- Mãe, juro que estou tentando ser tolerante, mas é o meu limite. – Disse Vanessa e entendi que aquilo se referia a mim.
Eu nunca pedi para ela ser tolerante comigo. Eu que estava sendo tolerante com ela, já que se quisesse poderia fazer da vida da minha prima um inferno. Tentei ser uma boa pessoa, mas parecia que boas pessoas só se ferravam na vida.
Isla poderia ter qualquer reação, mas ignorou a filha e pegou minha mão novamente:
- Não acha que se fizer tudo certo, talvez seu pai volte atrás na ideia de deixá-la aqui por um ano?
- Não ficarei aqui um ano, Isla.
- Me chame de tia, por favor.
Eu não conseguia chamá-la de tia. Mal a conhecia.
- Se eu ficar um mês aqui, morrerei... Meu mundo é extremamente diferente de tudo que vocês têm e vivem – expliquei – Eu... Nunca imaginei que alguém poderia
Nós três começamos a rir e Vanessa pegou peça por peça de minhas roupas, dobrando-as e ajeitando no armário. Peguei a cadeira da escrivaninha e sentei-me de frente para Luane, que ainda admirava o vestido, emocionada.- Quanto tempo você vai ficar em Machia? – Ela me perguntou.- Pouco tempo. – Expliquei.- Um ano. – Vanessa contestou, não nos olhando, fixa na arrumação do armário.- Um ano não é pouco tempo. – A loira estreitou os olhos, confusa.- Não ficarei um ano. Meu pai voltará atrás. E se ele não voltar...- Ela vai botar o próprio pai na justiça para pegar sua herança antes do tempo. – Vanessa explicou, de forma entediada, como se aquilo fosse algo banal.- Mas por que seu pai teve a ideia de mandá-la para Machia? Isto aqui é o fim do mundo!<
Eu gargalhei antes de dizer:- Eu acho que o tal Killian ainda é virgem.Luane riu:- Impossível! Você não conhece Juliana.- Fogosa? – Perguntei.- Ela já tinha se envolvido com todo mundo antes de começar a dar em cima de Killian.- E ele estudava para padre até então?- Não.- Então ela não fez nada de errado – dei de ombros – Fez certo ao escolher sua presa e dar o bote.- Você fala como se ele fosse um pedaço de carne. – Vanessa estreitou os olhos, criticando.- Eu nem o conheço. Mas falo como homens, no geral. É assim que funciona. Você escolhe quem quer e se joga.- Eu não tenho esta coragem. – Vanessa confessou.E eu não estava enganada com relação a ela. Não passava pela minha cabeça que Vanessa fosse o tipo de mu
- Eu faço o padre ficar de pau duro... Ou melhor, durmo com o padre santo e provo a todo mundo que ele é só um homem comum e em troca você, Vanessa, convence sua mãe a me levar de volta para casa, sem a autorização do meu pai.- Como assim “sem a autorização do seu pai”?- Ela me dá dinheiro para voltar, chama um uber, me leva até lá, qualquer coisa... Preciso voltar.- Se você dormir com o padre terá que sair mesmo daqui, amiga – Luane riu, batendo no meu ombro com sarcasmo – Porque o povo de Machia vai querer a sua cabeça. E a Prefeita inclusive espalhará pela cidade cartazes com “procura-se preferencialmente morta, Danna Dave”.- E o que eu ganho se você perder? – Vanessa pareceu interessada.- Ganha sua cama de volta – Pisquei.- Não vale... Também estou dentro.
Não sei por qual motivo, mas algo me dizia que eu precisava sair e ir para a tal praça, que julguei ser a área central de Machia.Porém não usei as roupas de minha prima. Optei por um short e blazer de Tweed da Chanel com camisa branca da Prada por baixo. Nos pés pus um tênis de grife confortável. Ajeitei meus cabelos com um creme importado, deixando a franja lisa e sem pontas, reta. Passei a mão nos meus óculos escuros e bolsa e saí, disposta a iniciar com os planejamentos da minha aposta: dormir com o padre.Saí de dentro de casa sorrindo, como se o mundo inteiro coubesse dentro de mim. Mas conforme fui me aproximando da praça e da igreja, foi como se eu fosse esvaziando e meu coração ficando pequeno... E Murcho.Olhei para cima, observando a torre e fiquei a me perguntar se o tal pintor ainda estava lá. Por que um homem tão comum como aquele h
Eu ainda parada no mesmo lugar quando avistei uma pedra grande com uma placa, no meio da praça. Atravessei o lugar com um playground infantil de areia fina, tão branquinha que parecia trazida da praia. Tinham bancos de madeira com encosto em vários lugares e percebi que os postes continham lâmpadas grandes e que certamente clareavam muito bem à noite. Eu não havia notado antes, mas existia um ponto de táxi numa das extremidades da praça, onde estava um carro estacionado e um homem sentado ao seu lado, lendo um jornal de forma tranquila. Um jardim florido ficava em volta da rocha que continha uma placa de metal, onde estava escrito: “Santa Fé, cidade de nascimento do padre Killian de Alcântara, nosso santo milagreiro.”Comecei a rir sozinha. Aquilo só podia ser uma brincadeira. E ainda tinha quem me chamava de louca! Quem me acusava de doida era porque não conhecia uma cidade
O policial me analisou de cima abaixo, com o olhar desejoso, daquele que eu já conhecia, como o de todos os outros homens. Mas por um minuto aquilo não me atraiu, quando o pintor veio à minha mente. Mas depois aquela loucura se dissipou e encarei os olhos escuros do homem, com sobrancelha bem definida, cílios largos e curvados, boca carnuda que dava vontade de morder e nariz levemente avantajado. E eu nem sei por qual motivo, mas homens exóticos me atraíam muito.- É agora que você tira a roupa e diz que é um stripper? – Questionei – Quem mandou você? Moana? Jax?Ele me mostrou a identidade, confirmando que era um policial. Observei seus cabelos crescidos, próximos dos ombros, levemente encaracolados nas pontas, bagunçados. Era extremamente alto e forte. E perceptíveis as tatuagens que tinha nas mãos e uma saindo pelo pescoço, que atiçou minha curiosidade.Enquanto nos analisávamos de forma completamente libidinosa, ouvi sua voz novamente, percebendo seus olhos nos meus seios, sob a c
Eram as únicas pessoas que eu conhecia que trabalhavam o dia inteiro e ainda conseguiam chegar em casa e serem felizes com a porra de vida que levavam.- Danna, eu pedi que cuidasse do serviço da casa. – Isla falou, parecendo decepcionada.- Ah... – Sorri – É que não sei como fazer isso! – Achei que era necessário deixar claro que não fiz porque não sabia.- Não há como não saber varrer uma casa. – Vanessa revirou os olhos e bufou, furiosa.- Relaxa, gente! É só uma casa. Eu falarei com meu pai e pedirei uma mesada. Aposto que ele não se importará em ajudar, já que este dinheiro eu posso compartilhar com vocês. Uma coisa é ele mandar para mim... Outra é eu dizer que vocês passam necessidade e por isso ele tem obrigação de ajudar, já que me mandou para cá. – Deixei claro.- Danna, eu juro que não queria que você se magoasse... Mas preciso ser sincera com você: seu pai não lhe dará dinheiro. Nós fizemos um acordo e eu aceitei recebê-la em minha casa sem nenhum auxílio financeiro. E esta
- Por favor, quando pensar em elogiar uma pessoa... Fique quieta. – Vanessa disse, parecendo de mau humor.- O que... Eu fiz? Só... Elogiei a sua comida. – Fiquei confusa.Isla pegou minha mão:- Prefiro entender que você não fez por mal.- Que porra eu fiz agora?- Quando mencionou que talvez só tenha gostado da comida de Vanessa porque não comeu nada o dia inteiro, foi desagradável.- Foi?- Foi. – Ela confirmou.Olhei para Vanessa, fixa em seu prato. Tentei consertar:- Eu realmente não comi nada o dia inteiro. E isso... Bem, talvez tenha acentuado ainda mais o sabor incomparável da sua comida. Poderia ser chef de cozinha.Ela me olhou e começou a rir, enquanto ainda mastigava:- Agora você foi longe demais!- Isso é bom ou ruim? – Fiquei preocupada.- Desta vez você fez um elogio