- Eu... Acho que sim. – Mencionei, confuso de ter que dar aquele veredito, mas achando que era necessário que ela escutasse aquilo.- Meu irmão sempre amou crianças – ela sorriu e olhou para o menino – Era um sujeito metido, machista, cheio de vícios – engoliu em seco – Mas quando não estava sob efeito disto... Era um bom sujeito. Lamento por Danna... E... Por tudo mais que ele fez. Mas Lourenço pagou por seus atos, da pior forma possível. E no fim... Demonstrou que realmente havia se arrependido, dando sua própria vida pelo... – ela pareceu pensar antes de dizer – Seu filho, Vanessa.O silêncio se fez presente, carregado de dúvida e rancor. - Eu... Volto outro dia, Killian – ela girou a cadeira em direção a porta – Foi bom ter falado com você. Confesso que, apesar da dor, aceito minha condição de ser somente... A senhorita Sturman para você. Vanessa... – olhou para Gabriel, com um brilho nos olhos – Seu filho é... Lindo! E... Não me deixou concluir, mas eu diria que ele é muito pare
Eu havia ido à cidade comprar algumas coisas que faltavam para a decoração da casa e quando saí da loja, deparei-me com meu pai, prestes a entrar. Ficamos nos encarando e meu coração acelerou. Tentei escapar pela lateral, mas ele se pôs na minha frente, me impedindo de passar.- Filho...- Não me chame assim. – Pedi.- Eu só queria que soubesse que... Solicitei minha desvinculação no Tribunal Diocesano. Assinei a carta de desligamento. Estou aguardando o certificado de dispensa emitido pelo Papa. Engoli em seco, surpreso com a sua atitude, embora tivesse tomado a decisão certa. - Demorou para fazer isto, não é mesmo? - não me contive – Deveria ter pedido a desvinculação há anos atrás, quando engravidou a minha mãe.- Acha que vivo feliz com isto, Killian? Acha que durmo à noite sabendo o mal que fiz? Acha... Que não vou todos os dias ao túmulo dela... Pedir perdão... Mesmo sabendo que já é tarde... E ela não me ouve mais? – As lágrimas rolaram pelo seu rosto. - Dói muito... Por ela
Esperei que Killian subisse totalmente o zíper, sentindo seus dedos mornos nas minhas costas, capazes de com aquele simples toque causar-me um arrepio. Era um momento propício a algo mais íntimo, que se não fosse a frase dele antes ou o estouro do zíper, talvez tivesse acontecido. Suspirei, frustrada com o acontecido. Não era a primeira vez que um vestido “explodia” assim que eu o colocava.Killian começou a rir:- Acho que você não cabe mais nisto.Virei-me na direção dele, vermelha de tanta raiva:- Eu não tenho mais nada largo para vestir! Estou horrível.- Está linda!- Estou péssima! – Continuei, pensando em como ele me via naquele momento.Killian pegou meus ombros e me fez encará-lo:- Você é a mulher mais linda que eu já conheci. E nunca duvide da sua beleza, Danna. E sabe o que é ainda melhor? A sua beleza não está só aqui – desceu a mão vagarosamente pelo meu corpo – Mas principalmente aqui – Voltou com a mesma lentidão, explorando cada centímetro que tocava de forma libidi
Abaixei-me na altura de Alegra e alisei sua bochecha rosada:- O sapato não é a coisa mais linda que já vi – sussurrei – Eis aqui o que acho mais lindo que qualquer coisa. – Toquei seu nariz e ela sorriu.Recebi o abraço mais puro e sincero que já tive o prazer de sentir. Desde que conheci Alegra, que finalmente tinha uma certidão contendo o sobrenome Dave de Alcântara, aquele gesto de amor era diário. E se havia uma coisa na vida que eu agradecia imensamente era o fato de aquela miniatura ter cruzado meu caminho e me ensinado a ser não só mãe, mas uma pessoa com sentimentos que iam além de mim mesma. Senti o bebê mexendo dentro de mim. Não era a primeira vez, já que Vitória havia feito aquilo antes. Mas naquele momento foi mais forte e eu tinha certeza de que Killian e Alegra poderiam sentir também.Levantei-me imediatamente e os dois me olharam, preocupados. Pus a mão no ventre e Killian perguntou:- Danna, está tudo bem?Peguei a mão dele e pus na minha barriga. Encarei seus olhos
TRÊS ANOS DEPOISEra festa do padroeiro de Machia, São Francisco de Assis. Aquele era um evento onde a cidade inteira participava, não faltando um cidadão sequer. E claro que a prefeita estava presente, junto de seu marido e suas duas filhas, Alegra e Vitória. As crianças do orfanato também estavam presentes, como sempre acontecia. A diferença é que há alguns anos atrás contávamos com certa de quase trinta participantes de lá. Atualmente dez crianças ainda moravam no lugar e eu ainda tinha esperanças de que fossem adotadas em breve. Eu inclusive havia começado uma campanha de adoção, estendendo para a capital, recebendo auxílio de meu pai com sua influência junto a pessoas importantes. Killian e eu optamos por não recebermos mais crianças até que praticamente todas estivessem adotadas. Nossa intenção era sempre lhes dar o melhor e para que não pudesse faltar o importante, que era atenção e carinho, era necessário reduzir o número. Oficialmente o orfanato pertencia à Machia, finalme
- Digamos que meu coração tem tentado perdoar. E... Talvez eu consiga. Ele tem tentado provar que se arrepende de seus erros.Maria Cecília veio até mim e logo Killian saiu para juntar-se a meu pai e Nadine. Ela me cumprimentou com um beijo e logo perguntei:- Aquele sorriso para o padre... Tem algum motivo especial? Do que falavam? - Você é bem curiosa! – ela riu.- Sabe que sou. E sei muito bem dos “sinais” sobre mulheres que se interessam por padres.- Deus me livre! – ela fez o sinal da cruz – Mas quem me dera! – riu.Estreitei os olhos, confusa:- Maria Cecília... Se comporte.- Já faz um tempo que não me interesso por ninguém – ela observou – E... Celso é bonito.- Celso? – gargalhei – Não é mais “padre Celso”? Mas que porra, agora entendo porque quer ficar com todas as questões entre prefeitura e igreja!Ela sorriu, olhando para o padre:- Você é esperta, Danna Dave. Mas desta vez demorou a perceber.- Sua filha da puta! – Ri – Vai desvirtuar o padre.- Olha quem falando!- Ma
Senti algo agarrar-se a mim com força e quase caí, me desequilibrando. Olhei o garotinho grudado nas minhas pernas, com aquele sorriso cheio de dentes branquinhos que me faziam lembrar uma piranha, já que o rostinho era pequeno para os tantos dentes que ele tinha na boca. Peguei-o no colo:- Olá, minha miniatura preferida! Ele deu-me um beijo no rosto:- Assustei você, tia Danna? – Gargalhou, ansioso pela minha resposta.Arregalei os olhos:- Nossa, eu fiquei muito assustada! Tanto que quase caí... Você é bom em assustar as pessoas.- Mamãe disse que posso me fantasiar de bicho-papão na próxima festa!Pisquei:- Acho que é uma ótima fantasia. Logo ele balançou as pernas e o soltei, vendo-o sair correndo atrás das meninas. Gabriel também era um garoto especial. E tinha um lugar no meu coração.Vanessa me abraçou:- Semana passada ele era um astronauta. Agora quer ser um bicho-papão. – Balançou a cabeça, rindo.- Maria Cecília, preciso da sua ajuda. – Padre Celso se aproximou, solicit
Assim que saiu o resultado mais esperado da festa, de quem havia feito o melhor bolo, que dentre os jurados tinha o padre Celso, Marialva e a prefeita estava fora, por estar concorrendo, venceu, não surpreendendo ninguém, Juliana Sturman.Revirei os olhos, fazendo pouco caso.- Ano que vem a gente vence, mamãe! – Alegra tentou me convencer, com Vitória no colo.Olhei para Vitória, que saboreava um bolo de chocolate com menta, feito por Juliana:- Ei, traidora! – mordi um pedaço do bolo dela, sentindo o sabor diferente e de certa forma... Bom.- É bom, mamãe! – Vitória pareceu tirar as palavras da minha boca.- Bom não é. Mas não é tão ruim, digamos! – Claro que eu não admitiria que pudesse ser bom.- Mamãe, ano que vem vamos fazer um bolo de chocolate com menta? – Vitória propôs.Olhei em volta e vi todos parabenizando Juliana e a pequena Deise e mencionei:- Ano que vem faremos algo que nunca se ouviu falar... Quem sabe um bolo gigantesco que toda a cidade poderá provar ao mesmo temp