HARRY
Não demorou muito - entre a subida íngreme e o calor - a falta de ar. Natan e eu temos treinado intensamente e, embora Grace tenha uma força física surpreendente, subimos rapidamente por cerca de uma milha antes de ela pedir um descanso.
A folhagem densa esconde nossa visão, então decido escalar uma árvore com galhos baixos e firmes, para obter uma visão melhor. E desejei que não tivesse.
O gramado que tinha antes de começar a floresta parece estar sangrando, cheio de manchas vermelhas. Corpos jazem no chão, mas a esta distância, com todos vestidos de preto, eu não posso dizer quem escapou ou quem morreu.
Bem, o que eu pensei? Que por eles precisarem de nós, esperava que pudessem mostrar alguma... o quê? Retenção? Relutância, pelo menos.
GRACE Assim que Harry desaparece por entre as folhagens e, antes que eu possa pensar no que está acontecendo entre nós, ouvimos um tiro. Então outros tiros são disparados em torno do nosso perímetro. Agachamo-nos, com as mãos na cabeça, enquanto as balas atravessam as árvores. Há um súbito silêncio, até que um tiro solitário é disparado, e o tiroteio começa novamente. Então sinto sua presença ao meu lado. Harry voltou e os tiros pararam. Olho para os lados, e enxergo o corpo de um guarda, sua metralhadora ao lado, com uma poça de sangue embaixo de sua cabeça. Morto. Ficamos escondidos atrás da árvore, pacientemente esperando por sinais da presença de alguém. Engasgo quando ouço uma voz. — Você tem certeza de que el
Usando um mapa que Will precisou comprar no posto, seguimos pela rodovia NR64 rumo ao norte, para uma província chamada Preah Vihear. Will virou a direção para uma entrada em uma trilha, no meio da floresta. Enquanto isso, Harry e Natan verificavam as armas que ainda tínhamos. Cerca de dois quilômetros e meio para dentro da estrada, as árvores escasseam, dando lugar a uma clareira. Há uma casa de campo no meio. Mesmo na sombra das nuvens tempestuosas e no seu estado de abandono, ela ainda parece acolhedora. O exterior de telhas de madeira cortada está gasto. Algumas cadeiras de jardim enferrujadas repousam em uma varanda pequena, com um vaso de flores vazio esquecido entre elas. As janelas estão escuras e cobertas por uma fina camada de poeira e sujeira. O lugar parece vazio, mas apesar disso, dá a sensação de vazio, a solidão paira no ar como fumaça de tabaco antigo, esperando por alguém para ser soprada para longe. — E agora? — pergunto. A
— Você faz com que ele sinta algo. Eu não sei o que é, mas desde que ele te viu, ele fazia isso todos os dias lá naquela casa. Até que ele mal possa suportar ficar em pé. Forçando-se. Natan desvia o olhar da janela e me encara: — Grace, ele está sozinho porque escolheu estar. — Escolheu? Ele foi prisioneiro daqueles psicopatas por cinco anos, Natan! Não acredito em você. Harry faz de tudo para me afastar, mas ele fez pequenas coisas que me faz pensar que ele está me chamando... que ele precisa de mim. Natan franze o cenho. — Como o quê? Seguro a respiração e hesito. Decido manter o beijo em segredo. — Como a preocupação que ele mostrou quando sofri o acidente com a cerca elétrica... Natan balança a cabeça. — Harry é um homem complicado. — Eu sei — suspiro, frustrada. — Eu sinto... — Você tem sentimentos por ele? — Natan pergunta, olhando-me com preocupação. Olho para ele com o queixo caíd
Harry se pressiona contra mim como se não pudesse ficar perto o suficiente, e eu me aproximo mais, porque eu não estou perto o suficiente. Porque passei vários anos de minha vida desejando estar mais perto. Ele afasta a boca da minha. Vejo medo em seus olhos. — Grace — sua voz está rouca, mas firme. O modo como olha para mim, com seus dedos ainda pressionados contra minhas bochechas, eu sei o que ele está pensando sem que ele precise dizer. Não deveríamos. E talvez ele esteja certo. Mas eu ainda quero muito mais dele. Deslizo para longe. — Grace — ele diz novamente, mas nada sai, e penso que talvez, dessa vez, é ele que não sabe o que dizer. — Vejo você de manhã — falo, mas meu tom sai mais áspero do que eu esperava. Não aguardo uma resposta quando saio. Um frio se instala em mim e rasteja pelos meus braços. Eu só quero me esconder no quarto, e ficar trancada lá dentro até o amanhecer. Deito-me na cama, analisando a lu
Harry levanta a arma, e aponta com a cabeça para Natan e Will. Eles formam uma espécie de círculo em torno da porta, armas apontadas e prontas para atirar. Meus joelhos estão frios, entorpecidos; mas meu corpo está em alerta. Harry gira a maçaneta. Meu coração parece que vai saltar do peito. A porta se abre e Jason entra. — Levante as mãos — Harry manda. Seu tom neutro e calmo. Jason obedece. — Está armado? — Harry pergunta. Fazendo que sim com a cabeça, ele puxa uma arma de um coldre de ombro, vestido por dentro da jaqueta. Coloca a arma no chão, e Natan avança, chutando-a para longe. — Eu estou do seu lado, Harry — Jason diz. Harry continua com a arma apontada para Jason e acena para Natan e Will. Eles saem pela porta de trás para verificar o perímetro. Olhando essa interação, percebo que estão familiarizados com situações como essa. Eles se comunicam com o olhar. Quando os rapazes voltam dizendo que o perímetro está seguro,
— Harry! Não! — sussurro, com um travesseiro nas mãos. — Você não vai me fazer cócegas! Jogo o travesseiro nele e ele ri. Uma sensação calorosa, como sol em pele nua, me preenche. Ele está rindo. Um sorriso se espalha no meu rosto enquanto eu o observo. Está sem camisa. Não consigo tirar meus olhos do seu corpo perfeito e do seu lindo rosto. E esse sorriso? Parece um sonho, mas é real. — Você não vai reclamar de ter que dormir na cama comigo, não é? — Harry pergunta, e eu reviro os olhos. Na verdade, não ia mesmo. — Não, não vou reclamar. A cama é grande o suficiente para nós dois — respondo com um sorriso tímido. Mas fico ali parada, na frente da porta ainda, olhando para meus pés.Com um meio sorriso no rosto, ele pega o travesseiro que arremessei no chão e o posiciona no meio da cama, como uma ideia de barreira. — Pronto. — Harry deita com as mãos atrás da cabeça. — Agora você pode dormir tranquila e em seg
Uma janela se estilhaça e sangue espirra diante de mim. Jason cai para frente, levando-me com ele. Bato contra a borda rígida dos degraus, perdendo o ar dos pulmões. — Jason? Eu o sacudo, mas não há resposta. Quando o empurro, seus olhos estão arregalados, sem piscar. Sem ver. Há um buraco aberto de bala em sua testa. Alguém me agarra por baixo dos braços e sou arrastada e levantada. O sangue encharcou minha roupa. Sangue e outras coisas. Quando percebo o que é, balanço a camiseta, tentando removê-las. Firmo meus lábios. Aguente firme! Não vomite! Angela gira em direção à escada enquanto a porta da frente explode em lascas. Outro barulho de tiro ecoa e Angela cai de joelhos. Harry me puxa para trás enquanto eu grito para onde ela: — Angela! Angela! — tento descer as escadas, mas Harry não me solta. — Levante-se, Angela! Levante-se! — grito com toda a força. Outro tiro a acerta no ombro, e ela desaba para trás, descendo os pouc
— Não — soluço. Eu confiei nele. Achava que era meu amigo. Minha visão fica nublada. — Will? Não quero acreditar. Parece que fui partida ao meio. Ele nos enganou. E fez um bom trabalho. Eu nunca tinha questionado sua lealdade. — Ouviu isso, princesa? — Roy se inclina para mim, seu sorriso perverso. — Seu namorado está morto. Ele se foi. Nunca vai voltar. Ele não vem te resgatar... acabou. Engulo o nódulo que se forma na minha garganta, e afasto meus olhos do homem nojento. Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, e ele continua a zombar de mim pela morte de Harry. — Ah, você está chor... — Pare, Roy! — Will grita. — Pare de ser um idiota! Deixe Grace em paz. Ela vai ter torturas suficientes de Derek. Roy ri debochadamente, mas se afasta. Will sai do galpão sem nem sequer olhar para trás. Em momento algum ele olhou para mim. Abaixo a cabeça e choro. Meus cabelos, sujos e desgrenhados, cobrem o meu rosto. Harry... ele se