Cinco anos atrás Acordei com uma ânsia de vômito tão forte que pulei da cama, tentando não acordar Max. Claro, foi em vão. Antes que eu alcançasse o banheiro, ouvi sua voz rouca e preocupada me chamar. — Pris, você está bem? Ele apareceu logo atrás de mim, me encontrando ajoelhada no chão enquanto vomitava. Sem dizer nada, segurou meu cabelo com cuidado, a preocupação evidente em seus olhos. — Acho melhor adiar essa viagem — ele murmurou. — Me poupe, Max. Estou só vomitando. Deve ser o resultado da minha brilhante ideia de fazer aquele sanduíche maluco com você às quatro da manhã — respondi, levantando-me para escovar os dentes. — Sua ideia foi colocar manjericão e chocolate no meio de um misto quente. Quem faz isso? — Ele tentou segurar o riso enquanto me observava. — Estava delicioso, admita. — Minha voz saiu mais leve, arrancando uma gargalhada dele. Ele veio até mim, me envolvendo em um abraço caloroso. — Não quero ir. Quatro meses sem você serão uma tortura. — Ma
Priscila Barcella Os dias seguiam como sempre, mas dentro de mim tudo estava mudando. Mavie já havia se mexido algumas vezes, e cada movimento era um lembrete de que minha vida jamais seria a mesma. Às vezes, eu me pegava rindo sozinha, imaginando como Max reagiria se soubesse. Mas essa não era uma conversa que eu estava pronta para ter – ainda não. Max continuava a ligar diariamente, suas conversas sempre leves e cheias de humor. Eu tentava esconder o cansaço ou os sintomas mais óbvios, mas era cada vez mais difícil. — Priscila, você anda muito distraída ultimamente. Não vai me dizer que arranjou um namorado e está me trocando? — ele provocou em uma noite, a voz carregada de humor. Eu ri, mas senti meu coração apertar. Não sabia como responder sem me trair, então usei o que tinha em mãos: o humor. — Nada disso, Max. Só estou cuidando de alguém muito especial — retruquei, minha mão automaticamente indo para a barriga. Houve uma pausa do outro lado da linha. — Alguém especial? N
Priscila BarcellaOs dias seguintes trouxeram Marina como uma sombra constante. Ela estava sempre lá, com suas palavras doces e gestos aparentemente preocupados. Eu queria confiar nela. Queria acreditar que, por ser mãe de Max, ela só podia querer o melhor para mim e para Mavie. Mas o peso crescente do meu corpo e o cansaço que parecia se multiplicar começaram a me sufocar.Marina era a primeira a aparecer quando eu sentia fraqueza.— Está tudo bem, querida. É normal, principalmente em gravidez de risco. Você precisa relaxar — dizia, enquanto ajustava os cobertores ao redor de mim com um sorriso maternal.Mesmo assim, uma sombra de dúvida insistia em pairar. Josefa, sempre vigilante, me olhava de canto de olho, seus lábios franzidos em desconfiança.— Essa mulher tem coisa demais debaixo daquele sorriso, Priscila. Eu sinto.Eu apenas revirava os olhos, tentando ignorar as palavras dela.— Josefa, ela está tentando me ajudar. Não comece.Mas Josefa não desistia. E no fundo, talvez, eu
Priscila Barcella Cheguei na minha cobertura com Nina adormecida nos braços. O peso suave dela parecia ancorar meus sentimentos em um lugar mais calmo, quase como se a respiração tranquila dela pudesse silenciar o caos dentro de mim. Assim que entrei na sala, vi Liam sentado no sofá, sozinho, as mãos entrelaçadas e o olhar perdido em algum ponto invisível. Parei por um instante, observando-o. Ele parecia frágil, mais pálido do que o habitual, como se os dias difíceis no hospital ainda o assombrassem. E, mesmo assim, havia aquela força silenciosa nele, uma presença que me lembrava que eu nunca estava sozinha. Quando ele notou minha chegada, se levantou imediatamente, os olhos brilhando de alívio e preocupação. Não precisou dizer nada; apenas veio até mim e me envolveu num abraço apertado. Um abraço que era abrigo, ternura e tudo o que eu não sabia que precisava. — Você está bem? — murmurou contra meu cabelo, a voz baixa e cuidadosa. Fechei os olhos por um segundo, permitindo-me m
Priscila BarcellaEstávamos abraçados quando ouvimos vozes no corredor. A porta se abriu e, para minha surpresa, entraram Marcelo, os meus pequenos e a Josefa, seguidos por Marta e o senhor Fos.— Mamãe! — os três gritaram ao mesmo tempo, correndo para mim.Abracei-os com força, sentindo aquela mistura de alívio e alegria que só os meus filhos me traziam. Peguei Belinha no colo, enquanto Ítalo agarrava minha perna e Laura se encostava no meu ombro.— Vocês estavam onde? — perguntei, ajeitando Belinha no braço.— A vovó Marta disse que o papai tinha que descansar, então levou a gente na brinquedoteca. A Íris saiu com a Kat pra fazer um trabalho — explicou Belinha, entregando a irmã como se fosse um assunto simples.— Eu pedi aos meus pais, e os dois deixaram — Íris disse com firmeza antes que eu tivesse tempo de falar qualquer coisa.Arqueei a sobrancelha, cruzando os braços. — Quer dizer que a sua mãe agora é só de enfeite, mocinha?Íris, no auge dos seus 14 anos, ergueu o queixo. — E
Priscila BarcellaNa manhã seguinte, acordei com um beijo suave do Liam. Ele parecia radiante, o que iluminou meu dia imediatamente. Assim que me levantei, ele foi para o quarto dele se arrumar, enquanto eu seguia para o meu. Marta já havia vestido as crianças, e só precisei pegar a Nina, toda arrumadinha para o seu primeiro dia na creche da empresa.Quando desci com ela nos braços, as crianças já estavam reunidas em volta da mesa. Me juntei a elas para tomar café, e foi então que o Liam apareceu descendo as escadas. Ele estava deslumbrante em seu terno, segurando a gravata na mão.— Nossa, papai! O senhor está maravilhoso, muito lindão! — Belinha foi a primeira a se manifestar, os olhos brilhando de orgulho.— Está lindo mesmo, pai! Mas para onde o senhor vai assim, todo chique? — Íris perguntou, com a curiosidade típica de seus catorze anos.— Vou trabalhar... — Liam respondeu, simples, mas percebi o traço de nervosismo em sua voz.— E quem vai cuidar da gente? — Ítalo interveio, fr
Liam RodriguesEstava empolgado com meu primeiro dia na FOS. Novo trabalho, novas oportunidades. Mas confesso que deixar a Nina na creche foi mais difícil do que qualquer entrevista de emprego.No estacionamento, Priscila me abraçava com força, os dedos se apertando contra minhas costas, como se quisesse atrasar o inevitável. Sentia sua respiração quente contra meu pescoço, rápida e descompassada. O nervosismo dela era palpável, e eu me peguei sorrindo. Minha Priscila, sempre tão controlada, agora parecia vulnerável.Ela se afastou um pouco, só o suficiente para me olhar nos olhos, as mãos ainda firmes nos meus braços.— Amor, precisamos ir. Se não, vou acabar sequestrando nossa própria filha de volta. — Ela tentou brincar, mas seu sorriso tremia nas bordas.— E você diz que eu sou o dramático da relação. — Inclinei a cabeça, tentando aliviar o clima. — Mas olha, se quiser desistir, a gente pega a Nina agora e inventa um plano B. Quem sabe começamos nossa própria empresa de babysittin
Priscila Barcella DIAS DEPOIS Voltar a trabalhar foi surpreendentemente fácil; o verdadeiro desafio estava em ficar longe dos meus filhos. Ainda assim, sempre que podia, pegava minha bebê para ficar comigo. Mesmo assim, o desejo constante era sempre o mesmo: chegar em casa e encontrá-los ainda acordados. A cada dia mais pessoas me diziam que eu estava mudada. Eu sorria, mas por dentro me questionava. Será que era verdade? Eu ainda era Priscila Barcella, só que, talvez, uma versão mais feliz de mim mesma. O advogado do Max trouxe alguma tranquilidade. Ele explicou que seria difícil me tirarem a guarda das crianças. Afinal, estavam bem cuidadas, felizes, e reconheciam nosso lar como o deles. Para minha surpresa, o Max foi além. Ele deu uma procuração para que o advogado resolvesse a situação da Nina com mais agilidade. Max prometeu que falaria com o padrinho dele, um juiz respeitado, para buscar soluções mais rápidas. Eu fiquei acordada naquela noite esperando uma ligação, mas a R