Capítulo 4

No dia seguinte, eu havia despertado cedo. Tinha dormido muito bem na última noite, mas a ansiedade que estava me consumindo se tornou maior assim que o sol deu as caras pelas persianas da minha janela.

Saio do anexo e me dirijo até a casa. Ainda é muito cedo para que a garotinha esteja acordada, o sr. Barichello na última noite havia me enviado todos os horários da sua filha.

Assim que entro na casa, a mansão está mergulhada em silêncio e eu me atrevo a bisbilhotar, procurando por porta-retratos de fotos de família. Procurando por ela. Pela mulher que o meu chefe estava aliviado que tenha morrido. Mas não existe nenhum resquício de sua existência ali.

—O que está fazendo?— a voz masculina e firme me fez dá um sobressalto, as mãos no coração.

Me viro, me afastando de uma mesinha no centro da sala e encaro os mais intensos pares de olhos negros em mim.

—Eu só estava tentando me familiarizar com a casa.— Falo rapidamente e minha voz sai mais alta do que eu gostaria.

Ele apenas me olha do modo mais apático possível. O seu clássico olhar para tudo ao seu redor.

—Emma ainda não acordou.— É tudo que ele diz e está prestes a ir embora, quando eu o chamo outra vez.

—Sr. Barichello?— minha voz sai um pouco embargada e ele apenas para de andar, mas não se vira. —Você não lembra de mim?

Naquele momento, ele se vira e me encara. Sua cabeça cai para o lado um pouco e me observa, como se fizesse força mental para recordar de três dias atrás.

—Nunca a vi em parte alguma.— Ele diz simplesmente.

Por alguma razão, isso me cobre de uma raiva que eu não consegui prever. Como poderia ser possível que aqueles breves minutos naquele carro estivessem correndo em minha mente desde o primeiro dia e ele simplesmente não recordava disso?

—Nem quando tentou pegar o mesmo táxi que eu?— digo, irritada.

Por um minuto, vi uma brecha de um pequeno sorriso em seu rosto e imaginei que talvez ele só estivesse zoando com a minha cara. Mas do pouco que conhecia daquele homem, a última coisa que ele seria, é divertido.

No entanto, seu olhar intenso recai sobre mim. Sinto como se minha alma estivesse descortinada e eu me tornasse vulnerável aquela situação, ao olhar do homem sombrio e misterioso. Do qual nem o seu primeiro nome, eu sabia.

Lentamente ele se aproxima de mim e o meu coração acelera em meu peito. Não sei porque me sinto tão nervosa, ansiosa. Mas meu olhar ainda segura o dele.

Quando já está bem próximo de mim, ele ergue lentamente as suas mãos enquanto olha em meus olhos.

—Você está atrasada para sua primeira tarefa.— Fala, a voz baixa e me indica o relógio em seu pulso. —Me pergunto se irá sobreviver até o fim do dia.

E antes que eu pudesse reagir, ele simplesmente vai embora. O sentimento de confusão e medo me consome o peito, porque eu também não tinha tanta certeza se iria sobreviver ali.

No entanto, respiro fundo e trato de subir as escadas, indo acordar a Emma.

***

Emma era o total oposto do que seu pai era.

Era extremamente comunicativa e doce. Havia me dado bem com ela desde o primeiro instante e agora estávamos nos esbaldando com um maravilhoso walffes que a cozinheira da casa havia preparado.

—Você tem uma mamãe, Ayla?— de repente ela me pergunta, enquanto estávamos sentadas na grama no jardim da casa.

—Tenho sim. Mas agora ela está longe de mim.— Respondo, receosa sobre onde aquele assunto levaria.

—Está longe igual a minha?— ela pergunta surpresa, os olhos enormes e verdes me encarando. —Meu pai falou que ela está tão longe que não poderia mais voltar.

Engulo em seco. Aquele assunto me partia o peito, porque não poderia imaginar uma menininha de 4 anos sem o cuidado e o amor incondicional materno.

—Algumas viagens que fazemos são mais longas que as outras.— Digo em seguida. —Algumas vezes encontramos o caminho de volta, e em outras, precisamos apenas aceitar nosso novo lugar. Mas a melhor parte de tudo isso... —sussurro e brinco com seu nariz, a fazendo sorrir. —É que mesmo longe, a gente nunca esquecerá de nenhuma parada dessa viagem.

Emma assente e volta a comer em seu silêncio, antes de mais perguntas voltarem a encher seu pequeno cérebro.

—Você sabe onde o meu pai trabalha?— ela pergunta e eu assinto. —Você pode me levar até lá? Eu sinto muita saudade dele.

Mordo o meu próprio lábio com força e me vejo incapaz de dizer não aquela garotinha. O fim daquele primeiro expediente estava prestes a terminar e imaginei que o sr. Barichello fosse gostar de poder almoçar com sua filha.

O motorista da casa nos deixou em frente a empresa trinta minutos depois e uma Emma muito saltitante saia do carro em direção a empresa. Aquela multinacional era maior do que eu tinha imaginado e eu precisei pedir informação sobre onde seria a sala do Sr. Barichello.

Subimos até o 14° andar, e por fim, bati a porta daquele escritório. A voz firme e um tanto tediosa expressou um —entra.— E o fizemos logo em seguida.

Assim que entramos naquele escritório e os olhos daquele homem pousaram em mim e em sua filha, ele se levantou rapidamente da sua cadeira, dando um passo para trás. Como se aquilo de repente o assustasse.

—O que pensa que está fazendo?— sua voz soa alta e eu percebo como seu rosto fica vermelho de repente. —Por que está aqui?

—A Emma queria almoçar com você.— Digo, ainda conseguindo sorrir.

A menina apenas encara o seu pai, ansiosa e parecia extremamente receosa.

—Eu estou trabalhando. E se você ainda quiser ter um trabalho, sugiro que vá logo embora daqui.— O seu tom é ríspido e um tanto cruel.

Emma apenas abaixa os olhos e vejo a tristeza cobrir o rosto da garotinha mais iluminada que já conheci. Aquilo encobre o meu peito com uma raiva que me faz querer explodir.

—Emma querida, você pode ir lá fora um pouquinho enquanto resolvo um assunto de trabalho com o seu pai? —sussurro pra ela, me abaixando. —A secretária dele ficará com você por uns instantes.

A menina sai um pouco mais cabisbaixa do que entrou, mas assim que aquelas portas se fecham, deixo todo o ódio me invadir.

—Qual seu maldito problema?— grito. —Sua filha te venera e só sente sua falta e você a trata assim? Que tipo de monstro você é?

No mesmo instante que aquelas palavras saem dos meus lábios, percebo que havia ido longe demais. Mas aquele homem... Por Deus, despertava o pior de mim.

—Você desconhece a magnitude do monstro que reside em mim. Portanto, não o provoque.— Ele fala estridentes enquanto dá as costas para mim.

Só que aquele aviso havia chegado tarde demais, porque eu iria até o fim.

—Me mostra o tipo de monstro que você é, e eu garanto que nada me assustará.

E naquele momento, aquele homem lança o olhar duro sobre mim e eu percebo então o arrependimento por ter me envolvido em tudo aquilo.

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