso fazer contra isso? Se não dependesse dos meus pais, poderia sumir daqui.
Talvez seja uma boa ideia ir com esse cara. Ele mora na cidade grande e lá posso arrumar um trabalho, sei lá! Qualquer coisa que me dê liberdade e total controle da minha própria vida.
Me levantei sem vontade e passei a mão na calça, limpando a sujeira por ter sentado no chão. Segui lentamente até a casa e quando entrei, meu pai se aproximou e me levou até o homem baixinho. Ele sorriu para mim.
— Olá, Daniela.
— Oi — respondi sem vontade.
— Seu pai estava me falando um pouco de você.
— Aposto que não foram elogios.
O homem riu e meu pai me lançou um olhar severo.
— Na verdade, estava falando sobre sua paixão por cavalos.
— Ah...
— Estava no estábulo? — Me olhou de cima para baixo. Olhei também e vi um pedaço de feno agarrado na calça.
— Sim. Eu passo o dia todo lá.
— É bom saber que gosta.
— É? Por quê?
— Tenho um Haras.
Fiquei em silêncio olhando o homem, que sorria largamente. Olhei meu pai e ele estava com cara de paisagem. Talvez essa notícia não tenha agradado ele.
— Já que meu pai adora guardar segredos de mim... — Não ousei olhar meu pai agora, pois sei que se pudesse, me matava com o olhar. — Posso perguntar o que vocês dois combinaram a meu respeito?
O baixinho olhou meu pai com a testa franzida.
— Não contou a ela?
— Não.
— Bom. Eu vim te buscar.
Desviei o olhar.
— Posso saber pra quê?
— Seu pai disse que está cuidando de seu futuro e quer que se case com alguém de confiança.
— Você acha isso normal?
— Daniela! — meu pai repreendeu.
— Deixe a menina falar — disse o baixinho.
— Acha normal ele querer escolher isso pra mim nos tempos de hoje?
— Confesso que é um pouco arcaico isso, mas também necessário.
— Necessário?
— Sim. Tanto para sua família, quanto para a minha.
— O que isso quer dizer?
— Essa parte não é importante para você.
— Então qual é?
— Você está noiva.
— Contra vontade.
— Fique calma. Depois que tudo for resolvido, você pode se divorciar se quiser.
— É mesmo? E o que tem que ser resolvido?
— Já disse que isso não importa para você.
— Mas não entendo... Se posso me divorciar depois, que droga de futuro é esse?
— Daniela! Fale direito! — meu pai brigou.
Dei de ombros e o baixinho riu.
— Eu explico para você depois.
— Posso levar a Teci?
— Está pedindo demais, Daniela! — meu pai falou estressado.
— Eu não posso deixá-la aqui! Vai entrar em depressão! — falei nervosa.
— Ela é uma égua, não entra em depressão.
— E você é especialista agora? É veterinário? — perguntei furiosa. Meu pai começou o olhar intimidador e eu mordi a língua.
— Claro que pode levar a égua.
Olhei o homem com surpresa.
— Jura?
— É claro! Eu vi acontecer depressão em cavalos que eram apaixonados pelo dono. Se essa égua é assim tão importante para você, com certeza você é muito importante para ela.
— Eu agradeço! Não sei o que seria dela sem mim.
— Vou preparar tudo para levá-la. — Ele sorriu.
— Hoje?
O homem riu longamente.
— Não sabia que ia levar a égua. Seu pai não me disse que tinham essa afinidade. Mas assim que chegarmos, vou providenciar para que a busquem.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, menina.
Disse bem: menina. Ele deve ser uns quarenta anos mais velho do que eu! Será que só eu acho isso absurdamente errado?
— Arrume suas coisas, Daniela — meu pai mandou.
— Tudo bem.
Segui para o meu quarto. Minha mãe e Maria estavam nele. Duas malas grandes estavam em cima da cama e elas arrumavam minhas coisas dentro delas.
— Alguma de vocês sabe para onde vou?
— Sr. Alessandro tem uma casa na Itália.
Fiquei de boca aberta um longo momento. Elas não pararam de arrumar as coisas, mesmo com minha cara de horror.
— O que?
— Você vai para a Itália, minha filha. Só não sei se vai morar lá ou passar uns dias.
— Mas eu não vou mais ver vocês? — perguntei chateada. — Espera! Como ele vai levar a Teci para lá?
— Ele é um homem rico. Vai dar um jeito.
Pelo menos ele vai levá-la. Isso que importa.
Os ajudantes ou empregados do Alessandro levavam minhas coisas para o carro enquanto me despedia dos meus pais e de Maria.
— Se cuide, minha filha.
— Será que vou poder ver vocês?
— Sempre que quiser — respondeu Alessandro.
— Não seja tão melodramática, Daniela — meu pai resmungou.
— Se você não tem coração, eu tenho! — respondi de mau humor. Meu pai ia iniciar uma discussão, mas minha mãe o impediu:
— Ela está de partida.
— Tudo bem. Tem razão.
— Sempre que puder, vou entrar em contato, mãe — falei ignorando meu pai.
— Vá com Deus, minha filha.
— Obrigada. Fique com ele.
— Vamos? — perguntou o baixinho.
Respirei fundo e segui o baixinho para fora da casa. Antes de entrar no carro, observei a casa e o estábulo. Todo o terreno por onde corria quando queria me sentir livre. Será que terei um lugar parecido para fugir?
Meus pais e Maria estavam na varanda. As duas choravam e meu pai como sempre, indiferente. Entrei no carro, me sentando no banco de trás. O baixinho se sentou no banco da frente e o motorista começou a sair com o carro. Continuei olhando para trás deixando a imagem de minha casa na mente. Não sei o que será de mim nos próximos meses e mesmo tendo planos para me livrar disso, tenho medo de que dê tudo errado. E ainda estou confusa quanto ao que ele disse sobre divórcio.
Será que vou poder me livrar disso em um futuro próximo?
Demoramos um pouco para chegar no aeroporto. Como eu disse, moro no fim do mundo e tudo é distante. Ainda bem que me despedi de Michelly no dia anterior. Sei que não vou ver ela durante um tempo. Ou talvez nunca mais. Porém, a gente combinou de se falar pela internet.— Chegamos.Olhei para fora da janela do carro. Não era um lugar muito grande e principalmente não tinha cara de aeroporto. Só parecia ser uma pista de pouso. Saí do carro e segui Alessandro, o guarda-costas dele ficou encarregado de pegar as malas. Quando vi no que íamos voar, fiquei paralisada no mesmo lugar.Era um jato particular! Meu Deus!— Já voou alguma vez?— Não.— Vai gostar — disse sorrindo.— Vamos para onde?— Passar uns dias na Itália e depois voltamos.— Você não mora lá?— Não. Tenho muitas propriedades. Vamos para lá encontrar meu filho e voltamos em alguns dias.— Filho? — perguntei engasgada.Era só o que me faltava! Eu não sei lidar com criança! Elas estão sempre pentelhando e deixando as pessoas louc
No dia seguinte, acordei com alguém batendo na porta. Abri e era uma mulher. Era baixinha como Alessandro, porém pele morena e cabelos cacheados. Tinha um sorriso amigável no rosto.— Bom dia, senhorita! Meu nome é Maria e eu sou a cozinheira.— Prazer, Maria.— Vamos descer para tomar café da manhã? Os patrões já estão sentados à mesa.— Desço em dois minutos.— Tudo bem.Ela saiu dali e eu troquei de roupa. Segui até a sala de jantar e quando cheguei, os dois estavam sentados e a mesa estava lotada de comida. O que eu achei um exagero já que pelo visto só nós três que vamos comer.— Bom dia, menina! Sente-se.— Bom dia.— Gui... — Alessandro o olhou sugestivo. Ele revirou os olhos.— Bom dia.— E eu que sou a sem educação — resmunguei alto o suficiente para ele ouvir. Guilherme me encarou com o rosto sério. É impressão minha ou ele está mais bonito hoje?— Dormiu bem? — Alessandro perguntou.— Sim. Obrigada. Eu queria saber uma coisa...— O que?— Como vai buscar a Teci?— O que é Te
Cometa cheirou meu cabelo me fazendo rir. Isso sempre faz cócegas.— Você está muito nervoso. Sabia que os cavalos sentem isso?— Sim, mas ele...— Ele gostou de mim. Pode morrer de ciúmes agora!Guilherme riu quando falei isso e eu sorri.— É a primeira.— Segunda, ele já gosta de você. Não dá para entender isso, mas tudo bem.— Você é implicante mesmo hein!?— Ainda não viu nada — falei sorrindo e ele sorriu. Sorrindo é mais bonito ainda... Para com isso, Daniela! Que droga! Foco no cavalo!— Vou te mostrar o resto.— Tudo bem.Segui Guilherme e ele mostrou os outros cavalos e o lugar onde eles passeiam e pastam. Paramos e ficamos observando o enorme lugar. Subi na cerca e me sentei para observar melhor. Senti que ele me encarava e olhei para o lado. Tinha uma sobrancelha levantada.— O que? Que droga! Por que fica me encarando tanto?— Não é nada demais. — Deu de ombros.— E o que é então?— Você parece bem mais à vontade aqui fora.— E estou mesmo — falei olhando o horizonte.Guilh
Acordei com alguém batendo na porta. Levantei e abri, em seguida, arregalei os olhos ao ver Guilherme ali. Ele sorriu debochado me olhando.Merda! Devo estar igual a uma bruxa!— Resolvi deixar você montá-lo.— Jura? — Sorri largamente e o sorriso dele aumentou.— Sim, mas eu vou ficar do lado.Revirei os olhos.— Quer colocar rodinhas também? — perguntei cínica e ele soltou uma risada.— Você é terrível, garota!Desviei o olhar.— Posso trocar de roupa ou quer que eu vá descabelada mesmo? — Se você quiser espantá-lo, pode ir assim mesmo.O encarei com fúria.— Vou tomar café da manhã. Te espero lá embaixo.— Tá. — Fechei a porta na cara dele e respirei fundo. Consegui ouvir sua risada e logo ficou silêncio do lado de fora.Troquei de roupa e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Ele estava mesmo rebelde hoje. Assim que cheguei à sala de jantar, vi que só Guilherme estava sentado.— Cadê seu pai?— Teve que sair cedo hoje.— Hum...Me sentei na cadeira em frente a dele e peguei o qu
— Só?— Achou que eu era mais velho?— Na verdade, sim.— E você, tem quinze?— Eu não pareço ter quinze anos! — Fiz careta.— Às vezes, parece.— E você parece ter noventa! — falei irritada.— Por que? — Franziu a testa.— Porque tem momentos que parece um velho resmungão!Guilherme caiu na gargalhada e eu resmunguei contrariada.— Vai querer ir comigo ou não?— Sim.— Então, vamos.Seguimos de volta para a mansão e cada um foi para o seu quarto. E agora eis o dilema: Com que roupa eu vou? Ele disse que é uma lanchonete. Ah! Pode ser qualquer coisa. Fui até a minha mala e procurei algo. Que foi? Eu não vou desfazer a mala se vamos embora daqui uns dias. Encontrei um vestido simples e fiquei encarando-o. Que dúvida... Parei de pensar em roupa e segui até o banheiro. Tomei um banho demorado. Amo água!Então depois do banho coloquei aquele vestido mesmo. Era de cor azul e bem simples. Tinha alça fina e era acima do joelho. Tenho que lembrar de não sentar igual moleque...Penteei meu cabe
Assim que a música começou, as pessoas gritaram incentivando. Que merda! A música era da Taylor Swift, Blank space.Eu comecei a música e ele fez tipo uma segunda voz. Meu pai me obrigou a estudar inglês e sei do que se trata o que estou falando. As pessoas gritavam empolgadas. O amigo de Guilherme parou até de cantar e ficou me olhando com um sorrindo. Continuei sozinha e cantando naturalmente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.Sim, eu canto bem. Michelly disse que eu deveria ser vocalista de uma banda, mas eu não ligo para isso.Olhei para a mesa de Guilherme agora e ele tinha a boca aberta me olhando. Dei uma risada e acompanhei a letra passando na tevê. Todos estavam em pé e agitados agora. A música acabou e todos aplaudiram. Ao mesmo tempo que ria da cara do Guilherme e do amigo dele, eu estava com vergonha. Tinha muita gente ali...— Você sabia que ia arrasar, por isso aceitou! — Me acusou. — Uau, é a primeira vez que alguém arrasa aqui.— Não exagera! — falei descendo d
Maria veio de novo me acordar e chamar para o café da manhã. Desci para comer e os dois estavam sentados à mesa. Sempre sou a última a chegar...— Bom dia, menina! — Alessandro disse alegre.— Bom dia.— Bom dia, Daniela.Olhei para o Guilherme e engoli uma ofensa. Sorri falsamente.— Bom dia.— O que vão fazer hoje? É o último dia aqui. Vamos voltar à noite.— Vamos voltar antes? — disse Guilherme.— Sim.— Teci já está na sua casa?Alessandro sorriu.— Sim. Ela é meio bravinha, não é?— É sim. — Dei uma risada.— Dizem que os animais se parecem com os donos... — Guilherme murmurou e bebeu seu café.— Por isso você disse que o Cometa é antissocial, não é? — perguntei, cínica.— Ele não é antissocial. É indomesticado.— Dá no mesmo. Ele não respeita as pessoas — falei amarga e ele me encarou sério. Deve ter entendido o duplo sentido no que eu disse.— Vocês não vão parar com isso nunca? — Alessandro perguntou com uma sobrancelha levantada. — Por Deus! Vamos começar a se entender melhor
— Chegamos.Quebrei o olhar quando Marcos falou isso. Entramos no jato e ficamos esperando Alessandro aparecer. Como não estava dando ideia para Guilherme, peguei meu celular e coloquei os fones de ouvido. Sentia que ele estava me olhando, mas ignorei e fingi que ele nem estava ali.A demora foi grande. Eu já estava cansada antes mesmo de começar a viagem.Olhei o Guilherme finalmente e ele estava sorrindo, olhando na minha direção. Franzi a testa. Que diabos? Ele deve ser maluco! Guilherme fez sinal para eu tirar os fones. Tirei um deles e esperei o que ele ia falar.— Você realmente canta muito bem.Desviei o olhar e senti meu rosto esquentar levemente. Maldição! Estava cantando junto com a música que tocava em meu celular e nem percebi! Mas eu não consigo evitar quando essa música toca. Continuei cantando, ignorando o homem que estava me comendo com os olhos. A música é da Jessie J — Flashlight.Alessandro entrou no jato e eu parei no mesmo instante. Tirei os fones de ouvido.— Desc