Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.
– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.
– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?
– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa porque você não se aguentava de pé.
– Aquele tipo da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.
– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.
– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...
O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.
– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.
– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, serviu um bolo para a filha e o marido enquanto via Lupe sorrir sem qualquer motivo.
Dom Andreas passou a frequentar a missa regularmente para ver Guadalupe, Gabriel sempre estava por perto e não gostava nada dos olhares do rival para quela garota que ele tanto amava desde criança e ele acreditava ser sua noiva.
O padre havia marcado a cerimônia de crisma em que Guadalupe, Luíza e outra jovem da vila iriam receber o sacramento
– Sua benção padre. – Pediu Dom Andreas beijando a mão do sacerdote.
– Que Deus te abençoe filho.
– Se o senhor permitir, quero oferecer um jantar em minha casa para a família das jovens. Quem sabe assim acreditem nas minhas boas intenções e deixem de fazer tantos julgamentos sobre mim? – Diz ele esboçando um sorriso cordial.
– Posso falar com eles esta tarde, seria uma boa oportunidade para que você consiga se relacionar melhor com os moradores daqui.
– Vou preparar tudo e no domingo à noite depois da cerimônia vou esperar todos em minha casa. – Diz Dom Andreas firmando o compromisso com o padre.
No fim do dia, depois de organizar os eventos da igreja o padre foi até a casa de Gabriel e Luíza para fazer o convite.
Saulo teve que ser firme para convencer o filho a aceitar esse jantar, depois de muita conversa, ele aceitou afinal era parte importante na vida de sua irmã e de Guadalupe.
Se ele não fosse deixaria o caminho livre para Dom Andreas se aproximar e isso ele não iria permitir jamais.
– Papai eu posso ir com o padre até a casa de Guadalupe? É que faz dias que não conversamos e ela tinha me pedido para ir. – Solicita Luíza ao recordar o pedido da amiga.
– Se o padre não se importar em te levar com ele na charrete. – Diz Saulo.
– Claro que ela pode vir e assim falamos mais sobre a crisma.
Eles seguiram para lá, assim que chegaram foram recebidos por Ester com um sorriso.
– Sentem-se por favor, vou chamar Guadalupe e meu marido. – Convida Ester guiando-os até a sala
– Vim fazer um convite para um jantar que irão oferecer para as jovens crismandas. – Diz o padre ao se sentar.
– Sim padre e onde seria esse jantar? – Pergunta Leonel chegando na sala e os cumprimentando.
– Na casa de Dom Andreas, ele me pediu que convidasse as famílias. Por que uma vez recusaram o convite dele sem qualquer motivo.
– Meu pai recusou da primeira vez sem nem mesmo dar a chance de conhecer esse homem. – Guadalupe chegou e tratou de se envolver naquela conversa.
– E logo ele que foi tão gentil em trazer seu pai em casa a uns dias atrás.
– Então não vejo motivo para uma recusa. Esse homem tem feito muito pelas causas sociais da igreja e sem qualquer interesse nisso. – O padre estava firme em sua missão de desfazer a má impressão que tinham de Dom Andreas.
Guadalupe começava a ter um sentimento de carinho por esse homem que parecia tão caridoso e cheio de boas intenções com todos.
– Tia, posso dar uma volta com Guadalupe um instante lá fora? – Pergunta Luíza querendo muito ficar a sós com a amiga.
– Claro que sim filha, mas fiquem por perto. – Diz Ester vendo as duas correrem para fora.
– Não demore Luíza, teremos que voltar daqui a pouco.
– Não antes do senhor comer o bolo que acabei de fazer padre.
As duas saíram de braço dado e foram conversar perto da cerca.
– A tantos dias não conversamos, desde que minha mãe adoeceu eu fiquei o tempo todo com ela e só temos falado brevemente na missa. – Luíza lamentava não poder estar mais presente na vida de Guadalupe como antes.
– Isso é verdade.
– Eu ouvi uns rumores sobre esse tal Dom Andreas que nos fez esse convite...
– Que tipo de rumores? – Perguntou Guadalupe e por mais que negasse a si mesma, queria saber mais sobre ele.
– Que na cidade ele era muito galanteador e costumava desonrar todas as moças que queria.
– Rumores também podem ser falsos. – Guadalupe não queria que aquilo fosse verdade, as duas seguiram caminhando enquanto falavam.
– Você não acha esquisito ele querer dar esse jantar para nós três? Não fica parecendo meio estranho Guadalupe?
– Ele pode ter mudado...não sei o que pensar ainda, depois das duas vezes em que nos encontramos. – Ela engole seco ao recordar.
– Você se encontrou com ele? Anda me conta tudo. – Luíza guiou a amiga e se sentaram em um grande tronco.
– Eu não tive como te dizer antes, mas ele me encontrou enquanto eu seguia a cavalo levando a comida para o meu pai. Ele assustou Raio de sol e se não fosse seu irmão nos encontrar e me levar de lá eu não sei bem o que ele queria me dizer... – Guadalupe alisa as próprias mãos demonstrando nervosismo.
– Mas ele chegou a te falar alguma coisa? Tentou algo com você?
– Não deu tempo, Gabriel me levou bem rápido de lá.
– Gabriel não me falou nada disso, talvez tenha ficado tão irritado que nem quis tocar no assunto.
– E na igreja domingo, fiquei esperando minha mãe na sacristia. Ele entrou, eu me assustei e ao invés de sair de lá, corri para os braços dele.
– Ele te tocou? – Luíza arregalou os olhos.
– Sim, me abraçou forte contra o corpo dele e ainda me lembro do calor da respiração dele no meu rosto. – Ela não sabia como descrever aquela sensação, medo ou prazer?
– Deus...seu pai soube desse atrevimento?
– Não, e minha mãe pediu para mantermos segredo, não fica bem que alguém saiba que ele colocou as mãos em mim mesmo que tenha sido dentro da igreja.
– Meu irmão mataria ele! Pense bem amiga, case com meu irmão Gabriel. Ele te ama desde sempre e fica esperando por você a tanto tempo feito um bocó.
– Ele sabe da minha decisão, seu irmão precisa ter uma família e se não se casar vai passar da idade. – Diz Guadalupe se levantando.
– E esse tal Dom Andreas?
– O que tem ele? – Ela parou e pensou.
– Sentiu alguma coisa quando ele te tocou? Algum sentimento de amor... – Luíza tinha curiosidade em relação aos sentimentos de Guadalupe e sabia que a felicidade do irmão dependia deles.
– Acho que uma mistura de medo e receio.
– Ele é um homem bonito, mas perigoso demais e principalmente para alguém como você.
Guadalupe se sentiu mal com o conselho de Luíza, não gostava de ser julgada por sua deficiência.
Não muito longe daliDom Andreas preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Dom Andreas tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.– Obrigado e quero aproveitar para agradecer por aquela noite... – Leonel achou que deveria agradecer.– Não precisa agradecer e se me permite dizer com todo o respeito, sua filha é a jovem mais bela que já vi! – Dom Andreas disse aquele gracejo, não achou que pudesse ser visto com tom desrespeitoso.– Agradeça o rapaz filha... – Ester pediu dando um leve cutucada na filha.Guadalupe ficou calada e constrangida enquanto sua família olhava deslumbrad
Amanheceu e Ester ajudava a filha a escolher um belo vestido, como sempre e fazer um penteado em seus longos cabelos negros.– Filha precisamos falar sobre um assunto muito importante agora.– Pode falar mãe.– Sabe que seu pai e eu nos preocupamos muito e sempre quisemos o seu bem acima de qualquer outra coisa nesse mundo.– Eu sei, mas devem pensar mais em vocês. Porque, apesar de tudo eu posso cuidar de mim mesma sozinha.– Você pensa que pode filha, mas não tem noção das maldades desse mundo.Ester se sentou na frente da filha e segurou uma de suas mãos que estavam ficando cada vez mais frias conforme avançavam naquele assunto.– Nossa decisão pode parecer severa e dura a princípio minha linda, mas um dia você vai entender (respirou profundamente) quando tiver os seus próprios filhos.– Não vou ter filhos! – Respondeu Guadalupe corrigindo a mãe.– Hoje à noite você ficará oficialmente noiva do Gabriel.– De jeito nenhum mamãe, (se levantou irritada) eu nunca desobedeci a senhora e
Dom Andreas agarrou as rédeas do cavalo dela, fazendo-o seguir o seu e foram devagar até perto do rio. Ela ficou ofegante, estava assustada e ele achou isso ainda mais excitante.Ela ouvia a cachoeira, não sabia se podia confiar naquele homem desconhecido. Porém, aquele lugar dava a ela paz e naquele momento só precisava disso, sentiu ele a puxar pela cintura descendo-a do cavalo e ficou um tempo respirando perto de seu rosto. Mas a jovem se afastou e quase tropeçou em algo no chão.– Devagar preciosa, aqui tem uma pedra! – Respondeu ele fazendo de tudo para que aquele toque nela, durasse mais.Ele ofereceu a ela o braço e seguiram devagar andando por aquele lugar que a julgar pelo tempo que cavalgava, era afastado.– Acho que é melhor eu voltar. – Diz ela com medo e arrependimento por ter concordado em estar ali sozinha com ele.– Não se preocupe, depois eu te levarei de volta para casa em segurança.– Não fica bem a gente aqui sozinhos e no meio do nada, me leve agora por favor. – E
Dom Andreas sabia que precisava agir rapidamente. O tempo era seu maior inimigo, pois Leonel, apesar de ser um homem orgulhoso, estava afundado em dívidas. A vontade de ver Guadalupe, ser forçada a casar com Gabriel, o pressionava a encontrar uma solução definitiva para aquele problema. Ele não queria pensar em perder uma conquista como ela, sentia a pele ferver só de pensar que Gabriel podia ser o primeiro homem da vida dela.Gabriel já havia feito sua proposta de casamento várias vezes, todas recusadas por Guadalupe, e agora ele estava se aliando a Leonel para garantir que aquele casamento acontecesse de qualquer maneira. O pai trataria de forçar a filha cega a aceitar o pretendente de qualquer maneira.Sabendo disso, Dom Andreas começou a mover suas peças. Ele tinha adquirido todas as promissórias assinadas por Leonel com outros credores, em um valor enorme, o suficiente para não apenas comprar o rancho de Leonel, mas também deixá-lo na miséria para o resto da vida. Não era apenas
Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa por que você não se aguentava de pé.– Aquele talzinho da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, se
Não muito longe daliDom Andreas preparou tudo com bastante esmero, a mansão estava bela e ele havia contratado outros empregados para ajudarem Amélia durante aquele jantar.Por mais que fossem apenas três famílias e o padre, ele queria surpreender a todos e provar que era um homem abastado.Logo viu chegar o motivo daquela reunião, estava linda em um vestido de cor vinho, seus olhos verdes pareciam ainda mais reluzentes naquela noite.– Boa noite. Fiquem à vontade por favor! – Diz Dom Andreas tentando controlar os olhares sobre Guadalupe.– Obrigado e quero aproveitar para agradecer por aquela noite... – Leonel achou que deveria agradecer.– Não precisa agradecer e se me permite dizer com todo o respeito, sua filha é a jovem mais bela que já vi! – Dom Andreas disse aquele gracejo, não achou que pudesse ser visto com tom desrespeitoso.– Agradeça o rapaz filha... – Ester pediu dando um leve cutucada na filha.Guadalupe ficou calada e constrangida enquanto sua família olhava deslumbrad
Na mansão de Dom Andreas...– Perfumado e tão alinhado assim tão cedo? Já sei, vai até a casa de Lupe. – Amélia o vê arrumando os punhos da camisa e bem vaidoso para sair.– Sim, preciso adiantar as coisas entre nós. Já estou aqui a muito tempo aqui e ando subindo pelas paredes, nunca fiquei tanto tempo sem...– Um rabo de saia. – Completou Amélia com um sorriso no rosto marcado pelo tempo.– Exatamente, essa menina virou uma obsessão tão grande que nem sequer consigo olhar ao meu redor. Eu a quero e vou ter!– Guadalupe não é mulher para você. – insistiu ela.– Como não é para mim? Eu já te disse, no fim das contas cega ou não ela é uma mulher como outra e fácil de enganar!Como combinado, ele se arrumou e seguiu até a casa dela, pois precisava convencer Guadalupe a viver consigo e não pouparia seus argumentos sujos para isso.Resolveu ir a cavalo dando uma olhada ao redor e pensando nos momentos com ela, ainda bem cedo bateu na porta daquela humilde casa.– Dom Andreas? – Perguntou
Guadalupe seguiu correndo para casa, entrou no quarto e deitou-se na cama pesando na proposta que ele a fez.– O que aconteceu filha? Onde está aquele homem, já foi embora? Te fez alguma coisa não foi? Eu não devia ter deixado que saísse juntos! – Lamenta Ester tocando na coxa da filha que deitada de lado deixava as lágrimas rolarem.– Ele queria se juntar comigo e que eu fosse com ele para casa, dizendo que viveríamos como irmãos. Acha mesmo que eu sou uma caipira burra, além de cega!– Sem se casar, como uma mulher desonrada? Esse homem é mesmo um doente! – respondeu Ester.– Eu disse a ele que não, insistiu e ele então Dom Andreas me pediu em casamento.– E você aceitou ser esposa dele? – Perguntou Ester ofegante e temendo a resposta.– Pedi um tempo para pensar melhor em tudo.– Acha que ele gosta de você de verdade? Mesmo depois de uma proposta asquerosa como essa?– Sei que está nos ouvindo papai...– Me desculpem, mas não gosto desse homem e não pude me abster de ouvir o que di