No dia seguinte, acordei com alguém batendo na porta. Abri e era uma mulher. Era baixinha como Alessandro, porém pele morena e cabelos cacheados. Tinha um sorriso amigável no rosto.
— Bom dia, senhorita! Meu nome é Maria e eu sou a cozinheira.
— Prazer, Maria.
— Vamos descer para tomar café da manhã? Os patrões já estão sentados à mesa.
— Desço em dois minutos.
— Tudo bem.
Ela saiu dali e eu troquei de roupa. Segui até a sala de jantar e quando cheguei, os dois estavam sentados e a mesa estava lotada de comida. O que eu achei um exagero já que pelo visto só nós três que vamos comer.
— Bom dia, menina! Sente-se.
— Bom dia.
— Gui... — Alessandro o olhou sugestivo. Ele revirou os olhos.
— Bom dia.
— E eu que sou a sem educação — resmunguei alto o suficiente para ele ouvir. Guilherme me encarou com o rosto sério. É impressão minha ou ele está mais bonito hoje?
— Dormiu bem? — Alessandro perguntou.
— Sim. Obrigada. Eu queria saber uma coisa...
— O que?
— Como vai buscar a Teci?
— O que é Teci? — Guilherme perguntou e eu lancei um olhar de raiva a ele. Antes que pudesse dar uma resposta malcriada, Alessandro respondeu:
— A égua dela.
— Tem uma égua?
— Algum problema com isso? — perguntei amarga.
— Guilherme é apaixonado por cavalos.
Fiquei em silêncio olhando-o. Algo de bom tem que ter, não é mesmo?
— Aqui também tem muitos. Se você quiser montar, fique à vontade — disse Alessandro. Sorri largamente e vi Guilherme sorrir junto.
— E quanto a Teci?
— Não se preocupe. Assim que voltarmos para casa ela estará lá.
— Quando voltamos?
— Em cinco dias.
— Tudo isso? — Deixei os ombros caírem.
— Qual o problema?
— É que ela não fica bem longe de mim...
— Tem uma ligação forte com ela? — Guilherme perguntou.
— Bem, eu salvei a vida dela quando era um potro e desde então ela só me deixa chegar perto.
— Como foi isso?
— O que?
— Como salvou ela?
Olhei o Alessandro. Ele sorriu e acenou com a cabeça, incentivando a contar. Voltei a olhar Guilherme e contei que achei ela na mata machucada e cuidei dela por alguns dias.
— É uma história muito bonita.
Desviei o olhar.
— Ela deve estar sentindo minha falta... — resmunguei.
— Seus pais têm internet? — Guilherme perguntou. Muda de assunto tão rápido...
— Ter tem, mas saber usar já são outros quinhentos. — Os dois riram. — Por que está perguntando isso?
— Poderíamos fazer vídeo chamada e você a ver pela tela.
Fiquei em silêncio olhando o rosto dele. Parecia bem mais legal hoje do que ontem...
— É, mas eles não sabem mexer em nada.
Alessandro pegou o celular dele.
— Pode se servir — disse Guilherme enquanto o pai fazia uma ligação.
— Tomou chá de bondade ou o que? — perguntei desconfiada.
— Só estou tentando fazer com que isso dê certo.
— Sei... Se for do jeito que ele conversou comigo, eu também faço, mas se ele mudar de ideia, pode ter certeza de que faço da vida de vocês um inferno.
Ele ficou em silêncio me encarando com os olhos cerrados.
— Combinou o que?
— Oi João! Como está? — A voz alta e escandalosa de Alessandro fez com que olhássemos para ele. — Chegamos bem sim. Eu queria te pedir um favor se puder.
Bebi um pouco de suco e continuei olhando pra ele.
— Tem como você atender o celular em vídeo e mostrar a égua da Daniela?
Engoli mais rápido e o olhei surpresa.
— Ótimo! Vou ligar de novo.
— Ele vai? — falei mais alto do que queria. Alessandro me olhou confuso.
— Por que não iria?
— Ele odeia a Teci — falei franzindo a testa. — E não liga para o que eu acho. Ah claro! Mas liga para o que você acha. — Revirei os olhos e ele riu.
Alessandro esperou uns minutos e então fez a vídeo chamada. Estava ansiosa olhando a tela do celular dele.
— Mostre ela, por favor — falou quando meu pai cobriu a tela com sua enorme cara. Ele mexeu com o celular e então a Teci apareceu na pequena tela. Sorri largamente.
— Teci... — Assim que falei, ela levantou as orelhas e começou a bufar. — Você está bem, garota? — Ela balançou a cabeça e relinchou alto. — Não se preocupe que eu não abandonei você, tá bom?
Ela balançava a cabeça freneticamente e bufava, estava procurando de onde vinha a voz, mas eu não estava lá. Ela sempre sabe quando estou. Meu pai virou o celular para ele de novo e eu suspirei.
— Obrigado João. Vou enviar alguém para buscá-la amanhã mesmo.
— Tudo bem.
Eles desligaram e eu fiquei em silêncio encarando a jarra de suco em cima da mesa.
— Ela gosta mesmo de você.
Olhei para o lado. Nem reparei que Guilherme ficou bisbilhotando a minha ligação.
— É.
— Não fica desanimada. Vou te mostrar os cavalos que temos aqui.
Depois de comer, segui o Guilherme para o estábulo. Esse lugar é simplesmente maravilhoso! O estábulo é enorme! E os cavalos são muito bem cuidados. Mais um ponto para o bonitão sem educação. Ele me levou até um cavalo todo preto. Sorri largamente, era lindo demais! O pelo brilhava de um jeito de dar inveja. Tinha mais brilho do que o meu cabelo.
— Esse é o Cometa. Ele é como a Teci.
— Como assim?
— Tem uma ligação comigo.
— E alguém tem ligação com você? — perguntei sarcástica e ele revirou os olhos.
Me aproximei do cavalo e levantei a mão para acariciá-lo.
— Espera!
— O que? — perguntei sem tirar a mão.
— Ele não gosta de... — Cometa cheirou minha mão e chegou o focinho para frente para que eu acariciasse. — Ninguém...
Afaguei o focinho dele lentamente. Guilherme tinha a boca aberta me olhando.
— Parece que viu um fantasma.
— A sensação é parecida.
— Eu não estou morta!
— Mas ele poderia fazer alguma coisa com você... — Parou de falar e ficou me encarando com a testa franzida.
— O que? — perguntei nervosa e tirei a mão de Cometa. Ele relinchou.
— Nada.
— Tem mais algum para eu poder ver?
— Temos muitos.
— Você mora aqui?
— Não.
— Se você disse que ele é seu... Trouxe ele pra cá para ficar com você?
— Sim.
— Nossa.
Cometa se mexeu e Guilherme se aproximou de mim com pressa e segurou meu braço fortemente.
Cometa cheirou meu cabelo me fazendo rir. Isso sempre faz cócegas.— Você está muito nervoso. Sabia que os cavalos sentem isso?— Sim, mas ele...— Ele gostou de mim. Pode morrer de ciúmes agora!Guilherme riu quando falei isso e eu sorri.— É a primeira.— Segunda, ele já gosta de você. Não dá para entender isso, mas tudo bem.— Você é implicante mesmo hein!?— Ainda não viu nada — falei sorrindo e ele sorriu. Sorrindo é mais bonito ainda... Para com isso, Daniela! Que droga! Foco no cavalo!— Vou te mostrar o resto.— Tudo bem.Segui Guilherme e ele mostrou os outros cavalos e o lugar onde eles passeiam e pastam. Paramos e ficamos observando o enorme lugar. Subi na cerca e me sentei para observar melhor. Senti que ele me encarava e olhei para o lado. Tinha uma sobrancelha levantada.— O que? Que droga! Por que fica me encarando tanto?— Não é nada demais. — Deu de ombros.— E o que é então?— Você parece bem mais à vontade aqui fora.— E estou mesmo — falei olhando o horizonte.Guilh
Acordei com alguém batendo na porta. Levantei e abri, em seguida, arregalei os olhos ao ver Guilherme ali. Ele sorriu debochado me olhando.Merda! Devo estar igual a uma bruxa!— Resolvi deixar você montá-lo.— Jura? — Sorri largamente e o sorriso dele aumentou.— Sim, mas eu vou ficar do lado.Revirei os olhos.— Quer colocar rodinhas também? — perguntei cínica e ele soltou uma risada.— Você é terrível, garota!Desviei o olhar.— Posso trocar de roupa ou quer que eu vá descabelada mesmo? — Se você quiser espantá-lo, pode ir assim mesmo.O encarei com fúria.— Vou tomar café da manhã. Te espero lá embaixo.— Tá. — Fechei a porta na cara dele e respirei fundo. Consegui ouvir sua risada e logo ficou silêncio do lado de fora.Troquei de roupa e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Ele estava mesmo rebelde hoje. Assim que cheguei à sala de jantar, vi que só Guilherme estava sentado.— Cadê seu pai?— Teve que sair cedo hoje.— Hum...Me sentei na cadeira em frente a dele e peguei o qu
— Só?— Achou que eu era mais velho?— Na verdade, sim.— E você, tem quinze?— Eu não pareço ter quinze anos! — Fiz careta.— Às vezes, parece.— E você parece ter noventa! — falei irritada.— Por que? — Franziu a testa.— Porque tem momentos que parece um velho resmungão!Guilherme caiu na gargalhada e eu resmunguei contrariada.— Vai querer ir comigo ou não?— Sim.— Então, vamos.Seguimos de volta para a mansão e cada um foi para o seu quarto. E agora eis o dilema: Com que roupa eu vou? Ele disse que é uma lanchonete. Ah! Pode ser qualquer coisa. Fui até a minha mala e procurei algo. Que foi? Eu não vou desfazer a mala se vamos embora daqui uns dias. Encontrei um vestido simples e fiquei encarando-o. Que dúvida... Parei de pensar em roupa e segui até o banheiro. Tomei um banho demorado. Amo água!Então depois do banho coloquei aquele vestido mesmo. Era de cor azul e bem simples. Tinha alça fina e era acima do joelho. Tenho que lembrar de não sentar igual moleque...Penteei meu cabe
Assim que a música começou, as pessoas gritaram incentivando. Que merda! A música era da Taylor Swift, Blank space.Eu comecei a música e ele fez tipo uma segunda voz. Meu pai me obrigou a estudar inglês e sei do que se trata o que estou falando. As pessoas gritavam empolgadas. O amigo de Guilherme parou até de cantar e ficou me olhando com um sorrindo. Continuei sozinha e cantando naturalmente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.Sim, eu canto bem. Michelly disse que eu deveria ser vocalista de uma banda, mas eu não ligo para isso.Olhei para a mesa de Guilherme agora e ele tinha a boca aberta me olhando. Dei uma risada e acompanhei a letra passando na tevê. Todos estavam em pé e agitados agora. A música acabou e todos aplaudiram. Ao mesmo tempo que ria da cara do Guilherme e do amigo dele, eu estava com vergonha. Tinha muita gente ali...— Você sabia que ia arrasar, por isso aceitou! — Me acusou. — Uau, é a primeira vez que alguém arrasa aqui.— Não exagera! — falei descendo d
Maria veio de novo me acordar e chamar para o café da manhã. Desci para comer e os dois estavam sentados à mesa. Sempre sou a última a chegar...— Bom dia, menina! — Alessandro disse alegre.— Bom dia.— Bom dia, Daniela.Olhei para o Guilherme e engoli uma ofensa. Sorri falsamente.— Bom dia.— O que vão fazer hoje? É o último dia aqui. Vamos voltar à noite.— Vamos voltar antes? — disse Guilherme.— Sim.— Teci já está na sua casa?Alessandro sorriu.— Sim. Ela é meio bravinha, não é?— É sim. — Dei uma risada.— Dizem que os animais se parecem com os donos... — Guilherme murmurou e bebeu seu café.— Por isso você disse que o Cometa é antissocial, não é? — perguntei, cínica.— Ele não é antissocial. É indomesticado.— Dá no mesmo. Ele não respeita as pessoas — falei amarga e ele me encarou sério. Deve ter entendido o duplo sentido no que eu disse.— Vocês não vão parar com isso nunca? — Alessandro perguntou com uma sobrancelha levantada. — Por Deus! Vamos começar a se entender melhor
— Chegamos.Quebrei o olhar quando Marcos falou isso. Entramos no jato e ficamos esperando Alessandro aparecer. Como não estava dando ideia para Guilherme, peguei meu celular e coloquei os fones de ouvido. Sentia que ele estava me olhando, mas ignorei e fingi que ele nem estava ali.A demora foi grande. Eu já estava cansada antes mesmo de começar a viagem.Olhei o Guilherme finalmente e ele estava sorrindo, olhando na minha direção. Franzi a testa. Que diabos? Ele deve ser maluco! Guilherme fez sinal para eu tirar os fones. Tirei um deles e esperei o que ele ia falar.— Você realmente canta muito bem.Desviei o olhar e senti meu rosto esquentar levemente. Maldição! Estava cantando junto com a música que tocava em meu celular e nem percebi! Mas eu não consigo evitar quando essa música toca. Continuei cantando, ignorando o homem que estava me comendo com os olhos. A música é da Jessie J — Flashlight.Alessandro entrou no jato e eu parei no mesmo instante. Tirei os fones de ouvido.— Desc
Acordei com o celular despertando e resmunguei. Os únicos dias em que posso dormir até tarde, são nas minhas férias e eu vejo isso como um prêmio e não posso perder. Não a oportunidade de dormir, mas hoje tenho uma coisa boa para fazer! Troquei de roupa e prendi meu cabelo em rabo de cavalo. Sempre fazia isso quando ele estava rebelde ou quando ia ficar no estábulo, ou seja, sempre. Meu cabelo é um espécime estranho... Às vezes está bom, às vezes está lambido, como se uma vaca tivesse passado a língua e deixado ele colado ao couro cabeludo. Isso tudo por ser liso demais.Fui até a cozinha e Guilherme já estava lá. A cozinha era muito grande e bonita.— Bom dia! — disse sorrindo.— Bom dia.Maria apareceu e sorriu ao me ver.— Bom dia, menina!— Bom dia — falei sorrindo.— Fiz um bolinho delicioso!— Aposto que sim. — Ela sorriu. Comi o bolo e suspirei. — Só conheço uma pessoa que cozinha tão bem quanto você.— É mesmo? Quem é?— A Maria. Ela trabalha para os meus pais... — Desviei o ol
Corri um longo momento com a Teci. Ela estava com bastante energia. Deve ter ficado presa naquele estábulo todos os dias antes de vir para cá. Meu pai não chegava nem perto dela, não sei como ele fez aquela vídeo chamada. Tirei a sela da Teci e a deixei sozinha. Me sentei no chão e fiquei a observando. Guilherme se sentou ao meu lado.— Achei que ia fazer alguma coisa aqui.— Estou fazendo.— O que você está fazendo? — perguntei confusa.— Estou olhando a Teci.Fiquei em silêncio sem entender.— Sei... Eu quis dizer algo mesmo.— Eu não fico muito aqui quando o Cometa não está.— E o que faz quando ele está?— Pratico.— O que?— Salto.— Legal!— Quer tentar?— Não está tendo aulas lá agora?— Sim.— Então deixa pra depois.— Por quê? — perguntou sorrindo. Me aproximei dele e cochichei:— Se eu cair de bunda, ninguém vai ver.Guilherme riu alto. Mordi o lábio e a risada diminuiu, estava olhando o meu rosto. Em pouco tempo ficou sério. Ele é estranho! Guilherme passou a mão na minha ca