- Padre, me ouça...
- Posso lhe dar a penitência antes mesmo de terminar... – Minha voz mal saiu.
- Pintar a igreja? – Imaginei um sorriso em seu rosto enquanto dizia aquilo.
- Ficar ao meu lado... Para sempre.
- Isto... Não seria uma penitência.
- Eu... Queria tê-la aqui comigo... Por que, Danna? – Eu pronunciava cada palavra com dificuldade, abrindo a gola da batina sentindo o suor escorrer de nervosismo – Por que se foi? Por que não me atendeu? Por que voltou?
- Eu preciso me confessar, padre.
Padre? Ela me chamava de padre agora, depois de ter se referido a mim como Killian desde sempre?
Por que ouvi-la me chamar daquela maneira doía, como se a próxima frase que fosse dizer era que me deixaria para sempre e jamais retornaria?
- Não sei se posso ouvi-la, Danna... Não seria ético.
- Mas o que lhe falo em confiss&ati
- Pedi que ele usasse camisinha... Mas tudo que ouvi foram deboches.- As marcas... Nos seus pulsos... Nas pernas... Braços...- Nos pulsos foram causadas pelas algemas. Ele me segurou pelos braços e pernas... Mas não tenho certeza se os hematomas foram causados somente por ele.- Não me diga que... Havia outra pessoa.- Não, não havia ninguém naquela tarde a não ser eu, Lourenço... E o banco traseiro da viatura dele. Depois de se satisfazer... E gozar dentro de mim, me ferindo não só no corpo, mas também a alma, Lourenço foi embora... E deixou claro que eu poderia dizer para qualquer pessoa, que ninguém acreditaria em mim... Porque eu era uma mentirosa.Meus lábios tremiam de tanta raiva e tive vontade de me punir fisicamente até não aguentar. Se eu não tivesse a mandado embora... Se não tivesse acreditado cegamente
- Me perdoe! Me perdoe por não acreditar em você!Eu sabia que tinha dezenas de pessoas ali. Mas eu não me importava. Tudo que queria era o perdão daquela mulher.- Pare de se culpar por coisas que não são de sua responsabilidade. – A voz dela foi séria.- Me culparei pelo resto dos meus dias.- De início também cheguei a pensar que se você não tivesse feito o que fez eu não teria saído da casa e ido parar naquela estrada... Então não teria encontrado Lourenço. Mas isso não faz sentido! – ela sorriu – Se fosse assim, nada aconteceria da forma como tinha que ser. Sempre haverá um porém, sempre haverá um “e se”... Para qualquer situação boa ou ruim em nossas vidas.- Você... Tirou o bebê?- Se eu tivesse tirado... Me perdoaria?- Não sou D
POV DANNA DAVEFiquei em choque ao ver Killian no chão desacordado, com o sangue vertendo da sua barriga.Nem sei como consegui me mover em meio à pequena multidão e ajoelhar-me ao seu lado, percebendo minhas lágrimas banharem seu rosto:- Fica comigo! Você não pode me deixar agora! – Implorei enquanto balançava seu corpo, em desespero.E sabia que todos falavam à minha volta, mas não conseguia compreender nada, pois só estava focada em Killian e...Enfim encarei Lourenço, que parecia incrédulo, ainda com a arma na mão.- Desgraçado, filho de uma puta... Você... O matou!- Ele... Iria me matar se eu não fizesse isto! – enquanto Lourenço falava com dificuldade o sangue escorria de sua boca – Foi legítima defesa... E todos viram! – Olhou para a multidão, ainda atordoado.- Killian estava louco... Completamente louco! – Nicolle disse, acolhendo Lourenço em seus braços – Ele iria matá-lo, meu filho! – os olhos dela estavam marejados.- Mãe, eu acho que quebrei um dente... – Lourenço tocou
Killian tomou as minhas dores. E agora estava ali, baleado, por minha culpa.- A porra do celular não funciona! – Calum gritou, entregando-me o aparelho.Peguei o aparelho e levantei-me, tentando encontrar a porra de um sinal que não existia. Eu poderia ir até a cachoeira, mas levaria muito tempo e talvez fosse tarde. Nem um helicóptero chegaria a tempo.Apesar de todo mundo estar curioso com o fechamento da história, muitos já haviam deixado a praça. E ninguém... Absolutamente ninguém nos ajudou.Calum saiu rapidamente, sem dizer nada. Fiquei ali, de pé, sem saber o que fazer para ajudar Killian.Num impulso, peguei seus braços e tentei movê-lo. Padre José me impediu:- Não podemos... Ele pode ficar ainda pior.Eu não sabia se tinha lágrimas nos olhos ou olhos nas lágrimas.- Fale, Danna... O que houve? Por Deus, diga alguma coisa! Só ouvi os gritos de que Killian estava ferido...Meneei a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa. Lembrei do quanto a terapeuta havia dito que eu precis
Vi Vanessa e Jorge entrando pela porta e corri na direção deles. Mais uma vez minha prima me salvava, mesmo sem saber.Eu e Vanessa nos abraçamos com tanta força que chegou a doer meus ossos. A saudade que senti dela foi algo que me maltratou muito nos últimos tempos. E o fato de ela não ter me mandado mais cartas e não ter me respondido a última me deixou preocupada, achando que minha prima pudesse ter me esquecido.Vanessa pegou meu rosto entre suas mãos e disse com os olhos cheios de lágrimas:- Eu gosto de você, Danna Dave. – Sorriu – E sei que tudo ficará bem.Balancei a cabeça e limpei as lágrimas:- Sabe o quanto detesto chorar?- Chorar demonstra o quanto você tem sentimentos... Sejam eles bons ou ruins. Não tenha vergonha de sentir... De se emocionar... De deixar claro que existe um coração aqui &nd
Eu já estava muito quebrada para carregar cacos para o resto da vida.Vi padre José voltando e corri em sua direção:- Alguma notícia, pai José?- Nada! Por enquanto só devemos aguardar – ele sorriu com amargura – Como se conseguíssemos seguir em frente sem ter certeza de que ele está fora de perigo.Engoli em seco e mencionei:- “Deus ordena ao seu povo que não minta, nem use falsidade com o próximo”Padre José me encarou e seus lábios tremeram levemente. Fui além:- Eu li o antigo testamento, conforme lhe prometi. E claro que espero o novo, que o senhor me disse que daria quanto eu terminasse. Não sou fiel a Deus... Sequer acredito ou gosto Dele. Mas sou boa de memória... Ou talvez só tenha decorado as passagens sobre a mentira porque no passado praticamente vivi dela.- N&ati
Dei-lhe um beijo nos lábios, tentando conter as lágrimas:- Eu tive tanto medo! – Confessei.- Devem estar pensando... Que você é uma louca pecadora... Por beijar um padre! – ele sorriu, fazendo uma careta de dor.Talvez o médico estivesse certo e conversar realmente o cansasse um pouco.- Por que bateu nele? – Perguntei, me remetendo a cena horrível que todos presenciaram.- Tive vontade de matá-lo... E se ele não tivesse atirado... Eu teria batido nele... Até a morte.- Isto não adianta de nada, Killian! Em poucos dias ele estará bem novamente e fazendo isto com outras pessoas.- E acha que deixar por isto mesmo... É a solução? – ele gemeu.- Está com dor? – me preocupei.- Responda a minha pergunta! – Ele disse de forma séria.- Já ouviu falar em vinganç
POV KILLIAN DE ALCÂNTARADeus, por que fez isto? Por que deixou que justo Vanessa adotasse a criança?Apesar de tudo Danna havia tomado a decisão certa, de deixar a criança para adoção porque sabia que não poderia amá-la. E como reagiria quando soubesse que o filho ficaria para sempre na sua vida?O contato com a criança a faria voltar atrás? Danna sentiria alguma coisa pelo filho se não soubesse que era seu?Eu era ciente de que como padre não devia aceitar a atitude de Danna, que se desfez do próprio filho, sangue do seu sangue, independente da forma como havia sido gerado. Mas já fazia um tempo que eu não pensava mais como padre quando se referia àquela mulher. Então não só a compreendia, como também ficaria ao seu lado.Eu não tive dúvidas de que o bebê que Vanessa adotou era a crian&cced