Desde o dia que conheci William, o que mais me chocou foi a aparência dele. Ele parece muito com o meu filho, até no coração. É um menino tão bom, que me lembra muito o Manoel. Tenho mais três filhas e nove netos, mas nenhum é como o William.
Mesmo trabalhando, ele ligava para saber como eu estava e até me contava da vida dele. Já estava louca para conhecer meus netinhos; pelo que ele fala, os pequenos são maravilhosos, mas bem travessos. Quando vi o Liam caído no chão, sangrando, notei que ele tinha levado um tiro e corri por ajuda. No hospital, não me deixaram chegar perto. Quando finalmente pude vê-lo, ele só chamava pela Priscila. Então, estava determinada a falar com a senhora Priscila, mas não sabia o endereço dela. Só sabia que ela era a CMO da FOS, o que significa... eu não sei, mas deve ser importante. Afinal, ela deve ter muito dinheiro, para ter tantos funcionários em casa e tantos filhos, né? E eu que achava que só pobre tinha muitos filhos, estava muito enganada. E não vou mentir: de tanto ser barrada, estava com medo da Priscila ser uma mulher arrogante. Mas estava enganada. Ela é uma mulher forte, determinada e muito doce. Vejo como ela cuida das filhas, como cuida do meu menino, e o quanto ela se preocupou comigo, que não sou nada dela. Está claro como a água que ele não é só um funcionário para ela, e fico feliz porque sei que o meu menino ama ela. Saí com a minha neta e o senhor Sebastião; ele nos levou à minha casinha. Mesmo sem pedir à Priscila, ontem o senhor Max mandou me trazer. É uma pessoa muito boa e dá para ver o quanto ele se preocupa com a Priscila e com as meninas. Ele com certeza é um excelente pai, bem diferente do que o Liam falou. Mas homem ciumento só vê o defeito do outro. — Vovó, a senhora mora aqui? — Iris perguntou, olhando pela janela. — Sim, meu anjo, quer entrar para me ajudar? — perguntei a ela, que sorriu e veio comigo. — A casa é bem simples; sei que você está acostumada no luxo... — Que nada, vovó. Quando eu morava no Piauí, com os meus pais biológicos, a gente morava bem no sertão. Nossa casa era bem simples, só tinha dois quartos. Aqui com a mamãe Priscila é que tudo mudou — Iris falou e eu sorri para ela. Como a vida é... a Iris é a cara da mãe. Nunca pensei que ela não fosse mãe biológica. — Mãe, quem é esta garota? — minha filha mais velha, Manoela, falou assim que me viu entrando. — Esta é a minha neta, a Iris... — A senhora está ficando gaga? Primeiro essa obsessão pelo rapazinho... qual é o nome mesmo dele, o que parece com o Manoel... — Não começa, Manoela. Esta é a Iris, filha do Liam, bom... enteada, mas dá no mesmo. — Você vai fazer o que com essa pirralha? — Olha, você não deveria falar assim com a sua mãe. Se eu sonhasse em falar assim com a minha mãe, ela lavaria minha boca com sabão e esponja de aço. Mãe se trata com respeito — Iris falou. — Iris, vem com a vovó. Sua tia você só ignora — falei e minha filha olhou de cara feia. — Ela não vai dormir aqui — minha filha gritou. — Não se preocupe. Quem vai para casa dela sou eu — falei entrando no meu quarto. Se eu soubesse que Manoela ia estar aqui, não teria chamado a Iris para entrar. — A senhora tem muitos filhos? — Eu tive nove filhos. Alguns morreram ainda bebês, outros maiores, e tem outras que resolveram ser minha mãe agora. Mas vamos, porque aqui é perigoso, e não quero que nada aconteça com minha netinha. — A senhora gosta do tio Liam como se fosse seu filho mesmo? — Iris afirmou indo até o meu armário. — A senhora conhece o tio Liam desde o Ceará? — Não, só conheci ele aqui em São Paulo. Por que a pergunta, meu anjo? — É que tem esta foto do tio Liam aqui — ela falou mostrando a foto do meu filho Manoel. — Este não é o Liam. Este é o meu filho Manoel. Ele morreu há muitos anos, exatamente vinte e nove, a idade que tem o Liam. — Que louco, né? Eles são super parecidos. E esta é a esposa do Manoel? — É uma namorada dele lá do Ceará. Meu filho era soldado; o avião dele caiu na floresta amazônica e nunca acharam o corpo. Eu até acreditava que ele estava vivo, mas depois de 29 anos sem notícias, comecei a aceitar que o meu menino se foi. — Entendo. Às vezes, queria que fosse mentira a morte dos meus pais. Só queria que eles estivessem vivos em algum lugar... — É muito difícil perder alguém. — Sim, vovó. Eu estou gostando de ter uma avó. A minha avó de parte de mãe morreu quando minhas mães eram pequenas, e a minha avó de parte de pai eu não conheço. Então, a gente só tem a avó dona Josefa e a senhora. Estou gostando. — Que bom — falei abraçando ela. — Deixa eu ajudar a colocar suas coisas. Não precisa de muita coisa, não. Qualquer coisa, a minha mãe compra. Ela tem cara de brava, mas é boazinha — ela falou de um jeito doce. — Não vou me aproveitar da sua mãe. Eu já notei que ela é boa. Nenhuma patroa faria o que ela está fazendo pelo Liam. — Eu sei, vovó. Mas a mamãe ajudaria qualquer um dos funcionários. Mas com o tio Liam é diferente; ela gosta dele, mas tem a cabeça muito dura. — Eu notei que ela sentia algo... — Eu notei desde o dia que o tio Liam começou a trabalhar. Eles formam um casal bonito, e seria legal que eles fossem um casal. A Belinha já quer que o Liam seja nosso pai mesmo — ela falou colocando as roupas na mala. Terminamos de arrumar umas coisas e a Iris pegou as minhas coisas para não carregar peso. Ela é bem boazinha também. — E você vai para onde, Marta? — meu genro falou, um folgado que só me traz raiva. Eu trabalho feito uma condenada e ele passa o dia bebendo. — Vamos, meu anjo — falei com a Iris, ignorando ele. — Você é surda, velha? Vai para onde? Cadê o dinheiro para comprar a comida das crianças? — meu genro falou alterado. — Meu anjo, vai para o carro. A vovó já vai — falei para a Iris, já com medo dele querer me bater. — E eu não tenho dinheiro, hoje não tive como ir trabalhar. — Como é, velha? — ele falou pegando um pau. — Ontem eu disse que se chegasse sem nada, você ia ver. O meu genro veio para cima de mim e a Iris já ficou na minha frente. — Tião, Tião, socorro! — a Iris começou a gritar. ©©©©©©©©©©©© Continua.... Meus amores quem puder deixar o like e comentar isso me ajuda muito, espero que tenham gostado do bônus.Vovó Marta — Tião, Tião, socorro! — Iris começou a gritar.Eu estava nervosa e com medo de que ele fizesse algum mal à menina. Priscila e Liam nunca me perdoariam.— Garota, cale a boca! Você nem deveria estar na minha casa.— Esta é a casa da minha avó — Iris falou, com uma postura de autoridade igualzinha à mãe. — E você não vai tocar um dedo nela. Um homem velho como você pedindo dinheiro a uma senhora? Toma vergonha na cara.— Calada — ele falou, e tentei tirar a minha menina da frente dele.— Tião! — Iris gritou o mais alto possível.— A senhorita me chamou? — o motorista falou entrando. Um homem do tamanho do Sebastião assusta ainda mais com aqueles músculos todos.Quem olha para ele não sabe se ele é motorista ou segurança.— Este homem aí queria bater na minha avó. Acho que ele precisa enfrentar alguém do tamanho dele. — Iris falou autoritária.Ela tem uma postura que nitidamente está copiando de alguém, mas quando o motorista ficou na nossa frente encarando meu genro, conseg
Priscila Barcella Acabei dormindo ao lado do Liam. Max veio buscar a Nina após a reunião, para que ela pudesse dormir melhor. Acordei com a coluna doendo e os meus seios vazando. A preocupação com a minha bonequinha, que mama no mínimo duas vezes durante a noite, me consumia. Sabia que, se ela tivesse dormido aqui, teria sido difícil para todos. Liam ainda estava na mesma condição, imóvel e vulnerável. Olhar para ele assim me deixava com um nó na garganta. Peguei meu celular e liguei para casa para saber como estavam meus filhos e se Dona Marta tinha sobrevivido à primeira noite. Ela parecia uma doce senhora, mas não sabia como seria lidar com a rotina intensa dos meus pequenos. — Bom dia, senhora. Como está o Liam? — perguntou Josefa assim que atendeu, com a voz carregada de preocupação. — Está do mesmo jeito. E os meus anjinhos, como estão? — perguntei, tentando manter a voz firme. — A bebê não dormiu, mas Dona Marta já saiu para levá-la até você. Os outros estão se comportando
Priscila Barcella Estava ansiosa. Já fazia duas horas que levaram Liam para fazer os exames, e eu ainda não tinha recebido nenhuma notícia. Andava de um lado para o outro na sala de espera, sentindo-me como uma barata tonta. A cada passo, a angústia aumentava. O silêncio do hospital era perturbador, quebrado apenas pelo som distante de máquinas e passos apressados de enfermeiros. Meu coração estava acelerado, e a mente, repleta de cenários assustadores sobre o que poderia estar acontecendo. De repente, uma mão tocou meu ombro, me assustando. Virei-me rapidamente e vi que era Violet, seu rosto pálido e preocupado. — Ficar andando assim não vai resolver muita coisa — disse ela, me entregando um copo com água e um calmante. — Tome, vai te ajudar a se acalmar. Agradeci com um aceno de cabeça e tomei o calmante, esperando que ele trouxesse algum alívio para meus nervos à flor da pele. Senti o amargo do remédio na garganta, um reflexo de como minha vida parecia naquele momento. — O Max
Priscila Barcella Fiquei naquela sala por mais uma hora, e a cada minuto que passava, minha ansiedade aumentava. Meu coração estava apertado, e cada batida parecia ecoar em meus ouvidos. Me perguntava constantemente onde Liam estava e como ele estava. Recebi uma mensagem do Max, pedindo desculpas por não poder trazer a Nina. Ele teve um imprevisto e precisou ir para Brasília, mas prometeu que alguém estaria ajudando a Marta com as crianças, e que estaria de volta amanhã. Tentei me confortar com isso, mas a preocupação com Liam não deixava espaço para qualquer alívio. Então, para minha surpresa, a porta se abriu e Marta entrou com meus filhos e o senhor Fos. As crianças entraram correndo e me abraçaram com força. Eu precisava disso, precisava sentir o calor e o amor da minha família. Lágrimas de alívio e alegria brotaram em meus olhos quando vi Sebastião, Josefa e Ana entrando também. — Mamãe, o papai vai ficar bom, né? — Belinha perguntou, estendendo os bracinhos para mim, pedindo
Priscila Barcella Saí da sala, meu coração batendo acelerado. Cada passo em direção ao quarto onde Liam estava parecia durar uma eternidade. Quando finalmente cheguei à porta, senti um nó se formar no estômago. Eu estava prestes a vê-lo, mas não sabia em que estado ele estaria. Respirei fundo e empurrei a porta devagar. Liam virou a cabeça com cuidado quando me viu entrar. Seu rosto se iluminou com um sorriso fraco, mas reconfortante. — Pris...ci...la — ele disse com esforço, cada sílaba saindo com dificuldade. Seu sorriso, embora frágil, aqueceu meu coração. — Oi — falei, a voz embargada pela emoção enquanto me aproximava de sua cama. Senti uma onda de culpa me invadir. — Me desculpa, eu não deveria ter te mandado embora. Fiquei com raiva e não soube lidar. Mas me arrependi no mesmo minuto. Não tem como viver sem você — as palavras saíram atropeladas, a culpa e o arrependimento queimando em meu peito. Ele colocou a mão suavemente sobre minha boca, interrompendo meu fluxo de pala
Priscila Barcella Depois que as crianças foram embora, fiz Liam dormir o resto da tarde e a noite quase toda. Fiquei ao seu lado, observando-o dormir. Saí apenas para amamentar Nina, que estava sentindo minha falta. Mesmo querendo ficar com ela, estava preocupada demais com Liam para me afastar por muito tempo.Enquanto o observava, meu coração estava cheio de gratidão e preocupação. As memórias do momento em que o encontrei ferido me assombravam, mas vê-lo respirando tranquilamente me dava esperança.— Estou tão feliz que você está bem — sussurrei, sorrindo para ele, que ainda dormia.— Esta Priscila me assusta — ele murmurou de olhos fechados.Minha mente disparou. Assusta? Será que ele percebeu o quanto estou afetada por tudo isso?— Oi!? — respondi, confusa.— Você assim calminha me assusta, sabe? Mas obrigado por estar comigo...— Eu não sou doida de te deixar. Mas você está bem? — perguntei, tentando esconder minha ansiedade.— Estou, só com uma dorzinha na cabeça. O doutor me
Priscila Barcella Cheguei em casa e encontrei uma cena que nunca imaginei ver na vida: o senhor Fos, no tapete da sala, montando uma estrutura de Lego com Ítalo e Íris. Josefa, a governanta, brincava de comidinha com Belinha. Nina, minha bebezinha, não estava na sala. — Mamãe! — Belinha gritou ao me ver, sendo a primeira a notar minha presença. — Você brigou com o papai? — perguntou, preocupada. Ajoelhei ao lado dela, acariciando seu cabelo. Meu coração apertou ao ver a preocupação em seus olhinhos. — Não, querida. O Liam só queria o colo da mãe dele. A vovó Marta foi ficar com ele um pouquinho para que a mamãe pudesse descansar aqui com vocês — expliquei, beijando sua testa, tentando passar toda a segurança que ela precisava. — Eu entendo o papai. Eu também ia querer colo de mãe — ela disse, e logo Íris e Ítalo vieram me abraçar, envolvendo-me em um calor reconfortante que só os filhos podem proporcionar. — Só pela carinha da mamãe dá para ver que o tio Liam está bem — Íris com
Priscila Barcella Minha bebezinha aproveitou a noite para mamar. Ela quase não dormiu e, embora não estivesse com dor nem enjoada, só queria estar comigo. Mamava muito, me olhando com aqueles olhos grandes e curiosos, como se estivesse se certificando de que eu não iria embora — pelo menos foi o que pensei. Segurei-a firme, sentindo uma onda de culpa por estar ficando longe dela. Eu queria dar a ela todo o meu tempo, mas a realidade me forçava a me afastar. Acabei cochilando um pouco com ela ainda no meu seio, seu pequeno corpo aquecido contra o meu. O som do celular tocando me despertou. Não eram nem seis horas da manhã. Atendi sem nem olhar para o número, ainda muito sonolenta. — Alô — falei com os olhos fechados e a voz rouca de sono. — Eu achei que você tinha se afastado do meu filho — a voz de Marina, mãe do Max, estava nitidamente alterada e me fez despertar instantaneamente. — Você é realmente uma aproveitadora. Eu sabia assim que te conheci. E que história é essa de que eu