O sol dourado refletia na superfície tranquila do lago, pintando um cenário sereno enquanto Cerberus segurava seu filho nos braços. Eros brincava com uma pequena bola colorida, rindo cada vez que seu pai fingia pegá-la antes que ele pudesse agarrá-la. Helena estava ao lado deles, observando a cena com um sorriso terno.— Ele está crescendo tão rápido… — ela murmurou, passando a mão pelos cabelos do filho.Cerberus assentiu, seus olhos fixos no bebê que segurava a bola com firmeza. Então, em um movimento desajeitado, Eros arremessou a bola para frente, fazendo-a rolar alguns metros à frente. O pequeno franziu a testa, como se entendesse que precisava buscá-la. Engatinhou rapidamente até onde a bola havia parado, agarrou-a novamente e, ao tentar voltar para os pais, apoiou-se nos próprios pés.Helena prendeu a respiração ao ver o filho hesitar por um segundo e, então, dar o primeiro passo. Um, depois outro. O menino caminhava com as perninhas ainda incertas, mas determinado a voltar par
A manhã estava serena no sítio, o canto dos pássaros ecoava pelos campos quando um dos empregados de Hera, foi a procura de Cerberus, ele estava de folga e aproveitou para avisá-lo de algo importante. Sua expressão era pesada e preocupada.— Senhor, sua mãe… Ela não está bem. Os médicos não sabem o que é. — Ele não tinha muita informação, e Hera não podia ligar para o filho, foi uma proibição de Teseu. O sangue de Cerberus gelou. Ele não perdeu tempo e chamou Apollo, que percebeu a tensão no amigo e foi com ele sem questionar. O caminho até a casa de sua mãe pareceu interminável.Ao chegarem, encontraram Hera deitada, o rosto pálido e os olhos sem o brilho de sempre. Cerberus se ajoelhou ao lado da cama, segurando a mão dela.— Mãe… O que está acontecendo com você? Vamos ao hospital agora!Hera abriu os olhos e sorriu fraco, seu corpo podia estar dolorido, mas seu coração estava feliz de ver seu filho.Teseu, que estava no quarto, interveio de imediato.— Já providenciei um médico, e
Apollo observou Hera por alguns instantes antes de tomar coragem para contar a verdade. Agora que Teseu estava morto, ele não precisava mais esconder quem realmente era.— Há algo que você precisa saber sobre mim, Hera. — Sua voz estava firme, mas carregada de emoção contida. — Eu sou filho da sua irmã.O rosto de Hera empalideceu e seus olhos se arregalaram.— O quê? — Ela murmurou, levando uma das mãos ao peito. — Isso... isso não pode ser verdade.Hera sentiu seu peito apertar. Lembrava-se com carinho da irmã e sentia em seu peito a ausência dela.— É, sim. Minha mãe foi envenenada, assim como você estava sendo. Meu pai descobriu tarde demais. Ele soube que Teseu tinha uma empregada de confiança na casa deles, alguém que poderia me colocar em perigo. Para me proteger, ele anunciou que eu morri no parto. Como eles haviam se casado com separação de bens, meu pai não tinha mais nenhum vínculo com a família Olímpio, ele cuidou de mim, me criou sozinho, como alguém humilde que era. — Ap
Helena não pensou que existisse tamanha dor...— Respire senhora Helena, respire! — A médica dizia a todo momento, enquanto a preparava.— Sou senhorita! — Ela respondeu e gritou com a dor.— Está bem senhorita. Vamos colocar essa criança no mundo. Helena apenas concordou com a cabeça. Pensou que nada ali estava certo, que ela não deveria ser mãe.A médica a anestesiou, agora podia cortar a carne de Helena sem querer ela sentisse tanta dor.Helena olhava a todo momento para baixo, curiosa, pensava que dali não sairia bebê nenhum, que seu caso era outro e quando descobrissem, ela já estaria morta. Infelizmente, um tecido separava ela da visão.Por fim, a dor parou. Helena se questionava se havia morrido, se sua vida tinha chegado ao fim e por isso, não era mais capaz de sentir dor.Junto com o alívio da dor ter cessado, veio um sentimento novo e forte. Seu coração batia descompassado, como se visse o amor de sua pela primeira vez.O choro fino, baixo e infantil tomou conta do ambiente
Viver em um internato não era ruim, Helena tinha amigas, tinha uma educação exemplar e contava com as regalias que o dinheiro podia pagar.Helena entrou no internato com apenas 10 anos, seus pais queriam preservá-la para um futuro casamento, para que quando adulta ela soubesse obedecer seu marido e encontraram ali uma solução.Os pais de Helena tinham posses. Não eram podres de ricos, mas o que tinham, lhes permitia certas extravagâncias, como uma escola cara.Para eles aquilo era comum, as filhas eram moedas de troca, eram preservadas para no futuro se casarem com pessoas que lhe dariam riquezas e poder. E aquele internato era famoso por preservar as meninas até a idade adulta, assim elas saíram de seus muros direto para um casamento e na maioria das vezes um casamento sem amor.Helena achava o prédio do internato sombrio, as paredes eram frias e a noite não tinha coragem de sair do dormitório, pois a escuridão, o breu era denso demais. Mas o que mais assustava Helena eram os sons, o
Cerberus finalmente estava livre, depois de anos na solidão, na angústia e nos maus tratos, ele agora era um homem livre, bom... Ele tinha certeza de que era livre, mas talvez não fosse exatamente um homem.Cerberus também cresceu no internato, sua ida para lá foi conturbada e triste. Ele foi arrancado de seu lar quando tinha apenas 13 anos, trancado por dias sem água, comida ou luz, sentiu medo, fome e vontade de morrer. Depois ele foi transferido para uma sala que possuía uma cadeira, um colchonete e uma pequena janela com grades e claro, correntes, ele foi mantido acorrentado por muito tempo. Sempre que gritava, que batia em quem entrava na sala era punido, lhe tiravam a comida ou o colchonete.Ele passou a odiar tomar banho, não era uma prática muito frequente, mas sabia que era um banho quando o caçador, como era chamado, entrava com um balde frio, jogava sobre ele e saía. O caçador era o pior de todos, gostava de torturar Cerberus e não sabia o motivo. Cerberus não teve amigos
Cerberus resolveu ir mais longe, sairia da floresta para a cidade, buscaria refúgio entre os homens, homens esses que ele odiava, pois só lembrava da maldade causada por eles.Ele pensou se alguém o reconheceria, se reencontraria alguém de seu sangue, sua mãe, pai ou talvez quem ele mais amava, seu irmão. O irmão mais velho, era seu exemplo, Cerberus desejava ser como Hades quando crescesse, não esperava ser afastado dele por tanto tempo.Cerberus chegou a parte mais movimentada da cidade, era na verdade um pequeno vilarejo, onde as pessoas passeavam pelo centro da cidade.Parecia improvável alguém o socorrer, mas ele precisava de ajuda e aprendeu a acreditar no improvável... Pois também era improvável que conseguisse fugir, mas ali estava ele.Cerberus perambulou pela cidade até o anoitecer, com o cair da noite, ele estava com fome e frio, precisava se alimentar, e de um lugar para deixar a égua que lhe ajudou na fuga.Ele passava na frente de um restaurante muito elegante, as pessoa
Cerberus surgiu do meio das árvores, e Helena sorriu, ficou feliz de ver Cerberus bem.— Eu disse que voltaria e você está lindo! Seu cabelo está muito bonito... — Ela estendeu a mão para tocar, mas Cerberus recuou um passo.Helena pegou o sanduíche e deu a ele, Cerberus comeu de costas como sempre, limpou a boca com o braço e seu olhar se voltou para ela.— Cerberus, onde está o meu cavalo? Você a perdeu? — Helena perguntou com as mãos na cintura.— Em casa... — Aquilo era bom, Cerberus agora tinha uma casa, um lar.Um barulho foi ouvido dentre as árvores e Helena se assustou, ela pulou para trás de Cerberus no mesmo momento em que Apollo surgiu a sua frente.— Calma moça, não precisa ter medo de mim. — Apollo disse de onde estava, não se aproximou muito para não assustar Helena.— Amigo, Apollo é amigo. — Cerberus disse e Helena relaxou.— Se conhecem faz muito tempo? — Apollo perguntou.— Faz algumas semanas, nos conhecemos aqui... Eu sempre venho e agora tenho um ótimo motivo. — O