- E então? – Moana quis saber – O senhor Gatti pareceu bem furioso quando saiu.
- Ele pode ficar furioso... – sorri – Gosto dele ainda mais assim... Arisco!
- Acha que ele realmente vai se render? O senhor Gatti nunca lhe deu sequer a entender que pode rolar algo entre vocês.
- Jax vai ficar comigo... Se não for por bem, será por mal.
- Que ele é um gato todo mundo aqui já sabe – ela sorriu – Aquela bundinha gostosa no jeans apertado deixa todo mundo em polvorosa! Mas o professor não é só gostoso... Ele dá uma boa aula. Por que você o escolheu?
- Nossa, você fala como se o fato de eu o ter escolhido fosse horrível! – Fiz careta.
- Não! Eu não quis dizer isto! – ela me olhou seriamente – Só fiquei em dúvida do motivo de ser “ele” e não qualquer outro colega da nossa idade, por exemplo... E livre.
- Gosto de homens comprometidos! – Confessei, rindo.
- Mas isto... Faz com que nunca possa ter um relacionamento de verdade...
- Não me importo! – dei de ombros – Relacionamento é só sexo mesmo. Quem se interessa em ter alguém controlando sua vida ou se preocupando com você? Olhe só... – mostrei para ela meu braço arrepiado – Chega a me dar calafrios só de pensar em me envolver emocionalmente com alguém.
- Se não é amor pelo professor Jax... Por que está fazendo isto tudo?
- Porque eu quero! E o que eu quero, eu tenho! Ele não pode dizer não para mim... Aliás, ninguém pode dizer não para mim... Sou Danna Dave, esqueceu? – Não contive o riso.
- Danna? – Lucas parou na minha frente – Festinha hoje à noite na minha casa? – convidou - Vai ter bebida da boa... – aproximou-se da minha orelha e sussurrou – E erva e pó de excelente qualidade. E garantiram também suas balinhas preferidas!
- Talvez eu apareça por lá. – Mordi o lóbulo da orelha dele, antes que se afastasse.
Lucas tentou me beijar e virei o rosto, deixando que seus lábios tocassem minha bochecha. Ele riu:
- Será que você vai “dar” para todo mundo menos para mim?
- Sua mãe nunca lhe disse que você não é todo mundo? – Provoquei, em tom de deboche.
- Neste caso, eu quero ser todo mundo! – Piscou – Tem uma sauna próxima da piscina na minha casa que é o lugar perfeito para eu comê-la!
Eu ri e continuei andando deixando-o a falar sozinho.
- Eu não gosto de Lucas. – Moana fez questão de deixar claro.
- Ele não convidou você para a festa, então não se preocupe.
Moana estreitou os olhos:
- Nossa... Quanto mal humor!
- Mal humor? – gargalhei, com ironia – Talvez eu realmente não leve você comigo a lugar algum... Já que ontem saiu sem sequer me convidar.
- Eu... Não saí... – Ela disse nervosa.
- Liguei para sua casa e me disseram que você saiu com suas “amigas”! Achei que eu era sua única amiga.
- Eu saí... Sim... Havia até esquecido. Mas não foi nada... Importante.
- Você não pode ter outras amigas além de mim.
- Elas... Não são tão amigas.
- Por que não me convidou, porra?
- Eu... Sabia que você tinha passado o dia envolvida com a surpresa do professor Jax... E achei que não fosse querer sair.
Suspirei, tentando manter a calma:
- Ok... Que bom que você presume as coisas e decide pelos outros.
- Me desculpe, Danna.
- Vou pensar! – Virei as costas e saí, fingindo realmente estar chateada.
Mas talvez eu não precisasse “fingir” para ela que eu estava chateada. Porque sim, fiquei muito triste porque ela saiu e não me convidou. E o pior, com outras amigas. Eu não era a melhor amiga dela? Ao menos deveria ser, já que elegi Moana minha única amiga.
Eu não fui à casa de Lucas e deixei o telefone desligado. Não estava a fim de sair, tampouco ficar doidona. No mês que fazia aniversário de morte de minha mãe geralmente eu ficava um pouco depressiva.
No dia seguinte a aula com o professor Jax Gatti era à noite. E eu decidi ir só naquele turno para a faculdade. O restante do dia passei na piscina, tomando um sol.
Enquanto estava deitada relaxando no meu colchão flutuante, de olhos fechados sob os óculos de sol, ouvi meu celular tocar.
- Alô! – Não reconheci o número.
- Senhorita Danna Dave?
- Sim, é ela! Como tem meu número? De onde é?
- Sou vendedora da Dior... Maritza, lembra? Você sempre compra comigo!
- Acha mesmo que eu lembro o nome de cada vendedora com as quais compro?
- Eu... Imagino que não, senhorita Dave. Mas me deixou seu número da última vez e pediu que ligasse assim que chegasse a nova coleção.
- Nova coleção? – retirei meus óculos escuros – Me interessa.
- Ainda nem expusemos o que recebemos. Poderá ver tudo em primeira mão!
- Feche a loja para mim.
- Fechar?
- Sim... Feche a loja. Quero exclusividade. Ou eu compro tudo que quero primeiro ou não iria à sua loja.
- Claro que falo com a dona... E fechamos para a senhorita.
- Perfeito! Amanhã às 16 horas estarei aí.
Imediatamente liguei para Moana, para que me acompanhasse nas compras. E para que ela não conseguisse me evitar, direcionei para a casa dela a ligação.
- Alô? – Ouvi a voz do outro lado da linha.
- Danna Dave. Quero falar com Moana!
- Senhorita Dave? – a mulher mudou o tom de voz, ficando mais séria e me tratando de forma polida.
- “Diga que não estou!” – Sim, foi aquilo que ouvi ao fundo, vindo da minha própria amiga, Moana.
Encerrei a ligação, sem esperar, pois entendi que Moana não queria falar comigo e depois certamente negaria, tentando me fazer acreditar que não ouvi aquilo.
Para mim seria horrível ter que encerrar a relação com minha única amiga. Mas talvez fosse necessário. Moana não sabia com quem estava lidando!
Naquela noite quando cheguei na aula, com um vestido provocante e sem nada por baixo, fingi que estava tudo bem com relação à Moana. Eu precisava de tempo para pensar no que fazer. E quando tinha aula com Jax, não conseguia me concentrar em quase nada a não ser nele e seus belos olhos escuros e grandes feito duas jabuticabas recém colhidas do pé. Os cabelos cortados curtos com os fios escuros e lisos, sempre bem penteados, davam a impressão de que ele sempre tinha recém saído do banho.
Depois que Jax deu seu discurso envolvente, que me fazia inalar oxigênio e expirar corações, falou:
- Hoje iremos ao laboratório de arte e vocês farão uma escultura de gesso com o seguinte tema: “O homem e suas mudanças físicas através dos séculos”. Quero muita criatividade... Soltem suas mentes... E produzam algo único.
Levantei o dedo e ele fingiu não me ver por um tempo, enquanto continuava a falar. Até que comecei a balançar meu braço para um lado e para o outro, sendo que o professor Jax foi obrigado a se dirigir a mim:- Senhorita Dave... Alguma dúvida?- Creio que minha mente e criatividade possam ir bem além, senhor Gatti... Minha dúvida é: posso fazer o pênis na minha escultura?Ele me encarou um tempo antes de responder:- Como eu disse... Use sua criatividade e imaginação.- Acontece que estou em dúvida porque quero fazer um pênis bem grande na minha escultura...Risos novamente até que Jax novamente se saiu bem:- Se sua criatividade quer modelar um pênis grande, já que acredita que esta seja a mudança física do homem através dos séculos, sinta-se à vontade. Só não esqueça que não é somente sobre modelar sua escultura... Não pode fugir do tema que propus.- Por que nas esculturas antigas os pênis são tão pequenos? – Uma colega questionou.- Ótima pergunta, senhorita Stanford – ele aplaudiu
Nossa casa foi construída no alto de um morro. Com engenharia e arquitetura moderna, era baseada na estrutura do lugar onde morava o Homem de Ferro, personagem da Marvel. Tinha dois pavimentos, sendo que o acesso principal se dava pelo superior, de carro. A descida em direção à garagem era em espiral, em volta da casa e o automóvel parava praticamente dentro da nossa sala de estar.Praticamente 70% da nossa casa era rodeada pela piscina de borda infinita, que nos dava uma vista privilegiada de toda a cidade. Praticamente livre de concreto, a não ser nas estruturas que ligavam a casa à montanha, todas as paredes externas eram de vidro blindado.Nossa residência chamava a atenção não só pela construção futurista, mas também por ser toda autossustentável. As paredes externas em que os vidros não ficavam evidentes eram ocupadas por trepadeiras verdejantes n
- Ele não me estuprou ou algo do tipo... – Tentei defender o professor.Senti a mão de Nadine no meu ombro:- Não fale como se o que este homem fez não fosse algo terrível, Danna. Assédio, importunação, estupro... Tudo é muito parecido e fere a honra da mulher. Sei que é difícil e você deve estar com muito medo neste momento. Mas precisa denunciar. Estaremos ao seu lado... Seu pai e eu.Ela tentou me abraçar, fazendo com que eu me esquivasse violentamente de seu toque.Percebi que Nadine deu um passo para trás e mordeu o lábio, falando ao meu pai:- Ela precisa... De apoio, Júlio!- Eu... Estou apoiando.- E carinho. – Nadine continuou.- Carinho? – Ele perguntou, confuso.- Carinho? – Olhei-a, sem entender nada.- Dê um abraço na sua filha, Júlio... – Os
Quando cheguei na faculdade naquela manhã, a vice-reitora foi à nossa sala e avisou que o senhor Jax Gatti havia sido demitido e outro professor o substituiria, tendo a mesma formação acadêmica do antigo professor de Artes Plásticas.Embora todos tivessem sido pegos de surpresa, não falaram nada, afinal o novo professor já estava presente e iniciou sua aula de forma expositiva, chata e nada lúdica ou atrativa. Parecia que o reitor havia feito de propósito ao substituir o professor de corpo atlético e chamativo por um senhorzinho que parecia ter saído do asilo para tomar o lugar de Jax.Encerrada a aula, ouvi os comentários próximos:- O que será que houve com o senhor Gatti?- Ouvi certo ou disseram “demitido”?- Por que o demitiriam? Ele era um ótimo professor e nunca faltava!- O certo &e
- O que esperava? Que me acusaria e assim eu ficaria com você? – ele balançou a cabeça, atordoado – Confesso que tenho rezado muito... E pedido a Deus que não me faça pegar uma arma e dar um tiro no meio da sua testa.Desta vez foi eu que dei um passo para trás, amedrontada com as palavras dele.Percebi as lágrimas escorrendo de seus olhos quando Jax disse:- E eu não quero ser esta pessoa... Que tem vontade de matar outra com tamanha crueldade... Como penso em fazer com você.Engoli em seco e disse:- Tentarei... Resolver isto...- Por favor, Danna, faça isto. Minha vida está nas suas mãos e você sabe disto.Entrei na limusine e mandei que o motorista me levasse para casa. Fui diretamente para o meu quarto e tomei um banho demorado, pensando em como resolveria aquela porra.Claro que Jax merecia sofrer um pouquinho, já qu
- Pai... Por favor, acalme-se! – Pedi, com um pouco de dó de Jax.- Acalmar-me? – Júlio Dave olhou para mim e depois para o professor – Só não quebro a sua cara aqui mesmo porque sei que pagará pelo crime que cometeu.- Eu não fiz nada, senhor Dave. – Jax me olhou, implorando por ajuda.A mulher deu um passo, ficando à frente de Jax e olhando com audácia para meu pai:- O senhor deveria se envergonhar de apoiar as mentiras da sua filha louca. – Pôs o dedo em riste na direção dele.- Cuide como fala! Não sabe com quem está lidando. – Meu pai disse entredentes.- Não sei e não quero saber. Acha que tenho medo do seu sobrenome ou do quanto tem de dinheiro na sua conta bancária? A verdade virá à tona e o senhor terá que pedir desculpas ao meu marido por ter acreditado nesta mulher
- Onde aconteceu o assédio?- Na sala de aula, após o término do período do professor.- E por que estavam só vocês dois ao final da aula, sem a presença de nenhum outro colega?- Porque eu que tinha dúvidas sobre a matéria e não os outros colegas. – Respondi de forma firme.- Sua amiga... Moana... – ele leu o nome dela anotado em um dos seus milhares de papéis – Fez questão de deixar claro que você pediu que ela ficasse do lado de fora da sala e trancasse a porta, não deixando ninguém entrar.Fiquei em silêncio, incrédula sobre Moana ter falado aquilo. Era um absurdo minha amiga ter me traído daquele jeito.- Você pediu que sua amiga trancasse a porta enquanto estivesse com o professor Jax na sala, após a aula? – O delegado me perguntou em tom sério.- Delegado, n&atild
Cidade de Machia, anos antesAs mãos de Juliana me tocavam sobre a calça e eu ria, tentando me desvencilhar:- Estou dirigindo, Juliana!- E que importância isto tem? - Ela riu, de forma provocante.- Preciso ficar atento ao trânsito.- Como se tivesse muito movimento em Machia. - Gargalhou, não me dando atenção e pondo uma de suas mãos dentro da minha, alcançando meu pau completamente endurecido.- E se saíssemos de Machia? - Sugeri.- Você propondo isto? - Ela parou a mão de repente, ainda dentro da minha calça.- Não estou falando de sair daqui para viver fora da cidade - ri, olhando-a de relance - Estou falando de irmos a algum lugar diferente agora, neste momento.Juliana suspirou e fez beicinho:- Me diga que um dia me levará embora desta porra de cidade.- Sabe que Machia é importante para mim