Setembro de 2016
Você conhece uma garota sem identidade? Uma garota sem identidade que tem sonhos, planos e quer ter uma vida normal? Sou eu. Mas, eu não consigo. Quero saber quem eu sou.
Tentei fazer amizade com um, com outro, mas não consegui. Sempre me sentava quieta em meu canto na sala de aula. Até tentei participar das aulas, mas tinha vergonha de questionar meus professores, do que iriam pensar.
Em uma noite, o pessoal do colégio me convidou para ir a uma festa. Como eu não tinha amigos além de Sara, pensei ser a oportunidade perfeita para novas amizades.
Quando cheguei, espiei pelas janelas e vi um grupo de pessoas da escola bebendo, dando uns amassos e fazendo tudo o que se espera de uma festa de adolescentes.
Por que ninguém nunca dava festas de leitura? Eu adoraria esse tema.
Os cômodos da casa começaram a ficar mais cheios, lotando conforme a noite avançava. Eu odiava o cheiro, odiava a agarração; odiava tudo neste lugar. E era por isso que eu era a menina que vivia com a cara enfiada nos livros. As festas nos livros sempre pareciam mais divertidas.
Olhei em volta e observei um grupo de meninas sentadas em uma mesa, jogando algum tipo de jogo de beber com alguns caras. O local estava cheio de pessoas conversando e rindo em voz alta. Todos estavam bebendo e se divertindo.
Nenhum sinal da Sara. Acho que ela ainda não chegou.
Encostei-me à parede do corredor e continuei a assistir as meninas bêbadas e como elas riam e agiam de forma estúpida. Olhando para elas, comecei a me sentir desconfortável. A maioria das meninas estavam vestindo pequenas saias ou vestidos curtos e salto alto. Eu me senti estranha com minha camiseta preta, um jeans velho, rasgado e desgastado e um par de all star preto.
— Quer uma cerveja? — O garoto que estudava comigo, Ryan, se aproximou e me ofereceu um copo. Sorri e aceitei, bebendo imediatamente. Pelo menos alguém que conheço apareceu para me fazer companhia.
Ryan se aproximou e colocou ambas as mãos na parede, me encurralando no canto da sala, fora da vista dos outros. Inclinando-se sobre mim, senti um cheiro forte de álcool em sua respiração. Quando ele se inclinou para me beijar, virei o rosto.
Senti um nó no estômago e me afastei da parede, empurrando seu peito.
— Que porra é essa? — diz ele, e vejo o olhar irritado em seu rosto. — Qual é o problema?
Arregalei meus olhos.
— Como assim, qual o problema? Eu nem sequer te conheço!
Ele riu da minha cara.
— Você já pode parar com o teatro de boa moça, Gracie.
Ryan disse meu nome com um tom gotejando em desdém. Ele agarrou firmemente meus ombros, empurrando-me para trás. Tropecei um pouco e bati na parede. Meu corpo se tornou frio, e senti a pele do meu pescoço formigar. Fiquei nervosa, e meu batimento cardíaco acelerou. O que ele pensa que está fazendo?
Eu só quero sair daqui. Eu só quero ir para casa e fingir que essa noite nunca aconteceu. Tem sido estranho desde o início, e só está ficando pior.
Meus ombros estavam tremendo sob suas mãos, e senti o nó na garganta crescendo, dificultando minha respiração. Ele empurrou seu corpo contra o meu e enterrou o rosto no meu pescoço, espalhando beijos ali.
Suspirei, busquei o ar e soltei um gemido estrangulado. Eu não queria chorar, mas minhas emoções estavam por todo o lugar agora. Um fluxo de lágrimas rolou pelo meu rosto, e comecei a empurrar o peito dele com força, mas ele não cedia.
— Ryan, pare! O que você está fazendo?
Comecei a bater em seu peito, tentando tirá-lo de mim. Mal podia ver através das minhas lágrimas, mas consegui bater com a testa na boca dele. Ele deu um passo para trás e limpou a boca. Estava sangrando. Ryan olhou para mim sem acreditar. Virei-me para a porta e corri. Meu coração estava batendo tão forte contra as minhas costelas enquanto me esforçava para respirar, que corri batendo nos ombros das pessoas e tropeçando sobre os meus pés trêmulos, até chegar à porta.
Quando finalmente saí, andei rápido e tentei compreender o que aconteceu, mas eu não conseguia limpar a minha mente o suficiente para me concentrar. Confusão nem sequer começava a descrever o meu estado de espírito.
— Grace! Espere! — ouvi a voz de Ryan atrás de mim. Olhei para trás com temor e corri.
Corri rápido.
Percebi que ele estava correndo atrás de mim e tentei fazer minhas pernas se moverem mais rápido, mas elas não colaboravam. Minha garganta estava pegando fogo e eu não conseguia respirar.
Não me virei para ver, mas eu sabia que ele estava perto.
Nos segundos iniciais que se seguiram, eu estava muito desorientada para compreender o que estava acontecendo. Em um momento, eu estava cortando o caminho em um atalho atrás de um prédio e no seguinte, eu estava caída com o rosto contra o pavimento, sem fôlego e imóvel.
Lutei para me levantar, mas não conseguia com o peso em cima de mim.
— Sai de cima de mim! Me solta! — Minha voz tremeu, mas eu tentei dar a ordem com a maior autoridade possível.
Eu podia sentir o cheiro de cerveja em seu hálito e algo mais forte em seu suor, e uma onda de náusea subiu e caiu no meu estômago.
Ouvi o som inconfundível de um zíper se abrindo e ele riu no meu ouvido quando comecei a implorar.
— Ryan, pare! Por favor, você está bêbado e vai se arrepender disso amanhã. Por favor, não! Não, não, não! — Sob o seu peso, eu não conseguia respirar o suficiente e gritar ao mesmo tempo e minha boca estava amassada contra o chão, abafando qualquer protesto que fazia.
Ryan então me vira e me coloca com as costas no asfalto. Meu rosto arde quando ele me dá um tapa.
— Cala a boca, putinha! — Ele pegou meu queixo e me forçou a encará-lo.
Mão direita livre.
Enquanto movia minha mão entre nós, agarrando e torcendo suas partes e puxando-as tão forte quanto eu podia, eu bati minha testa em seu nariz com força. E então ele gritou, e seu nariz começou a jorrar muito sangue.
Mão esquerda livre.
Ele se inclinou para o lado. Levantei meu joelho esquerdo e virei para ele, empurrando seu ombro com a mão esquerda e tirando ele de cima de mim. A sensação voltou para as minhas pernas, tremores correram através de mim quando me levantei e me preparei para correr. Mas, no mesmo instante, sua mão direita agarrou meu pulso. Girei e bati o punho sobre o ponto sensível em seu antebraço, polegadas para baixo da curva de seu braço, e ele me soltou, berrando com raiva e tentando ficar em pé.
Eu não esperei para ver se ele conseguiu.
Virei-me e fugi.
Maio de 2018"Viro-me depressa, abro o vidro da janela do carro depois que um tiro acerta o espelho lateral. Coloco metade do corpo para fora, e tento atirar neles. Harry está dirigindo rapidamente, tentando desviar dos disparos. Ele faz uma curva rápido demais e perco o equilíbrio.— Cuidado, Grace — Harry avisa, focado na estrada. O vento sopra em meus ouvidos quando acerto um tiro em um dos pneus. Depois que atinjo o segundo pneu, volto para dentro do carro, respirando pesadamente. Três tiros são disparados na minha direção e eu me abaixo.Há uma pausa. Volto meu olhar para trás e vejo o carro diminuir a velocidade.— Harry... eles estão parando — comento.— Você atirou nos pneus — murmura.— Não. Eles só pararam — explico, confusa.No silêncio que se seguiu, escutamos o barulho do vento, soprando fortemente. Mas esse silêncio foi mais curto do que eu esperava. Ouvimos um alto woosh, e então vejo uma chama brilhante vindo até nós. Eles nos lançaram um explosivo. E está vindo para o
Uma semana depois e estou começando a aprender como é a rotina dessas garotas. São sete horas da manhã de segunda-feira e estou na cozinha preparando o café para elas. Depois de terminar, eu ainda tenho quinze minutos para ver se Katherine se vestiu. Ela está naquela idade que quer escolher suas próprias roupas. Na maioria das vezes, eu a deixo escolher, porque gosto da ideia da liberdade de expressão. Mas ela tem três anos e quer usar seu tutu em todos os lugares. Houve momentos em que tive que convencê-la do contrário. Jenny geralmente se veste enquanto estou fazendo o café da manhã. Ela nunca consegue decidir, por isso temos um desfile de roupas em potencial entre colheradas de cereal. Aos sete anos, ela tem mais roupa do que eu poderia imaginar. O resto do dia é dividido entre aulas de balé, ginástica, aulas de natação, música e, no meio disso, o almoço. São crianças ocupadas. Elas têm um calendário social maior do que a maioria dos adultos. Jenny senta-s
Junho de 2018 Katherine está em pé no meio do corredor, completamente nua, com um picolé na mão. Tem sido uma longa batalha para levá-la para o banho, e eu estou prestes a acenar a bandeira branca. Por alguma razão, as duas meninas têm uma aversão extrema para água e sabão. — Katherine Mary Burton — ofego. — Estou pedindo a você com muito carinho. Tiro o cabelo do rosto, e coloco as mãos na cintura. Se há uma lição nisso, é que eu estou fora de forma. Perseguir uma criança de três anos de idade por dois lances de escadas e em torno de uma sala de brinquedos não foi fácil. Eu fiz uma nota mental para colocar um lembrete em meu celular para ir para uma corrida na próxima semana, se houver tempo. Vou começar a estudar inglês hoje à noite – faz parte do pacote de intercâmbio. — Agora, eu vou contar até três, e se você não entrar no banheiro, vamos descer e assistir aquele filme sobre a importância da higien
ObserveiHarry. Ele ficou em silêncio o tempo todo, com sobrancelhas franzidas e mordendoos lábios. Percebi que euestava assim também, e suandode nervosismo. Já não basta ser sequestrada por um psicopata maníaco, tenho que estarao lado de Harry! — O que vamos fazer agora? — pergunta a garota ruiva. Acho que nome dela é Irma. — Não sei, acho que devemos tentar descansar... ele disse que amanhã de manhã vamos ser treinados, então... — Kyle responde. Todos concordam com a cabeça e se levantam para ir, mas não consigo sair do meu lugar, parece que estou congelada. Ajeito uma mecha do meu cabelo atrás da orelha enquanto tento organizar as ideias e lembrar que fui raptada e que provavelmente serei morta, mas... não consigo. Não seja esquisita, não seja esquisita, repito para mim mesma ao mover meus pés e parar na frente dele. Há milhares de possíveis frases passando pela minha cabeça. Harry vai
Quando estamos terminando de comer, ouvimos um clique na porta de entrada, que abre automaticamente. Então as grades, que fechavam as janelas e portas, sobem, trazendo a luz do sol, e vejo que estamos em uma casa de campo, só há árvores e montanhas à nossa volta, um lindo gramado na frente e, da janela da cozinha, vejo um campo que parece ser de treinamento, com vários equipamentos, e um ginásio ao lado. Sinto um nó no estômago. Nunca fui boa nesse tipo de coisas.Alguns levantam para olhar à nossa volta e quandoNatancorre para a porta, um homem alto, bonito e musculoso aparece, vestindo calçapreta e uma camiseta preta, os braços cruzados ao olhar para nós seriamente. —Bom dia, sou oWill, e serei o instrutor de vocês. —Podemos saber por quê? Por que seremos treinados? —indagaAlex. —Sinto muito, mas estou como vocês. Fui capturado e obrigado a seguir asordens deles, caso contr
Julho de 2018 Tive pesadelos durante anoite. Eu me vi sozinha, afogando-me em águas paradas e profundas. Via as árvores me olharem, seus galhos se curvando para a superfície trêmula. Sentia a água tremer como se estivesse viva e depois perdia de vista as árvores e os galhos, tragada no líquido que me aspirava, cada vez mais fundo. Meus braços se estendiam dolorosamente para aquela luz, para aquele céu inacessível, apesar de meus esforços para soltar os pés e subir à tona para respirar. Acordo exausta e, encharcada de suor e trêmula por causa do sonho, caminho até o banheiro para tomar um banho e me trocar. Quando saio, a porta domeuquarto está aberta e alguém escreveu a palavra “puritana” em vermelho na porta. Onde conseguiram a tinta? A cama e o travesseiro estão manchados com a mesma tinta. Olho ao redor, com o coração batendo forte de raiva. Devon aparece na por
Eles cobrem meus olhos com uma faixa grossa, e amarram minhas mãos por trás. Com isso, o medo instintivo de não saber onde colocarei os pés, me trava. Me esforço para andar normalmente, mas tropeço a cada dois passos e sou levantada pelos guardas, avançando sem querer. Ouço alguns cliques e então o barulho de uma porta pesada se abre. Dentro do ambiente está gelado: ar condicionado. Ouço barulhos de pessoas trabalhando, como um escritório: papéis, teclado, bips. Escuto uma voz que parece estar no comando. Ele fala com alguém e tenho certeza de que não está contente. Tenho a impressão de ouvi-lo dizer "desse jeito você vai acabar com eles". Depois, há gritos e ordens sendo dadas. Muito depressa, os guardas me levam para a sala designada. Desamarram minhas mãos e a venda é retirada depois que a cortina da sala da enfermaria se fecha. Uma enfermeira está na minha frente, me olhando com pesar e compaixão. Quero falar, interrogá-la, mas nada me vem à mente. Ela me
Começo a subir e, quando já estou a alguns metros do chão, ele me segue. Move-se mais rápido do que eu, e logo suas mãos seguram o galho onde meus pés acabaram de pisar. A altura está me deixando tonta, minhas mãos doem de segurar os galhos e minhas pernas estão tremendo, mas não sei bem o motivo. Não é a altura que me assusta. De repente, percebo o que está me deixando tonta. É ele. Algo nele faz com que me sinta prestes a despencar. Ou derreter. Ou arder em chamas. Minha mão quase erra o galho seguinte. Uma rajada de vento bate contra o lado esquerdo do meu corpo, jogando o meu peso para a direita. Perco o fôlego, desequilibrando-me. A mão de Harry segura o lado do meu quadril, me ajuda a me equilibrar e me empurra suavemente para a esquerda. Agora eu é que não consigo respirar. Fico parada, olhando para as minhas mãos, com a boca seca. Sinto a presença de sua mão que já não encosta mais em mim, de seus dedos longos e estreitos. — Você e