O filho do meu noivo
O filho do meu noivo
Por: Jéssica Amaral
1º Capítulo

Estamos no século XXI, certo? Eu acho que sim. Às vezes, fico na dúvida, sabe? Isso porque meu pai quer me obrigar a casar com um cara. Sim, é um absurdo! E toda vez que tento opinar, ele me manda calar a boca e respeitá-lo porque sou menor de idade. Será que tem alguma lei que proíbe esse tipo de coisa? Gostaria de entender mais sobre isso...

Estava em meu quarto, no meio de uma crise de raiva. Isso porque meu pai tinha acabado de me dizer que meu "noivo" ia chegar a qualquer momento para me conhecer. Interessante não? Me conhecer. Me sinto como um cavalo à venda. Onde o comprador vem avaliar para ver se o animal está em boas condições. Se ele me pedir para ver os dentes, não vou achar estranho.

— Filha?

— Hum... — resmunguei, irritada. Odeio que venham falar comigo quando estou nervosa.

— Tome um banho e coloque a roupa que eu escolhi.

Olhei o vestido em cima da cama e fiz careta. 

— Eu não vou tomar banho coisa nenhuma! Se ele quiser mesmo essa droga de casamento, vai ter que me aturar do jeito que eu sou!

— Você ama tomar banho, Daniela.

— Sim, mas não para agradar a ninguém e sim a mim mesma!

— Abre a porta, Daniela.

— Não!

— Vou pegar a chave reserva.

Revirei os olhos e abri aquela droga. Sem olhar para ela, voltei a me sentar na janela. 

— Sei que está irritada, mas você tem que entender que isso é o melhor.

— Pra quem? — perguntei azeda.

— Para todos.

— Só se “todos” for você e o papai.

Ela respirou fundo. Era muito difícil minha mãe brigar comigo, mas em compensação meu pai, era 24 horas por dia. 

— Vamos, minha filha. Um dia você vai entender tudo.

— Por que em vez de dizer isso você não me conta o que vou entender um dia?

— Não adianta falar nada agora. Qualquer coisa que eu ou seu pai falarmos, você inverterá porque não quer casamento.

— Tem razão.

— Ande, tome um banho.

Me levantei irritada e fui para o banheiro resmungando. Demorei muito mais do que o normal. Fiquei tentando imaginar como era esse “noivo”. Só consegui pensar em careca, baixinho e barrigudo. Não veio nada mais na mente. Espero que esteja errada..., mas no fundo, sei que vou odiar isso mais do que já odeio.

Coloquei o vestido que minha mãe arrumou. Eu até gosto de vestido, mas não sou de usar muito, sabe? Gosto de ficar à vontade e geralmente vestido me tira essa liberdade. 

Fiquei sentada na janela olhando para fora. Dali dá para ver quem chega. Tenho visão privilegiada do portão e da estrada. Um carro luxuosíssimo apareceu na estrada. Será que meus pais seriam tão mesquinhos ao ponto de me casar por dinheiro? Porque pelo carro... Ele deve ser podre de rico.

— Filha, ele está chegando. — Minha mãe apareceu no quarto falando isso.

— Percebi — falei olhando o portão se abrindo para o carro passar.

— Vamos.

— Ei, mãe...

— Oi.

— Se eu for maior de idade, meu pai não pode me obrigar a casar, não é?

— Eu não sei. — Franziu a testa.

— Eu acredito que não, pois quando se é maior de idade, você já é dono do seu próprio nariz.

— Pode ser, mas...

— Era só isso que queria saber.

E era a melhor arma que eu tinha. Tenho seis meses para infernizar a vida desse cara para que ele não queira se casar comigo. Isso vai ser divertido. E se vierem outros, vou fazer um inferno também. Assim dá tempo de fazer dezoito anos e não ser obrigada a nada!

Segui com minha mãe para a sala de estar. Meu pai estava lá e me olhou de cima para baixo, me avaliando. Revirei os olhos com isso.

— Comporte-se e não revire os olhos.

Revirei de novo e ele ficou sério.

— Mais alguma coisa? — perguntei com deboche.

— Fale o menos possível.

— Ótimo. Não quero papo com ninguém mesmo.

— Daniela... — minha mãe chamou minha atenção.

Meu pai se aproximou e ficou me encarando. Sei o que é isso, ele quer me intimidar e mostrar quem manda. Odeio quando faz isso comigo, principalmente quando tem pessoas olhando. Desviei o olhar para os pés e ele se afastou de mim. Minha mãe arrumou minha roupa e depois ajeitou meu cabelo.

— Você está ótima.

Não respondi e olhei o lugar onde meu “noivo” apareceria. Um tempo se passou e dois homens entraram no local. Um era alto e tinha a pele morena. Usava um terno preto e tinha os braços para trás e uma postura impecável. O outro é baixinho e meio careca.

Ótimo!

— Seja bem-vindo, Sr. Alessandro. Espero que tenha corrido tudo bem em sua viagem.

— Obrigado. Foi uma viagem tranquila. Essa é sua filha? — falou olhando para mim. Não me mexi e nem abri a boca. É para ficar em silêncio, certo?

— Sim. Essa é minha filha querida.

Resisti a tentação de revirar os olhos quando meu pai falou isso.

— É uma bela garota. Parabéns.

— Obrigado.

— Podemos conversar em um lugar mais reservado?

— Claro. Me acompanhe.

Eles saíram da sala. Meu pai e o homem baixinho na frente e o alto moreno atrás.

— Aquilo é um guarda-costas?

— Sim.

— Só pode ser brincadeira — resmunguei e me joguei no sofá.

— Daniela! Sente-se direito!

— Eu não posso fazer nada! Não posso falar nada! E não posso me sentar como gosto! Que coisa mais chata isso!

— Fala baixo, Daniela...

— Estou cansada! Eu não quero me casar com ninguém! Ainda mais aquele cara! Mãe, eu sou mais alta do que ele! — falei indignada.

— Isso não tem importância.

— Só se for para você — respondi rabugenta.

— Tudo será entendido depois.

— O que mais tem nessa história que eu não sei?

— Nada.

— Parece que tem.

— Não tem nada, Daniela. Você precisa obedecer a seu pai e controlar seus impulsos. É o melhor para você que faça tudo como ele disser.

— Sou uma marionete.

— Filha...

— Tenho que ficar aqui esperando?

— Sim. — Ela suspirou.

— Ótimo! — falei com ironia.

Pareceu que se passaram horas desde que entraram no escritório do meu pai. Já estava cochilando no sofá quando minha mãe me sacudiu e me puxou para ficar em pé.

Levei um tempo para me recompor e os três apareceram. Estavam sorridentes e eu não gostei disso. O segurança estava sério, mas os dois eram só sorrisos e risadas. Queria eu poder rir assim...

— Combinado, então. Volto em uma semana — o baixinho falou.

Olhei meu pai e ele me ignorou.

— Vamos esperar.

— Até mais, Senhorita.

— Até — respondi com um sorrindo forçado.

Os dois saíram da casa e eu me joguei no sofá. Uma semana? Será que é para me levar embora? Só pode ser. Depois de casados, o marido pode devolver a noiva? Eu espero que sim, pois se vou morar com ele, vou fazer um inferno e ele vai me odiar. Espero que me mande de volta para casa.

Meu pai apareceu com um largo sorriso no rosto. Como não tinha mais baixinho e careca aqui, revirei os olhos ao ver a cara de felicidade dele.

— Então, como foi? Se sente bem em negociar a própria filha?

O sorriso sumiu na mesma hora.

— Isso não é um negócio. É seu futuro.

— Achei que meu futuro pertencia a mim e não a você — respondi carrancuda.

— Você não sabe nem controlar suas atitudes! Quanto mais o seu futuro.

— Futuro não existe. O que existe é o aqui e o agora.

— Por isso eu me encarrego de tudo a seu respeito.

— Não sou seu objeto! — falei um pouco alto. Ele se aproximou e começou o olhar intimidador. Odeio isso!

— Vá para o seu quarto e só saia na hora da escola.

— Ótimo! Não quero ver a sua cara mesmo. — Virei as costas e segui para o meu quarto.

Custei a dormir nesse dia. O que será de mim ao ser levada por aquele baixinho? Achei que ele ia ficar vindo aqui me conhecer mais, aí poderia colocar meu plano em ação. Não que eu não vá fazer isso, mas seria mais fácil aqui do que na casa dele. Pode ser que fique irritado e me jogue na rua. Não sei onde ele mora, se é perto daqui ou muito longe. Quem sabe em outro país! Meu pai não me disse nada. “Sou encarregado de tudo e você só tem que obedecer”. Odeio ouvir isso!

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