William Rodrigues O silêncio no quarto era sufocante. Ao abrir a porta, meu coração parou por um segundo. Priscila estava encolhida na cama, abraçando os próprios joelhos, o corpo tremendo como se tentasse resistir a um frio que vinha de dentro. Nunca a vi assim. Nunca. O medo em seu olhar era um grito mudo, algo tão avassalador que quase me fez recuar.— Meu amor... — chamei, minha voz saindo trêmula.Ela virou o rosto para o lado, evitando me olhar. Sua voz veio baixa, arranhada pelo desespero.— Eu quero ficar sozinha...— Você não está sozinha, Priscila. — Sentei-me ao lado dela, minha mão tocando seus cabelos com uma suavidade quase reverente. — Você tem uma família agora. Não precisa carregar isso sozinha.Ela soltou uma risada amarga, que morreu antes mesmo de se formar. Seus olhos, úmidos e vazios, se perderam no teto.— Ele devia estar morto... Esse homem... Ele devia estar morto.— Ele não vai te machucar — afi
William Rodrigues Ficamos em silêncio, o quarto envolto em uma calmaria que contrastava com a tempestade que ela havia desabafado minutos antes. Minha mão se movia lentamente pelos seus cabelos, num cafuné suave e ritmado. Eu queria que ela sentisse, em cada toque, que estava segura. Que agora tinha alguém para dividir o peso.Ela fechou os olhos, a respiração ainda irregular, mas começando a se estabilizar. Meu olhar estava fixo nela, absorvendo cada detalhe: os traços delicados que contrastavam com a força que ela carregava, a vermelhidão em suas bochechas ainda marcada pelo choro.Enquanto isso, minha mente vagava. De repente, tudo fazia sentido. A raiva do Max naquele dia na piscina. Ele com certeza sabia de tudo, cada detalhe obscuro do passado dela. Ele deve ter achado que eu a pressionei, que eu a expus a algo que ela não estava pronta para enfrentar. E agora que eu sabia, percebia que, se estivesse no lugar dele, teria sentido o mesmo.— Eu te amo. — A voz dela quebrou o silê
Priscila Barcella Foi bom ter aquele momento com eles. Senti que, de alguma forma, estava mais forte. Há tempos não me sentia assim, e isso me deu a certeza de que, juntos, podemos enfrentar qualquer coisa. Apesar do medo inicial sobre como as crianças reagiriam ao nosso namoro, foi um alívio compartilhar. E no fim, tudo correu melhor do que eu imaginava. Era apenas nós cinco naquela noite, sem interrupções ou pressões externas, vivendo algo que nem sabia que tinha sonhado um dia. Depois de um jantar improvisado com pizza, nos juntamos no sofá para assistir a um filme. O riso fácil das crianças e a presença calorosa de Liam ao meu lado criaram um cenário quase irreal. Uma felicidade tão simples que me deixava zonza. Não demorou muito para todos caírem no sono – e claro, acabamos amontoados na minha cama. Na manhã seguinte, acordei com o corpo pesado e uma dor incômoda na coluna. Mas, ao abrir os olhos e ver aquelas carinhas serenas ao meu redor, percebi que tudo valia a pena.
Priscila Barcella Aproveitamos para ir ao clube com as crianças. Era o último dia da minha folga, e eu queria que fosse especial para todos nós. — Mamãe, eu quero ir na piscina agora! — Belinha anunciou, cheia de energia, enquanto eu passava protetor solar nela. — Calma, meu amor. Primeiro temos que nos proteger do sol. Você não quer ficar ardendo depois, né? — respondi com um sorriso, tentando conter a impaciência dela. — Deixa que eu passo protetor em você — Liam ofereceu, sua voz baixa e carinhosa, me fazendo sorrir mesmo sem querer. — Só um instante, coração. Deixa eu terminar com a nossa princesa primeiro — falei, e Belinha, com aquele sorriso sapeca, olhou para Liam como se conspirasse algo. — Vocês dois são tão fofos que até dá vontade de gravar um TikTok — Íris comentou do lado, cruzando os braços e rindo de nós com aquela típica atitude de adolescente. — Mamãe, você pode passar protetor nas minhas costas também? — Claro, meu anjo. Já termino aqui e passo em você. Pas
Priscila Barcella Acordei na segunda-feira bem cedo, já que minha pequenininha decidiu começar o dia às 4h30 da manhã, cheia de energia. Depois de alimentá-la, não quis acordar o Liam. Resolvi tomar um banho e aproveitei para dar banho na Nina também. Ela adora compartilhar a banheira comigo, e seu riso ao brincar com as bolhas sempre torna o momento especial. Após o banho, me arrumei para o trabalho e vesti minha princesa com um vestidinho azul, meia-calça branca e as sapatilhas da Cinderela. Para completar, fiz duas chiquinhas no cabelinho dela. Minha bonequinha estava tão adorável que só de olhar já dava vontade de morder aquelas perninhas fofas. Saí do quarto com cuidado para não fazer barulho e fui em direção ao quarto da Isabela. No corredor, encontrei minha sogra saindo do quarto dela. — Bom dia, sogrinha — cumprimentei com um sorriso, que ela retribuiu ao olhar para mim e para a Nina. — Bom dia, minha nora favorita! Bom dia, bebezinha da vovó — respondeu ela, estendendo
Priscila BarcellaSaí com Rafaela e, desde o início, percebi que seus olhos estavam constantemente em mim. Era um olhar carregado de algo mais profundo do que simples curiosidade. Saímos do elevador e estávamos indo até a garagem e já estava desconfortável, como se ela estivesse tentando me decifrar.Depois de alguns minutos de silêncio, resolvi quebrar o clima tenso.— Rafaela, você está me encarando como se eu fosse um quebra-cabeça de mil peças. O que está pegando?Ela corou, surpresa por eu ter notado. Tentou disfarçar ajeitando o cabelo atrás da orelha, mas não respondeu de imediato. Suspirei, parando no meio do corredor.— Fala logo. Você não é do tipo que guarda as coisas.Ela parou ao meu lado, apertando a alça da bolsa como se aquilo a ancorasse à realidade. Respirou fundo antes de começar:— É só que... eu não entendo como você e o Max conseguem estar tão bem resolvidos. A Nina só tem cinco meses. Isso não é tempo suficiente para superar tudo. Fiquei em silêncio por um mome
Priscila BarcellaCheguei ao escritório com o coração um pouco acelerado. O ambiente, que sempre foi meu refúgio, parecia diferente após minha ausência, mas não demorei a me reconectar com ele. Eu nem imaginava que estava com tanta saudade do meu mundinho.— Ela voltou! — Joyce exclamou ao me ver, surpreendendo-me com um abraço caloroso.— Joyce, estamos na empresa — repreendi com um sorriso contido, tentando manter a postura profissional. — Vem, vamos para a minha sala.Caminhei pelo corredor cumprimentando com um leve aceno quem cruzava meu caminho, mas sem trocar muitas palavras. Eu queria me concentrar. Quando entrei na sala, fechei a porta assim que Joyce entrou atrás de mim.— Certo, me conta tudo. O que aconteceu enquanto eu estava fora? — perguntei, ansiosa.Joyce começou a listar rapidamente os acontecimentos, mas antes que pudesse terminar, verificou o relógio.— Depois te passo o restante. Você tem uma reunião com a Larissa daqui a pouco. O Max passou tudo para você antes d
Priscila Barcella O dia havia sido longo, e o cansaço pesava sobre meus ombros. Mesmo assim, minha mente não parava, especialmente quando se tratava de Liam. Peguei o celular e digitei uma mensagem rápida, cheia de saudade. Ele respondeu em poucos minutos, e o simples "também estou com saudades de vocês" trouxe um sorriso aos meus lábios. Liam tinha esse dom de deixar tudo mais leve, mesmo de longe. Ajeitei Nina no colo, aproveitando o raro momento de calma após um dia de trabalho intenso. Seu corpinho quente e tranquilo contra o meu era um lembrete de que, apesar de todos os desafios, havia amor e aconchego na minha vida. Foi então que ouvi passos no corredor. Levantei o olhar e vi Sr. Fos e Salles vindo em minha direção. Assim que nossos olhares se cruzaram, Sr. Fos abriu aquele sorriso caloroso que parecia iluminar qualquer ambiente. — Olha só quem está aqui! — ele exclamou, apressando os passos até nós. Nina, imediatamente reconhecendo a voz, começou a balbuciar animada e se