O ambiente ficou denso e silencioso assim que Vanessa mostrou a foto no celular. A luz fraca do bar pouco disfarçava o choque que se estampava no meu rosto. Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o celular, encarando a imagem de um garoto que parecia uma versão mais jovem de mim. Era como se eu estivesse olhando para meu reflexo de quinze anos atrás — o mesmo sorriso, os mesmos traços. Vanessa, sempre tão confiante e cheia de vida, agora estava imóvel, a cor sumindo de seu rosto, em contraste com o meu tom escuro. O que eu via nela era uma mistura de medo e vergonha, como se o peso de um segredo guardado por tanto tempo estivesse prestes a esmagá-la. Ela sempre soube que esse dia chegaria, mas talvez nunca tenha imaginado o quão devastador seria. — Vanessa... — Minha voz saiu fraca, quase quebrada. — Ele... ele é meu? Eu mal consegui sussurrar a pergunta. Estava incrédulo, mas uma pequena parte de mim sentia uma fagulha de esperança. Vanessa desviou o olhar, incapaz de me encarar
Priscila BarcellaFomos caminhando de mãos dadas até uma pracinha próxima, deixando que a brisa suave da noite nos envolvesse. A Lua, majestosa, iluminava o céu, conferindo àquela cena uma serenidade quase mágica. Mas, apesar da calma do ambiente, a revelação de que Manuel é o pai do filho mais velho da Vanessa ecoava em nossas mentes, nos deixando atordoados.— Que coisa louca, né, meu amor? Nunca imaginei que eles já… bom… — disse Liam, hesitante, tentando manter um tom leve, mas claramente incomodado com a surpresa.— Com certeza fizeram, né, coração? Não dá pra fazer um bebê com água… — provoquei, brincando para aliviar o clima tenso.— Desnecessária essa, viu, meu amor… — ele retrucou, soltando uma risada gostosa que imediatamente aqueceu meu coração.— Desculpa… — murmurei, aproximando-me para beijá-lo suavemente. Aquele beijo trouxe de volta a conexão que sempre encontramos um no outro, como se fosse uma certeza silenciosa de que, independentemente das turbulências, estávamos j
Priscila BarcellaPara minha surpresa, Nina quase não acordou durante a noite. Eu, por outro lado, despertei preocupada e fui até o quarto às duas da manhã para verificar se estava tudo bem. Encontrei-a dormindo tranquilamente, assim como Belinha, que estava toda desenrolada, e Paulinha, ambas serenas. Cuidadosamente, ajeitei o lençol das duas para não assustá-las e voltei para o meu quarto, onde encontrei Liam acordado.— Te acordei? — perguntei, realmente preocupada.— Não, só senti um vazio na cama e, como não ouvi a Nina, fiquei preocupado — respondeu ele, bocejando.— Eu só fiquei preocupada porque ela ainda não acordou — expliquei, voltando para a cama. Ele me abraçou com carinho.— Ela está bem — disse ele, beijando meu pescoço com tanta ternura que me fez sentir sortuda por tê-lo ao meu lado.Ele começou a fazer carinho no meu cabelo, e não resisti aos seus carinhos. Aquilo estava bom demais. Quando percebi, já havia voltado a dormir e acordei com o chorinho da Nina. Antes que
William RodriguesAcordei com o chorinho da Nina, aquele som suave que logo encheu o quarto e aqueceu meu coração. Abri os olhos lentamente e notei que a Pri não estava ao meu lado. — Meu amor… — chamei, mas o silêncio respondeu. Olhei para o relógio e vi que já eram 9:45h.— Bsbababa — minha bonequinha balbuciou, batendo as mãozinhas. Fui até ela, a tirei do berço e a abracei, sentindo aquele cheirinho único de bebê que é impossível de descrever, mas que eu já não sabia viver sem.— Sua mãe deve ter ido tomar café, então, que tal lermos uma história? — perguntei, mostrando dois livrinhos para ela. Ela escolheu "O Patinho de Todas as Cores", e eu sorri, percebendo o quanto minha garotinha já estava crescendo e se tornando uma pessoinha tão decidida.Cada momento com a Nina era mágico. Vê-la interagir com o mundo à sua volta, suas descobertas, suas pequenas vitórias… Era algo que preenchia meu coração de uma forma que eu nunca imaginaria.— Onde está o pato azul? — perguntei, enquanto
Priscila BarcellaEu estava um pouco envergonhada, não vou mentir, mas tentei deixar isso de lado para brincar com as crianças.Estávamos todos juntos no tapete, e procurei todos os jogos que tinha em casa. Não eram muitos, mas o suficiente para nos divertirmos em família.— Eu não quero mais brincar disso — Belinha falou, depois de perder pela terceira vez no Uno. Eu a entendo; além de ser pequena para o jogo, acabou ficando frustrada.— E agora, vamos fazer o quê? — Ítalo perguntou.— Tive uma ideia! Tem uma brincadeira que eu amava fazer quando era criança, junto com a mãe de vocês…— Ah, mãe, nada de brincar de boneca — Ítalo resmungou.— E quem disse que eu tinha uma boneca? Nós não tínhamos dinheiro para comprar brinquedos, então amávamos criar nossos próprios brinquedos quando tínhamos tempo para brincar.— Que legal! Nós vamos fazer brinquedos? — Ítalo perguntou, empolgado.— Vai ser divertido. Eu também fazia isso quando era criança e adorava — Liam disse, sorrindo e abraçand
Priscila Barcella Aquela mulher observava tudo meticulosamente enquanto descíamos as escadas. Ela olhou cada canto da sala e da cozinha com um ar crítico. Meu desconforto era evidente, e Liam logo percebeu. O ambiente estava carregado de tensão. — Crianças, podemos conversar? — a mulher perguntou, e Belinha se agarrou ao Liam com uma força desesperada. — Mamãe, nós somos obrigados? — Ítalo perguntou, os olhinhos cheios de medo. A verdade é que todos nós estávamos desconfortáveis. Ninguém esperava por uma assistente social invadindo nossa casa. — Não, vocês só vão se quiserem, mas eu ficaria muito grata se vocês fossem falar com a assistente social, meu campeão — tentei tranquilizá-lo, mesmo com o coração apertado. — Nossos pais podem ficar com a gente? — ele perguntou, sua voz carregada de esperança. — Eu preciso conversar só com vocês, sem os seus tios... — Mas eu não quero! Eu vou ficar com o papai! — Belinha declarou, determinada, como se sua vida dependesse disso. — Eu pre
William Rodrigues Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Priscila estava nervosa, mas nervosa de um jeito que eu nunca tinha visto. Seus olhos estavam arregalados, cheios de lágrimas, e havia algo neles que me fez estremecer: era puro medo, como se ela tivesse visto um fantasma ou se alguém tivesse voltado dos mortos para atormentá-la. A assistente social, por outro lado, mantinha aquele olhar julgador, frio, como se cada palavra ou movimento de Priscila fossem erros gravíssimos. Era desconcertante. Eu queria ajudar, mas não sabia como. Meu peito apertava ao vê-la naquela condição, abraçada às crianças como se fossem sua única âncora. — Vou pedir para a Ana cuidar das crianças por um tempo, para você se acalmar... — arrisquei, me aproximando com cuidado, tentando ser um porto seguro no meio daquela tempestade. — Não! — Priscila gritou, com a voz embargada e os olhos marejados, apertando ainda mais as meninas contra o peito. — Eu quero ficar com os meus filhos, Liam! El
William Rodrigues — Eu vou para a cozinha pegar um copo de água. — Minhas palavras eram uma tentativa desesperada de escapar do peso opressor daquela sala. A assistente social permaneceu em silêncio, mas o olhar que lançou antes de sair era como uma sombra, carregado de julgamento e algo que eu não conseguia decifrar. Pegou sua bolsa, ajustou a postura com uma calma ensaiada e foi embora sem olhar para trás, deixando para trás uma sala que parecia mais vazia e ao mesmo tempo mais sufocante. Meu olhar foi imediatamente para Priscila. Ela estava imóvel, uma estátua de dor e confusão, os olhos fixos em um ponto distante. Seus braços estavam caídos ao lado do corpo, como se tivessem perdido a força de sustentar o peso de tudo aquilo. E então, meus olhos pousaram nas crianças. Íris, Ítalo e Belinha estavam todos ali, encolhidos no sofá, os rostos cheios de perguntas que eu não sabia responder. Eles sentiam tudo, cada vibração de dor que emanava da mãe deles, mesmo que não compreende