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Bônus 5 anos atrás

Cinco anos atrás

Acordei com uma ânsia de vômito tão forte que pulei da cama, tentando não acordar Max. Claro, foi em vão. Antes que eu alcançasse o banheiro, ouvi sua voz rouca e preocupada me chamar.

— Pris, você está bem?

Ele apareceu logo atrás de mim, me encontrando ajoelhada no chão enquanto vomitava. Sem dizer nada, segurou meu cabelo com cuidado, a preocupação evidente em seus olhos.

— Acho melhor adiar essa viagem — ele murmurou.

— Me poupe, Max. Estou só vomitando. Deve ser o resultado da minha brilhante ideia de fazer aquele sanduíche maluco com você às quatro da manhã — respondi, levantando-me para escovar os dentes.

— Sua ideia foi colocar manjericão e chocolate no meio de um misto quente. Quem faz isso? — Ele tentou segurar o riso enquanto me observava.

— Estava delicioso, admita. — Minha voz saiu mais leve, arrancando uma gargalhada dele.

Ele veio até mim, me envolvendo em um abraço caloroso.

— Não quero ir. Quatro meses sem você serão uma tortura. — Max me beijou suavemente, mas logo mudou o tom com seu habitual humor. — Nosso chefe me odeia.

— Te odeia tanto que te mandou se especializar nos Estados Unidos. Quem dera eu ser odiada assim — retruquei, sorrindo enquanto ele apertava minha cintura.

— Talvez eu te leve comigo, escondida na mala. — Ele riu, mas logo me encarou com seriedade. — Vai ficar bem sem mim?

— Max, não seja dramático. São só quatro meses. Vão passar voando. E, quem sabe, você não encontra alguém interessante por lá? — brinquei enquanto começava a tirar minha roupa para o banho.

— Você é cruel, senhorita Barcella — ele respondeu, um sorriso nos lábios enquanto me observava.

— Vou trabalhar, e você vai viajar lindo e cheiroso. Precisamos sair antes que Josefa chegue — avisei enquanto ajustava o chuveiro.

— Josefa não é sua mãe. Por que você se preocupa tanto em esconder o namorado dela? — Ele riu, mas logo ficou sério. — Estamos juntos há dez anos, Pris. Não acha que já passou da hora de assumir que somos mais do que isso? Que nos amamos?

— Max... sem rótulos, por favor. Somos amigos que, às vezes, transam. Simples assim. — Entrei debaixo do chuveiro, tentando fugir daquele assunto.

Max me seguiu para debaixo do chuveiro, ignorando completamente minha tentativa de encerrar o assunto. A água escorria pelos nossos corpos, mas o olhar dele queimava como se desafiasse minhas palavras.

— "Simples assim", né? — ele repetiu, com um tom que misturava ironia e algo mais profundo. — Você pode fingir que não sente nada, mas eu te conheço, Pris. Sei que é mais do que isso.

Eu revirei os olhos, tentando manter a compostura.

— Max, por favor. Não estrague nosso momento com essas conversas. Você sabe como eu sou.

Ele riu, mas era aquele riso sem humor, carregado de frustração.

— Sei, sim. Sei que você finge que nada te atinge, que não precisa de ninguém, mas você precisa. E tudo bem precisar, Pris.

O silêncio caiu entre nós, só interrompido pelo som da água. A verdade é que ele estava certo, mas eu não podia admitir. Amar significava abrir portas para a dor, e eu já tinha enfrentado mais do que podia suportar.

— Eu só quero que você seja feliz — ele disse, mais calmo, enquanto passava os dedos pelos meus cabelos molhados.

— Eu sou feliz. — A mentira saiu tão rápido que quase acreditei nela.

Max suspirou novamente, dessa vez parecendo desistir. Ele me puxou para um abraço, colando nossos corpos sob a água quente. Ficamos ali, em silêncio, como se aquele momento pudesse durar para sempre.

Quando ele saiu do banho, eu fiquei ali, sentindo a água escorrer e tentando não pensar. Ele era tudo o que eu queria e, ao mesmo tempo, tudo o que eu temia.

Pouco tempo depois, já vestidos, saímos do apartamento. O clima estava mais leve, como se ambos tivessem decidido ignorar o que havia ficado suspenso no ar.

— Não se esqueça de me mandar mensagem quando chegar, tá? — pedi, tentando parecer casual enquanto caminhávamos até o carro dele.

— Como se eu conseguisse esquecer você — ele respondeu com aquele sorriso despreocupado que sempre me desmontava.

Ele colocou as malas no porta-malas, mas antes de entrar no carro, parou diante de mim.

— Cuida de você, Pris. De verdade. E qualquer coisa me liga tá — ele falou e eu sorri.

— Até parece que você vai se livrar de mim — falei brincando.

Ele me puxou para um abraço forte, tão forte que senti meu coração acelerar. Por um instante, quis segurá-lo ali, impedir que fosse embora. Mas soltei. Eu sempre soltava.

— Certo, e você se cuida vai no médico ver o motivo de está passando tão mal — ele falou com carinho alisando o meu rosto e me beijou um beijo com tanto carinho ele sempre tinha este cuidado de não acionar nenhum gatilho meu.

— Boa viagem, Max.

Ele entrou no carro e, com um último aceno, partiu. Fiquei ali, observando até que as luzes traseiras desaparecessem na distância.

Por que era tão difícil deixar alguém entrar?

Fui para o trabalho e estava muito cansada vi quando ele me mandou mensagem e isso sempre me deixava mais calma.

No trabalho eu sempre tinha que ser fria, e isso não me dava trabalho, mas hoje foi um dia estranho mesmo não tendo o Max para ficar me trabalhando para me lembrar de comer ou até mesmo de bebê água, tinha o meu estômago, e eu sei que isso é culpa minha por ter inventado de comer besteira de madrugada.

Meu celular tocou e achei estranho pós era o DDD do Piauí, pensei na mesma hora na minha irmã e me assustei

Resolvi atender já que os enjôo não estavam deixando me concentrar.

Ligação on

— Alô — falei assim que atende.

— Olha Priscila manda o seu amiguinho para de falar com a minha mulher, eu não quero a minha mulher metida nas suas armações — pela voz eu já sabia perfeitamente que era o marido da minha irmã.

— Como você ousa ligar para mim seu cretino — falei com tanta raiva que senti uma pontada forte.

— Realmente eu não deveria falar com vagabundas como você, eu deveria falar com a mulher deste tal Max, ela vai amar sabe que ele tem uma amante. — ele falou com odeio.

— Está falando diretamente com ela, você não sabe de nada da minha vida e vem com está e o que o Max fez foi só uma burrice de achar que podia fazer eu e a minha irmã nos falarmos de novo, mas enquanto ela estiver casada com um ogro ignorante não dá para considera-la minha irmã — falei com muita raiva.

— Viu Pilar e você ainda defende esta cobra que nem tem consideração por você — ele falou e ouvi algumas coisas serem quebradas.

— Para com isso meu bem — ouvi a voz da minha irmã tentando soar calma como sempre sendo uma idiota que aceita qualquer coisa por causa deste cretino.

Desliguei o celular não estava disposta a escutar mais nada e a única coisa que eu fiz foi abri o meu aplicativo do banco e tirar a transferência automática me irmã me perdoe mas não vai ver um centavo meu este mês e não sei quando vou ser idiota de novo para dar algum dinheiro a este cretino.

Resolvi trabalhar em casa aquela dor estava estranha, e ontem a noite foi a mesma coisa, o que foi estranho já que ter relações com o Max nunca me causou dor.

E isso me fez pensar um pouco, no meu passado mas eu logo me esforçava a não pensar.

— Joyce, hoje eu vou trabalhar de casa — falei e ela assentiu mexendo no computador.

— A senhora realmente não está bem — ela falou preocupada. — Quer que eu marque uma consulta a senhora amanhã tem um período livre na agenda — ela perguntou meio receosa.

— Tudo bem pode marcar e não esqueça de me enviar o roteiro das duas campanhas que vamos filmar está semana tenho que resolver umas questões com o diretor do comercial — falei e ela assentiu.

A raiva fervia no meu peito, mas o que mais me incomodava era o peso daquela ligação. Sempre era assim com minha irmã. Pilar era doce, submissa demais, e se prendia a um homem que a fazia mais mal do que bem. E eu... Eu sempre acabava envolvida nesse caos.

Enquanto tentava respirar fundo para controlar minha pulsação, senti outra pontada no estômago. Era intensa, quase como se meu corpo estivesse tentando me avisar de algo.

Deitei no sofá e, pela primeira vez no dia, permiti-me parar. Meu corpo estava exausto, e as emoções não ajudavam. Minha mente começou a divagar, lembrando da última conversa com Max. Ele sempre insistia para que eu cuidasse mais de mim. “Vai no médico, Pris”, ele dizia, com aquela voz suave que fazia tudo parecer simples.

Mas eu odiava médicos. Detestava ser vulnerável.

Acariciei minha barriga inconscientemente. A dor parecia mais localizada agora, e, por um instante, um pensamento assustador cruzou minha mente. “Será que...?”

Fui tomada por uma mistura de medo e surpresa. Poderia estar grávida? Não fazia sentido... ou fazia? Os sintomas estavam ali, as náuseas, a sensibilidade, o cansaço. E agora, a dor.

“Não”, pensei, sacudindo a cabeça. Não podia ser. Não depois de tudo que já passei.

Peguei o celular, hesitando por alguns segundos antes de abrir a conversa com Max. Ele tinha acabado de chegar aos Estados Unidos, provavelmente ainda estava se instalando. Não queria preocupá-lo, mas precisava de alguém.

"Oi, Max. Chegou bem? Me avisa quando puder."

Enviei a mensagem e larguei o celular no sofá. A espera pela resposta era sufocante. Olhei para o teto, tentando ignorar as pontadas que agora vinham em intervalos mais curtos.

Minutos depois, o celular vibrou.

"Cheguei sim, Pris. Tá tudo bem? Tá se cuidando?"

Era tão típico dele me perguntar isso. Uma parte de mim quis confessar o que estava sentindo, mas a outra parte, a que sempre se escondia atrás de uma armadura, me impediu.

"Tô bem, só cansada. Aproveita por aí. Boa noite."

Enviei a mensagem e larguei o celular novamente, sem esperar resposta. Sabia que ele se preocuparia, mas eu não podia colocar isso sobre ele. Não ainda.

A dor aumentou, e a dúvida também. Algo estava errado, mas eu não sabia o que fazer. As memórias do meu passado começaram a emergir, me sufocando. Minha mãe sempre dizia que eu tinha que ser forte, mas naquele momento, só queria alguém para me segurar.

O silêncio da casa parecia me engolir. Hoje era o dia de folga dos meus funcionários só a Josefa estava, mas pelo jeito estava no apartamento dela. O peso daquela dor física se misturava com um aperto emocional que eu não conseguia identificar. Minha mente estava uma bagunça: Max longe, meu corpo enviando sinais confusos, minha irmã ela eu nem queria lembrar.

Pensei de ligar para a Natália mas ela estava na em um congresso de duas semanas na china, e depois ela iria se juntar a Max, e do jeito que a minha amiga é ela contaria para Max no mesmo minuto.

Levantei do sofá com dificuldade e fui até a cozinha. Talvez um chá resolvesse. Enquanto a água esquentava, minha visão começou a embaçar, e uma tontura tomou conta de mim. Segurei na bancada, tentando recuperar o equilíbrio.

“Priscila, você é forte. Isso é só um momento ruim”, murmurei para mim mesma, como se repetir isso pudesse me convencer.

Mas lá no fundo, sabia que estava enganando a mim mesma.

Depois de respirar fundo por alguns minutos, a tontura diminuiu. Peguei o chá e voltei para o sofá, tentando me concentrar em qualquer coisa que não fosse o turbilhão de pensamentos na minha mente.

Abri o celular e comecei a pesquisar. Não queria admitir, mas precisava saber. Sintomas como os meus... enjoo, dores, cansaço. As respostas que surgiam na tela me fizeram engolir em seco.

Ou eu estava infartando ou estou grávida.

Naquele momento um infarto naquela situação infarta não era a pior opção.

Passei a mão na testa, sentindo o suor frio que se acumulava. E se fosse verdade? E se... eu estivesse carregando algo dentro de mim? Um pequeno reflexo de mim e do Max. Meu coração bateu mais rápido.

Pensei em ligar para ele. Por um instante, minha mão foi até o celular, mas hesitei. Ele estava do outro lado do mundo, focado em um projeto que significava muito para sua carreira. Jogar essa bomba em cima dele agora seria egoísmo.

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Na manhã seguinte, a dor ainda estava lá, mas mais amena. Decidi que não poderia mais adiar. E para a minha surpresa a Joyce já tinha conseguido uma consulta no primeiro horário.

A sala de espera era pequena e abafada, e eu me sentia completamente deslocada ali. Quando chamaram meu nome, minhas pernas pareciam pesar uma tonelada.

A médica, uma mulher de olhar gentil, me ouviu com atenção enquanto eu descrevia os sintomas. Ela fez algumas perguntas, pediu exames e, com um sorriso encorajador, disse:

— Vamos descobrir o que está acontecendo, Priscila. Pode ser algo simples, mas é sempre bom ter certeza.

De volta ao consultório, minhas mãos tremiam enquanto abria o envelope. O peso do que estava prestes a descobrir parecia esmagar meu peito. Quando li a palavra positivo, meu coração disparou, mas não de alegria. Era medo, puro e cortante.

Grávida.

A palavra ecoava em minha mente, trazendo à tona memórias que lutei para esquecer. As quatro outras vezes em que isso aconteceu foram como feridas abertas que eu carregava comigo. Cicatrizes que não cicatrizavam.

Meu primeiro filho... Nem sequer tive a chance de ouvir seu choro. Ele foi arrancado de mim logo após o parto, morto por monstros que decidiram que eu não merecia nada, nem mesmo aquele pedacinho de esperança. Depois disso, cada gravidez foi um lembrete cruel do que eu suportava. O corpo que eles usavam, as vidas que surgiam disso, e as escolhas que nunca foram realmente minhas.

As outras três gravidezes... Foram o que os médicos chamavam de "interrupções", mas eu sabia que eram escolhas feitas na dor e no desespero. Eu não suportava trazer ao mundo algo que fosse um reflexo direto daquele inferno. Eu queria acabar com o ciclo, proteger qualquer inocência que pudesse nascer de mim. Mas a última vez... aquela quase me destruiu.

Os médicos disseram que as complicações poderiam me impedir de engravidar novamente. Naquele momento, achei que era um alívio. Como se o universo estivesse finalmente me poupando de carregar mais essa dor.

E agora, aqui estava eu. Grávida. Não de um monstro, mas de Max.

Olhei para o envelope mais uma vez, meu coração um turbilhão de emoções. Max, com seu jeito cuidadoso, com sua gentileza que parecia tão fora do meu alcance. Ele não era como eles. Ele nunca foi. Mas como eu poderia explicar isso a ele? Como confiar que esse bebê seria diferente, que eu seria diferente?

Fechei os olhos e me deixei cair no chão frio do banheiro. Eu estava ali, tentando encontrar forças em um lugar onde eu só via escuridão. “Você precisa enfrentar isso, Priscila,” sussurrei para mim mesma, mas minha própria voz soava incerta.

Porque, pela primeira vez, eu tinha uma escolha.

Os dias passaram como um borrão, mas o peso do segredo que eu carregava parecia crescer mais rápido do que qualquer coisa. Não era apenas o bebê – minha filha, percebi com uma pontada de emoção que mal ousava nomear –, mas também a decisão de não contar a Max.

Ele voltaria. Eu sabia disso. Max abandonaria qualquer coisa, até mesmo sua carreira, se soubesse. E eu não podia fazer isso com ele. Ele tinha uma vida para viver, sonhos para alcançar. E, além disso, havia o meu próprio medo. E se ele quisesse estar aqui apenas por obrigação? E se, no fundo, ele me culpasse por esconder isso dele?

Então, decidi agir como se nada estivesse acontecendo.

Mantive nossas conversas leves e descontraídas, como sempre. Max me ligava todos os dias, muitas vezes do fuso horário maluco em que estava. O som da sua voz era um conforto inesperado, um lembrete de que ele ainda estava ali, mesmo a milhares de quilômetros de distância.

— Então, senhorita Barcella, como vai sua rotina sem minha brilhante presença para irritar você? — ele perguntou em uma dessas noites.

— Ah, Max, você não faz ideia. Estou até bebendo água sem ninguém para me lembrar — brinquei, sorrindo ao ouvir sua risada do outro lado da linha.

— É um milagre. Vou ter que anotar no meu diário: "Priscila sobrevive sem mim."

A conversa fluiu assim, tranquila. Mas então, sem pensar muito, joguei a pergunta:

— Por curiosidade... Se você tivesse uma filha, quais nomes escolheria?

Houve uma pausa do outro lado, e por um momento pensei que ele estranharia. Mas Max era Max.

— Hm... Eu sempre gostei de Mavie. Acho bonito, soa doce. E Nina, talvez. É curto, simples. Por quê? Vai arranjar um gato e me homenagear?

Ri, aliviada pela forma como ele levou a conversa.

— Talvez. Ou talvez eu só esteja curiosa para saber o quanto você é brega com nomes.

— Você deveria falar. Quem escolheu José para o cachorro? — ele retrucou, rindo.

Depois que desligamos, fiquei um tempo olhando para o vazio. Mavie. O nome parecia perfeito, como se tivesse sido feito para ela. Minha vida.

Decidi naquele momento que seria esse o nome dela. Mesmo que ele não soubesse ainda, Max tinha escolhido o nome da filha que estávamos prestes a trazer ao mundo.

Continuei trabalhando como se nada tivesse mudado. Minha barriga ainda era discreta, e eu sabia disfarçar bem. O cansaço às vezes me pegava de surpresa, mas o pensamento de Mavie me dava forças.

Eu não sabia como seria o futuro. Não sabia se teria coragem de contar a Max antes que ele percebesse. Mas, por enquanto, estava decidida. Eu protegeria Mavie de tudo, inclusive do meu próprio medo.

©©©©©©©©

Continua...

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