Eles cobrem meus olhos com uma faixa grossa, e amarram minhas mãos por trás. Com isso, o medo instintivo de não saber onde colocarei os pés, me trava. Me esforço para andar normalmente, mas tropeço a cada dois passos e sou levantada pelos guardas, avançando sem querer.
Ouço alguns cliques e então o barulho de uma porta pesada se abre. Dentro do ambiente está gelado: ar condicionado. Ouço barulhos de pessoas trabalhando, como um escritório: papéis, teclado, bips. Escuto uma voz que parece estar no comando. Ele fala com alguém e tenho certeza de que não está contente. Tenho a impressão de ouvi-lo dizer "desse jeito você vai acabar com eles". Depois, há gritos e ordens sendo dadas.
Muito depressa, os guardas me levam para a sala designada. Desamarram minhas mãos e a venda é retirada depois que a cortina da sala da enfermaria se fecha.
Uma enfermeira está na minha frente, me olhando com pesar e compaixão. Quero falar, interrogá-la, mas nada me vem à mente. Ela me
Começo a subir e, quando já estou a alguns metros do chão, ele me segue. Move-se mais rápido do que eu, e logo suas mãos seguram o galho onde meus pés acabaram de pisar. A altura está me deixando tonta, minhas mãos doem de segurar os galhos e minhas pernas estão tremendo, mas não sei bem o motivo. Não é a altura que me assusta. De repente, percebo o que está me deixando tonta. É ele. Algo nele faz com que me sinta prestes a despencar. Ou derreter. Ou arder em chamas. Minha mão quase erra o galho seguinte. Uma rajada de vento bate contra o lado esquerdo do meu corpo, jogando o meu peso para a direita. Perco o fôlego, desequilibrando-me. A mão de Harry segura o lado do meu quadril, me ajuda a me equilibrar e me empurra suavemente para a esquerda. Agora eu é que não consigo respirar. Fico parada, olhando para as minhas mãos, com a boca seca. Sinto a presença de sua mão que já não encosta mais em mim, de seus dedos longos e estreitos. — Você e
Descobri o mundo da insônia desde que cheguei nesse local. Em uma dessas noites, escutei uma conversa cochichada dos guardas, como se estivessem muito próximos da minha janela. Ouvi um deles dizer que por um triz não tínhamos conseguido fugir. Que se fôssemos mais espertos, teríamos visto o portão logo atrás das árvores, que permaneceu aberto por alguns minutos, por conta de uma falha elétrica. Eu vi o portão. Quando subi naquela árvore, pude ver o que está ao nosso redor. É uma selva densa, não vi nada além de árvores e montanhas, mas avistei o enorme portão escondido entre elas. Então a conversa mudou de rumo... parei de ouvir depois disso. Deito-me olhando para o teto, no escuro do meu quarto. Por fim, acabo fechando os olhos e começo a cochilar. *** — Que bom ver você po
Uma semana de treinamentos depois, ainda estou com dificuldades e Harry voltou a me ignorar, fazendo de conta que eu não existo. Ainda não sei como me sinto sobre isso. Também tentei não pensar muito em Derek e no fato de que ele tem me observado. Não contei a ninguém o que houve naquele dia na enfermaria. Às quatro da tarde, duas vezes por semana, antes do pôr do sol, os guardas mascarados e armados entram na casa para repor os alimentos. Depois, eles se dirigem até o portão para trocar de turno. Eu seguia seus gestos com extremo interesse, tentando encontrar a falha do sistema que nos permitisse escapar. Porém, não podíamos falar sobre a fuga, eles iriam ouvir; então, aprendemos a nos comunicar com gestos e olhares. A fuga estava finalmente sendo planejada. *** Um
— Sobre a Companhia... É uma organização do governo? — Harry pergunta, desviando a atenção de Jason sobre mim. Ele parecia calmo, sentado no sofá, suas mãos descansavam em cima dos joelhos, mas seu corpo estava tenso. E, quando ele ajustou a sua posição, notei que a camiseta estava presa nas costas, dando acesso rápido e fácil à arma colocada ali. Nenhum de nós pode usar as armas quando não estamos em treinamento, ou sem a autorização de Will, e como ele tem uma? — Não, está além do governo. Mas eles são em grande parte financiados pelo governo, e existe um acordo mútuo entre eles. O governo deixa a Companhia fazer o que bem entender e, o que quer que desenvolvam, eles terão acesso a isso em primeira mão. — Jason responde. Isso me deixa enojada. Um peso cai sobre meu estômago. — Mas se o plano inicial deles era uma guerra invencível, e eles mudaram de ideia... o que eles querem, afinal? — Natan pergunta. — Eles querem vendê-los como uma
HARRY Não demorou muito - entre a subida íngreme e o calor - a falta de ar. Natan e eu temos treinado intensamente e, embora Grace tenha uma força física surpreendente, subimos rapidamente por cerca de uma milha antes de ela pedir um descanso. A folhagem densa esconde nossa visão, então decido escalar uma árvore com galhos baixos e firmes, para obter uma visão melhor. E desejei que não tivesse. O gramado que tinha antes de começar a floresta parece estar sangrando, cheio de manchas vermelhas. Corpos jazem no chão, mas a esta distância, com todos vestidos de preto, eu não posso dizer quem escapou ou quem morreu. Bem, o que eu pensei? Que por eles precisarem de nós, esperava que pudessem mostrar alguma... o quê? Retenção? Relutância, pelo menos.
GRACE Assim que Harry desaparece por entre as folhagens e, antes que eu possa pensar no que está acontecendo entre nós, ouvimos um tiro. Então outros tiros são disparados em torno do nosso perímetro. Agachamo-nos, com as mãos na cabeça, enquanto as balas atravessam as árvores. Há um súbito silêncio, até que um tiro solitário é disparado, e o tiroteio começa novamente. Então sinto sua presença ao meu lado. Harry voltou e os tiros pararam. Olho para os lados, e enxergo o corpo de um guarda, sua metralhadora ao lado, com uma poça de sangue embaixo de sua cabeça. Morto. Ficamos escondidos atrás da árvore, pacientemente esperando por sinais da presença de alguém. Engasgo quando ouço uma voz. — Você tem certeza de que el
Usando um mapa que Will precisou comprar no posto, seguimos pela rodovia NR64 rumo ao norte, para uma província chamada Preah Vihear. Will virou a direção para uma entrada em uma trilha, no meio da floresta. Enquanto isso, Harry e Natan verificavam as armas que ainda tínhamos. Cerca de dois quilômetros e meio para dentro da estrada, as árvores escasseam, dando lugar a uma clareira. Há uma casa de campo no meio. Mesmo na sombra das nuvens tempestuosas e no seu estado de abandono, ela ainda parece acolhedora. O exterior de telhas de madeira cortada está gasto. Algumas cadeiras de jardim enferrujadas repousam em uma varanda pequena, com um vaso de flores vazio esquecido entre elas. As janelas estão escuras e cobertas por uma fina camada de poeira e sujeira. O lugar parece vazio, mas apesar disso, dá a sensação de vazio, a solidão paira no ar como fumaça de tabaco antigo, esperando por alguém para ser soprada para longe. — E agora? — pergunto. A
— Você faz com que ele sinta algo. Eu não sei o que é, mas desde que ele te viu, ele fazia isso todos os dias lá naquela casa. Até que ele mal possa suportar ficar em pé. Forçando-se. Natan desvia o olhar da janela e me encara: — Grace, ele está sozinho porque escolheu estar. — Escolheu? Ele foi prisioneiro daqueles psicopatas por cinco anos, Natan! Não acredito em você. Harry faz de tudo para me afastar, mas ele fez pequenas coisas que me faz pensar que ele está me chamando... que ele precisa de mim. Natan franze o cenho. — Como o quê? Seguro a respiração e hesito. Decido manter o beijo em segredo. — Como a preocupação que ele mostrou quando sofri o acidente com a cerca elétrica... Natan balança a cabeça. — Harry é um homem complicado. — Eu sei — suspiro, frustrada. — Eu sinto... — Você tem sentimentos por ele? — Natan pergunta, olhando-me com preocupação. Olho para ele com o queixo caíd