Me levantei bem cedo. Estava muito ansiosa. Quase não dormi direito. Finalmente meu pai ia me deixar começar a treinar salto com o Relâmpago. Foi uma discussão de meses, mas finalmente ele deixou, porém vai ficar do meu lado o tempo inteiro. Minha mãe disse que ele fez isso com ela também, mas depois de um tempo, começou a confiar. Só que parece que comigo ele nunca vai confiar. Não entendo o porquê disso. Eu e o Relâmpago nos damos muito bem.Estava sentada no sofá e esperava ele aparecer. Por que demora tanto?— Já está pronta?Olhei para trás e meu pai me encarou de braços cruzados.— Combinamos as oito.— Sim e são sete.— Ah... meu relógio deve estar errado...— Sei — falou descrente.— Mas eu espero.Ele balançou a cabeça em negação e voltou para o quarto. Ainda estava de pijama. Sei que não está na hora ainda, mas estou tão ansiosa! Minutos depois ele apareceu com outra roupa.— Vamos tomar café pelo menos.Respirei fundo e segui ele para a cozinha. Comi o mais rápido que conseg
Alguns meses se passaram depois que comecei a treinar. Agora meu pai — finalmente — me deixou saltar os mais altos, mas ficava o tempo inteiro perto e olhando cada movimento errado que eu fazia. E não, não eram os maiores obstáculos. Ele disse que isso leva tempo e para parar de ser teimosa. Essa teimosia irritava nós dois. A teimosia dele em persistir no mesmo lugar, sendo que eu já era capaz de ir adiante e a minha de insistir para aumentar. No fim ele ficava bravo e me levava embora para casa.Quando contava isso para minha mãe, ela ria de mim e isso também me deixava irritada. Será que eles não entendem que não tenho mais cinco anos? Mas também tinha um lado bom nisso tudo... Às vezes meu pai não podia ficar e deixava o Breno comigo para me vigiar. Nesses momentos eu saltava muito mais à vontade. Sem falar que nos aproximamos bastante. E meu pai não pode saber disso nunca! Senão, não vai deixá-lo me ajudar nunca mais. Breno é um cara muito fofo e me deixa pular os obstáculos que eu
Estamos no século XXI, certo? Eu acho que sim. Às vezes, fico na dúvida, sabe? Isso porque meu pai quer me obrigar a casar com um cara. Sim, é um absurdo! E toda vez que tento opinar, ele me manda calar a boca e respeitá-lo porque sou menor de idade. Será que tem alguma lei que proíbe esse tipo de coisa? Gostaria de entender mais sobre isso...Estava em meu quarto, no meio de uma crise de raiva. Isso porque meu pai tinha acabado de me dizer que meu "noivo" ia chegar a qualquer momento para me conhecer. Interessante não? Me conhecer. Me sinto como um cavalo à venda. Onde o comprador vem avaliar para ver se o animal está em boas condições. Se ele me pedir para ver os dentes, não vou achar estranho.— Filha?— Hum... — resmunguei, irritada. Odeio que venham falar comigo quando estou nervosa.— Tome um banho e coloque a roupa que eu escolhi.Olhei o vestido em cima da cama e fiz careta. — Eu não vou tomar banho coisa nenhuma! Se ele quiser mesmo essa droga de casamento, vai ter que me atu
Acordei com o sol em meu rosto e me levantei da cama lentamente. Dormir mal é a pior coisa que existe. Eu fico de muito mau humor. Tomei um banho rápido, coloquei o uniforme da escola e fui tomar café da manhã. Assim que cheguei na cozinha, sorri ao ver Maria arrumando a mesa para mim. Ela é a cozinheira e arrumadeira mais legal da face da Terra!— Bom dia, menina!— Bom dia! Isso está cheiroso.— Coma tudo! Você está muito magrinha.— Você e sua mania de querer me engordar. — Mordi um pedaço de bolo e suspirei. Não existe ninguém nesse mundo que cozinhe como essa mulher!— Está pele e osso, menina! Tem que comer.— Estou comendo — falei de boca cheia e ela riu.Depois de comer até quase explodir, fui para a escola. Uma pequena van vinha me buscar. Moro em um lugar distante e se for a pé, preciso de pelo menos um dia de caminhada. Sim, eu moro no fim do mundo. E não me importo com isso. Gosto de cuidar dos animais da fazenda. Eles pelo menos me entendem.Me sentei no fundo da van e sus
A semana passou rápido demais para o meu gosto. Era o maldito dia que o baixinho voltaria aqui e ainda não tenho certeza para que. Isso ao mesmo tempo que me irrita, me deixa muito nervosa e ansiosa. Meu pai não fala nada! Absolutamente nada! Nem para me dizer o que ele vem fazer, se já está certo ou não essa merda que ele inventou. Que droga!— Ele chegou — disse Maria.Estava sentada no chão do estábulo. Não queria aparecer em casa, mas claro que eu não tinha opção.— Eu tenho que ir agora?— Seu pai disse para te chamar, querida.— Diga que já vou.Maria saiu dali e eu encostei na parede e suspirei profundamente. Queria tanto que minha vida fosse minha! Mas o que posso fazer contra isso? Se não dependesse dos meus pais, poderia sumir daqui.Talvez seja uma boa ideia ir com esse cara. Ele mora na cidade grande e lá posso arrumar um trabalho, sei lá! Qualquer coisa que me dê liberdade e total controle da minha própria vida.Me levantei sem vontade e passei a mão na calça, limpando a s
Demoramos um pouco para chegar no aeroporto. Como eu disse, moro no fim do mundo e tudo é distante. Ainda bem que me despedi de Michelly no dia anterior. Sei que não vou ver ela durante um tempo. Ou talvez nunca mais. Porém, a gente combinou de se falar pela internet.— Chegamos.Olhei para fora da janela do carro. Não era um lugar muito grande e principalmente não tinha cara de aeroporto. Só parecia ser uma pista de pouso. Saí do carro e segui Alessandro, o guarda-costas dele ficou encarregado de pegar as malas. Quando vi no que íamos voar, fiquei paralisada no mesmo lugar.Era um jato particular! Meu Deus!— Já voou alguma vez?— Não.— Vai gostar — disse sorrindo.— Vamos para onde?— Passar uns dias na Itália e depois voltamos.— Você não mora lá?— Não. Tenho muitas propriedades. Vamos para lá encontrar meu filho e voltamos em alguns dias.— Filho? — perguntei engasgada.Era só o que me faltava! Eu não sei lidar com criança! Elas estão sempre pentelhando e deixando as pessoas louc
No dia seguinte, acordei com alguém batendo na porta. Abri e era uma mulher. Era baixinha como Alessandro, porém pele morena e cabelos cacheados. Tinha um sorriso amigável no rosto.— Bom dia, senhorita! Meu nome é Maria e eu sou a cozinheira.— Prazer, Maria.— Vamos descer para tomar café da manhã? Os patrões já estão sentados à mesa.— Desço em dois minutos.— Tudo bem.Ela saiu dali e eu troquei de roupa. Segui até a sala de jantar e quando cheguei, os dois estavam sentados e a mesa estava lotada de comida. O que eu achei um exagero já que pelo visto só nós três que vamos comer.— Bom dia, menina! Sente-se.— Bom dia.— Gui... — Alessandro o olhou sugestivo. Ele revirou os olhos.— Bom dia.— E eu que sou a sem educação — resmunguei alto o suficiente para ele ouvir. Guilherme me encarou com o rosto sério. É impressão minha ou ele está mais bonito hoje?— Dormiu bem? — Alessandro perguntou.— Sim. Obrigada. Eu queria saber uma coisa...— O que?— Como vai buscar a Teci?— O que é Te
Cometa cheirou meu cabelo me fazendo rir. Isso sempre faz cócegas.— Você está muito nervoso. Sabia que os cavalos sentem isso?— Sim, mas ele...— Ele gostou de mim. Pode morrer de ciúmes agora!Guilherme riu quando falei isso e eu sorri.— É a primeira.— Segunda, ele já gosta de você. Não dá para entender isso, mas tudo bem.— Você é implicante mesmo hein!?— Ainda não viu nada — falei sorrindo e ele sorriu. Sorrindo é mais bonito ainda... Para com isso, Daniela! Que droga! Foco no cavalo!— Vou te mostrar o resto.— Tudo bem.Segui Guilherme e ele mostrou os outros cavalos e o lugar onde eles passeiam e pastam. Paramos e ficamos observando o enorme lugar. Subi na cerca e me sentei para observar melhor. Senti que ele me encarava e olhei para o lado. Tinha uma sobrancelha levantada.— O que? Que droga! Por que fica me encarando tanto?— Não é nada demais. — Deu de ombros.— E o que é então?— Você parece bem mais à vontade aqui fora.— E estou mesmo — falei olhando o horizonte.Guilh