Eu não quis ver a criança. Nadine levou o recém-nascido para o apartamento dela e eu fiquei na casa alugada por alguns dias, sob os cuidados da enfermeira.
Não bastava tudo que sofri, ainda padeci com os peitos inchados e doloridos, vertendo leite, fazendo com que eu me sentisse uma vaca, tanto por produzir aquela coisa quanto por saber que teria realmente coragem de abandonar a miniatura de miniatura.
Nadine veio me buscar de carro naquela tarde. Assim que embarquei, percebi que o bebê estava no banco de trás. Embora eu tivesse certa curiosidade para vê-lo, não o fiz.
Já sabia que a criança tinha se comportado bem porque Nadine me disse, mesmo eu não perguntando. Conforme ela, só dormia e sempre de forma tranquila e havia aceitado bem a fórmula que substituía o leite materno.
- Sua cara está ótima! - Nadine observou assim que me viu, dando a part
- Seja bem-vindo, garotão! - dei-lhe um beijo na bochecha macia e cheirosa - Deram banho nele?- Sim - irmã Celina confirmou, com um sorriso.Andei com o menino no meu colo, completamente encantado. Eu amava crianças e talvez aquele teria um significado especial para mim, já que foi abandonado exatamente como eu. Assim que sua mãe lhe deu a luz, livrou-se dele.- Encontrará amor e carinho aqui, eu garanto! Nunca lhe faltará nada. – Garanti, enquanto o observava dormir tranquilamente, feito um anjo.Sempre imaginei anjos como crianças. Para mim crianças eram a prova de que Deus ainda amava a humanidade. Enquanto elas nascessem ou estivessem entre nós, Deus ainda não havia desistido.- Como o chamaremos? – Alegra parou ao meu lado, olhando para cima, curiosa.- Não tenho ideia... O que você acha?- Pode ter o sobrenome Dave de Alcâ
Era o aniversário de Danna Dave, a mulher que ocupava meus pensamentos 24 horas por dia, 7 dias na semana, 30 dias no mês. Eu respirava Danna Dave, sonhava com Danna Dave, chorava por Danna Dave. E aquilo estava me destruindo.- Você está horrível. – Pai José disse ao me olhar naquela manhã.- Só... Não tenho tido tempo para me barbear. – Menti.- Recebeu uma carta de Roma.Senti meu coração acelerar:- E?- O seu pedido está em processo de assinatura pelo papa. Está na última etapa para deixar de ser um padre, Killian. E lhe deram o prazo de trinta dias para deixar a residência e a paróquia. Um novo padre será enviado para Machia.- E... Não será o senhor?- Eu não quero voltar para cá. Em primeiro lugar porque pode haver rejeição depois da sua saída...- Trabalharei para que isto não aconteça. E se fosse você, sabe que não haveria rejeição, afinal, esteve à frente deste lugar por muito tempo.- Tempo suficiente para não querer voltar. Machia é um tanto quanto difícil... Ou melhor, o
- A Associação dos Direitos dos animais ficará feliz por eu ter livrado o mundo de vermes sugadores de sangue e disseminadores de doenças.Ele pegou minha mão, hesitante:– Estamos falando da mesma coisa?Eu gargalhei:- Acho que... Não!Meu pai meneou a cabeça:- Certas coisas não mudam, não é mesmo?- Como por exemplo? – Fiquei curiosa.- Você não se abrir comigo.- Por que acha que escondo algo? – Fiquei séria, imaginando se Nadine poderia ter lhe contado sobre o que houve.- Porque seus olhos não brilham como antes.- Isto... É ridículo. – Ri, tentando levantar.Júlio Dave pegou-me pelo pulso, fazendo-me sentar novamente:- O que posso fazer para que esta tristeza saia de dentro de você?- Nada! – Abaixei a cabeça, tentando conter minha vontade de implorar por justiça.Meu pai respirou profundamente, deixando claro o quanto se sentia frustrado. Depois levantou-se e saiu, me deixando ali, sozinha na mesa do escritório.Suspirei, olhando para o nada. Sabia que contar sobre o estupro
Arrisquei quando confiei a ela um dos maiores segredos, que não revelei a ninguém. E Nadine não me decepcionou.- Enfim, alguém fará 23 anos. – Nadine sorriu.- Basta de ter nove anos – meu pai me abraçou – Quem tem nove anos por 13 anos?Começamos a rir. Meu pai acendeu a vela e ele e Nadine cantaram parabéns de forma tímida. Foi estranho... Mas não ruim.- Dizem que ao apagar a vela você pode fazer um pedido. – Nadine sorriu.- Dizem que você só faz aniversário se apagar a vela, cantar o parabéns e comer o bolo. – Falei de forma um tanto quanto agressiva, lembrando das palavras de minha mãe, sentindo que ela queria mudar algo que estava enraizado em mim.A vela ainda estava acesa enquanto nós duas nos encarávamos. Nadine me deu um beijo na bochecha e me abraçou com força, sussurrando no meu ouvido:- Eu não quero tomar o lugar dela... Jamais almejaria tanto. Meu único desejo é que você seja feliz... Imensamente feliz. Eu amo você, mesmo que não seja a sua mãe. Amo você por ser exata
POV VANESSAAssim que Jorge e eu chegamos, ele abriu a porta e entrei, carregando o bebê conforto com o recém-nascido dentro. Aquela coisinha era tão linda... E fofa... E cheirosa.Ele resmungou, abriu os olhos e sorriu. Pensei em dizer algo, mas logo cerrou os olhinhos novamente.Jorge abraçou-me por trás, descansando o queixo no meu ombro. Observou nosso filho e disse com a voz embargada:- Só eu que estou achando ele a coisa mais linda e perfeita deste mundo?Sorri:- Eu não sabia que seria capaz de amá-lo tanto!- Não é minha intenção criticar... Mas como alguém é capaz de levar esta criaturinha inocente por nove meses dentro do corpo e depois... Se desfazer? Ele não é um objeto que pode ser descartado... É um ser humano! Uma criança... Dependente de nós para tudo.Pus o bebê conforto no
Assim que Jorge chegou perto, a mãe dele desceu rapidamente as escadas, com um sorriso radiante no rosto. Olhou para nosso filho e exclamou, maravilhosa:- Ele é a sua cara! E os cabelos... Crescidos e pretinhos, como quando você nasceu! – Ela pegou Gabriel dos braços de Jorge imediatamente.Todos foram até ela conhecer a criança. E entre exclamações fofas e vozes imitando bebês, Gabriel acordou e começou a chorar. Logo o trouxeram até mim. Assim que peguei meu filho nos braços, imediatamente ele parou de chorar.- Ele sente o cheiro da mãe. – A tia de Jorge observou – Sabia que os bebês reconhecem a voz da mãe desde dentro da barriga?Meu coração pareceu querer sair para fora do peito com a fala dela. Olhei imediatamente para Jorge, que antes de responder alguma coisa foi cortado pela voz firme de sua avó:-
- Não quero me intrometer na vida de vocês, Vanessa – mamãe foi sincera, como sempre. A nossa relação sempre foi baseada na confiança e sinceridade.- Eu sei, mamãe!- Mas também não quero que abra mão dos seus sonhos.- Não abrirei. Mas minha decisão está tomada.- Não quero que se arrependa depois, Vanessa.- Mãe, eu não sou você! – Esbravejei, surpreendendo tanto ela quanto Jorge, que largou a caneta sobre a mesa, me olhando.Gabriel, por sua vez, começou a rir do meu tom de voz. O peguei dos braços de minha mãe. Cada vez que ele sorria era mágico... Principalmente agora que os dois dentes inferiores já haviam apontado.Minha mãe levantou-se:- Eu nunca disse que você deveria ser como eu, Vanessa!Tentei me acalmar. Eu sabia que mamãe n&
- Padre, me ouça...- Posso lhe dar a penitência antes mesmo de terminar... – Minha voz mal saiu.- Pintar a igreja? – Imaginei um sorriso em seu rosto enquanto dizia aquilo.- Ficar ao meu lado... Para sempre.- Isto... Não seria uma penitência.- Eu... Queria tê-la aqui comigo... Por que, Danna? – Eu pronunciava cada palavra com dificuldade, abrindo a gola da batina sentindo o suor escorrer de nervosismo – Por que se foi? Por que não me atendeu? Por que voltou?- Eu preciso me confessar, padre.Padre? Ela me chamava de padre agora, depois de ter se referido a mim como Killian desde sempre?Por que ouvi-la me chamar daquela maneira doía, como se a próxima frase que fosse dizer era que me deixaria para sempre e jamais retornaria?- Não sei se posso ouvi-la, Danna... Não seria ético.- Mas o que lhe falo em confiss&ati