Cerberus apertava a picareta nas mãos com determinação. O calor e o peso do ar na profundidade da mina tornavam cada movimento mais difícil, mas ele não se deixava abater. Estava decidido a encontrar a pedra perfeita para Helena, uma peça que simbolizasse tudo o que sentia por ela. A cada golpe contra as paredes rochosas, sua mente permanecia focada nesse objetivo. Ao seu lado, Matteo, um senhor de cabelos grisalhos e sorriso gentil, observava-o com um misto de admiração e preocupação. Matteo era experiente, um dos mais antigos ali.— Está insistindo demais, garoto. — Matteo comentou, ajustando o capacete. — A mina pode ser traiçoeira, principalmente nesse nível. Cerberus não desviou os olhos da pedra que quebrava com esforço. — Helena merece algo único. E vou encontrar. — Disse dando mais dois golpes. Ele daria um presente, uma joia a sua esposa, custe o que custar.Matteo balançou a cabeça, mas não insistiu. Ele sabia que alguns homens só aprendiam da maneira difícil.Assim que M
O som suave de risadas preenchia a sala de estar da mansão dos Olímpio. Hera estava sentada no sofá, os cabelos impecavelmente penteados, enquanto observava Helena brincar no tapete com Eros. O bebê ria alto ao tentar alcançar os blocos de madeira coloridos que Helena deslizava para ele. — Veja como ele está esperto, Helena — Hera comentou, sorrindo orgulhosa. — Parece que cada dia aprende algo novo. Helena sorriu, embora suas olheiras denunciassem o cansaço da maternidade. — Ele tem a energia do pai. Incansável, determinado... É como se já soubesse que veio ao mundo para conquistar. Hera sorriu, mas logo desviou o olhar, preocupada. Cerberus não saía da sua mente desde que saiu naquela manhã. Ela sabia que ele tinha passado os últimos dias indo à mina, obstinado a encontrar uma pedra preciosa para Helena. Hera admirava o gesto, mas algo sobre essa obsessão a inquietava. Na televisão, um programa qualquer passava em volume baixo. Helena ergueu Eros nos braços, rindo ao receb
A casa estava mergulhada em um silêncio opressor, quebrado apenas pelos soluços baixos de Helena. Ela estava sentada no chão do quarto de Eros, segurando o bebê contra o peito, como se ele fosse a única âncora que a mantinha conectada à realidade.Os olhos estavam inchados de tanto chorar, o rosto pálido, e os lábios tremiam de exaustão e dor.— Por que ele? — ela sussurrou, olhando para o pequeno rosto de Eros. — Por que a vida tirou seu pai de nós?Eros, ainda inocente ao sofrimento ao redor, agarrou uma mecha do cabelo de Helena e balbuciou algo ininteligível, como se tentasse acalmá-la. Helena pressionou os lábios contra a testa do filho, suas lágrimas caindo na pele macia dele.— Eu não sei como vou fazer isso sem ele — continuou, sua voz baixa, cheia de dor. — Mas prometo, meu amor, vou te proteger. Ninguém vai nos separar.Helena desejara acordar do pesadelo, abrir os olhos e ver Cerberus ali ao seu lado.Na sala de estar, Hera e Hades discutiam os detalhes do enterro. O corpo
O cortejo fúnebre avançava lentamente pelas ruas cobertas de folhas secas, como se até o próprio mundo estivesse lamentando a morte de Cerberus. O céu cinzento e o vento gélido combinavam perfeitamente com a atmosfera carregada de tristeza. Pessoas da alta sociedade e trabalhadores da mina, todos os que tinham alguma ligação com a família, se uniram para prestar suas últimas homenagens. Mas, acima de tudo, os olhares estavam voltados para Helena e Hera, que seguiam o caixão vazio com lágrimas silenciosas.Helena parecia não sentir o chão sob os pés. A cada passo, ela lutava para manter o controle, mas a dor era insuportável. Eros estava no colo de Hera, dormindo, alheio ao caos emocional ao seu redor. Helena sentia-se como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia despertar. — Ele não merecia isso — ela murmurou baixinho para Hera, que caminhava ao seu lado. — Ninguém merece, minha querida — Hera respondeu, sua voz um fio de emoção contida. Ela era sempre forte, mas o luto
Os raios dourados do sol cruzavam as janelas da mansão enquanto Helena estava sentada no quarto que agora era dela e de Eros. As paredes, que antes lhe pareciam um santuário, agora eram um cárcere. Desde que Hades havia marcado a data do casamento, a tensão parecia crescer exponencialmente. Hades não perdeu tempo em impor seu domínio. Ele havia transformado a notícia do casamento em um evento público, convidando figuras influentes da sociedade e garantindo que o nome da família Olímpio permanecesse em destaque, mesmo em meio ao luto. Naquela manhã, ele a encontrou no corredor enquanto ela carregava Eros nos braços. O sorriso em seu rosto era cortante, uma mistura de crueldade e prazer em provocá-la. Helena por sua vez, tinha o coração sangrando, cogitou em voltar sozinha para o sítio que foi o ninho de amor dela e de Cerberus, mas Hera a advertiu, e se uma cobra ou outro animal perigoso aparecesse, como ela lidaria com isso?Hera pensou em mandar Apollo para o sítio e podia levar S
O silêncio do quarto de Helena era opressor, apenas interrompido pelo som das mãos dela deslizando sobre o tecido do vestido. O preto contrastava com sua pele pálida, uma escolha deliberada que simbolizava seu luto e resistência silenciosa. Diante do espelho, ela observava seu reflexo como se fosse o de uma estranha. O que via era uma mulher quebrada, forçada a seguir um caminho que nunca escolheria. Eros, sentado no berço, observava a mãe com curiosidade. Helena acariciou os cabelos do pequeno, um esforço para manter a compostura. — Vai ficar tudo bem, meu amor... eu prometo. Faço isso para que não tirem você de mim — sussurrou, mas a voz falhou, traindo sua insegurança. Enquanto isso, no hospital...Cerberus abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz branca que invadia o quarto. Ele estava confuso, como se o mundo ao seu redor fosse um borrão de memórias. Tentou se levantar, mas uma dor intensa no peito o puxou de volta para a cama. Gemeu baixo com a dor.— Fique quieto,
Helena não pensou que existisse tamanha dor...— Respire senhora Helena, respire! — A médica dizia a todo momento, enquanto a preparava.— Sou senhorita! — Ela respondeu e gritou com a dor.— Está bem senhorita. Vamos colocar essa criança no mundo. Helena apenas concordou com a cabeça. Pensou que nada ali estava certo, que ela não deveria ser mãe.A médica a anestesiou, agora podia cortar a carne de Helena sem querer ela sentisse tanta dor.Helena olhava a todo momento para baixo, curiosa, pensava que dali não sairia bebê nenhum, que seu caso era outro e quando descobrissem, ela já estaria morta. Infelizmente, um tecido separava ela da visão.Por fim, a dor parou. Helena se questionava se havia morrido, se sua vida tinha chegado ao fim e por isso, não era mais capaz de sentir dor.Junto com o alívio da dor ter cessado, veio um sentimento novo e forte. Seu coração batia descompassado, como se visse o amor de sua pela primeira vez.O choro fino, baixo e infantil tomou conta do ambiente
Viver em um internato não era ruim, Helena tinha amigas, tinha uma educação exemplar e contava com as regalias que o dinheiro podia pagar.Helena entrou no internato com apenas 10 anos, seus pais queriam preservá-la para um futuro casamento, para que quando adulta ela soubesse obedecer seu marido e encontraram ali uma solução.Os pais de Helena tinham posses. Não eram podres de ricos, mas o que tinham, lhes permitia certas extravagâncias, como uma escola cara.Para eles aquilo era comum, as filhas eram moedas de troca, eram preservadas para no futuro se casarem com pessoas que lhe dariam riquezas e poder. E aquele internato era famoso por preservar as meninas até a idade adulta, assim elas saíram de seus muros direto para um casamento e na maioria das vezes um casamento sem amor.Helena achava o prédio do internato sombrio, as paredes eram frias e a noite não tinha coragem de sair do dormitório, pois a escuridão, o breu era denso demais. Mas o que mais assustava Helena eram os sons, o