Capítulo 6

Aquela informação paira no ar e eu ainda estou desnorteada demais para conseguir formar qualquer pensamento completo.

—Noiva?— é tudo que consigo falar e aquela mulher apenas levanta uma sobrancelha sugestivamente, como se estivesse travando uma batalha individual em sua própria cabeça.

—Algum problema com isso?— ela pergunta, um tom de superioridade em sua voz.

—Problema algum.— Me recupero rapidamente. —Só fiquei meio surpresa com o fato de existir um noivado só apenas alguns dias desde que ele enterrou a sua mulher.

As palavras saíram da minha boca antes mesmo que eu pudesse controlar, esse era um dos defeitos da minha longa lista. E aquela vez, minha língua havia voltado a me colocar em apuros.

Bianca apenas me entrega um sorriso cínico e sei que está prestes a me responder da maneira mais humilhante que uma loira de classe alta poderia. No entanto, um barulho de passos surge logo na sala ao lado.

Pressentindo que o sr. Barichello estava se aproximando, ela rapidamente traz de volta a expressão de boa e doce moça em seu rosto. Mas não sem antes se aproximar lentamente de mim e sussurrar:

—Espero que saiba que os seus dias aqui estão contados.

Ela não me dá tempo algum de responder, em seguida grita um: —querido— e finalmente desaparece daquela casa.

Finalmente solto o fôlego, perdida ainda mais nessa história sombria e cheia de segredos. Quem diabos era aquela mulher? E como alguém fica noivo apenas dias depois da morte da sua esposa?

Meu Deus, onde eu vim parar? Me pergunto, desejando o máximo me afastar dessa narrativa. No entanto, quanto mais eu ansiava me afastar, mais aquilo tudo ainda me atraía, me puxava. E eu só tinha certeza que iria até o fim para descobrir em que história eu havia me metido.

Deus me ajude!

***

Uma semana inteira se passou desde aquele momento até então. Eu não havia cruzado o caminho do sr. Barichello e Deus sabe que eu realmente não queria isso.

Quando o final daquela semana chegou, eu finalmente pude respirar distante de toda a confusão que a vida me jogou. Era o meu primeiro final de semana em que realmente iria disfrutar a vida naquela nova cidade. Disfrutar o máximo que uma pessoa sozinha em uma cidade desconhecida pode fazer.

—Mais uma dose?— o barman me pergunta após o meu terceiro shot naquele bar.

—Por que não?— digo, aceitando.

Alguns minutos ou horas se passam naquele bar, até que ouço o meu nome ser chamado.

—Ayla— uma voz masculina e familiar ecoa, até que aquela figura para ao meu lado. —Meu Deus, eu estive procurando por você a cidade toda.

Estou petrificada. Não posso acreditar na imagem que está bem a minha frente.

—Erlon.— Digo seu nome em voz alta, minha voz coberta de desgosto. —O que está fazendo aqui? Como me achou?

Ele apenas sorri para mim, como se todas aquelas perguntas fossem uma espécie de admiração pela sua indesejada surpresa.

—Tentei te ligar durante esse tempo todo. Entrei em contato com a empresa que você veio trabalhar, mas disseram que você não faz parte da companhia. E eu não tive opção além de vir procurar você aqui.

Ele tenta tocar em minhas mãos, mas me afasto do seu toque rapidamente. Enojada.

—Já ocorreu a você que eu não quisesse ser encontrada? E muito menos por você!— exclamo, deixando a raiva que lutei para ser contida por fim, esvaindo.

—Você ainda está assim?— ele pergunta, revirando os olhos. —Ayla, você teve tempo o suficiente para saber que sua reação foi completamente exagerada e impensada. Precisamos conversar.

Meu Deus, era realmente possível alguém ser tão estúpido daquela maneira?

—Você transou com minha irmã!— eu grito, e foi nesse exato momento que a música daquele bar resolve parar.

Todos os olhares pousam em mim, alguns de curiosidade e surpresa e outros de pena. Talvez, se eu não estivesse um tanto alcoolizada, aquilo me daria vergonha. No entanto, as doses de gim me deram uma coragem surpreendente.

—É isso que vocês ouviram!— começo a anunciar. —Encontrei esse homem aqui na minha cama, com minha própria irmã e ele me acusa de ter sido precipitada ao deixá-lo. Senhoras e senhores, uma salva de palmas para o maior cretino desse mundo.—

Gritos se misturam com vaias enquanto eu decido sair daquele bar. Tudo que eu queria era um final de semana tranquilo, mas a pessoa responsável por destruir todo o meu mundo decidiu voltar só para quebrar mais um pouco.

Eu já estava do lado de fora enquanto seguia reto em direção aquela avenida, quando pude ouvir passos fortes atrás de mim.

Por Deus, não!

—Ayla, me espera.— Era Erlon. —Por favor, você precisa me ouvir.

Aquilo ali bastou para que eu explodisse, e virando em direção a ele, eu grito:

—Então fala. Fala logo tudo de uma vez, porque não aguento mais nenhum segundo de nada disso.— Minha voz sai embargada quando finalmente as lágrimas me traem.

Erlon engole em seco. Seus olhos castanhos parecem iluminados pela dor também, mas o que eu conhecia dele que era real?

—Eu realmente achei que você estivesse me traindo.— Ele começa. —Você demorava a chegar em casa quase todos os dias e...

—Isso porque eu estava trabalhando pra te sustentar.— Cuspo com raiva ao perceber o papel que me forcei a pagar.

Ele bufa, levando as mãos ao cabelo.

—Eu apenas sei que quando a Diana me contou que você estava me enganando, eu perdi a cabeça.

—E então decidiu cair na cama com ela? Sem nem me dá qualquer direito de me explicar sobre suas suspeitas. A culpa, presumo, é minha.

Erlon baixa os olhos, parece exausto. Mas não mais que eu.

—Fizemos uma promessa, Erlon. Que sempre falaríamos sobre tudo, que nada entre nós jamais mudaria. Mas você escolheu partir meu coração. E por Deus, eu jamais desejo a você que conheça a dor que é ver a pessoa que você mais confiava, te apunhalando pelas costas.

Eu estava prestes a me afastar, mas não pude evitar perguntar:

—Cadê a Diana? Ela valeu a pena?

Erlon apenas morde os lábios e eu percebo claramente o abandono em seus olhos. Aquilo deveria me deixar feliz, no entanto, meu coração estava tão partido que aquilo não me deu nenhum senso de vitória.

—Sinto muito.— É tudo que digo e começo a andar em frente, me afastando.

—Ei, me espera.— Ele grita atrás de mim, enquanto apresso os passos.

—Apenas vá embora.— Digo de volta, mergulhando naquela noite fria naquelas ruas solitárias.

Erlon estava quase voltando a me alcançar, quando de repente uma figura extremamente alta, trajando roupas completamente pretas, surge entre mim e ele.

—Você ouviu a moça.— A voz grave ali, os punhos cerrados, os olhos em chama presos em Erlon. —Você vai embora ou eu mesmo irei precisar fazer isso?

Estou prendendo o fôlego ao ver aquela cena. Ao ver a guerra iminente sendo travada pelo meu ex noivo e o meu atual chefe.

—Sr. Barichello.— Sussurro seu nome, como uma prece, como se ele fosse algum tipo de cavalheiro em uma armadura reluzente, vindo me salvar.

No entanto, me vejo tremendo tudo que estava por vir naquele maldito encontro.

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