—Alô, você está aí?— a voz daquele homem volta a encher os meus ouvidos.
Ainda petrificada naquela calçada, respondo:
—Desculpe, sim. Estou. E aceito o emprego.— digo rapidamente, sem parar para respirar, porque sinto que tudo aquilo poderia ser apenas um sonho no meio do pesadelo em que minha vida se encontrava.
—Ok. Venha amanhã, às...— ele começa, mas eu o interrompo logo em seguida.
—Ou posso começar de modo imediato.— digo com empolgação, morrendo de esperança que ele concorde. —Quer dizer, pouparia muito do seu tempo me falando tudo que preciso saber hoje. Sei que é um homem ocupado.
Mordi o lábio em seguida, rezando para que ele não notasse a urgência em minha voz. Porque a verdade era que eu estava desesperada, porque eu não teria um teto para passar aquela noite. A minha única salvação era aquele emprego, e só em ter a condição de viver naquela casa enorme servia de um alívio de imediato, porque um lugar para viver era tudo que eu não tinha.
Aquela proposta caiu como uma luva em minhas mãos trêmulas e horrorizadas.
No entanto, o silêncio no outro lado da linha me deixou ainda mais apreensiva. Temia que aquele homem mudasse de opinião a qualquer instante. Até que, finalmente, ele resolveu falar:
—Ok.— Foi tudo que disse, e sem dirigir mais nenhuma palavra, desligou o telefone.
Encarei o celular, ainda surpresa por sua atitude tão rude. Mas logo me recomponho. Eu tinha uma vida para remediar agora.
Me levanto e com toda a dignidade que ainda me restava, recolho todos os meus pertences jogados naquela calçada e ensopados pela chuva e pego o próximo táxi que passa por aquela avenida.
Assim que me vi em frente aquela mansão outra vez, e pago os últimos trocados que tinha aquele motorista, respiro fundo.
—Deixe-me ajudá-la.— O mesmo homem que me atendeu mais cedo surgiu naquele jardim, tirando as malas de minhas mãos. —Deixarei suas coisas em seu quarto. O senhor Barrichello está a esperando.— E simples assim, sem mais nenhuma palavra, ele seguiu.
Sentindo-me estranhamente nervosa, ouso dar os primeiros passos até entrar naquela casa outra vez. A sala enorme e bem iluminada me deixa ainda mais ansiosa, sobretudo porque não existia ninguém ali.
Começo a andar, olhando ao redor, até que paro abruptamente ao ver aquela figura alta e masculina no corredor. O mesmo homem de rosto impassível e olhos duros me observa, e sem dizer nada, segue para o escritório ao seu lado.
Interpreto aquilo como um convite, e o sigo. Fecho a porta atrás de mim, enquanto espero ele fale algo, mas recordo da última vez em que o vi e lembro que boa comunicação não parecia ser algo que ele dominava. A não ser quando o assunto era ser extremamente inconveniente, mas ele parece não demonstrar relembrar do infortúnio que foi o encontro naquele táxi.
—Então, estou preparada. Diga-me tudo que preciso saber.— Digo, por fim.
Ele apenas me olha de cima abaixo e com um rápido olhar em direção ao sofá atrás de mim, entendo que ele deseja que eu sente.
O escritório amplo e luxuoso estava mergulhado em uma aura de mistério quando me sentei diante dele. Seus olhos eram penetrantes e impenetráveis, seu rosto uma máscara de seriedade. Espero com ansiedade e um pequeno sorriso em meu rosto, contrastando com o que se via no rosto dele.
—Antes de começarmos, senhorita Green, deixe-me esclarecer uma coisa.— Ele começou, sua voz fria e autoritária cortando o silêncio pesado da sala. —Minha filha é o tesouro mais precioso que possuo. Não há espaço para erros ou negligências quando se trata de sua segurança e bem-estar.
Sinto um arrepio percorrer minha espinha enquanto encaro aqueles olhos penetrantes. Respiro fundo e respondo com confiança, embora meu coração estivesse acelerado:
—Compreendo, senhor Barrichello. Sua filha estará em boas mãos.
—Espero que sim.— Ele respondeu, sua expressão inabalável. —Aqui estão as regras que você deve seguir à risca. Primeiro, minha filha tem um horário estritamente estabelecido para suas atividades. Não tolero atrasos nem desvios dessa rotina.
Assinto, tomando nota das palavras dele.
—Em segundo lugar, qualquer indisposição ou doença de minha filha deve ser relatada imediatamente, sem exceções. Sua saúde é uma prioridade absoluta.
Senti a pressão aumentar e imaginei uma série de cenários possíveis, todos desencadeando um alarme interno. Porém, mais uma vez, respondi com determinação:
—Entendido, senhor Barrichello. Vou garantir que sua filha esteja sempre segura e saudável.
O olhar afiado daquele homem parecia me atravessar enquanto ele continuava a listar as regras, uma após a outra. Eu me sentia cada vez mais tensa, mas mantinha minha postura firme.
—Em resumo, é isso.— Ele concluiu quase vinte minutos depois. —Discutiremos sobre os seus dias de folga nos dias seguintes. Seu quarto está anexado a casa, e se precisar de qualquer coisa, pode entrar em contato com Gomes.
Eu me levantei logo em seguida, e os meus olhos encontraram os dele de modo intenso.
—Cuidarei de sua filha com todo o meu empenho e dedicação.— sussurro, com honestidade. —Ela estará segura e feliz sob os meus cuidados.
Naquele instante, eu podia jurar que vi um breve, curto sorriso, quase invisível no rosto daquele homem, uma mistura de gratidão e confiança. Mas tão rápido quanto surgiu, desapareceu.
Resolvo dar a volta para sair daquele escritório que mais parecia uma extensão de sua personalidade: austero e misterioso. No entanto, parei de modo abrupto.
Engoli em seco enquanto me virava e enfrentava o olhar frio do meu novo chefe. O ar estava carregado de expectativa e uma pitada de apreensão.
Com um fio de coragem, eu finalmente decidi abordar o assunto que me consumia desde o momento em que recebei o emprego.
—Senhor Barrichello, se me permite perguntar, por que me escolheu entre todas as candidatas, sendo que havia outras mais qualificadas?
Os seus olhos penetrantes fixaram-se em mim, um leve ar de surpresa misturado com desafio.
Sua voz ecoou com uma firmeza gélida:
—Minha decisão não se baseou apenas em qualificações. Foi um instante fugaz que despertou meu interesse por você.
Estreito os olhos, curiosa e desconcertada.
—Um instante fugaz? Poderia me explicar melhor?
Ele se inclinou para a frente, encarando-me intensamente.
—Da janela da minha casa, vi quando você parou para conversar com minha filha. Foi um breve momento, mas algo nele capturou minha atenção. Vi genuína empatia em seus olhos e a forma como ela sorriu na sua presença.
Uma onda de perplexidade tomou conta de mim. Eu me lembrava daquele encontro casual com a sua filha.
—Perdoe minha franqueza, senhor Barrichello, mas não consigo entender como um único momento poderia influenciar uma decisão tão importante.
Ele manteve o olhar fixo em mim por um momento, como se avaliasse minha sinceridade. Finalmente, ele falou em um tom baixo e ameaçador:
—Você pode não compreender agora, mas saiba que da mesma forma que escolhi você, também posso dispensá-la diante do menor erro. A responsabilidade que carrega é imensa.
O meu coração disparou, e senti um calafrio percorrer minha espinha. A tensão no ar era palpável, mas eu não permitiria que o medo me dominasse.
Com a voz trêmula, porém determinada, respondo:
—Entendo perfeitamente, senhor Barrichello. Aceito o desafio e assumo a responsabilidade que me foi concedida. Farei o possível para corresponder às suas expectativas.
Um breve sorriso sombrio atravessou os seus lábios, mas seus olhos permaneceram inexpressivos.
—Veremos. Não há espaço para erros.
E assim, naquele escritório permeado pela tensão e incerteza, a minha jornada como babá começou, envolta em um desafio que prometia testar minha determinação e coragem a cada passo. Sobretudo porque...
Eu nunca havia cuidado de criança alguma em minha vida e agora, a minha vida literalmente dependia disso.
—Meu Deus, como farei isso dar certo?— falo em voz alta, temendo tudo que me aguarda.
No dia seguinte, eu havia despertado cedo. Tinha dormido muito bem na última noite, mas a ansiedade que estava me consumindo se tornou maior assim que o sol deu as caras pelas persianas da minha janela.Saio do anexo e me dirijo até a casa. Ainda é muito cedo para que a garotinha esteja acordada, o sr. Barichello na última noite havia me enviado todos os horários da sua filha.Assim que entro na casa, a mansão está mergulhada em silêncio e eu me atrevo a bisbilhotar, procurando por porta-retratos de fotos de família. Procurando por ela. Pela mulher que o meu chefe estava aliviado que tenha morrido. Mas não existe nenhum resquício de sua existência ali.—O que está fazendo?— a voz masculina e firme me fez dá um sobressalto, as mãos no coração.Me viro, me afastando de uma mesinha no centro da sala e encaro os mais intensos pares de olhos negros em mim.—Eu só estava tentando me familiarizar com a casa.— Falo rapidamente e minha voz sai mais alta do que eu gostaria.Ele apenas me olha d
Os olhos dele estavam presos em mim, como se fosse capaz de queimar a minha alma só com o poder daquele olhar. De repente, o escritório se tornou mais abafado, enquanto uma luta interna se travava dentro de mim.—Ela falou que sentia sua falta.— Volto a falar, um pouco mais calma. —Não acho que seja fácil pra ela, ter perdido a mãe e ver o próprio pai, tudo que sobrou pra ela, se afastando.Aquele homem franze a testa, como se as palavras da minha boca fossem uma espécie de enigma mal compreendido.—O que te faz acreditar que você sabe de algo da nossa vida?— ele pergunta rudemente. —Você é apenas alguém que trabalha para mim. E pelo o que posso notar, está desejando que isso mude.Não deixo sua provocação me distrair. Me recuso que ele mude de assunto daquela forma, porque a curiosidade sobre tudo aquilo que aquele homem poderia esconder me consome a cada segundo.—Sei o suficiente para saber que se sente aliviado pela morte da sua esposa.— Deixo as palavras saírem livremente, sem me
Aquela informação paira no ar e eu ainda estou desnorteada demais para conseguir formar qualquer pensamento completo. —Noiva?— é tudo que consigo falar e aquela mulher apenas levanta uma sobrancelha sugestivamente, como se estivesse travando uma batalha individual em sua própria cabeça. —Algum problema com isso?— ela pergunta, um tom de superioridade em sua voz. —Problema algum.— Me recupero rapidamente. —Só fiquei meio surpresa com o fato de existir um noivado só apenas alguns dias desde que ele enterrou a sua mulher. As palavras saíram da minha boca antes mesmo que eu pudesse controlar, esse era um dos defeitos da minha longa lista. E aquela vez, minha língua havia voltado a me colocar em apuros. Bianca apenas me entrega um sorriso cínico e sei que está prestes a me responder da maneira mais humilhante que uma loira de classe alta poderia. No entanto, um barulho de passos surge logo na sala ao lado. Pressentindo que o sr. Barichello estava se aproximando, ela rapidamente traz d
O ar naquela atmosfera pareceu denso demais, enquanto eu assistia a troca de olhares selvagens e ameaçadores entre Erlon e o meu chefe. —Quem você pensa quem é?— Erlon pergunta exasperado, e tenta se afastar da figura potente e alta em sua frente. Sr. Barichello apenas dá um passo em frente e só aquele simples ato parece ser ameaçador o suficiente. —Essa será a segunda e última vez que sugiro que deixe a moça em paz.— Ouço a voz do meu chefe soar baixa o suficiente, estridentes. —E eu vou perguntar pela segunda vez: quem diabos é você?— Erlon insiste, também se aproximando. Sinto meu coração acelerar rapidamente. Eu não fazia ideia sobre tudo que poderia acontecer naquela situação, mas eu tinha a absoluta certeza que eu não gostaria do que quer que fosse. Por isso, soube que precisava intervir. Mesmo que isso me forçasse a agir do modo mais estupido possível. —Erlon, tudo que a Diana te contou é verdade.— Eu falei rapidamente, entrando no meio dos dois. —E esse é ele. É o cara q
Passo através daquele homem rapidamente, ignorando totalmente sua presença e como meu coração acelera em meu peito. Paro em frente ao balcão onde consigo contatar o recepcionista daquele hotel. —Boa noite, como posso ajudar a senhorita?— um senhor de cabelos grisalhos e muito sorridente me pergunta. —Boa noite. O senhor poderia me informar algum número de táxi e onde posso pegá-lo por aqui?— minha voz está tão ofegante, que acredito ter assustado aquele senhor. Por isso, forço um sorriso logo em seguida. O recepcionista apenas dá uma pequena tossida fingida e em seguida olha para tela do computador e com um sorriso empático no rosto, me informa. —Eu sinto muito, minha querida. Mas nessa área do hotel, os únicos carros permitidos a fazer rota são os do próprio hotel. E receio que nesse momento, todos estejam ocupados. Solto uma respiração completamente cheia de exasperação. Eu realmente gostaria de saber em qual ponto da minha vida, toda a sorte resolveu simplesmente dissipar. —P
Quando acordei naquela manhã de domingo, eu realmente senti que havia descansado. Foi a primeira noite desde o dia em que toda minha vida mudou, que minha mente pareceu finalmente relaxar.Poderia culpar o álcool, mas a verdade é que no final da noite não existia mais nenhuma gota de álcool em minhas veias. Só as novas lembranças e perguntas que havia acabado de criar.O sol já estava pintando forte no alto, quando decidi sair do meu anexo.—Ayla, você está aqui?— a voz de Emma alcançou meus ouvidos logo que coloco os pés pra fora.Sorri quando encontrei a garota vestida completamente de rosa, os cabelos partidos ao meio e a sua inseparável boneca ao lado.—Pra onde você vai tão linda assim?— perguntei ao me aproximar.—Vou sair com o papai.— Ela disse empolgada e no mesmo momento, aquela noticia me empolgou do mesmo jeito. —Achei que você não fosse ficar comigo hoje.—Ah, não. Eu só passei a noite aqui, já estava saindo.— Expliquei.A garota baixou os olhos no mesmo instante, parecia
Não me intimidei nem por um segundo com a figura loira e arrogante em minha frente, pelo contrário, eu soube exatamente o que deveria fazer. Eu já havia percebido Bianca o suficiente na última vez, eu era ótima em observar pessoas. Ela claramente se prestava a um papel de querida e boa moça na frente do Juan, tudo pra ganhar admiração e respeito. Mas a verdade era que ela não passava de uma cobra, à espreita pra atacar. —Estou fazendo a mesma coisa que você, Bianca.— Respondo. —Estou em um aniversário. Vejo quando sua mandíbula fica rígida e ela parece se morder de raiva com a audácia em minhas palavras. —Mas você não deveria estar aqui fora. Deveria estar com a Emma.— Ela insiste, claramente incomodada pela minha presença junto ao seu adorável noivo. —Ah, a Emma está bem, não se preocupe.— Eu digo, sorrindo. Aquilo pareceu acender ainda mais a raiva presente dentro dela. Juan ao seu lado apenas fumava, como se tivesse alheio aquele cenário todo. Me perguntei o que Bianca poderia
Os olhos de Juan permanecem em Ax, dessa vez imparcial. Espero que ele fale qualquer coisa, que pergunte porque eu trabalharia com Ax, uma vez que ele não irá me demitir. Mas ele não faz isso. Seus olhos apenas procuram Emma e buscam sua mão, apenas desejando ir embora daquele local. Bom, eu também desejava aquilo profundamente. E como se minha prece fosse atendida: —Você vem?— ele resmunga de repente, mas sem olhar pra mim. Ele não precisa se esforçar mais que isso pra me ver saindo em disparada atrás dele. —Juan, eu...— eu começo a falar, a voz trêmula, mas sou interrompida. —Aqui não.— Ele me corta friamente assim que chegamos ao seu carro e ele dá partida em alta velocidade. Eu engulo em seco, sabendo que aquele momento era um daqueles em que eu arruinaria tudo se eu só falasse descontroladamente. No meu lado, Emma parece muito mais tranquila sentada em sua cadeirinha, mesmo que silenciosa. Mas também respeito esse seu espaço. Assim que o carro para em frente a mansão, Juan