Dom Andreas esperava todos os dias por Guadalupe, vê-la passar havia se tornado um hábito. Sempre estava naquela janela ansioso por avistar aquele encanto de garota.
– Eu preciso conversar com aquela donzela, encontrar uma forma de ficar a sós com ela, mas com aquele pai estúpido eu não vejo como! – Resmungava Dom Andreas.
– Pelo que parece a família dela é bem sistemática, recusaram seu convite para jantar. Sebastião me disse que eles são muito religiosos e vão a missa todos os domingos sem falta. – Lembrou Amélia e Dom Andreas adorou a sugestão.
– Então é isso que farei, vou me tornar o maior católico desse lugar!
Dom Andreas sorriu, agora tinha certeza de que a veria e muito.
– Está tão interessado assim nessa menina filho? A ponto de se converter de verdade? – Amélia sabia que o patrão não era nada religioso e jamais havia entrado em uma igreja.
– É que além de bela, ela é diferente das outras eu não sei por que, mais vou descobrir o que tanto me encanta naquela mulher, além da beleza é claro.
Ele passou a semana contando os dias para chegar o domingo, estava sempre na janela esperando-a passar e naqueles dias não teve a honra de ver.
Domingo na missa...
Guadalupe estava bela como sempre, Ester sempre deixava a filha bem arrumada para ir à missa por que era enfim o único lugar além da fazenda onde iam toda a semana. Ela estava com os cabelos soltos e um vestido simples e alinhado.
– Já quer ir falar com o padre sobre sua crisma filha? – Pergunta Ester ajeitando com as mãos os cabelos da filha.
– Sim mamãe, tem que ser agora antes da missa.
Dona Ester a levou até a sacristia, mas o padre pediu que ela esperasse um instante pois estava com um pequeno contratempo.
– Dona Ester, pode nos ajudar um momento? É que a túnica do padre Antenor acabou de rasgar e como você é uma boa costureira, acho que precisa dar uns pontos... – Diz Fernanda se aproximando apreensiva e com medo de que a cerimônia fosse atrasada por esse motivo.
– Se importa em esperar aqui um instante filha? Prometo não demorar. – Perguntou Ester e Guadalupe acenou com a cabeça.
– Não me importo mamãe, pode ir tranquila e vou esperar a senhora e o padre aqui bem quietinha.
– Está bem meu anjo, eu já volto. ¬– Diz Ester saindo com Fernanda.
Guadalupe ficou ali na sacristia, apenas esperando a mãe. Até que Dom Andreas entrou e a viu sozinha como tanto queria.
Não disse nada, apenas ficou de pé sorrindo de leve e admirando sua beleza por alguns segundos.
Guadalupe tinha os demais sentidos apurados, percebeu a presença dele sabia que havia mais alguém ali apesar do silêncio. Todos na cidade sabiam da sua deficiência e se aquela pessoa não denunciou sua presença é por que com certeza era algum estranho.
Com medo, ela resolveu sair em direção ao salão da igreja onde podia ouvir as vozes das pessoas aguardando a missa e o pai viria de encontro a ela, mas acabou por engano indo na direção dos braços dele que não perdeu tempo e a agarrou forte.
– Quem é você? Por que não diz nada? Me solte! – Pediu ela tentando se soltar dos braços fortes dele.
– E eu achando que você era puritana, mal podia esperar para se jogar nos meus braços não é garota? ¬– Ele respondeu metendo seu rosto no pescoço daquela jovem assustada e sentindo o cheiro da sua pele.
Ela tentava se afastar, mas ele a continha em seus braços, por mais que ela lutasse bravamente.
– O que está acontecendo? – Perguntou o padre surpreendendo-os naquela luta amorosa em plena sacristia.
– Solte minha filha agora mesmo rapaz! – Exigiu Ester.
Dom Andreas abriu os braços e Ester puxou a filha para seu lado, a moça ainda ofegava forte e tremia.
– Me desculpem por isso, eu apenas entrei para falar com o reverendo e sua filha veio para os meus braços assim repentinamente... – Dom Andreas tentava se defender, não podia perder a confiança da mãe dela de jeito nenhum.
– Minha filha é cega e com certeza você a assustou, assim como quando a surpreendeu indo para a cidade.
– Cega? De verdade? – Dom Andreas arregalou os olhos e de todas as coisas que ele esperava ouvir, aquela seria a última.
Aquela frase entrou em meus ouvidos como uma bomba, como uma jovem tão linda poderia ser cega?
– Infelizmente sim, vai dizer que só agora percebeu? – Perguntou Ester.
– Leve Guadalupe para tomar água ela está pálida, depois que se acalmar nós conversaremos direito sobre sua crisma. – Diz o padre tentando acabar com aquela confusão e começar de uma vez a celebrar a missa.
– Sim padre, com licença. – Responde Ester levando a filha para fora.
– Não deveria ter tocado nela assim rapaz, as moças daqui são todas de respeito e Guadalupe ainda mais.
– Perdoe-me padre como eu disse não pude evitar, eu gostaria de oferecer donativos para as obras de caridade da igreja. Quero colaborar e para isso convido o senhor para almoçar em minha casa amanhã. – Dom Andreas queria muito mais do que parecer caridoso para todos e assim conseguir a admiração da jovem e de sua família.
O padre só conseguiu ouvir a parte dos donativos, claro que saber que um homem rico iria cooperar com as obras da igreja lhe encheu os olhos.
– Está certo, estarei lá. – Diz o padre apertando a mão de Dom Andreas.
Eles voltaram para o salão da igreja e o padre começou a celebrar a missa enquanto Dom Andreas e Amélia cochichavam.
– Filho por favor, seja mais discreto. Todos estão notando seus olhares para trás. – Pediu Amélia rente ao ouvido de Dom Andreas.
– É que...ela é cega! E eu não consigo acreditar nisso.
– E por que não? Se a mãe dela disse por que a dúvida?
– Que Deus justo é esse que tira a luz de olhos tão lindos? Isso é um pecado! – Responde ele revoltado e sem conseguir parar de pesar no que ouviu sobre ela.
– Pecado é esse seu olhar de luxúria sobre ela em plena casa de Deus.
– Vou tentar me comportar Amélia!
Ao fim da celebração o padre se aproximou da jovem e sua família.
– Guadalupe já está em idade de fazer a crisma, esse é o último anúncio do evangelho antes do matrimônio. – Relembrou o padre e Guadalupe sorriu.
– Eu queria mesmo falar com o senhor sobre isso, mesmo que eu não me case eu quero receber a crisma.
Ao ver o padre ali por perto e falando com sua mais conquista, Dom Andreas resolveu se aproximar também.
– A sua benção padre e não se esqueça do nosso compromisso de amanhã. – Dom Andreas fez questão de mostrar que tinha o apresso do padre e lhe beijou a mão.
– Deus te abençoe e não esquecerei meu filho, estarei lá pontualmente.
Dom Andreas foi embora com Amélia, mas não sem dar uma boa olhada em Guadalupe.
– Eu não gosto desse homem. ¬– Murmurou Leonel.
Ester pensou que se o marido soubesse do atrevimento dele com a filha odiaria um pouco mais forte.
– Ele parece ser uma boa pessoa, mal chegou a cidade e já se ofereceu para ajudar com as obras de caridade da igreja e conversaremos sobre isso já amanhã. – O padre tentou desfazer a impressão que muitos tinham daquele homem que mal conhecia.
– Com certeza deve existir algum anseio político nessa bondade toda.
– Não julgueis para não ser julgado Leonel! E seja por qual motivo o que importa é que iremos ajudar muitas pessoas com o dinheiro dele. – Diz o padre.
– O senhor está certo padre, Deus é grato a todas as ofertas e seja quem for o que vale é a obra!
– Sim Guadalupe, está certa como sempre. ¬– Responde padre, se despedindo da jovem e sua família.
Meu pai nos levou para casa de charrete e enquanto fazíamos o caminho de volta, fiquei pensando no toque e na voz daquele tal Dom Andreas.
Desde o dia que fez Raio de sol perder o caminho eu nunca esqueci o som da sua voz, era forte, grave e as vezes assustadora.
Por que aquele homem está em todos os lugares? Será que me persegue? O que poderia querer de uma garota pobre e cega como eu?
Pelos rumores e conversas eu sei que ele nobre, rico e as meninas dizem até que é muito bonito e forte.
Com certeza devo ser uma triste atração para ele, algo fora do seu mundo de luxo e beleza e por isso suas atenções se voltaram para mim.
Tudo o que sei é que quero me manter longe dele, eu sinto que será melhor assim para todos nós.
No caminho para casa...
– O cheiro dela ainda está em mim! – Dom Andreas revela ao cheirar as mãos.
– Deixe Guadalupe e a família dela em paz, já tem problemas demais pela condição dela e são idosos para ter que lidar com lobos como você.
– Então era isso que me enfeitiçou nela desde o primeiro segundo Amélia, sabia que tinha algo de diferente naquela mulher.
– Filho tire essa garota da cabeça, já viu que ela não é como as outras mulheres da cidade com as quais está acostumado a brincar.
– Ela é cega sim, mas não deixa de ser uma mulher bela e atraente, ela me enlouquece! – Diz ele, enquanto dirige.
– Você não tem mesmo jeito menino!
Eu tinha que reconhecer que Amélia tinha razão em tudo o que me dizia, mas eu sempre tive absolutamente tudo o que eu quis na vida...por que dessa vez seria diferente? Por pena? Misericórdia? De jeito nenhum, Guadalupe é apenas uma jovem e bela donzela e sei que ela jamais gostaria de ser digna de tais sentimentos.
Dia seguinte...– Seja bem-vindo padre, está em sua casa. – Diz Dom Andreas ao ver Amélia abrir a porta para seu ilustre convidado.– Os reparos que fizeram deixaram essa mansão ainda mais bela e aprazível, lembro-me de seu pai o comendador, era um bom homem. – O padre olhava o quão bela tinha ficado aquela fazenda.– Sim, meu pai era um homem de bem, pena que tenha se entregue ao vício do cigarro.– Padre, nos honra receber o senhor e eu já irei servir o almoço. – Avisa Amélia da porta da cozinha.– Então, apenas me diga de quanto precisa e agora mesmo passarei a quantia para as obras de caridade. – Diz Dom Andreas se sentando e o padre também.– Antes me responda, você é batizado filho?– Na verdade não padre, meus pais nunca tiveram a religião como uma prioridade na vida.– Pois deve se batizar, entenda que para que Deus reconheça sua oferta é importante que não só seja de coração, mas que esteja entregue a fé e celebre este novo começo como tem que ser feito.– Claro que sim padre
Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa porque você não se aguentava de pé.– Aquele tipo da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, serviu
Não muito longe daliDom Andreas preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Dom Andreas tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.– Obrigado e quero aproveitar para agradecer por aquela noite... – Leonel achou que deveria agradecer.– Não precisa agradecer e se me permite dizer com todo o respeito, sua filha é a jovem mais bela que já vi! – Dom Andreas disse aquele gracejo, não achou que pudesse ser visto com tom desrespeitoso.– Agradeça o rapaz filha... – Ester pediu dando um leve cutucada na filha.Guadalupe ficou calada e constrangida enquanto sua família olhava deslumbrad
Amanheceu e Ester ajudava a filha a escolher um belo vestido, como sempre e fazer um penteado em seus longos cabelos negros.– Filha precisamos falar sobre um assunto muito importante agora.– Pode falar mãe.– Sabe que seu pai e eu nos preocupamos muito e sempre quisemos o seu bem acima de qualquer outra coisa nesse mundo.– Eu sei, mas devem pensar mais em vocês. Porque, apesar de tudo eu posso cuidar de mim mesma sozinha.– Você pensa que pode filha, mas não tem noção das maldades desse mundo.Ester se sentou na frente da filha e segurou uma de suas mãos que estavam ficando cada vez mais frias conforme avançavam naquele assunto.– Nossa decisão pode parecer severa e dura a princípio minha linda, mas um dia você vai entender (respirou profundamente) quando tiver os seus próprios filhos.– Não vou ter filhos! – Respondeu Guadalupe corrigindo a mãe.– Hoje à noite você ficará oficialmente noiva do Gabriel.– De jeito nenhum mamãe, (se levantou irritada) eu nunca desobedeci a senhora e
Dom Andreas agarrou as rédeas do cavalo dela, fazendo-o seguir o seu e foram devagar até perto do rio. Ela ficou ofegante, estava assustada e ele achou isso ainda mais excitante.Ela ouvia a cachoeira, não sabia se podia confiar naquele homem desconhecido. Porém, aquele lugar dava a ela paz e naquele momento só precisava disso, sentiu ele a puxar pela cintura descendo-a do cavalo e ficou um tempo respirando perto de seu rosto. Mas a jovem se afastou e quase tropeçou em algo no chão.– Devagar preciosa, aqui tem uma pedra! – Respondeu ele fazendo de tudo para que aquele toque nela, durasse mais.Ele ofereceu a ela o braço e seguiram devagar andando por aquele lugar que a julgar pelo tempo que cavalgava, era afastado.– Acho que é melhor eu voltar. – Diz ela com medo e arrependimento por ter concordado em estar ali sozinha com ele.– Não se preocupe, depois eu te levarei de volta para casa em segurança.– Não fica bem a gente aqui sozinhos e no meio do nada, me leve agora por favor. – E
Dom Andreas sabia que precisava agir rapidamente. O tempo era seu maior inimigo, pois Leonel, apesar de ser um homem orgulhoso, estava afundado em dívidas. A vontade de ver Guadalupe, ser forçada a casar com Gabriel, o pressionava a encontrar uma solução definitiva para aquele problema. Ele não queria pensar em perder uma conquista como ela, sentia a pele ferver só de pensar que Gabriel podia ser o primeiro homem da vida dela.Gabriel já havia feito sua proposta de casamento várias vezes, todas recusadas por Guadalupe, e agora ele estava se aliando a Leonel para garantir que aquele casamento acontecesse de qualquer maneira. O pai trataria de forçar a filha cega a aceitar o pretendente de qualquer maneira.Sabendo disso, Dom Andreas começou a mover suas peças. Ele tinha adquirido todas as promissórias assinadas por Leonel com outros credores, em um valor enorme, o suficiente para não apenas comprar o rancho de Leonel, mas também deixá-lo na miséria para o resto da vida. Não era apenas
Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa por que você não se aguentava de pé.– Aquele talzinho da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, se
Não muito longe daliDom Andreas preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Dom Andreas tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.– Obrigado e quero aproveitar para agradecer por aquela noite... – Leonel achou que deveria agradecer.– Não precisa agradecer e se me permite dizer com todo o respeito, sua filha é a jovem mais bela que já vi! – Dom Andreas disse aquele gracejo, não achou que pudesse ser visto com tom desrespeitoso.– Agradeça o rapaz filha... – Ester pediu dando um leve cutucada na filha.Guadalupe ficou calada e constrangida enquanto sua família olhava deslumbrad