Nós três começamos a rir e Vanessa pegou peça por peça de minhas roupas, dobrando-as e ajeitando no armário. Peguei a cadeira da escrivaninha e sentei-me de frente para Luane, que ainda admirava o vestido, emocionada.
- Quanto tempo você vai ficar em Machia? – Ela me perguntou.
- Pouco tempo. – Expliquei.
- Um ano. – Vanessa contestou, não nos olhando, fixa na arrumação do armário.
- Um ano não é pouco tempo. – A loira estreitou os olhos, confusa.
- Não ficarei um ano. Meu pai voltará atrás. E se ele não voltar...
- Ela vai botar o próprio pai na justiça para pegar sua herança antes do tempo. – Vanessa explicou, de forma entediada, como se aquilo fosse algo banal.
- Mas por que seu pai teve a ideia de mandá-la para Machia? Isto aqui é o fim do mundo!
<Eu gargalhei antes de dizer:- Eu acho que o tal Killian ainda é virgem.Luane riu:- Impossível! Você não conhece Juliana.- Fogosa? – Perguntei.- Ela já tinha se envolvido com todo mundo antes de começar a dar em cima de Killian.- E ele estudava para padre até então?- Não.- Então ela não fez nada de errado – dei de ombros – Fez certo ao escolher sua presa e dar o bote.- Você fala como se ele fosse um pedaço de carne. – Vanessa estreitou os olhos, criticando.- Eu nem o conheço. Mas falo como homens, no geral. É assim que funciona. Você escolhe quem quer e se joga.- Eu não tenho esta coragem. – Vanessa confessou.E eu não estava enganada com relação a ela. Não passava pela minha cabeça que Vanessa fosse o tipo de mu
- Eu faço o padre ficar de pau duro... Ou melhor, durmo com o padre santo e provo a todo mundo que ele é só um homem comum e em troca você, Vanessa, convence sua mãe a me levar de volta para casa, sem a autorização do meu pai.- Como assim “sem a autorização do seu pai”?- Ela me dá dinheiro para voltar, chama um uber, me leva até lá, qualquer coisa... Preciso voltar.- Se você dormir com o padre terá que sair mesmo daqui, amiga – Luane riu, batendo no meu ombro com sarcasmo – Porque o povo de Machia vai querer a sua cabeça. E a Prefeita inclusive espalhará pela cidade cartazes com “procura-se preferencialmente morta, Danna Dave”.- E o que eu ganho se você perder? – Vanessa pareceu interessada.- Ganha sua cama de volta – Pisquei.- Não vale... Também estou dentro.
Não sei por qual motivo, mas algo me dizia que eu precisava sair e ir para a tal praça, que julguei ser a área central de Machia.Porém não usei as roupas de minha prima. Optei por um short e blazer de Tweed da Chanel com camisa branca da Prada por baixo. Nos pés pus um tênis de grife confortável. Ajeitei meus cabelos com um creme importado, deixando a franja lisa e sem pontas, reta. Passei a mão nos meus óculos escuros e bolsa e saí, disposta a iniciar com os planejamentos da minha aposta: dormir com o padre.Saí de dentro de casa sorrindo, como se o mundo inteiro coubesse dentro de mim. Mas conforme fui me aproximando da praça e da igreja, foi como se eu fosse esvaziando e meu coração ficando pequeno... E Murcho.Olhei para cima, observando a torre e fiquei a me perguntar se o tal pintor ainda estava lá. Por que um homem tão comum como aquele h
Eu ainda parada no mesmo lugar quando avistei uma pedra grande com uma placa, no meio da praça. Atravessei o lugar com um playground infantil de areia fina, tão branquinha que parecia trazida da praia. Tinham bancos de madeira com encosto em vários lugares e percebi que os postes continham lâmpadas grandes e que certamente clareavam muito bem à noite. Eu não havia notado antes, mas existia um ponto de táxi numa das extremidades da praça, onde estava um carro estacionado e um homem sentado ao seu lado, lendo um jornal de forma tranquila. Um jardim florido ficava em volta da rocha que continha uma placa de metal, onde estava escrito: “Santa Fé, cidade de nascimento do padre Killian de Alcântara, nosso santo milagreiro.”Comecei a rir sozinha. Aquilo só podia ser uma brincadeira. E ainda tinha quem me chamava de louca! Quem me acusava de doida era porque não conhecia uma cidade
O policial me analisou de cima abaixo, com o olhar desejoso, daquele que eu já conhecia, como o de todos os outros homens. Mas por um minuto aquilo não me atraiu, quando o pintor veio à minha mente. Mas depois aquela loucura se dissipou e encarei os olhos escuros do homem, com sobrancelha bem definida, cílios largos e curvados, boca carnuda que dava vontade de morder e nariz levemente avantajado. E eu nem sei por qual motivo, mas homens exóticos me atraíam muito.- É agora que você tira a roupa e diz que é um stripper? – Questionei – Quem mandou você? Moana? Jax?Ele me mostrou a identidade, confirmando que era um policial. Observei seus cabelos crescidos, próximos dos ombros, levemente encaracolados nas pontas, bagunçados. Era extremamente alto e forte. E perceptíveis as tatuagens que tinha nas mãos e uma saindo pelo pescoço, que atiçou minha curiosidade.Enquanto nos analisávamos de forma completamente libidinosa, ouvi sua voz novamente, percebendo seus olhos nos meus seios, sob a c
Eram as únicas pessoas que eu conhecia que trabalhavam o dia inteiro e ainda conseguiam chegar em casa e serem felizes com a porra de vida que levavam.- Danna, eu pedi que cuidasse do serviço da casa. – Isla falou, parecendo decepcionada.- Ah... – Sorri – É que não sei como fazer isso! – Achei que era necessário deixar claro que não fiz porque não sabia.- Não há como não saber varrer uma casa. – Vanessa revirou os olhos e bufou, furiosa.- Relaxa, gente! É só uma casa. Eu falarei com meu pai e pedirei uma mesada. Aposto que ele não se importará em ajudar, já que este dinheiro eu posso compartilhar com vocês. Uma coisa é ele mandar para mim... Outra é eu dizer que vocês passam necessidade e por isso ele tem obrigação de ajudar, já que me mandou para cá. – Deixei claro.- Danna, eu juro que não queria que você se magoasse... Mas preciso ser sincera com você: seu pai não lhe dará dinheiro. Nós fizemos um acordo e eu aceitei recebê-la em minha casa sem nenhum auxílio financeiro. E esta
- Por favor, quando pensar em elogiar uma pessoa... Fique quieta. – Vanessa disse, parecendo de mau humor.- O que... Eu fiz? Só... Elogiei a sua comida. – Fiquei confusa.Isla pegou minha mão:- Prefiro entender que você não fez por mal.- Que porra eu fiz agora?- Quando mencionou que talvez só tenha gostado da comida de Vanessa porque não comeu nada o dia inteiro, foi desagradável.- Foi?- Foi. – Ela confirmou.Olhei para Vanessa, fixa em seu prato. Tentei consertar:- Eu realmente não comi nada o dia inteiro. E isso... Bem, talvez tenha acentuado ainda mais o sabor incomparável da sua comida. Poderia ser chef de cozinha.Ela me olhou e começou a rir, enquanto ainda mastigava:- Agora você foi longe demais!- Isso é bom ou ruim? – Fiquei preocupada.- Desta vez você fez um elogio
Ela também riu:- Acho que no fundo você sabe que é muito mais do que isto, não é mesmo?Meneei a cabeça, confirmando que sabia do que estávamos falando.- Você precisa tentar mudar, Danna, ou de nada adiantará ter vindo parar aqui, entende?- Eu... Me aceito como sou.- E você gosta de ser Danna Dave?- Eu... Gosto... Gosto muito.- E as pessoas gostam de Danna Dave?- Eu não me importo se gostam ou não de Danna Dave.- Me desculpe, Danna, mas eu duvido que alguém possa gostar de não ter ninguém, de não ter amigos, de não ser amado.- Eu sou assim.- Não... Você não é assim, Danna. Você tenta e quer muito ser assim, mas nenhum ser humano é capaz de ser feliz sozinho. Precisamos de amor... Materno, paterno, de homem, de mulher, de cachorro que seja... Ma