Priscila Barcella
Quase não consegui dormir à noite, e como não queria ver o Liam, saí cedo com a minha bebê e só deixei um bilhete avisando. Cheguei no escritório, e como sempre, a Joyce já estava lá, só que desta vez na sua mesa. — Chegou cedo, senhora. Oi, Nina, linda da titia — ela falou brincando com a minha filha. — Não estou de bom humor hoje, então só me chame se for de extrema importância... — O encontro foi tão ruim assim? — ela perguntou. Resolvi ignorar e entrei na minha sala. Coloquei a Nina no Moisés e me sentei no sofá à sua frente. — Sua mãe só se ferra, né? Você vai me abandonar um dia? — perguntei à bebê. — Espero que não. Eu quero te ver crescer e se tornar uma linda mulher — falei, e ela sorriu para mim. Estava admirando a minha menininha quando escutei batidas na porta e, logo em seguida, o Max entrou. Respirei fundo, pois precisava ter uma conversa séria com ele. — Bom dia, minhas garotas — ele falou com um sorriso nos lábios, mas notei um hematoma no canto da sua boca. Assim que ouviu a voz dele, a Nina começou a se agitar, procurando-o, e deu um grito que nos fez sorrir. — Ela já reconhece a minha voz — ele falou todo bobo, pegando-a no colo. Nina deitou a cabecinha no ombro dele, passando a mão na barba dele. — E essa carinha... o jantar foi muito ruim ou brigou com o babá? — ele perguntou enquanto paparicava a Nina. — Tá tão na cara assim que eu gosto do Liam? — perguntei, e ele sorriu. — Tá na cara dos dois. Desta vez eu tô ferrado — ele falou rindo. — Falando em nós, precisamos conversar, Max — comecei a falar, tentando criar coragem para dizer a verdade, já que o Max estava tão contente com a minha filha no colo. — Claro, Priscila. Sobre o que você quer conversar? — Max perguntou, ainda brincando com a Nina em seus braços. Respirei fundo, sentindo um nó na garganta. O peso das palavras que eu precisava dizer parecia aumentar a cada segundo. — Max, precisamos esclarecer algumas coisas sobre a Nina — comecei, tentando manter a voz firme. — Eu sei que você tem pensado que ela pode ser sua filha, mas... Ele levantou o olhar para mim, um misto de confusão e preocupação em seu rosto. — Priscila, o que você está tentando me dizer? — ele interrompeu, sua voz baixa e trêmula. — Por favor, não minta para mim. Eu sei que se ela é sua filha, ela é minha também, ou você conseguiu se envolver com outro homem? — ele perguntou, sabendo que eu tenho muita dificuldade em me envolver com toques e que ele foi o único que conseguiu cruzar a linha para ter algo mais íntimo. — Max, eu sei que você se sente conectado à Nina, e eu não quero tirar isso de você. A verdade é que ela não é sua filha. A Nina é minha sobrinha, e eu sou a guardiã dela agora — disse, tentando medir cada palavra cuidadosamente. O rosto de Max ficou pálido, e ele ficou em silêncio por um momento, ainda segurando a Nina com cuidado. — Mas como você a amamenta? — ele perguntou, me analisando. — Eu fiz um tratamento de lactação induzida para produzir leite. Minha irmã morreu, a Nina era muito pequeninha, ela não sabia sugar na mamadeira e nem aceitava outro bico, então precisei me virar para ela se alimentar. Max, eu sei o quanto você sonha em ser pai. Você acha mesmo que eu não teria te contado? — falei, me aproximando dele, que se sentou com a Nina no colo, a abraçando. Me abaixei, tocando no seu rosto, que não estava com uma expressão muito boa. Max olhou para Nina, que estava brincando com sua gravata, e depois voltou seu olhar para mim. Seus olhos estavam marejados, e eu sabia que ele estava profundamente magoado. — Priscila, eu... — ele começou, mas sua voz falhou. — Eu não sei o que dizer. Eu já me apeguei tanto a ela, mesmo não estando com ela o tempo todo — disse, e as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Levantei-me e fui até ele, colocando uma mão em seu ombro. — Max, sinto muito. Eu não queria te magoar. Não passou pela minha cabeça que você poderia pensar que a Nina era nossa filha — sussurrei, com a voz embargada. Ele respirou fundo, tentando se recompor, e enxugou as lágrimas com a mão livre. — Eu entendo, Priscila. É só que... — ele fez uma pausa, olhando para a Nina novamente. — Eu amo essa garotinha como se fosse minha própria filha. Será que... será que posso continuar sendo parte da vida dela? Posso ser o pai que ela precisa? — pediu, sua voz cheia de emoção. Eu não sabia como dizer não para ele, mas sabia o quanto ter um filho era uma responsabilidade muito grande. — Max, você vai conhecer uma mulher que vai te dar todo o amor que você merece e vai te dar a família que você tanto sonha. Você sabe que eu nunca vou conseguir te dar isso... — Priscila, eu não estou te pedindo em casamento. Você sabe que eu gosto muito de você, e sua felicidade é muito importante para mim, com ou sem mim — ele falou, sendo muito sincero. — Ontem, quando fiquei sozinho com a nossa bebezinha, fiquei refletindo nisso e no porquê o Liam me incomoda. Ele só me incomoda porque você gosta dele. Eu sei que você e o Afonso são só negócios, e a minha raiva era o Salles te usar como um pedaço de carne e você se sentir mal por isso — ele começou a falar, olhando nos meus olhos. Fiquei surpresa com as palavras de Max. Ele havia entendido tudo, mesmo sem eu precisar explicar. Ver a sua preocupação com a minha felicidade me fez perceber o quanto ele realmente se importava comigo. — Max, eu... não sei o que dizer. Você é realmente incrível. — Eu sei — ele falou, me fazendo sorrir. — Mas me deixa ser o pai da Nina. Eu nunca atrapalhei as suas escolhas e não vou fazer isso agora. Mas me deixa ser o pai que ela precisa e merece — ele pediu com os olhos cheios de esperança, e nós dois olhamos para a Nina, que estava encaixada no ombro dele. ©©©©©© Continua...Priscila Barcella Fiquei sem saber o que responder para o Max. Sei que ele seria um pai maravilhoso e bem melhor que o traste do pai biológico dela, mas também não sabia se seria o certo. Então, pedi um tempo para pensar, pois estava com a cabeça cheia. Como sempre, ele foi compreensivo e até levou a Nina para passear enquanto eu trabalhava um pouco, mas o que ele falou ficou na minha cabeça. Aprendi a gostar do Max. Primeiro veio como amizade, depois os sentimentos se misturaram, e ele foi me ensinando pouco a pouco que eu podia confiar nele. Já com o Liam, eu realmente sinto algo por ele de uma forma que nem os beijos me assustam. Fiquei um tempinho pensativa até que a Joyce me lembrou que tinha mil coisas para fazer antes de poder ir almoçar em casa e encontrar o Afonso. Quando terminei tudo, peguei a Nina que estava em uma reunião com o Max. Ele sempre teve habilidades com crianças, tanto que, quando a Natália precisou de ajuda para cuidar do Henrique, o Max assumiu sem proble
Liam Rodrigues Eu não consigo entender isso, estou morrendo de ciúmes por causa da Priscila. Como competir? Um é herdeiro de uma multinacional bilionária e o outro é dono da maior empresa de chocolate do país. O Max eu até entendo, eles têm uma amizade esquisita, mas esse Afonso... eu não quero ele perto dela de jeito nenhum. E não queria que ele viesse aqui na nossa casa. O que estou dizendo? Esta casa é dela, ela pode fazer o que quiser. Demorei a conseguir dormir, pensando no que ela falou, que eu fui o erro dela. Quando saí do quarto, ela já tinha saído de casa. Sem dúvida, tinha um café da manhã com esse tal Afonso. Até o nome dele me cai mal. — Bom dia, tio Liam — a Iris falou, descendo com a Belinha já arrumada para a escola. — Você viu a nossa mãe? — sorri ao ouvi-la, ela nunca chamou a Priscila assim, sempre a chamava de tia. — Saiu, foi trabalhar — respondi. — Com o Afonso, não, né, papai? — a Belinha falou, me assustando. Ela é igualzinha à mãe, quando põe uma coisa
Liam Rodrigues Eu estou impressionado com a genialidade dessas crianças. Sério, elas montaram todo um esquema em pouco tempo, não é à toa que conseguiram se livrar de qualquer babá anterior. Quando o porteiro avisou que a Priscila havia chegado, os meninos foram jogar videogame, e eu disse à mãe da Katiuscia que precisava ajeitar umas coisas da Belinha com ela. Estava claro o que as crianças precisavam fazer. Não demorou muito para eles subirem, e nesse momento o porteiro avisou que ia tentar dar uma enrolada. Descemos para garantir que Priscila não colocasse a bebê no quarto e tentasse ligar a babá eletrônica. Tudo estava dando certo. Ele entrou no escritório, e eu avisei as crianças pelo walkie-talkie. — Canário pai informar, urubu na jaula — falei para eles. — Canária um na escuta — a Iris respondeu. — Ligando babá eletrônica. Em poucas horas, Iris conseguiu criar um sistema simples para que pudéssemos ouvir tudo o que se passava naquela sala através da babá eletrônica, usan
Liam Rodrigues O Afonso estava furioso; eu podia ver isso em seu olhar. — Vamos, Maria Clara, temos que ir — disse Afonso, puxando a filha e saindo correndo. Vi Priscila, a princípio, ficar sem chão. A reação em seu rosto era um misto de decepção e ódio. A raiva dela aumentou ainda mais quando as crianças começaram a sorrir. — Quem foi o cérebro desta brincadeira de mau gosto? — perguntou Priscila com a voz mais alta que o normal, vermelha de tanta raiva, enquanto todos se entreolhavam. — Vamos logo, se não me falarem, vou punir todos da pior maneira possível. — Ela falou de uma forma que fez o sorriso sumir do rosto de todos, e todas as crianças ficaram cabisbaixas. Continuamos todos em silêncio, afinal, todos nós éramos culpados. Eu nunca tinha visto Priscila daquela forma. — Eu queria tanto entender o que passa nas cabecinhas de vocês — ela falou, respirando fundo. — Este é o meu trabalho, eu não vou sair por aí me agarrando com qualquer um. Eu não estou procurando um namorad
Priscila Barcella Eu não aceito que o Liam fez tudo isso. Estou com muita raiva; essa brincadeira pode ter acabado com a minha carreira, mas eu também não quero demitir ele. Fui para o meu quarto e comecei a chorar. Já estou cansada, para falar a verdade. Cansada de tudo. Ouvi umas batidas na porta e logo os meus três santos diabinhos entraram com os olhos vermelhos de tanto chorar. — Mamãe, não demita o Liam, por favor — disse Iris, entrando no quarto. Foi a primeira vez que ela me chamou assim de mãe. — A culpa foi toda minha — disse Ítalo, com os olhos cheios de lágrimas. — Sua não, nossa — corrigiu Iris. — Mamãe, deixa o Liam ficar com a gente. Como a gente vai viver sem ele? — pediu Belinha, também chorando. — Nós aceitamos o castigo e nem vamos questionar, mamãe. Por favor, não tira o tio Liam da gente — falou Ítalo. — Além disso, fomos nós que praticamente obrigamos o tio Liam a participar da nossa brincadeira. A gente tem ciúmes desse tal de Afonso. — Não queremos qu
Max Fos A Priscila saiu desesperada atrás do Liam, e eu fiquei com as crianças. — Como você consegue, Max? — Josefa falou enquanto eu tentava arrumar o cabelo da Belinha. — Vi o vídeo no YouTube, estou tentando fazer a trança da Elsa — respondi, tentando animar as crianças. — Não estou falando disso, e sim de como você, mesmo amando a Priscila, a empurra para os braços do Liam — Josefa falou meio cochichando para que a Belinha não ouvisse. — Eu prometi cuidar da Priscila, e sinceramente, Josefa, não é bom ter uma pessoa ao seu lado que esteja pensando em outra — respondi, tentando me concentrar em arrumar o cabelo da Belinha. Ouvimos passos nas escadas e logo apareceu o Ítalo, já de pijama, com uma expressão triste no rosto. — A mamãe já chegou com o tio Liam? — ele perguntou preocupado, olhando para todos os lados. — Ainda não, e eles provavelmente vão demorar — falei, perdendo a trança com uma xuxa azul. — Por que eles vão demorar? — Ítalo perguntou, descendo as escadas e vi
Priscila Barcella Acordei com o som suave da respiração de Max ao meu lado. Seus braços me envolviam, e eu me sentia segura, algo que parecia impossível algumas horas atrás. A lembrança do que havia acontecido me atingiu como uma onda, e meu corpo tremia só de pensar no terror que passei. Eu me esforcei para me levantar da cama sem acordá-lo. Sabia que ele estava exausto, tanto quanto eu. Max sempre foi meu porto seguro, mesmo quando eu não merecia. Ele estava sempre lá, cuidando de mim. Enquanto caminhava até o banheiro, olhei para o espelho e mal reconheci meu próprio reflexo. Meus olhos estavam vermelhos e inchados, e meu rosto mostrava o cansaço e o medo das últimas horas. Lavei o rosto, tentando apagar as lembranças da noite anterior, mas elas insistiam em permanecer. Flashbacks das mãos daquele homem tocando-me, do som dos tiros, da senhora me puxando para dentro de casa... Tudo parecia um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Eu queria esquecer, mas sabia que isso não s
Max Fos Já vi a Priscila mal algumas vezes, mas esta com certeza é a pior. Cancelei minha agenda e a dela sem o convencimento da mesma; hoje ela precisa de um tempo para ela. Ninguém foi para a escola. Todos estavam tristes e em casa, e a Priscila só foi ao escritório para resolver a questão com o Afonso enquanto eu cuidava das crianças. — A mamãe é uma mentirosa, ela prometeu que ia trazer o tio Liam — Ítalo falou furioso, cruzando os braços e fazendo um beicinho. Abaixei-me na frente de Ítalo, colocando as mãos suavemente nos ombros dele. — Ei, pequeno. Sua mãe está passando por um momento difícil agora. Às vezes, as coisas não saem como planejamos, mas isso não significa que ela quis te decepcionar. Ítalo olhou para mim, com os olhos brilhando de lágrimas. — Isso é tudo culpa nossa. Se não tivéssemos feito as pegadinhas, o tio Liam estaria aqui com a gente — ele falou chorando e eu o abracei. — Eu não quero perder o tio Liam também. — Olha, vocês dois, a mãe de vocês foi at