O som do portão principal rangendo ao se abrir foi o primeiro sinal de que Cerberus havia chegado. Ele tinha um trabalho. Achar a pedra mais bela do mundo para Helena. Apollo o levava, mas não voltou a morar no sítio, seu amigo estava socializando bem, até com os outros trabalhadores conversava sem problemas. Faltava aprender a dirigir...Helena estava na cozinha, embalando Eros em um leve balanço enquanto cantava uma melodia suave. O sítio havia se tornado um refúgio de paz para os dois, algo que ela jamais imaginara que Cerberus, com sua aura intensa jamais pensou que teria, paz e uma família.Ele entrou pela porta principal com passos firmes, ainda vestindo as roupas de trabalho cobertas por poeira e suor. Seus ombros largos pareciam mais tensos do que o habitual, resultado de mais um dia na mina.— Voltei. — Ele anunciou, a voz grave ecoando pela casa.Helena sorriu para ele, inclinando a cabeça ao notar os sinais de cansaço em seu rosto.— Bem-vindo de volta. Eros acabou de adorm
Cerberus apertava a picareta nas mãos com determinação. O calor e o peso do ar na profundidade da mina tornavam cada movimento mais difícil, mas ele não se deixava abater. Estava decidido a encontrar a pedra perfeita para Helena, uma peça que simbolizasse tudo o que sentia por ela. A cada golpe contra as paredes rochosas, sua mente permanecia focada nesse objetivo. Ao seu lado, Matteo, um senhor de cabelos grisalhos e sorriso gentil, observava-o com um misto de admiração e preocupação. Matteo era experiente, um dos mais antigos ali.— Está insistindo demais, garoto. — Matteo comentou, ajustando o capacete. — A mina pode ser traiçoeira, principalmente nesse nível. Cerberus não desviou os olhos da pedra que quebrava com esforço. — Helena merece algo único. E vou encontrar. — Disse dando mais dois golpes. Ele daria um presente, uma joia a sua esposa, custe o que custar.Matteo balançou a cabeça, mas não insistiu. Ele sabia que alguns homens só aprendiam da maneira difícil.Assim que M
O som suave de risadas preenchia a sala de estar da mansão dos Olímpio. Hera estava sentada no sofá, os cabelos impecavelmente penteados, enquanto observava Helena brincar no tapete com Eros. O bebê ria alto ao tentar alcançar os blocos de madeira coloridos que Helena deslizava para ele. — Veja como ele está esperto, Helena — Hera comentou, sorrindo orgulhosa. — Parece que cada dia aprende algo novo. Helena sorriu, embora suas olheiras denunciassem o cansaço da maternidade. — Ele tem a energia do pai. Incansável, determinado... É como se já soubesse que veio ao mundo para conquistar. Hera sorriu, mas logo desviou o olhar, preocupada. Cerberus não saía da sua mente desde que saiu naquela manhã. Ela sabia que ele tinha passado os últimos dias indo à mina, obstinado a encontrar uma pedra preciosa para Helena. Hera admirava o gesto, mas algo sobre essa obsessão a inquietava. Na televisão, um programa qualquer passava em volume baixo. Helena ergueu Eros nos braços, rindo ao receb
A casa estava mergulhada em um silêncio opressor, quebrado apenas pelos soluços baixos de Helena. Ela estava sentada no chão do quarto de Eros, segurando o bebê contra o peito, como se ele fosse a única âncora que a mantinha conectada à realidade.Os olhos estavam inchados de tanto chorar, o rosto pálido, e os lábios tremiam de exaustão e dor.— Por que ele? — ela sussurrou, olhando para o pequeno rosto de Eros. — Por que a vida tirou seu pai de nós?Eros, ainda inocente ao sofrimento ao redor, agarrou uma mecha do cabelo de Helena e balbuciou algo ininteligível, como se tentasse acalmá-la. Helena pressionou os lábios contra a testa do filho, suas lágrimas caindo na pele macia dele.— Eu não sei como vou fazer isso sem ele — continuou, sua voz baixa, cheia de dor. — Mas prometo, meu amor, vou te proteger. Ninguém vai nos separar.Helena desejara acordar do pesadelo, abrir os olhos e ver Cerberus ali ao seu lado.Na sala de estar, Hera e Hades discutiam os detalhes do enterro. O corpo
O cortejo fúnebre avançava lentamente pelas ruas cobertas de folhas secas, como se até o próprio mundo estivesse lamentando a morte de Cerberus. O céu cinzento e o vento gélido combinavam perfeitamente com a atmosfera carregada de tristeza. Pessoas da alta sociedade e trabalhadores da mina, todos os que tinham alguma ligação com a família, se uniram para prestar suas últimas homenagens. Mas, acima de tudo, os olhares estavam voltados para Helena e Hera, que seguiam o caixão vazio com lágrimas silenciosas.Helena parecia não sentir o chão sob os pés. A cada passo, ela lutava para manter o controle, mas a dor era insuportável. Eros estava no colo de Hera, dormindo, alheio ao caos emocional ao seu redor. Helena sentia-se como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia despertar. — Ele não merecia isso — ela murmurou baixinho para Hera, que caminhava ao seu lado. — Ninguém merece, minha querida — Hera respondeu, sua voz um fio de emoção contida. Ela era sempre forte, mas o luto
Os raios dourados do sol cruzavam as janelas da mansão enquanto Helena estava sentada no quarto que agora era dela e de Eros. As paredes, que antes lhe pareciam um santuário, agora eram um cárcere. Desde que Hades havia marcado a data do casamento, a tensão parecia crescer exponencialmente. Hades não perdeu tempo em impor seu domínio. Ele havia transformado a notícia do casamento em um evento público, convidando figuras influentes da sociedade e garantindo que o nome da família Olímpio permanecesse em destaque, mesmo em meio ao luto. Naquela manhã, ele a encontrou no corredor enquanto ela carregava Eros nos braços. O sorriso em seu rosto era cortante, uma mistura de crueldade e prazer em provocá-la. Helena por sua vez, tinha o coração sangrando, cogitou em voltar sozinha para o sítio que foi o ninho de amor dela e de Cerberus, mas Hera a advertiu, e se uma cobra ou outro animal perigoso aparecesse, como ela lidaria com isso?Hera pensou em mandar Apollo para o sítio e podia levar S
O silêncio do quarto de Helena era opressor, apenas interrompido pelo som das mãos dela deslizando sobre o tecido do vestido. O preto contrastava com sua pele pálida, uma escolha deliberada que simbolizava seu luto e resistência silenciosa. Diante do espelho, ela observava seu reflexo como se fosse o de uma estranha. O que via era uma mulher quebrada, forçada a seguir um caminho que nunca escolheria. Eros, sentado no berço, observava a mãe com curiosidade. Helena acariciou os cabelos do pequeno, um esforço para manter a compostura. — Vai ficar tudo bem, meu amor... eu prometo. Faço isso para que não tirem você de mim — sussurrou, mas a voz falhou, traindo sua insegurança. Enquanto isso, no hospital...Cerberus abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz branca que invadia o quarto. Ele estava confuso, como se o mundo ao seu redor fosse um borrão de memórias. Tentou se levantar, mas uma dor intensa no peito o puxou de volta para a cama. Gemeu baixo com a dor.— Fique quieto,
Helena não pensou que existisse tamanha dor...— Respire senhora Helena, respire! — A médica dizia a todo momento, enquanto a preparava.— Sou senhorita! — Ela respondeu e gritou com a dor.— Está bem senhorita. Vamos colocar essa criança no mundo. Helena apenas concordou com a cabeça. Pensou que nada ali estava certo, que ela não deveria ser mãe.A médica a anestesiou, agora podia cortar a carne de Helena sem querer ela sentisse tanta dor.Helena olhava a todo momento para baixo, curiosa, pensava que dali não sairia bebê nenhum, que seu caso era outro e quando descobrissem, ela já estaria morta. Infelizmente, um tecido separava ela da visão.Por fim, a dor parou. Helena se questionava se havia morrido, se sua vida tinha chegado ao fim e por isso, não era mais capaz de sentir dor.Junto com o alívio da dor ter cessado, veio um sentimento novo e forte. Seu coração batia descompassado, como se visse o amor de sua pela primeira vez.O choro fino, baixo e infantil tomou conta do ambiente