A jovem saiu a cavalo, levando a comida para o pai que passaria todo o dia vendendo por lá. Tudo estava normal o vento agitava seus cabelos como ela tanto amava sentir, até que ouviu o som de um cavalo se aproximar cada vez mais.
Senti meu coração acelerar, todos por essas bandas me conhecem e denunciam logo sua presença para não me assustar sabendo da minha deficiência, mas essa pessoa ficou em silêncio até chegar perto, perto demais...
– Será que pode me dar a honra de lhe falar um instante? – Diz Dom Andreas surpreendendo-a no meio do caminho.
Guadalupe ficou tensa de medo daquela voz grossa e desconhecida, sabia que pelo som dos passos do cavalo ele a estava seguindo. Não respondeu, apenas bateu as rédeas do cavalo delicadamente para fazê-lo ir mais rápido.
– Não te ensinaram que que deixar alguém falando sozinho é descortês? Já basta a recusa de seu pai ao meu convite, assim vou achar que isso é um atributo da sua família, estou certo? – Ele a olhava dos pés à cabeça, não se importava com o que a jovem poderia pensar, era da sua natureza agir assim.
Dom Andreas atravessou-se com o cavalo no caminho da moça e fez com que Raio de sol parasse bruscamente com ela pela primeira vez no meio do caminho.
– Por favor... vamos, Raio de sol! – Ela clamava em sussurros.
Guadalupe tentava fazer o cavalo andar, mas Dom Andreas sempre atravessava seu caminho e fazia o cavalo parar.
– Calma moreninha, por que está tentando fugir? Eu só quero conversar um instante, me chamo Dom Andreas e me mudei a uns dias para cá. – Ele esticou a mão ao lado dela, mas a jovem sequer olhou por motivos óbvios.
– Me deixe sair moço, preciso levar isso para o meu pai na cidade.
– Guadalupe, está tudo bem? – Gabriel viu a movimentação suspeita dos dois e logo se acercou dando um olhar de fúria para seu rival.
Ele surgiu como uma providência divina montado em seu cavalo e segurou as rédeas do cavalo dela acalmando os dois.
– Gabriel? É você?
– Sim, sou eu...vou te levar para a cidade. E você, deixe-a em paz, não sei quem é e já não gosto de ti! – Diz ele preparando-se para leva-la para longe.
Aos poucos ela foi se acalmando.
– Eu não fiz nada demais, ela se assustou por nada. Parece que nunca viu gente! – Responde ele sorrindo para deixar o rapaz ainda mais irritado enquanto levava Guadalupe dali.
Dom Andreas ficou sem entender aquela tamanha confusão por uma simples aproximação com aquela jovem, voltou para casa e ficou pensando com seus botões.
Tantos defensores, arredia, medrosa, pais ciumentos e eu adoro um bom desafio!
Perto dali...
– Sabe quem é esse tal Dom Andreas? – Pergunta Guadalupe curiosa sobre aquele homem que a abordou.
– Dizem que é o novo dono das terras do comendador, não gosto do jeito dele contigo. O que ele queria com você?
– Eu não sei dizer Gabriel, não dei chance para quele falasse muita coisa.
– Vou pedir a dona Ester que não permita mais esses seus passeios, onde já se viu uma donzela vagar sozinha por ai? – Gabriel deixou transparecer o grande ciúme e medo de perder sua amiga para qualquer homem que pudesse atravessar seu caminho.
– Se fizer isso eu nunca mais falo com você! – Gritou Guadalupe.
–Eu quero te proteger Lupe (respiração ofegante) não quero esse tipo, ou qualquer outro olhando para você daquele jeito nunca mais.
– Mesmo que queira, você não pode me proteger do mundo!
– Eu só quero te proteger dele.
– Eu sei me defender sozinha. – Diz ela ainda irritada.
Os dois chegaram na cidade, algum tempo depois foram para casa, mas Gabriel não arredou de lá enquanto não deu seu recado aos pais dela e é claro contou da abordagem de seu rival com ela.
– Guadalupe já foi se deitar, estava cansada pobrezinha! – Diz Ester se sentando ao lado de Gabriel.
– Não quero que deixem aquele homem chegar perto dela de novo.... – Diz ele ainda furioso.
– Acha que ele queria mais do que apenas conversar? A um dia nos convidou para jantar em sua casa, mas Leonel recusou.
– E ele fez bem (levantou-se pensativo) aquele homem olhava para ela de um jeito, aposto que deve ser acostumado a desonrar as moças da cidade e acha que Guadalupe é uma dessas tolas.
– Sempre existirão homens como ele, mas nossa Guadalupe sabe se defender. Deus não deu a ela menos do que precisa para viver, você a ama demais e como eu gostaria que ela o correspondesse. – Ester se compadecia do sofrimento de Gabriel, faria muito gosto que ele fosse o marido de sua filha única.
– No coração não se manda dona Ester, mas eu acredito que algum dia ela possa me querer como marido.
– Quem me preocupa é seu tio Leonel, já está velho e agora anda bebendo feito um pato e caindo por ai como se não tivesse família.
– Prometo que vou pedir ao meu pai para falar com ele. ¬– Responde Gabriel ao se sentar ao lado dela e segurar sua mão.
– Eu lhe agradeço muito filho, significa muito para mim o seu carinho e preocupação com nossa família.
Gabriel voltou para casa, ficou intrigado e pensando naquele forasteiro. Com certeza havia gostado e muito de Lupe, era rico e galanteador e com certeza sabia como dizer coisas bonitas para enganar as mocinhas da cidade, seria ainda mais fácil enganar as donzelas do campo como a sua amada.
– Se ele cruzar mais uma vez seu caminho, será a última coisa que fará nessa vida. Se vou te perder que seja para Deus mas, nunca para um homem mesquinho como aquele! – Dizia ele cerrando os próprios punhos.
– Falando sozinho filho? – Perguntou Saulo.
– Conhece o herdeiro das terras do comendador papai?
– Dizem que é um jovem rapaz de trinta e poucos anos, ainda sem esposa ou família. Deve ter vindo para se estabelecer ou quem sabe se casar?
– Ele que procure mulher longe daqui! – Gabriel deu um soco na cômoda.
– Por que a raiva?
– Ele estava seguindo Guadalupe enquanto ia para a cidade! Se eu não chego a tempo, sabe-se lá o que faria com ela!
– Não julgues para não ser julgado Gabriel. Como pode afirmar que ele a estava seguindo?
– Pelo modo pervertido como a olhava. – Gabriel fechava os olhos e ainda podia se lembrar da expressão do oponente.
– Lupe é cega, mas não deixa de ser uma linda jovem. Você é homem assim como esse tal filho do comendador, um olhar mais incisivo é natural. – Saulo tentou acalmar os ânimos e fazer com que o filho mantivesse a razão.
– Eu sinto papai, assim como sinto que ela nunca vai ser minha. – Gabriel se sentou na cama e suspirou.
– Tente olhar ao seu redor filho, há de existir alguma moça que lhe ame...
– De jeito nenhum! Se eu não tiver Guadalupe não quero nenhuma outra.
Saulo saiu daquele quarto de coração partido, saber que o filho jamais seria feliz no amor era terrível. Queria ter netos e que sua família continuasse, via Gabriel sofrer ano após ano com aquele amor que sufocava seu coração.
– Gabriel já chegou da casa de Lupe? – Perguntou Luíza comendo uma maçã.
– Sim filha, está no quarto sofrendo mais do que antes. – Respondeu Saulo.
– Lupe ainda vai fazer com que ele cometa uma loucura.
– Seu irmão é que não percebe que essa batalha já está perdida a muito tempo.
– Eu sinto muita pena dele viver assim sofrendo pelos cantos papai e ao mesmo tempo me dá raiva de ver ele no pé dela o tempo todo feito um burro! – Luíza se revoltava com a postura do irmão ao se colocar submisso ao amor que sentia por Guadalupe.
Na mansão de Dom Andreas...
– Parece meio perdido em pensamentos... – Diz Amélia se aproximando dele enquanto olhava pela janela.
– A caipirinha dos olhos verdes, que morena tão linda Amélia! – Ele fechava os olhos e sorria ao se lembrar do encontro na estrada.
– Já encontrou um bom motivo para ficar aqui na janela.
– Se ela passasse agora mesmo, acho que eu não responderia pelos meus atos.
– Aqui vai encontrar muitas como ela, belas e inocentes. Logo se encanta por outras te conheço bem até demais filho.
Ele sorriu e cruzou os braços.
– Guadalupe, o nome da virgem, muito sugestivo e excitante! – Ele mordeu os próprios lábios, enquanto sorria sozinho.
Dom Andreas esperava todos os dias por Guadalupe, vê-la passar havia se tornado um hábito. Sempre estava naquela janela ansioso por avistar aquele encanto de garota.– Eu preciso conversar com aquela donzela, encontrar uma forma de ficar a sós com ela, mas com aquele pai estúpido eu não vejo como! – Resmungava Dom Andreas.– Pelo que parece a família dela é bem sistemática, recusaram seu convite para jantar. Sebastião me disse que eles são muito religiosos e vão a missa todos os domingos sem falta. – Lembrou Amélia e Dom Andreas adorou a sugestão.– Então é isso que farei, vou me tornar o maior católico desse lugar!Dom Andreas sorriu, agora tinha certeza de que a veria e muito.– Está tão interessado assim nessa menina filho? A ponto de se converter de verdade? – Amélia sabia que o patrão não era nada religioso e jamais havia entrado em uma igreja.– É que além de bela, ela é diferente das outras eu não sei por que, mais vou descobrir o que tanto me encanta naquela mulher, além da be
Dia seguinte...– Seja bem-vindo padre, está em sua casa. – Diz Dom Andreas ao ver Amélia abrir a porta para seu ilustre convidado.– Os reparos que fizeram deixaram essa mansão ainda mais bela e aprazível, lembro-me de seu pai o comendador, era um bom homem. – O padre olhava o quão bela tinha ficado aquela fazenda.– Sim, meu pai era um homem de bem, pena que tenha se entregue ao vício do cigarro.– Padre, nos honra receber o senhor e eu já irei servir o almoço. – Avisa Amélia da porta da cozinha.– Então, apenas me diga de quanto precisa e agora mesmo passarei a quantia para as obras de caridade. – Diz Dom Andreas se sentando e o padre também.– Antes me responda, você é batizado filho?– Na verdade não padre, meus pais nunca tiveram a religião como uma prioridade na vida.– Pois deve se batizar, entenda que para que Deus reconheça sua oferta é importante que não só seja de coração, mas que esteja entregue a fé e celebre este novo começo como tem que ser feito.– Claro que sim padre
Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa porque você não se aguentava de pé.– Aquele tipo da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, serviu
Não muito longe daliDom Andreas preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Dom Andreas tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.– Obrigado e quero aproveitar para agradecer por aquela noite... – Leonel achou que deveria agradecer.– Não precisa agradecer e se me permite dizer com todo o respeito, sua filha é a jovem mais bela que já vi! – Dom Andreas disse aquele gracejo, não achou que pudesse ser visto com tom desrespeitoso.– Agradeça o rapaz filha... – Ester pediu dando um leve cutucada na filha.Guadalupe ficou calada e constrangida enquanto sua família olhava deslumbrad
Amanheceu e Ester ajudava a filha a escolher um belo vestido, como sempre e fazer um penteado em seus longos cabelos negros.– Filha precisamos falar sobre um assunto muito importante agora.– Pode falar mãe.– Sabe que seu pai e eu nos preocupamos muito e sempre quisemos o seu bem acima de qualquer outra coisa nesse mundo.– Eu sei, mas devem pensar mais em vocês. Porque, apesar de tudo eu posso cuidar de mim mesma sozinha.– Você pensa que pode filha, mas não tem noção das maldades desse mundo.Ester se sentou na frente da filha e segurou uma de suas mãos que estavam ficando cada vez mais frias conforme avançavam naquele assunto.– Nossa decisão pode parecer severa e dura a princípio minha linda, mas um dia você vai entender (respirou profundamente) quando tiver os seus próprios filhos.– Não vou ter filhos! – Respondeu Guadalupe corrigindo a mãe.– Hoje à noite você ficará oficialmente noiva do Gabriel.– De jeito nenhum mamãe, (se levantou irritada) eu nunca desobedeci a senhora e
Dom Andreas agarrou as rédeas do cavalo dela, fazendo-o seguir o seu e foram devagar até perto do rio. Ela ficou ofegante, estava assustada e ele achou isso ainda mais excitante.Ela ouvia a cachoeira, não sabia se podia confiar naquele homem desconhecido. Porém, aquele lugar dava a ela paz e naquele momento só precisava disso, sentiu ele a puxar pela cintura descendo-a do cavalo e ficou um tempo respirando perto de seu rosto. Mas a jovem se afastou e quase tropeçou em algo no chão.– Devagar preciosa, aqui tem uma pedra! – Respondeu ele fazendo de tudo para que aquele toque nela, durasse mais.Ele ofereceu a ela o braço e seguiram devagar andando por aquele lugar que a julgar pelo tempo que cavalgava, era afastado.– Acho que é melhor eu voltar. – Diz ela com medo e arrependimento por ter concordado em estar ali sozinha com ele.– Não se preocupe, depois eu te levarei de volta para casa em segurança.– Não fica bem a gente aqui sozinhos e no meio do nada, me leve agora por favor. – E
Dom Andreas sabia que precisava agir rapidamente. O tempo era seu maior inimigo, pois Leonel, apesar de ser um homem orgulhoso, estava afundado em dívidas. A vontade de ver Guadalupe, ser forçada a casar com Gabriel, o pressionava a encontrar uma solução definitiva para aquele problema. Ele não queria pensar em perder uma conquista como ela, sentia a pele ferver só de pensar que Gabriel podia ser o primeiro homem da vida dela.Gabriel já havia feito sua proposta de casamento várias vezes, todas recusadas por Guadalupe, e agora ele estava se aliando a Leonel para garantir que aquele casamento acontecesse de qualquer maneira. O pai trataria de forçar a filha cega a aceitar o pretendente de qualquer maneira.Sabendo disso, Dom Andreas começou a mover suas peças. Ele tinha adquirido todas as promissórias assinadas por Leonel com outros credores, em um valor enorme, o suficiente para não apenas comprar o rancho de Leonel, mas também deixá-lo na miséria para o resto da vida. Não era apenas
Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa por que você não se aguentava de pé.– Aquele talzinho da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, se