Levantei o dedo e ele fingiu não me ver por um tempo, enquanto continuava a falar. Até que comecei a balançar meu braço para um lado e para o outro, sendo que o professor Jax foi obrigado a se dirigir a mim:
- Senhorita Dave... Alguma dúvida?
- Creio que minha mente e criatividade possam ir bem além, senhor Gatti... Minha dúvida é: posso fazer o pênis na minha escultura?
Ele me encarou um tempo antes de responder:
- Como eu disse... Use sua criatividade e imaginação.
- Acontece que estou em dúvida porque quero fazer um pênis bem grande na minha escultura...
Risos novamente até que Jax novamente se saiu bem:
- Se sua criatividade quer modelar um pênis grande, já que acredita que esta seja a mudança física do homem através dos séculos, sinta-se à vontade. Só não esqueça que não é somente sobre modelar sua escultura... Não pode fugir do tema que propus.
- Por que nas esculturas antigas os pênis são tão pequenos? – Uma colega questionou.
- Ótima pergunta, senhorita Stanford – ele aplaudiu-a - Para os gregos e romanos antigos, órgãos genitais grandes eram considerados feios. Os escultores só modelavam órgãos genitais pequenos para deixar claro: este homem é um intelectual racional e, como tal, tem seus instintos sob controle.
- Que interessante! – Outro colega exclamou.
- E o senhor tem seus instintos sob controle, professor? – Provoquei, com um sorriso debochado.
- Sim... Ao menos no trabalho, onde o intelectual e o racional habitam em todo meu ser! Em casa, com minha esposa, abandono este ser intelectual e me torno um animal irracional. – Sorriu e piscou.
Todos aplaudiram e houve até quem assobiou, venerando a ideia de que ele só dormia com a esposa e era um homem fiel. Engoli em seco a afronta e percebi que talvez Jax não cederia às minhas investidas.
Quando o professor Jax nos encaminhou até a sala onde era o laboratório de artes plásticas, peguei minha bolsa e fui diretamente para a sala do reitor.
- Quero falar com o reitor. – Olhei para a secretária.
- O senhor Jackson está ocupado.
Ignorei a fala dela e fui em direção à porta, abrindo-a. Deparei-me com o senhor Jackson lendo alguns documentos, concentrado.
- Senhorita... Dave? – Retirou os óculos de grau quando me viu, surpreso.
Fechei a porta atrás de mim e sentei-me à frente dele, sem que me solicitasse.
- Vim falar sobre o senhor Gatti. – Anunciei, sem rodeios.
- Algum... Problema? – Ele arqueou a sobrancelha.
- Sim... Muitos problemas.
- A propósito, como está seu pai, o senhor Júlio Dave?
- Ocupado, como sempre. – Revirei os olhos, entediada.
- Será que o senhor Dave concorrerá este ano novamente a governador do nosso estado? Seria um prazer votar no melhor político que já tivemos à frente de...
- Estou me fodendo para o meu pai! – Deixei claro – Vim aqui denunciar um caso de importunação sexual.
- Importunação sexual?
- Sim... O senhor Gatti está me importunando sexualmente.
- Poderia, por favor, não usar o termo “fodendo” na minha sala, senhorita Dave?
Eu ri:
- Meu pai praticamente sustenta esta faculdade com suas “grandes doações” em dinheiro vivo para bancar bolsistas folgados... E o senhor diz que não posso dizer um simples “fodendo”? Este lugar praticamente é uma extensão da minha casa, já que é sustentado pelo meu pai. Portanto, falo o que quero, como e da maneira que eu bem entender, senhor Jackson.
Ele engoliu em seco e percebi suas bochechas se enrubescerem de imediato. Não era novidade para ninguém que meu pai mandava e desmandava naquela porra de cidade, estado e havia sido inclusive cogitado para ser presidente. Júlio Dave ajudava praticamente todas as instituições de caridade, doava dinheiro para faculdades, a fim de manter quem não tinha condições com bolsas de graduação e pós e eu tinha que cuidar com a minha boca? Não, eu não precisava ter papas na língua! O sobrenome Dave mantinha aquele homem que estava à minha frente no poder.
- Os atos de 'passar a mão', apalpar, beijar à força, ejacular em público, entre outras ações, que aconteçam sem o consentimento da vítima e sem violência física ou grave ameaça são considerados “importunação sexual”. – Deixei claro.
- E qual destes atos o senhor Gatti cometeu, senhorita Dave?
- Durante a semana tive algumas dúvidas sobre a aula dele... E depois que todos saíram, fui até sua mesa e pedi esclarecimentos... Não quis perguntar durante a aula, em público, porque não me senti a vontade e tive um certo receio de ser ridicularizada. Acontece que primeiro o senhor Gatti resistiu em esclarecer minhas dúvidas, alegando que já o tinha feito em aula, sendo que ele não é pago por hora e sim mensalmente, como é de seu conhecimento. Ou seja, tinha obrigação sim de me auxiliar e sanar minhas inquietações intelectuais...
- Inquietações intelectuais? – Ele arqueou a sobrancelha, confuso.
- Então, depois eu ter praticamente implorado por ajuda ele decidiu enfim me auxiliar e enquanto eu falava, recostei-me à mesa, para mostrar-lhe meu laptop... E senti seus olhos sobre meus seios, de forma libidinosa e...
- Não há como afirmar isto, senhorita Dave. Talvez ele realmente estivesse olhando para o laptop. O senhor Gatti é um dos melhores professores que temos na faculdade de Belas Artes. Além de totalmente qualificado, é um ótimo profissional... Ético, dedicado e... Sempre muito elogiado não só pelos alunos, mas também por seus colegas.
- Ele tocou meus seios, senhor Jackson!
- O que? – Ele franziu a testa e arregalou os olhos – O senhor Gatti fez isto?
Deixei as lágrimas escorrerem e ele me entregou um lenço de papel:
- Acalme-se, senhorita Dave... Por favor.
- O senhor Gatti tocou meus seios de propósito... E sinceramente, não esperarei chegar ao ponto de deixá-lo me beijar à força ou ejacular em mim, sem meu consentimento, para tomar uma atitude e denunciá-lo por “importunação sexual”. Quero o professor de Artes Plásticas fora desta faculdade... E não gostaria de envolver meu pai nisto, se é que me entende. Afinal, não quero prejudicar a faculdade e o nome que ela tem a zelar com o que me aconteceu.
- Eu... Sinceramente não esperava isto do senhor Gatti... – ele balançou a cabeça, atordoado – A senhorita... Fará uma denúncia formal, na Polícia?
- Eu sei que deveria... Mas não desejo prejudicar o senhor Gatti de tal forma, já que sei que ele tem uma família para sustentar e talvez não consiga nunca mais um emprego. Apesar de tudo, sou humana e empática.
- Mas... A senhorita foi... Tocada por ele. Se sequer passar pela cabeça do seu pai que isto aconteceu nas dependências da faculdade e eu não tomei as providências cabíveis... Nem quero pensar no que o senhor Dave faria.
- Posso guardar este segredo, senhor Jackson.
- Não é sobre guardar um segredo, senhorita Dave... Eu não posso deixar isso em sigilo. Irei demitir o senhor Gatti e obviamente ele deverá saber o motivo. Iremos até o fim nesta história e os culpados serão punidos.
- Não... Definitivamente eu não gostaria de prejudicá-lo desta forma. Quem irá pôr comida na mesa daquelas pobres crianças que ele chama de... Filhos?
- A esposa dele tem uma doença autoimune. O senhor Gatti definitivamente precisa muito deste emprego, até mesmo pelo plano de saúde. E exatamente por este motivo ele deveria ter sido correto e ético e não ter cometido o crime que cometeu dentro desta instituição. Ele será punido... Não só como funcionário desta faculdade, mas também na forma da lei.
Nossa casa foi construída no alto de um morro. Com engenharia e arquitetura moderna, era baseada na estrutura do lugar onde morava o Homem de Ferro, personagem da Marvel. Tinha dois pavimentos, sendo que o acesso principal se dava pelo superior, de carro. A descida em direção à garagem era em espiral, em volta da casa e o automóvel parava praticamente dentro da nossa sala de estar.Praticamente 70% da nossa casa era rodeada pela piscina de borda infinita, que nos dava uma vista privilegiada de toda a cidade. Praticamente livre de concreto, a não ser nas estruturas que ligavam a casa à montanha, todas as paredes externas eram de vidro blindado.Nossa residência chamava a atenção não só pela construção futurista, mas também por ser toda autossustentável. As paredes externas em que os vidros não ficavam evidentes eram ocupadas por trepadeiras verdejantes n
- Ele não me estuprou ou algo do tipo... – Tentei defender o professor.Senti a mão de Nadine no meu ombro:- Não fale como se o que este homem fez não fosse algo terrível, Danna. Assédio, importunação, estupro... Tudo é muito parecido e fere a honra da mulher. Sei que é difícil e você deve estar com muito medo neste momento. Mas precisa denunciar. Estaremos ao seu lado... Seu pai e eu.Ela tentou me abraçar, fazendo com que eu me esquivasse violentamente de seu toque.Percebi que Nadine deu um passo para trás e mordeu o lábio, falando ao meu pai:- Ela precisa... De apoio, Júlio!- Eu... Estou apoiando.- E carinho. – Nadine continuou.- Carinho? – Ele perguntou, confuso.- Carinho? – Olhei-a, sem entender nada.- Dê um abraço na sua filha, Júlio... – Os
Quando cheguei na faculdade naquela manhã, a vice-reitora foi à nossa sala e avisou que o senhor Jax Gatti havia sido demitido e outro professor o substituiria, tendo a mesma formação acadêmica do antigo professor de Artes Plásticas.Embora todos tivessem sido pegos de surpresa, não falaram nada, afinal o novo professor já estava presente e iniciou sua aula de forma expositiva, chata e nada lúdica ou atrativa. Parecia que o reitor havia feito de propósito ao substituir o professor de corpo atlético e chamativo por um senhorzinho que parecia ter saído do asilo para tomar o lugar de Jax.Encerrada a aula, ouvi os comentários próximos:- O que será que houve com o senhor Gatti?- Ouvi certo ou disseram “demitido”?- Por que o demitiriam? Ele era um ótimo professor e nunca faltava!- O certo &e
- O que esperava? Que me acusaria e assim eu ficaria com você? – ele balançou a cabeça, atordoado – Confesso que tenho rezado muito... E pedido a Deus que não me faça pegar uma arma e dar um tiro no meio da sua testa.Desta vez foi eu que dei um passo para trás, amedrontada com as palavras dele.Percebi as lágrimas escorrendo de seus olhos quando Jax disse:- E eu não quero ser esta pessoa... Que tem vontade de matar outra com tamanha crueldade... Como penso em fazer com você.Engoli em seco e disse:- Tentarei... Resolver isto...- Por favor, Danna, faça isto. Minha vida está nas suas mãos e você sabe disto.Entrei na limusine e mandei que o motorista me levasse para casa. Fui diretamente para o meu quarto e tomei um banho demorado, pensando em como resolveria aquela porra.Claro que Jax merecia sofrer um pouquinho, já qu
- Pai... Por favor, acalme-se! – Pedi, com um pouco de dó de Jax.- Acalmar-me? – Júlio Dave olhou para mim e depois para o professor – Só não quebro a sua cara aqui mesmo porque sei que pagará pelo crime que cometeu.- Eu não fiz nada, senhor Dave. – Jax me olhou, implorando por ajuda.A mulher deu um passo, ficando à frente de Jax e olhando com audácia para meu pai:- O senhor deveria se envergonhar de apoiar as mentiras da sua filha louca. – Pôs o dedo em riste na direção dele.- Cuide como fala! Não sabe com quem está lidando. – Meu pai disse entredentes.- Não sei e não quero saber. Acha que tenho medo do seu sobrenome ou do quanto tem de dinheiro na sua conta bancária? A verdade virá à tona e o senhor terá que pedir desculpas ao meu marido por ter acreditado nesta mulher
- Onde aconteceu o assédio?- Na sala de aula, após o término do período do professor.- E por que estavam só vocês dois ao final da aula, sem a presença de nenhum outro colega?- Porque eu que tinha dúvidas sobre a matéria e não os outros colegas. – Respondi de forma firme.- Sua amiga... Moana... – ele leu o nome dela anotado em um dos seus milhares de papéis – Fez questão de deixar claro que você pediu que ela ficasse do lado de fora da sala e trancasse a porta, não deixando ninguém entrar.Fiquei em silêncio, incrédula sobre Moana ter falado aquilo. Era um absurdo minha amiga ter me traído daquele jeito.- Você pediu que sua amiga trancasse a porta enquanto estivesse com o professor Jax na sala, após a aula? – O delegado me perguntou em tom sério.- Delegado, n&atild
Cidade de Machia, anos antesAs mãos de Juliana me tocavam sobre a calça e eu ria, tentando me desvencilhar:- Estou dirigindo, Juliana!- E que importância isto tem? - Ela riu, de forma provocante.- Preciso ficar atento ao trânsito.- Como se tivesse muito movimento em Machia. - Gargalhou, não me dando atenção e pondo uma de suas mãos dentro da minha, alcançando meu pau completamente endurecido.- E se saíssemos de Machia? - Sugeri.- Você propondo isto? - Ela parou a mão de repente, ainda dentro da minha calça.- Não estou falando de sair daqui para viver fora da cidade - ri, olhando-a de relance - Estou falando de irmos a algum lugar diferente agora, neste momento.Juliana suspirou e fez beicinho:- Me diga que um dia me levará embora desta porra de cidade.- Sabe que Machia é importante para mim
Quando abri os olhos novamente, percebi que estava num hospital. Tentei levantar, mas fui impedido por alguém. Deparei-me com o padre José:- Pai?- Tente se acalmar, meu filho. Ainda não pode levantar.Senti uma leve dor na cabeça e olhei ao redor, me dando em conta de que estávamos somente nós dois ali:- Juliana? Onde ela está?O padre José evitou meus olhos e senti um frio na barriga:- Pai, me diga que Juliana está bem.- Eu não posso mentir, Killian.Engoli em seco, fazendo uma nova tentativa de levantar, que ele conteve:- Você também se feriu.“Também”? O que aquilo queria dizer? Que Juliana também estava ferida?- Como ela está? Me diga que não foi nada grave, por favor.Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa a porta se abriu e entrou uma mulher que imaginei ser a m&