Ele pôs o braço sobre meu ombro, olhando para o movimento da água que descia em direção à cachoeira:- Seria muito egoísmo da minha parte agradecer a Deus por ter me deixado desposá-la antes? – A voz dele saiu baixa.- Eu... Não tenho certeza. – Fui sincera.- Se Lourenço não tivesse se jogado na frente, eu teria feito.- Não tenho dúvidas. Você esteve aqui o tempo todo, ao meu lado.- Passou pela sua cabeça que a lua de mel seria assim? – ele riu, em meio ao caos recente que havíamos passado.- Não consigo imaginar nada mais aventureiro e divertido! – Ri, com ironia.- Se eu contasse que vi pessoas que não eram de verdade em meio a isto tudo, pensaria que estou ficando louco? – Ele não me olhou.- Vultos?- Não eram vultos... Pareciam reais, de carne e osso. Mas... Não tinha como serem... Por conta...- De suas roupas. Não eram do nosso tempo. – Completei, sentindo um frio percorrer minha espinha.- Talvez os Kasenkinos e o povo de Machia... Os “espíritos antigos”, como o povo da flo
Abaixei a cabeça, entristecido. Por mais que eu tentasse me convencer de que não havia sido somente minha culpa, ainda assim aquele assunto me doía. Principalmente quando eu via Juliana naquela cadeira de rodas. Certamente quem não a conheceu antes, tão cheia de vida, não entendia o motivo de eu ter me tornado padre por conta do acontecido. E atualmente eu já tinha dúvida se foi por amor a ela que fiz aquela promessa ou por saber o quanto destruí sua juventude, beleza e vontade de viver.Me aproximei dela mais do que deveria e agachei-me, olhando em seus olhos. Lembrei das tantas vezes em que me perdi neles, fosse por carinho ou desejo. Ainda teria um pedacinho da Juli ali dentro? E se existisse, seria possível resgatar algum dia?Juliana alisou meus cabelos e sorriu de forma sincera e gentil.- Me perdoe! – Falei num sussurro, deixando que as lágrimas descessem pelas minhas bochechas – Por favor, me perdoe por aquela noite.Dizendo aquilo a abracei, deitando minha cabeça nas suas per
- Crianças são anjos sem asas. E sim, são capazes de tirar toda sua dor e tristeza se forem regadas com amor, carinho e atenção. Sugiro que comece as visitas semanais. Depois pode levá-la para conhecer a sua casa. É melhor ir aos poucos, para que possa conhecer melhor Deise. Mas já antecipo que ela é uma menina incrível.- Eu sei... Tive o prazer de conhecê-la, mesmo que brevemente. E... Depois daquele dia me flagrei pensando nela várias vezes. Confesso que não sei se estou preparada para ser mãe... Mas se não tentar, não saberei, não é mesmo?- Danna também achou que não sabia... E tem se saído uma excelente mãe.- Dizem na cidade... Que ela está grávida. – Sua voz saiu carregada de sentimentos contidos.- Ela está – tentei não a magoar com a confirmação – Mas eu estava me referindo à Alegra sobre ela estar sendo uma boa mãe.- Ela certamente também será uma boa mãe para o filho de vocês. – Juliana sorriu. Antes que eu pudesse dissertar, ouvimos uma batida leve na porta e Vanessa en
- Eu... Acho que sim. – Mencionei, confuso de ter que dar aquele veredito, mas achando que era necessário que ela escutasse aquilo.- Meu irmão sempre amou crianças – ela sorriu e olhou para o menino – Era um sujeito metido, machista, cheio de vícios – engoliu em seco – Mas quando não estava sob efeito disto... Era um bom sujeito. Lamento por Danna... E... Por tudo mais que ele fez. Mas Lourenço pagou por seus atos, da pior forma possível. E no fim... Demonstrou que realmente havia se arrependido, dando sua própria vida pelo... – ela pareceu pensar antes de dizer – Seu filho, Vanessa.O silêncio se fez presente, carregado de dúvida e rancor. - Eu... Volto outro dia, Killian – ela girou a cadeira em direção a porta – Foi bom ter falado com você. Confesso que, apesar da dor, aceito minha condição de ser somente... A senhorita Sturman para você. Vanessa... – olhou para Gabriel, com um brilho nos olhos – Seu filho é... Lindo! E... Não me deixou concluir, mas eu diria que ele é muito pare
Eu havia ido à cidade comprar algumas coisas que faltavam para a decoração da casa e quando saí da loja, deparei-me com meu pai, prestes a entrar. Ficamos nos encarando e meu coração acelerou. Tentei escapar pela lateral, mas ele se pôs na minha frente, me impedindo de passar.- Filho...- Não me chame assim. – Pedi.- Eu só queria que soubesse que... Solicitei minha desvinculação no Tribunal Diocesano. Assinei a carta de desligamento. Estou aguardando o certificado de dispensa emitido pelo Papa. Engoli em seco, surpreso com a sua atitude, embora tivesse tomado a decisão certa. - Demorou para fazer isto, não é mesmo? - não me contive – Deveria ter pedido a desvinculação há anos atrás, quando engravidou a minha mãe.- Acha que vivo feliz com isto, Killian? Acha que durmo à noite sabendo o mal que fiz? Acha... Que não vou todos os dias ao túmulo dela... Pedir perdão... Mesmo sabendo que já é tarde... E ela não me ouve mais? – As lágrimas rolaram pelo seu rosto. - Dói muito... Por ela
Esperei que Killian subisse totalmente o zíper, sentindo seus dedos mornos nas minhas costas, capazes de com aquele simples toque causar-me um arrepio. Era um momento propício a algo mais íntimo, que se não fosse a frase dele antes ou o estouro do zíper, talvez tivesse acontecido. Suspirei, frustrada com o acontecido. Não era a primeira vez que um vestido “explodia” assim que eu o colocava.Killian começou a rir:- Acho que você não cabe mais nisto.Virei-me na direção dele, vermelha de tanta raiva:- Eu não tenho mais nada largo para vestir! Estou horrível.- Está linda!- Estou péssima! – Continuei, pensando em como ele me via naquele momento.Killian pegou meus ombros e me fez encará-lo:- Você é a mulher mais linda que eu já conheci. E nunca duvide da sua beleza, Danna. E sabe o que é ainda melhor? A sua beleza não está só aqui – desceu a mão vagarosamente pelo meu corpo – Mas principalmente aqui – Voltou com a mesma lentidão, explorando cada centímetro que tocava de forma libidi
Abaixei-me na altura de Alegra e alisei sua bochecha rosada:- O sapato não é a coisa mais linda que já vi – sussurrei – Eis aqui o que acho mais lindo que qualquer coisa. – Toquei seu nariz e ela sorriu.Recebi o abraço mais puro e sincero que já tive o prazer de sentir. Desde que conheci Alegra, que finalmente tinha uma certidão contendo o sobrenome Dave de Alcântara, aquele gesto de amor era diário. E se havia uma coisa na vida que eu agradecia imensamente era o fato de aquela miniatura ter cruzado meu caminho e me ensinado a ser não só mãe, mas uma pessoa com sentimentos que iam além de mim mesma. Senti o bebê mexendo dentro de mim. Não era a primeira vez, já que Vitória havia feito aquilo antes. Mas naquele momento foi mais forte e eu tinha certeza de que Killian e Alegra poderiam sentir também.Levantei-me imediatamente e os dois me olharam, preocupados. Pus a mão no ventre e Killian perguntou:- Danna, está tudo bem?Peguei a mão dele e pus na minha barriga. Encarei seus olhos
TRÊS ANOS DEPOISEra festa do padroeiro de Machia, São Francisco de Assis. Aquele era um evento onde a cidade inteira participava, não faltando um cidadão sequer. E claro que a prefeita estava presente, junto de seu marido e suas duas filhas, Alegra e Vitória. As crianças do orfanato também estavam presentes, como sempre acontecia. A diferença é que há alguns anos atrás contávamos com certa de quase trinta participantes de lá. Atualmente dez crianças ainda moravam no lugar e eu ainda tinha esperanças de que fossem adotadas em breve. Eu inclusive havia começado uma campanha de adoção, estendendo para a capital, recebendo auxílio de meu pai com sua influência junto a pessoas importantes. Killian e eu optamos por não recebermos mais crianças até que praticamente todas estivessem adotadas. Nossa intenção era sempre lhes dar o melhor e para que não pudesse faltar o importante, que era atenção e carinho, era necessário reduzir o número. Oficialmente o orfanato pertencia à Machia, finalme