Os olhos de Juan permanecem em Ax, dessa vez imparcial. Espero que ele fale qualquer coisa, que pergunte porque eu trabalharia com Ax, uma vez que ele não irá me demitir. Mas ele não faz isso. Seus olhos apenas procuram Emma e buscam sua mão, apenas desejando ir embora daquele local. Bom, eu também desejava aquilo profundamente. E como se minha prece fosse atendida: —Você vem?— ele resmunga de repente, mas sem olhar pra mim. Ele não precisa se esforçar mais que isso pra me ver saindo em disparada atrás dele. —Juan, eu...— eu começo a falar, a voz trêmula, mas sou interrompida. —Aqui não.— Ele me corta friamente assim que chegamos ao seu carro e ele dá partida em alta velocidade. Eu engulo em seco, sabendo que aquele momento era um daqueles em que eu arruinaria tudo se eu só falasse descontroladamente. No meu lado, Emma parece muito mais tranquila sentada em sua cadeirinha, mesmo que silenciosa. Mas também respeito esse seu espaço. Assim que o carro para em frente a mansão, Juan
Aquele dia completamente intenso já estava chegando ao fim, e em breve, eu iniciaria mais uma outra semana de trabalho. A ideia de um final de semana relaxante e sem estresse já havia caído por terra há um bom tempo. É por isso que assim que o sol começa a desaparecer no céu pintado de rosa e laranja, eu apenas decido que iria continuar no meu anexo, juntando as tantas peças de um quebra-cabeça sem fim que minha vida se tornou desde o dia em que apareci por ali. No entanto, as novidades daquele dia, todavia não havia terminado. —Encontrei você aqui!— a voz masculina me parou antes mesmo que eu pudesse atravessar o jardim. —Ax, o que você está fazendo aqui?— pergunto confusa e olhando para todos os lados. —Eu só precisava ver você. Saber se tudo ficou bem.— Ele sorriu, enquanto enfiava as mãos no bolso da calça. —Ah, ficou tudo bem, sim. Obrigada.— Eu respondo de modo direto, porque por alguma razão, eu me sentia um pouco invadida pela sua presença ali. —Que bom, Ayla. Eu realmen
—Você não me tem para que algo me tire de você.— Cuspo com raiva, logo após o choque de sua confissão se esvair. Para minha surpresa, Juan se afasta de mim e eu fico livre entre ele e a parede. Sei que naquele instante, eu só poderia ir embora, me afastar rapidamente dele, com toda a dignidade que um pé machucado me daria. No entanto, havia algo em seu olhar que me deixou parada exatamente no mesmo lugar. —É impossível manter qualquer conversa com você.— Juan resmunga em seguida e vejo sua testa franzida de insatisfação. Não posso evitar sorrir. —E desde quando você sabe conversar com alguém?— rebato. —Você só saber mandar, e usar três ou quatro palavras cheia de enigmas. Mas acabei descobrindo que o que você gosta mesmo de fazer, é comentar sobre a personalidade e aparência alheia. Vejo quando Juan solta um longo suspiro de exasperação e já parece exausto com meus comentários. O que era uma pena, porque eu só estava começando. —Eu adoraria ficar aqui e te explicar a mesma coisa
Aquela proposta fica ressoando em meu ouvido, em ecos por aquele quarto inteiro. Porque nada daquilo fazia o menor sentido! —Por que precisaria da minha ajuda pra encontrar alguém? E por que diabos você acha que a Emma precisa disso? Juan apenas bufou, levou as mãos pra cima, como se minhas perguntas só fossem tediosas o suficiente. —Se você quer conhecer outra pessoa, está fazendo isso pela maneira e pelas razões erradas.— Eu insisto, tentando colocar qualquer juízo em sua cabeça. Mas eu já o conhecia bem o bastante para saber da sua teimosia e saber que nada daquilo adiantaria. —Não quero que entenda minhas razões, Ayla. Não estou pedindo sequer pra concordar com elas. Porque você jamais compreenderia.— Ele diz por fim, e parece decepcionado quando desce mais uma dose de uísque em seus lábios. —Então tenta. Estou de mente aberta pra entender e ajudar você.— Eu insisto. —Ajudar!— Juan repete, coberto de ironia. —Qual a graça?— perguntei, já sentindo a irritabilidade me agarrar
—Vocês se conhecem?— Juan pergunta, assim que me vê encarando o seu irmão estaticamente. —Eu...— Ryan começa a falar, mas eu o interrompo instantaneamente. —Eu li o seu nome pelo crachá de identificação.— Eu digo, evitando todo possível drama. Ryan me olha, parece confuso e eu engulo em seco, orando para que ele apenas concorde com o que falei. Ele apenas assente e eu quase solto um suspiro de alivio. —Vamos, Ayla. Vamos arrumar suas coisas.— Emma ao meu lado me recorda a verdadeira razão para eu estar ali. Eu olho pra garota, e eu me arrependo no mesmo instante de ter afirmado que iria junto com ela, porque naquele instante, se eu apenas dissesse que não poderia mais, iria apagar o brilho dos seus olhos e eu jamais faria algo assim. —Tudo bem.— Foi tudo que disse e saí em disparada daquela mansão. Ao menos eu tive uma razão pra fugir daquele lugar e poder gritar bem alto no meu anexo. —Meu Deus, pra onde foi minha sorte? —Ayla, está pronta?— ouço Juan me chamando em frente ao
Eu tentei pensar o mais rápido que podia, tentando reaver tudo que poderia ter dado de errado naquele momento. Encarei de Ryan para Juan rapidamente. Confusa pela insinuação sem fundamentos de Ryan e temendo que Juan pudesse ter ouvido aquilo e ter compreendido tudo equivocadamente. Sabendo do meu dom natural de falar demais e arruinar tudo ao meu redor, eu optei pelo silêncio para poder analisar o que de fato Juan ouviu ou não. —Do que Ryan está falando, Ayla? O que vocês têm em comum para estarem falando sobre mim?— Juan volta a perguntar. Eu engoli em seco, sabendo que deveria tentar o máximo desconversar daquele assunto, porque aparentemente ele estava alheio ao conteúdo completo que Ryan e eu falávamos. —Eu estava sem sono e desci para tomar alguma coisa.— Começo a explicar e trato de agir de modo mais indiferente possível. —Encontrei seu irmão aqui embaixo e estávamos conversando. Juan olha pra Ryan, como se buscasse confirmação de que eu estava falando a verdade. Ryan não
Ayla está com toda atenção focada nas próximas palavras que saem da boca de Ryan: —Tudo começou uns dezoito meses antes. Comecei a sentir um cansaço extremo e uma fadiga quase insuportável. Assim que Ryan começa aquela narração, Ayla fecha os olhos, já prevendo tudo que estaria por sair dos seus lábios. Seu corpo treme, a ansiedade e coração se esmagam dentro do peito, principalmente quando Ryan diz as seguintes palavras: —E depois de uma série de exames que a companhia aérea me obrigou a fazer, eu fui diagnosticado com Linfoma de Hodgkin. Enquanto Ryan falava tudo aquilo, em nenhum momento, ele dirigiu seu olhar a Ayla. Sua atenção estava nas ondas em sua frente, e assim como elas estavam revoltas no mar, tudo dentro dele também estava revolto, bagunçado. —Ryan, eu... Me desculpe por minha ignorância, mas o que seria esse linfoma?— Ayla finalmente pergunta, a voz trêmula e tão baixa que se ela não estivesse tão próxima de Ryan, dificilmente ele ouviria. —É um câncer do sistema i
Nunca se ouviu um silêncio tão alto. —Como diabos você entrou aqui?— Juan foi o primeiro que falou, assim que se afastou do seu irmão. Juan outra vez deixou a raiva o consumir enquanto assistia aquela figura parada em sua frente, mas Ryan estava impassível. Observava toda aquela cena com a incredulidade e a frieza de rever a pessoa que destruiu sua vida. —Eu te fiz a droga de uma pergunta.— Juan volta a gritar e tenta avançar, claramente tomando as dores do seu irmão, como sempre fizera um pelo outro. Antes que Juan avance e deixe sua raiva o consumir outra vez, Ryan dá um passo à frente e outra vez segura o pulso do seu irmão mais novo, o controlando. E apenas com toda tranquilidade que Ryan tinha, ele olha em frente e pergunta: —O que está fazendo aqui, Aaron? Se está procurando a Amanda, eu não sei onde ela está. Ryan é frio ao falar com seu amigo de longa data, do qual ele não via há meses. O mesmo amigo que fugiu em uma viagem com a sua esposa, enquanto ele tentava lidar com