O Que Vale a Pena, Mesmo no Fim dos Anos
O Que Vale a Pena, Mesmo no Fim dos Anos
Por: SSS
Capítulo 1
— Camila, a família havia arranjado um casamento para você anos atrás. Agora que sua saúde está melhorando, você está disposta a voltar para a Cidade J e casar? Se ainda não estiver disposta, posso conversar novamente com seu pai para cancelar esse compromisso.

No quarto sombrio, Camila Oliveira só podia ouvir o som do silêncio.

Quando a voz do outro lado da linha começava a perder a esperança de convencê-la, ela, de repente, falou:

— Eu aceito voltar e casar.

Sua mãe ficou sem palavras do outro lado, como se aquilo a surpreendesse.

— Você aceitou?

Camila, com a voz tranquila, respondeu:

— Aceitei, mas preciso de um tempo para resolver as coisas em Cidade H. Dentro de quinze dias, estarei de volta. Mãe, comecem a preparar o casamento.

Após dar mais algumas instruções, ela desligou a chamada.

No exato momento em que a ligação foi encerrada, a música barulhenta que vinha do andar de baixo invadiu seus ouvidos. Mesmo abafada, era possível distinguir o som de pessoas cantando "Parabéns a Você".

Era a festa de aniversário de Eduarda Lima, organizada por Luís Rodrigues e Bruno Costa.

De repente, uma leve batida na porta, seguida do som de passos apressados. Eduarda entrou no quarto com um pedaço de bolo nas mãos, sorrindo.

Seus olhos, grandes e inocentes como os de uma cerva, piscavam rapidamente, e o rosto delicado estava cuidadosamente maquiado, mas com algumas manchas de creme que destoavam do seu visual.

— Camila, vamos lá para baixo brincar um pouco?

Camila, já acostumada a perceber as máscaras que Eduarda usava, respondeu com frieza.

— Tenho trabalho a fazer, não vou. Espero que se divirta.

Instantaneamente, os olhos de Eduarda se encheram de lágrimas.

— Camila, você não gosta de mim, não é? É por isso que está me rejeitando assim?

Camila franziu a testa involuntariamente. Ela não tinha feito nada, mas parecia que Eduarda estava tentando passar a ideia de que ela havia sido a vilã da história.

Em seu íntimo, Camila deu uma risada fria, sem vontade de continuar assistindo àquela encenação.

— Esse teatro você pode deixar para o Luís e o Bruno. Não funciona comigo.

Assim que as palavras saíram de seus lábios, ela tentou fechar a porta.

— Camila, não...

De repente, Eduarda estendeu a mão e a colocou no batente da porta.

Com isso, no exato momento em que a porta se fechava, sua mão inteira ficou esmagada, causando-lhe dor.

A parte de trás da mão de Eduarda ficou instantaneamente marcada por uma mancha roxa.

Foi nesse momento que Luís e Bruno subiram as escadas e viram a cena.

Os dois homens correram até ela quase simultaneamente, puxando-a para seus braços, preocupados, enquanto examinavam sua mão com cuidado.

Ao ver a lesão, Bruno ficou tão aflito que as bordas de seus olhos ficaram vermelhas.

Ele, que sempre fora impulsivo, não hesitou em disparar um monte de palavras contra Camila.

— Você pode não gostar da Eduarda, mas por que fazer uma coisa tão baixa como essa? Camila, quando foi que você se tornou assim?

Luís, com seu temperamento mais contido, também olhava para Camila, e nos seus olhos profundos se podia ler claramente a decepção.

— Camila, hoje ainda é o aniversário da Eduarda. Você não deveria ter ido tão longe.

Porém, ao baixar os olhos para Eduarda, a expressão de Luís mudou completamente.

— Eduarda, ainda está doendo? Deixe-me levar você para passar pomada.

Vendo Luís segurando Eduarda e a conduzindo para descer, Bruno rapidamente a seguiu, tentando consolá-la.

— Eduarda, não fique triste. Eu te dou o carro novo que comprei. Quando a festa acabar, vou levar você para dar uma volta, e logo você vai se sentir melhor!

Com os dois homens sendo tão atenciosos, Eduarda finalmente conseguiu controlar as lágrimas, embora sua voz ainda estivesse embargada.

— Obrigada, Luís.

Após agradecer a Luís, ela olhou para Bruno, com os olhos cheios de lágrimas, e falou com um tom preocupado:

— Bruno, não vá correr de carro, é perigoso. Eu ficaria muito preocupada.

Vendo que Eduarda já não chorava mais, Bruno prontamente concordou com ela.

— Tá bom, tá bom! Se isso faz você feliz, eu faço o que você pedir!

Enquanto os observava descendo as escadas, Camila ficou parada na porta, sentindo-se estranhamente perdida por um momento.

Camila ainda se lembrava claramente de um tempo distante, quando a pessoa que se encontrava entre Luís e Bruno era ela mesma.

Desde pequena, sempre foi frágil, propensa a doenças e com problemas respiratórios, e, justamente por isso, Cidade J, com seu clima úmido e chuvoso, não era o lugar ideal para sua recuperação.

Assim, quando tinha apenas cinco anos, seus pais a enviaram para Cidade H, onde o clima era mais ameno, e ela foi morar na casa de sua tia, que era médica, para cuidar de sua saúde.

Foi nesse período que Camila conheceu Luís e Bruno, que moravam na casa ao lado da de sua tia.

Os três cresceram juntos, compartilhando uma amizade profunda.

Na primeira vez que se viram, Luís e Bruno se encantaram perdidamente por ela. Todos os dias estavam ao seu lado, como dois cavaleiros dispostos a protegê-la.

Na infância, eram eles que a levavam para a escola, compravam seu café da manhã, levavam-lhe leite, e, com ciúmes, rasgavam todas as cartas de amor que ela recebia, proibindo qualquer outro garoto de se aproximar.

Com o tempo, as coisas mudaram: um se tornou um CEO, o outro um renomado piloto de corridas, ambos com agendas apertadas, mas ainda assim compraram as casas ao lado de Camila e, ao unirem os três imóveis, passaram a viver ali com ela. Todos os dias, revezavam-se para cozinhar para ela.

Quando sua saúde estava quase completamente restabelecida e seus pais começaram a pressioná-la a voltar para Cidade J, Luís e Bruno, com os olhos marejados, imploraram para que ela não partisse. Prometeram que, se ela fosse embora, deixariam tudo para trás e iriam com ela.

Eles sempre diziam: "Onde Camila estiver, lá estaremos também."

Foi graças a eles que, mesmo com a melhora de sua saúde, Camila demorou tanto para voltar a Cidade J.

Mas tudo mudou desde que Eduarda apareceu.

Eduarda era estagiária que Camila orientava.

No primeiro dia dela na empresa, Eduarda se esquivava de descer para almoçar com os outros, sempre com uma atitude tímida. E todos os dias era a mesma coisa, até que, ao ver Eduarda sozinha num canto, comendo uma refeição barata e nada saudável, Camila a abordou. Foi então que descobriu que Eduarda vinha de uma família de condições financeiras muito humildes e que ela mesma tinha um estilo de vida bem econômico.

Camila, sendo da família Oliveira e crescendo em um ambiente confortável, ficou tocada ao ouvir isso e, com seu coração bondoso, começou a cuidar dela de várias maneiras.

As vezes, quando ela jantava com Luís e Bruno, também a levava junto.

Foi assim que Eduarda conheceu os dois.

Luís, que sempre teve uma personalidade reservada e nunca se interessou por festas barulhentas, fez uma exceção por Eduarda agora.

Já Bruno, que tratava o automobilismo como sua vida e nunca se deixou convencer a mudar seus planos, agora conseguia ser persuadido por Eduarda com apenas uma palavra leve.

Esses acontecimentos se repetiam há semanas.

Antes, Luís e Bruno não disfarçavam o quanto gostavam de Camila. Já haviam brigado várias vezes, exigindo que ela escolhesse entre os dois.

Camila até pensou em ceder, sentindo algo por ambos e querendo escolher um para ficar, mas agora, ao aceitar o casamento arranjado por sua família, parecia que a situação não estava tão ruim assim.

Camila esboçou um sorriso amargo e configurou um contador regressivo no seu celular.

Daqui em diante, ela não iria mais atrapalhar a vida deles três.
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