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Capítulo 5 – Conflitos

Leonel acordou com uma grande ressaca depois de toda aquela bebedeira do dia anterior, se sentou para tomar café com a esposa e a filha com a pouca vergonha que ainda lhe sobrava.

– Depois de velho, passou a nos envergonhar caindo de bêbado pelas tabernas. – Grita Ester.

– Fique calma mulher, não é para tanto. Estou aqui inteiro não estou?

– Como não é para tanto Leonel? Foi preciso que aquele homem te trouxesse de carro para casa porque você não se aguentava de pé.

– Aquele tipo da cidade, ainda devo essa droga de favor a ele.

– Ele trouxe o senhor aqui? Dom Andreas? – Perguntou Guadalupe interessada no teor da conversa de seus pais.

– E ele parecia preocupado pela idade e falta de juízo do seu pai...

O coração de Lupe se encheu de esperança e ela sequer sabia por que saber disso a fez sorrir.

– Então ele não é um homem ruim como eu pensava. – Diz ela deixando escapar um suspiro de fé.

– Talvez não seja, sabemos pouco ainda sobre ele paga fazer julgamentos. – Relembrou Ester, serviu um bolo para a filha e o marido enquanto via Lupe sorrir sem qualquer motivo.

Dom Andreas passou a frequentar a missa regularmente para ver Guadalupe, Gabriel sempre estava por perto e não gostava nada dos olhares do rival para quela garota que ele tanto amava desde criança e ele acreditava ser sua noiva.

O padre havia marcado a cerimônia de crisma em que Guadalupe, Luíza e outra jovem da vila iriam receber o sacramento

– Sua benção padre. – Pediu Dom Andreas beijando a mão do sacerdote.

– Que Deus te abençoe filho.

– Se o senhor permitir, quero oferecer um jantar em minha casa para a família das jovens. Quem sabe assim acreditem nas minhas boas intenções e deixem de fazer tantos julgamentos sobre mim? – Diz ele esboçando um sorriso cordial.

– Posso falar com eles esta tarde, seria uma boa oportunidade para que você consiga se relacionar melhor com os moradores daqui.

– Vou preparar tudo e no domingo à noite depois da cerimônia vou esperar todos em minha casa. – Diz Dom Andreas firmando o compromisso com o padre.

No fim do dia, depois de organizar os eventos da igreja o padre foi até a casa de Gabriel e Luíza para fazer o convite.

Saulo teve que ser firme para convencer o filho a aceitar esse jantar, depois de muita conversa, ele aceitou afinal era parte importante na vida de sua irmã e de Guadalupe.

Se ele não fosse deixaria o caminho livre para Dom Andreas se aproximar e isso ele não iria permitir jamais.

– Papai eu posso ir com o padre até a casa de Guadalupe? É que faz dias que não conversamos e ela tinha me pedido para ir. – Solicita Luíza ao recordar o pedido da amiga.

– Se o padre não se importar em te levar com ele na charrete. – Diz Saulo.

– Claro que ela pode vir e assim falamos mais sobre a crisma.

Eles seguiram para lá, assim que chegaram foram recebidos por Ester com um sorriso.

– Sentem-se por favor, vou chamar Guadalupe e meu marido. – Convida Ester guiando-os até a sala

– Vim fazer um convite para um jantar que irão oferecer para as jovens crismandas. – Diz o padre ao se sentar.

– Sim padre e onde seria esse jantar? – Pergunta Leonel chegando na sala e os cumprimentando.

– Na casa de Dom Andreas, ele me pediu que convidasse as famílias. Por que uma vez recusaram o convite dele sem qualquer motivo.

– Meu pai recusou da primeira vez sem nem mesmo dar a chance de conhecer esse homem. – Guadalupe chegou e tratou de se envolver naquela conversa.

– E logo ele que foi tão gentil em trazer seu pai em casa a uns dias atrás.

– Então não vejo motivo para uma recusa. Esse homem tem feito muito pelas causas sociais da igreja e sem qualquer interesse nisso. – O padre estava firme em sua missão de desfazer a má impressão que tinham de Dom Andreas.

Guadalupe começava a ter um sentimento de carinho por esse homem que parecia tão caridoso e cheio de boas intenções com todos.

– Tia, posso dar uma volta com Guadalupe um instante lá fora? – Pergunta Luíza querendo muito ficar a sós com a amiga.

– Claro que sim filha, mas fiquem por perto. – Diz Ester vendo as duas correrem para fora.

– Não demore Luíza, teremos que voltar daqui a pouco.

– Não antes do senhor comer o bolo que acabei de fazer padre.

As duas saíram de braço dado e foram conversar perto da cerca.

– A tantos dias não conversamos, desde que minha mãe adoeceu eu fiquei o tempo todo com ela e só temos falado brevemente na missa. – Luíza lamentava não poder estar mais presente na vida de Guadalupe como antes.

– Isso é verdade.

– Eu ouvi uns rumores sobre esse tal Dom Andreas que nos fez esse convite...

– Que tipo de rumores? – Perguntou Guadalupe e por mais que negasse a si mesma, queria saber mais sobre ele.

– Que na cidade ele era muito galanteador e costumava desonrar todas as moças que queria.

– Rumores também podem ser falsos. – Guadalupe não queria que aquilo fosse verdade, as duas seguiram caminhando enquanto falavam.

– Você não acha esquisito ele querer dar esse jantar para nós três? Não fica parecendo meio estranho Guadalupe?

– Ele pode ter mudado...não sei o que pensar ainda, depois das duas vezes em que nos encontramos. – Ela engole seco ao recordar.

– Você se encontrou com ele? Anda me conta tudo. – Luíza guiou a amiga e se sentaram em um grande tronco.

– Eu não tive como te dizer antes, mas ele me encontrou enquanto eu seguia a cavalo levando a comida para o meu pai. Ele assustou Raio de sol e se não fosse seu irmão nos encontrar e me levar de lá eu não sei bem o que ele queria me dizer... – Guadalupe alisa as próprias mãos demonstrando nervosismo.

– Mas ele chegou a te falar alguma coisa? Tentou algo com você?

– Não deu tempo, Gabriel me levou bem rápido de lá.

– Gabriel não me falou nada disso, talvez tenha ficado tão irritado que nem quis tocar no assunto.

– E na igreja domingo, fiquei esperando minha mãe na sacristia. Ele entrou, eu me assustei e ao invés de sair de lá, corri para os braços dele.

– Ele te tocou? – Luíza arregalou os olhos.

– Sim, me abraçou forte contra o corpo dele e ainda me lembro do calor da respiração dele no meu rosto. – Ela não sabia como descrever aquela sensação, medo ou prazer?

– Deus...seu pai soube desse atrevimento?

– Não, e minha mãe pediu para mantermos segredo, não fica bem que alguém saiba que ele colocou as mãos em mim mesmo que tenha sido dentro da igreja.

– Meu irmão mataria ele! Pense bem amiga, case com meu irmão Gabriel. Ele te ama desde sempre e fica esperando por você a tanto tempo feito um bocó.

– Ele sabe da minha decisão, seu irmão precisa ter uma família e se não se casar vai passar da idade. – Diz Guadalupe se levantando.

– E esse tal Dom Andreas?

– O que tem ele? – Ela parou e pensou.

– Sentiu alguma coisa quando ele te tocou? Algum sentimento de amor... – Luíza tinha curiosidade em relação aos sentimentos de Guadalupe e sabia que a felicidade do irmão dependia deles.

– Acho que uma mistura de medo e receio.

– Ele é um homem bonito, mas perigoso demais e principalmente para alguém como você.

Guadalupe se sentiu mal com o conselho de Luíza, não gostava de ser julgada por sua deficiência.

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