Capítulo 3

­—Alô, você está aí?— a voz daquele homem volta a encher os meus ouvidos.

Ainda petrificada naquela calçada, respondo:

—Desculpe, sim. Estou. E aceito o emprego.— digo rapidamente, sem parar para respirar, porque sinto que tudo aquilo poderia ser apenas um sonho no meio do pesadelo em que minha vida se encontrava.

—Ok. Venha amanhã, às...— ele começa, mas eu o interrompo logo em seguida.

—Ou posso começar de modo imediato.— digo com empolgação, morrendo de esperança que ele concorde. —Quer dizer, pouparia muito do seu tempo me falando tudo que preciso saber hoje. Sei que é um homem ocupado.

Mordi o lábio em seguida, rezando para que ele não notasse a urgência em minha voz. Porque a verdade era que eu estava desesperada, porque eu não teria um teto para passar aquela noite. A minha única salvação era aquele emprego, e só em ter a condição de viver naquela casa enorme servia de um alívio de imediato, porque um lugar para viver era tudo que eu não tinha.

 Aquela proposta caiu como uma luva em minhas mãos trêmulas e horrorizadas.

No entanto, o silêncio no outro lado da linha me deixou ainda mais apreensiva. Temia que aquele homem mudasse de opinião a qualquer instante. Até que, finalmente, ele resolveu falar:

—Ok.— Foi tudo que disse, e sem dirigir mais nenhuma palavra, desligou o telefone.

Encarei o celular, ainda surpresa por sua atitude tão rude. Mas logo me recomponho.  Eu tinha uma vida para remediar agora.

Me levanto e com toda a dignidade que ainda me restava, recolho todos os meus pertences jogados naquela calçada e ensopados pela chuva e pego o próximo táxi que passa por aquela avenida.

Assim que me vi em frente aquela mansão outra vez, e pago os últimos trocados que tinha aquele motorista, respiro fundo.

—Deixe-me ajudá-la.— O mesmo homem que me atendeu mais cedo surgiu naquele jardim, tirando as malas de minhas mãos. —Deixarei suas coisas em seu quarto. O senhor Barrichello está a esperando.— E simples assim, sem mais nenhuma palavra, ele seguiu.

Sentindo-me estranhamente nervosa, ouso dar os primeiros passos até entrar naquela casa outra vez. A sala enorme e bem iluminada me deixa ainda mais ansiosa, sobretudo porque não existia ninguém ali.

Começo a andar, olhando ao redor, até que paro abruptamente ao ver aquela figura alta e masculina no corredor. O mesmo homem de rosto impassível e olhos duros me observa, e sem dizer nada, segue para o escritório ao seu lado.

Interpreto aquilo como um convite, e o sigo. Fecho a porta atrás de mim, enquanto espero ele fale algo, mas recordo da última vez em que o vi e lembro que boa comunicação não parecia ser algo que ele dominava. A não ser quando o assunto era ser extremamente inconveniente, mas ele parece não demonstrar relembrar do infortúnio que foi o encontro naquele táxi.

—Então, estou preparada. Diga-me tudo que preciso saber.— Digo, por fim.

Ele apenas me olha de cima abaixo e com um rápido olhar em direção ao sofá atrás de mim, entendo que ele deseja que eu sente.

O escritório amplo e luxuoso estava mergulhado em uma aura de mistério quando me sentei diante dele. Seus olhos eram penetrantes e impenetráveis, seu rosto uma máscara de seriedade. Espero com ansiedade e um pequeno sorriso em meu rosto, contrastando com o que se via no rosto dele.

—Antes de começarmos, senhorita Green, deixe-me esclarecer uma coisa.— Ele começou, sua voz fria e autoritária cortando o silêncio pesado da sala. —Minha filha é o tesouro mais precioso que possuo. Não há espaço para erros ou negligências quando se trata de sua segurança e bem-estar.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha enquanto encaro aqueles olhos penetrantes. Respiro fundo e respondo com confiança, embora meu coração estivesse acelerado:

—Compreendo, senhor Barrichello. Sua filha estará em boas mãos.

—Espero que sim.— Ele respondeu, sua expressão inabalável. —Aqui estão as regras que você deve seguir à risca. Primeiro, minha filha tem um horário estritamente estabelecido para suas atividades. Não tolero atrasos nem desvios dessa rotina.

Assinto, tomando nota das palavras dele.

—Em segundo lugar, qualquer indisposição ou doença de minha filha deve ser relatada imediatamente, sem exceções. Sua saúde é uma prioridade absoluta.

Senti a pressão aumentar e imaginei uma série de cenários possíveis, todos desencadeando um alarme interno. Porém, mais uma vez, respondi com determinação:

—Entendido, senhor Barrichello. Vou garantir que sua filha esteja sempre segura e saudável.

O olhar afiado daquele homem parecia me atravessar enquanto ele continuava a listar as regras, uma após a outra. Eu me sentia cada vez mais tensa, mas mantinha minha postura firme.

—Em resumo, é isso.— Ele concluiu quase vinte minutos depois. —Discutiremos sobre os seus dias de folga nos dias seguintes. Seu quarto está anexado a casa, e se precisar de qualquer coisa, pode entrar em contato com Gomes.

Eu me levantei logo em seguida, e os meus olhos encontraram os dele de modo intenso.

—Cuidarei de sua filha com todo o meu empenho e dedicação.— sussurro, com honestidade. —Ela estará segura e feliz sob os meus cuidados.

Naquele instante, eu podia jurar que vi um breve, curto sorriso, quase invisível no rosto daquele homem, uma mistura de gratidão e confiança. Mas tão rápido quanto surgiu, desapareceu.

Resolvo dar a volta para sair daquele escritório que mais parecia uma extensão de sua personalidade: austero e misterioso. No entanto, parei de modo abrupto.

Engoli em seco enquanto me virava e enfrentava o olhar frio do meu novo chefe. O ar estava carregado de expectativa e uma pitada de apreensão.

Com um fio de coragem, eu finalmente decidi abordar o assunto que me consumia desde o momento em que recebei o emprego.

—Senhor Barrichello, se me permite perguntar, por que me escolheu entre todas as candidatas, sendo que havia outras mais qualificadas?

Os seus olhos penetrantes fixaram-se em mim, um leve ar de surpresa misturado com desafio.

 Sua voz ecoou com uma firmeza gélida:

—Minha decisão não se baseou apenas em qualificações. Foi um instante fugaz que despertou meu interesse por você.

Estreito os olhos, curiosa e desconcertada.

—Um instante fugaz? Poderia me explicar melhor?

Ele se inclinou para a frente, encarando-me intensamente.

—Da janela da minha casa, vi quando você parou para conversar com minha filha. Foi um breve momento, mas algo nele capturou minha atenção. Vi genuína empatia em seus olhos e a forma como ela sorriu na sua presença.

Uma onda de perplexidade tomou conta de mim. Eu me lembrava daquele encontro casual com a sua filha.

—Perdoe minha franqueza, senhor Barrichello, mas não consigo entender como um único momento poderia influenciar uma decisão tão importante.

Ele manteve o olhar fixo em mim por um momento, como se avaliasse minha sinceridade. Finalmente, ele falou em um tom baixo e ameaçador:

—Você pode não compreender agora, mas saiba que da mesma forma que escolhi você, também posso dispensá-la diante do menor erro. A responsabilidade que carrega é imensa.

O meu coração disparou, e senti um calafrio percorrer minha espinha. A tensão no ar era palpável, mas eu não permitiria que o medo me dominasse.

Com a voz trêmula, porém determinada, respondo:

—Entendo perfeitamente, senhor Barrichello. Aceito o desafio e assumo a responsabilidade que me foi concedida. Farei o possível para corresponder às suas expectativas.

Um breve sorriso sombrio atravessou os seus lábios, mas seus olhos permaneceram inexpressivos.

—Veremos. Não há espaço para erros.

E assim, naquele escritório permeado pela tensão e incerteza, a minha jornada como babá começou, envolta em um desafio que prometia testar minha determinação e coragem a cada passo. Sobretudo porque...

Eu nunca havia cuidado de criança alguma em minha vida e agora, a minha vida literalmente dependia disso.

—Meu Deus, como farei isso dar certo?— falo em voz alta, temendo tudo que me aguarda.

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