Reino de Kent, 1442
Era uma vez, em um reino distante chamado Kent, uma família parcialmente feliz. Havia uma mãe e esposa, seu nome era Judith, seu casamento era estável, seu marido, George Capman, era um homem de posses, grande fazendeiro da região. Sua casa era bela e imensa, ela era uma senhora que causava inveja, não só pelas posses de seu marido e pela condição de vida que ostentava, a coisa que mais despertava a inveja das outras damas da corte eram seus belíssimos filhos.
Eram quatro ao todo, três meninas e um menino, a beleza deles encantava a todos, assim como o porte elegante e a educação. Marcel era o mais velho, o filho homem que todo pai sonhava em ter, era elegante, estudado, se formou em diplomacia e tinha uma posição social invejável aos seus 25 anos. Era alto, seus cabelos castanhos formavam ondulações delicadas e charmosas, sua pele era clara e seus olhos mais azuis que o céu mais limpo, tinha lábios bem marcados, um rosto de traços bonitos e um queixo quadrado. Treinava muito, sempre se interessou pelas terras do pai e pelo plantio, o que lhe conferia um corpo que arrancava suspiros, sua personalidade também contribuía, era um homem misterioso e de poucos sorrisos, muito protetor para com suas irmãs e frequentador dos eventos da corte. Por ser solteiro, as moças mais jovens sonhavam em ser desposadas por ele, afinal, corria pelo reino o boato de que ele era um amante incrível.
Marcel tinha uma relação extremamente próxima às suas irmãs, era muito vigilante e protetor, principalmente com uma delas, a segunda filha, Charlotte, a senhorita mais cortejada de todo o reino. Charlotte era uma jovem de riso fácil, temperamento extremamente gentil e submisso, desde nova, sua mãe a educou perfeitamente bem, era muito prendada e sonhava em se casar por amor. Mas não eram somente esses seus encantos, somente isso não iria lhe conferir tamanho status. Sua beleza era formidável, faltavam adjetivos para descrevê-la. Seus lábios eram perfeitamente bem desenhados, naturalmente rosados e pequenos, seu rosto era como o de um anjo, a pele era clara, sem mancha alguma e seus olhos eram de um verde tão intenso e profundo que encantava a qualquer um, tinha 19 anos. Era pequena, porém, seu corpo tinha curvas belas e acentuadas, seus cabelos eram longos, chegavam ao seu quadril e tinham um tom avermelhado que contrastava com sua pele, trazendo a ela uma chama que iluminava seu rosto.
A relação entre as irmãs era permeada por uma constante rivalidade. Brista, a terceira filha, tinha 17 anos e vivia em constante tensão com Charlotte. Ela era bela, tinha lindos cabelos loiros que desciam lisos por seus ombros, chegando ao meio de suas costas, era alta e seu corpo esguio, tinha um porte elegante e olhos azuis que chamavam a atenção daqueles que os vissem. Seus lábios, rosados e carnudos eram desejados por muitos cavaleiros, no entanto, não tanto quanto os de Charlotte. Viver a sombra de sua irmã mais velha a tornou uma jovem competitiva e irritadiça, sentia inveja daquilo que Charlotte tinha, de todas as atenções, mesmo que ela também as recebesse. Apesar de mostrar a todos uma passividade invejável, era ardilosa e sempre tentava tomar as atenções para si. Havia sido apresentada à corte há um ano, mas ainda não podia se casar, afinal, sua irmã mais velha ainda não o havia feito.
Por fim, havia Chelsea, a última filha do casal. Era a mais nova, tinha 14 anos e ainda não havia sido apresentada a corte, mas sonhava com aquele dia desde seus 13 anos, desejava ter tantos pretendentes quanto suas irmãs, encontrar um casamento vantajoso, quem sabe um nobre, aquela era sua expectativa. Se parecia muito com Brista, porém com um pouco menos de altura e corpo, afinal, sua idade lhe conferia ares infantis, já que ainda estava chegando a adolescência. Era apaixonada por literatura e vivia sonhando acordada com seu príncipe encantado.
Juntos, os quatro eram os orgulhos de sua mãe e o colírio para a sociedade de Kent, que cochichava sobre eles o tempo inteiro. Viviam em expectativa, afinal, Charlotte havia sido apresentada à corte há quase três anos, mas ainda não havia se casado, mesmo com todos os pedidos. Aquilo enfurecia sua mãe, que irritava-se com a recusa da filha a pedidos vantajosos, até mesmo o príncipe já a havia proposto o casamento.
Mas, protegida pela vontade do pai e pelo cuidado do irmão, Charlotte tinha a opção de se casar com quem desejasse, e já tinha seu escolhido há muito tempo, somente aguardavam o momento certo, que não tardou a chegar. William Griffin vivia na fazenda vizinha, seu pai, Honoro Griffin, sempre foi um grande amigo de George e, quando jovens, prometeram que uniriam suas famílias quando tivessem filhos. A promessa se manteve e, mesmo com as reclamações da esposa, o destino foi benevolente, ou não, com o jovem casal, entrelaçando seus corações, de certo modo.
Charlotte sentia seu coração acelerar, suas pernas tremiam e seu rosto se aquecia sempre que Willian estava por perto, desde seus 14 anos, nutria uma singela e doce paixão por ele, que logo tornou-se um amor profundo e carinhoso. Willian, por sua vez, admirava todos os dias a beleza da filha mais velha dos Capman, apesar de pouco se aproximar devido à inimizade que nutria por Marcel, o filho mais velho. No entanto, essa inimizade não o impediu de cortejar Charlotte, nem de conquistar para si a mulher mais bela do condado e de todo o reino. Gabava-se todos os dias para os demais homens com quem convivia sobre como Charlotte o amava, gritava aos quatro ventos que ela seria sua esposa e o dia não tardou a chegar, quando ela completou 19 anos, o noivado foi concretizado.
Um noivado de amor.
Ao menos de uma das partes.
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Espero que gostem, sigam minhas redes sociais e conheçam meus outros livros.I*******M: autora_evy
O casamento seria o evento do ano, sem sombras de dúvidas. O dia estava ensolarado e a fazenda perfeitamente organizada, o salão de festas estava muito bem decorado e a capela, que ficava no campo, estava tão bonita que qualquer um que entrasse ali acreditaria que se tratava do casamento de um nobre da região. Enquanto o noivo aguardava na capela junto aos demais convidados, na casa, Charlotte se preparava para o que acreditava ser o dia mais feliz de sua vida. — Está muito linda, minha filha — Judith falou, apoiando as finas mãos nos ombros de sua filha enquanto olhava o reflexo da mais jovem no espelho. — Não há em Kent moça mais bela que você.Os olhos da mulher viajaram pelo reflexo do espelho, à sua frente, Charlotte sorria como uma verdadeira princesa. Seu vestido tinha um tom perolado com belos detalhes em dourado. Seus cabelos avermelhados estavam soltos e, em sua cabeça, uma belíssima tiara segurava o delicado véu, estava perfeita. Suas mãos estavam enluvadas e seguravam f
Dois anos depois…— Mamãe… Eu não aguento mais isso! — a voz de Charlotte não passava de um sussurro enquanto, ainda em sua cama, ela encarava a mãe com lágrimas nos olhos. — Me ajude… — Só Deus pode te ajudar, filha — Judith estava impaciente —, precisa se esforçar mais! Não consegue vingar nenhuma gravidez, também não consegue fazer com que seu marido seja só seu, sequer cuida bem do seu lar! Charlotte, não tem do que reclamar, isso tudo é culpa sua, você não cuida do seu casamento! As palavras de sua mãe atingiram seu coração diretamente, fazendo-a ofegar em desespero. Nenhuma dor física era tão grande quanto a dor da perda que sentia, seu conto de fadas havia se tornado um grande pesadelo e ela estava fadada a isso até sua morte. Seu corpo estava dolorido, seus olhos ardiam e ela sentia certo inchaço no lado esquerdo do rosto, resquícios do que havia acontecido há dois dias, sequelas do ataque de fúria que seu marido teve ao descobrir que ela havia perdido mais um bebê. Ao lon
Quando abriu os olhos, sua mãe já havia partido. As visitas de Judith sempre pioravam tudo para Charlotte, que já não sabia a quem recorrer, não tinha quem a protegesse. Como falaria com seu pai se sua mãe nunca levava seus recados e seu marido não permitia que ela sequer colocasse o rosto no jardim? Fugir não estava em seus planos, afinal, se não chegasse até sua casa, as consequências seriam muito piores e Willian tinha criados por toda parte que estavam autorizados a fazer qualquer coisa para contê-la. Não tinha o que fazer, para ela, não havia opções. O único a quem poderia recorrer estava muito distante. Marcel havia viajado para estudar diplomacia e só retornaria depois de meses, mas Charlotte não sabia se conseguiria resistir tanto tempo. Estava quebrada e não se referia ao seu corpo, mas sim a sua alma, era uma mulher amargurada, pressionada pelo medo e pelo terror que vinha diretamente daquele que jurou amá-la por toda a vida. Sabia que a noite já ia longe, pois todos os
Marcel viu, ao longe, o começo das terras de seu pai. Estava feliz por retornar para casa, principalmente por saber que, logo, logo, a região seria o berço de um encontro de nobres e isso traria muito prestígio, principalmente porque o duque de Gloucester estaria hospedado em sua casa, aquilo o animava muito. Sabia que o Duque tinha muitas posses, além de ser muito bem quisto pelo rei, que lhe dera tal título por ter sido um exímio líder de guerra há cerca de dois anos. A família real era pequena, não havia muitos nobres que, de fato, estivessem aptos para governar caso o príncipe viesse a falecer prematuramente, por isso, e, diante a instrução do conselho, a Adsumus, o rei o nomeou, afinal, era um homem de respeito. Marcel o conheceu durante sua viagem, não tinham conversado de fato, mas o convite para que ele se hospedasse na fazenda enquanto estivesse em FoxSpeare, e não no palácio, foi muito bem recebido pelo Duque, que tinha uma predileção por lugares distantes dos costumes da
Quando entrou na casa observando o organizado, ouviu a voz de Judith, sua mãe. Nunca teve um bom relacionamento com ela, normalmente, Judith era controladora demais para com suas irmãs e, apesar das garotas acharem que aquilo era normal, Marcel não concordava com as atitudes da mãe, que manipulava tudo para arranjar para as meninas propostas vantajosas. Teve medo de voltar de viagem e encontrar Chelsea, que tinha somente 16 anos, casada. — Chelsea! O que eu disse sobre receber visitas como um animal selvagem? Olhe seus cabelos! — a voz de Judith ecoou por toda a casa, o grito foi alto o bastante para fazer a mais nova encolher os ombros. Marcel suspirou ao notar a irmã murchar, vendo toda a animação e euforia ir por água abaixo. Odiava aquilo, odiava a forma como sua mãe as obrigava a manter a compostura até nos momentos mais íntimos. Sabia que a educação das moças era importante, mas sentia que suas irmãs eram cobradas demais e aquilo o machucava. — Não ligue para isso, vá chamar
Willian estava do lado de fora da grande casa da fazenda. Seus olhos estavam no céu nublado e ele sentia a fria brisa noturna levar seus cabelos. Sua esposa estava no quarto do casal, havia a deixado sozinha, não suportava ser desprezado com tamanho furor. O olhar que Charlotte dirigia a ele não tinha nada além de medo e nojo, a falta de reação quando ele a tocava, quando a beijava ou quando se deitava com ela, o fazia se sentir o pior dos homens, então descontava todo o seu ódio e frustração na doce criatura, que suportava todas as agressões e ainda se deitava com ele da forma que ele quisesse. “Sempre tão submissa”, pensou ele, levando o charuto aos lábios enquanto olhava para o céu. “Minha doce Charlotte , jamais será de mais ninguém…"Um sorriso maligno tomou seus lábios. Não pretendia ficar com ela por toda vida, queria herdeiros e ela não podia dá-los a ele, mas não a deixaria partir, fizeram um juramento perante Deus e a única coisa que iria separá-los era a morte. Ao meno
Quando acordou pela manhã, Charlotte notou que Willian não estava ao seu lado e agradeceu imensamente por isso. Ergueu o corpo dolorido lentamente, lembrando-se de tudo o que ele havia feito com seu corpo na noite passada e sentindo o estômago se contorcer com nojo. Tudo o que Willian fazia quando se deitavam tornava o ato que deveria ser a consumação do amor de ambos uma tortura infinita. Ele tomava seu corpo com força, de forma bruta e sem cuidado algum, a agredia e a marcava de formas inimagináveis, tanto fisicamente, quanto psicologicamente. Mas, apesar de ainda poder ver algumas manchas roxas espalhadas pela pele alva, decidiu que não pensaria nisso naquele momento. Guardaria suas lágrimas para chorar depois do desjejum, não o queria irritar, ele odiaria que ela se atrasasse e Charlotte não pretendia apanhar mais uma vez. Lavou o rosto na bacia de água fria que ficava ao lado do quarto, então pegou um vestido simples de linho e colocou sobre seu corpo, cobrindo as suas roupa
Marcel não dormiu. Rolou na cama a noite inteira, de um lado para o outro, imaginando as inúmeras possibilidades para o que poderia estar acontecendo com sua irmã. Então, na manhã seguinte, seu humor estava amargo para com todos, menos Chelsea e Brista, que ocuparam longas horas da sua manhã experimentando e mostrando para ele como haviam ficado os vestidos que o rapaz havia trazido da capital para as duas. Enquanto as duas garotas se divertiam, Judith observava o filho de longe. Sabia bem que ele estava estranho e tinha medo do que aconteceria à tarde, no entanto, ainda era a senhora daquela casa e Marcel não podia passar por cima de sua autoridade, ao menos era o que ela pensava. As horas se arrastaram durante toda a manhã. Enquanto Judith coordenava os empregados e o chá da tarde, já que as damas iriam tomar chá em sua fazenda naquele dia, Marcel aprontava o cavalo para seguir até a fazenda dos Griffin. — Mas eu queria ir também, irmão! — Chelsea insistia, enquanto o observava