O Sheik Khalil
O Sheik Khalil
Por: Ela Ferreira
O convite

Algo branco e brilhante no bolso de sua farda chamou sua atenção. A antiga funcionária havia deixado na roupa que usava.

Curiosa, ela abriu o convite, notando ser o mesmo que havia visto na lixeira outro dia, perto do caixa de atendimento. Parou de caminhar por alguns segundos para ler o conteúdo:

Você está convidada para a festa de aniversário do príncipe Khalil.

Ele pediu que compareça às oito horas. A festa terá início às sete. Sinta-se bem-vinda para fazer companhia ao sheik.

Iremos lhe fazer uma visita antes do prazo.

Aisha sorri com o conteúdo, mesmo parecendo sério. Ela sorriu por ser o segundo convite para uma mulher que se demitiu assim que recebeu o primeiro, ou seja, as chances de encontrá-la eram mínimas, ainda mais se ela tivesse saído do país. O conteúdo esclareceu que o tal sheik não pedia o seu comparecimento e sim, exigia, diferente do que estava escrito.

De volta ao caixa, ela saúda sua colega ao lado. Põe o convite em cima da bancada e pergunta:

— Quantas pessoas recebem um convite desses?

Samia cresce os olhos pegando o convite de cima da bancada rapidamente, deixando-o cair sem querer no processo.

— Onde achou isso? — ela perguntou, abaixando-se para pegar. A mesma já estava nervosa.

— No bolso do meu uniforme. — Aisha fala sem a menor preocupação aparente.

— Você recebeu isso? — Samia pergunta curiosa e preocupada lendo o conteúdo.

— A antiga funcionária recebeu. — ela responde calma. Esclarecer era pouco necessário, mas o fez.

— Esta é a festa mais importante do país. — diz Samia, devolvendo o convite para Aisha, ainda chocada com a aparição de um convite igual em seu local de trabalho.

— Um segundo convite? E ainda insiste em negar? — uma voz grossa e calma fala alto.

Aisha levanta a cabeça ainda com o convite nas mãos. Os olhos castanhos médios destacados era o que ela menos queria ver naquele dia, ainda mais naquele momento.

Samia paralisou do outro lado, enquanto Aisha tentou se recompor do susto de forma calma. Assim que aconteceu, ela se curvou brevemente. Logo, quis voltar seu rosto para o chão, pois percebeu estar sem burca. Ninguém havia avisado que o próprio sheik iria fazer uma visita naquele dia.

Nem mesmo pôde desejar um bom dia ou fazer quaisquer cumprimentos. Também não sabia ao certo se podia falar diretamente com ele.

Seu rosto estava completamente descoberto. Seus cabelos castanhos claros amarrados em um rabo de cavalo baixo e seu pescoço à mostra. Para piorar sua situação, seu rosto esquentou quando ela percebeu que ele analisava suas feições como que traçando cada linha.

— Aprecio a escolha de Samuel. — comentou o sheik em sua postura impecável. Braços atrás das costas, enquanto estava com a postura perfeitamente ereta e rosto erguido.

— Peço desculpas, mas este convite não era para mim. Era para a antiga funcionária, ao qual preenchi a vaga recentemente. — Aisha explicou, começando a perder a compostura.

O sheik apenas a observou antes, por infinitos segundos que lhe pareceu horas. Aisha sem querer o olhou nos olhos duas vezes. Levada pela sensação de seu olhar nela e costume, como se o enfrentasse de alguma forma diante daquela situação e por fim ele falou.

— Pois bem!.. Agora é seu. — falou, deixando a jovem da frente extremamente confusa e assustada, pensando se ele havia tomado a decisão pela afronta que ela acabara de fazer.

— Compareça às oito horas. Mandarei um carro até seu endereço e um traje à altura amanhã. — respondeu Khalil, deixando a funcionária ao lado de Aisha com a expressão pior que a da própria, ambas sem saber o que fazer.

Assim que ele sumiu da vista delas, Samia falou com pesar:

— Você foi a escolhida!

Antes...

Aisha acabara de sair de sua Terra natal, em Riad, na Arábia Saudita, indo atrás de um emprego mais remunerado nos Emirados Árabes Unidos — Precisamente no Emirado de Abu-Dhabi, onde os empregos tinham a melhor remuneração, não que na sua terra não houvesse boas condições. Se ela ficasse, teria de se casar com Jammil, um comerciante com muitas posses pelas redondezas.

Jammil tinha pouco mais de trinta e seis anos e dois filhos. O mais velho tinha oito, enquanto o mais novo tinha seis. Era viúvo há um ano de Atella, devido a um tumor cerebral. Mas não era por este motivo que Aisha não queria o casamento e sim por conta da personalidade do prometido. Ele a queria forçar a se casar com ele a todo custo. Tinha uma paixão platônica por ela desde que completara seus dezesseis anos, ou seja, quando a esposa ainda era viva.

Não tendo sucesso em suas alternativas durante meses, ele optou por comprá-la de seus pais, que estão passando por uma situação financeira ruim, por consequência das muitas contas e gastos com a avó de Aisha, a senhora Dania.

Sua mãe Aaliyah, não concordando que a filha deveria ser forçada a casar com o comerciante para poder ajudá-los, entregou grande parte de suas economias para a reforma da casa que já não estava em boas condições para a filha, para que ela se livrasse do fardo de ficar presa a um relacionamento indesejado.

Aisha tivera que presenciar uma grande discussão entre sua mãe e Hamid, seu pai, antes de sair do país, pois o mesmo não aceitava bem a decisão que sua esposa havia tomado. Ele não queria aquele futuro para a filha mais velha, no entanto, também tinha medo dela não conseguir nada melhor para se sustentar sozinha.

...

Aisha acabara de chegar no Emirado de Abu Dhabi ao qual era um pouco diferente de Riad, ao primeiro olhar uma cidade mais visitada que a sua, trazendo assim mais riqueza.

Aisha admirou os prédios modernos e a infraestrutura da cidade. Mesmo ao primeiro olhar através da janela do ônibus, ela já conseguia identificar as coisas indispensáveis do lugar além da beleza. Estava encantada.

O ônibus parou em frente a um prédio pequeno e um pouco mais antigo do que os demais — antigo no sentido de mal cuidado, comparados aos outros. Aisha percebeu que aquela deveria ser sua oportunidade de conseguir um quarto barato, enquanto conseguia um emprego com boa remuneração no centro. Desceu imediatamente do ônibus quase correndo para o local.

— Masa'u Al-Khair! — ela cumprimentou o atendente com um 'boa tarde'. Ele era aparentemente um pouco mais velho que ela.

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