Capítulo 6
Camila demorou a se recompor. Encostada na parede, ela apertava o frasco de remédio e cobria o rosto com a outra mão, tentando se proteger do pólen que ainda flutuava no ar.

Antes que pudesse descansar um pouco, ouviu a voz de Luís, carregada de acusação, em seu ouvido:

— É assim que você trata a Eduarda? Ela acabou de nos dar essas flores, e você vai e as quebra!

Logo, a voz de Bruno também se fez ouvir, impregnada de raiva:

— Camila, percebo que você está se tornando cada vez mais insuportável. O que aconteceu com você? Como você chegou a esse ponto?

Ao ouvir aquilo, Camila puxou uma respiração profunda.

Seu corpo tremia, uma mistura de frustração e fúria a invadia. Havia tantas palavras presas em sua garganta, tantas acusações, mas no fim, o que saiu foi apenas um soluço, e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu mudei? Foi eu que mudei ou foi vocês que mudaram? Eu tenho asma, sou alérgica ao pólen, vocês não sabem disso?

Sua voz estava fraca, sem qualquer poder de autoridade.

Mas cada palavra soou como um trovão, ecoando nas mentes de Luís e Bruno.

Antes, eles eram os mais preocupados com Camila.

Toda vez que ela tinha uma crise de asma, eram os primeiros a correr para o seu lado, mesmo que isso significasse cortar aulas ou fugir de qualquer responsabilidade, ficavam ao seu lado, com os olhos marejados, cuidando dela com todo o carinho. Nenhuma força poderia afastá-los.

Mas agora, parecia que eles haviam esquecido até mesmo os aspectos mais cruciais sobre ela.

Luís, talvez tocado pela consciência de seu erro, sentiu um desconforto em seu peito. Seu rosto ficou constrangido, e, após um breve silêncio, ele finalmente murmurou, com um olhar arrependido:

— Desculpa.

Bruno, com a testa franzida, ainda parecendo perturbado, olhou para Camila, lembrando-se de todas as vezes em que a viu lutar contra suas dificuldades respiratórias. Eles haviam compartilhado tanto desses momentos difíceis juntos, e ele sabia o quanto aquilo era doloroso para ela. Sem conseguir se controlar, ele deu um passo à frente, preocupado.

— Você está bem agora? Desculpa, essas flores foram a Eduarda quem foi buscar na floresta. Ela fez isso com tanto carinho, por isso eu estava tão furiosa.

Camila ficou em silêncio, sem responder.

Vendo que ela parecia começar a se recuperar, com o rosto menos tenso e mais calmo, Luís e Bruno decidiram sair da sala, levando as flores consigo.

Nos dias seguintes, Luís e Bruno não voltaram para casa.

As luzes de seus quartos permaneceram apagadas, como se houvesse uma distância crescente entre todos na casa.

Camila não se importava mais com eles. Estava ocupada arrumando suas coisas.

Quando já quase terminara de empacotar tudo, começou a observar a casa ao seu redor.

Foi ela quem comprou o imóvel inicialmente. Mais tarde, Luís e Bruno, querendo acompanhá-la, adquiriram as casas ao lado, e juntas, as três construíram o lar que tinham agora.

No entanto, de tudo aquilo, apenas um terço da casa lhe pertencia.

E se ela quisesse vendê-la, não seria tão simples assim.

Naquele dia, Luís e Bruno finalmente voltaram para casa, mas coincidentemente, um homem apareceu para discutir sobre a venda da propriedade.

Quando viu um estranho entrando, Luís imediatamente congelou a expressão.

— Quem é você? O que está fazendo aqui?

O homem, diante dos olhares pesados dos dois, ficou nervoso, mas logo tentou se explicar:

— Olá, eu sou o interessado na compra. O proprietário da casa disse que queria vender a casa.

Vender a casa?

Luís e Bruno se olharam, e o choque era evidente nos olhos de ambos.

Os dois imediatamente assumiram uma postura mais rígida, prestes a expulsar o homem, quando Camila desceu as escadas no exato momento.

— Sou eu quem quer vender a casa. Eu estava justamente indo falar sobre isso com vocês.

Ao ouvir isso, Luís e Bruno ficaram surpresos, e, ao mesmo tempo, questionaram, simultaneamente:

— Por que você quer vender a casa? Não está tudo bem aqui?

Bruno, lembrando do ocorrido nos dias anteriores, pareceu entender a razão. Ele se aproximou de Camila e, de maneira direta, perguntou:

— Você ainda está brava por causa do que aconteceu? — Ele parecia alarmado e, pela primeira vez, se desculpava sinceramente. — Não foi nossa intenção esquecer da sua alergia ao pólen. Você realmente precisa fazer isso?

Camila balançou a cabeça com calma.

— Não tem nada a ver com o que aconteceu antes...

"Tem a ver com vocês, mas não vou dizer isso agora. Não queria ter nada a ver com vocês no futuro."

Embora esse pensamento ainda estivesse em sua mente, ela não o expressou em voz alta e, ao invés disso, explicou:

— Como vocês sabem, eu pedi demissão, e logo terei que mudar de trabalho. Não seria adequado continuar morando aqui. Além disso, nós já vivemos juntos por tanto tempo, não precisamos ficar juntos o tempo inteiro.

Luís, com o semblante fechado, manteve sua postura rígida e não estava disposto a ceder.

— Se for por causa do trabalho, posso continuar a levando, assim como Bruno. Não precisa se preocupar. Além disso, você mesma disse que já estamos acostumados com essa convivência. Por que precisamos nos separar?

— É, com o Luís e comigo, pelo menos podemos arranjar um motorista para a levar. Não vejo razão para nos separarmos. — Bruno também se manifestou, claramente em desacordo com a ideia de venda.

Camila sentiu uma pontada de frustração ao perceber que, apesar de todos os seus argumentos, não conseguia convencer os dois. Ela pressionou a testa com os dedos, tentando entender a razão de tanta resistência.

Com um suspiro de resignação, ela disse, finalmente:

— Então, vamos fazer o seguinte: vendemos esta casa e compramos uma maior. Assim, podemos até trazer a Eduarda para morar com a gente.

O nome de Eduarda, pronunciado por Camila, fez os dois se surpreenderem. Seus olhos brilharam, e a hesitação foi visível em suas expressões.

Bruno, já não resistindo mais à sugestão, foi o primeiro a ceder.

— Se for assim, talvez não seja uma má ideia.

Porém, Luís, com um olhar mais profundo e pensativo, observava Camila, a expressão dele carregada de algo mais.

— Você realmente quer trazer a Eduarda para morar com a gente?

Algo em seu coração dizia que havia algo mais nessa história do que ela estava deixando transparecer.

Antes que pudesse refletir mais sobre aquilo, Camila soltou uma leve risada.

— Claro, por que não? Somos amigas, afinal. — Ela tomou uma decisão firme. — Então é isso. Vamos vender essa casa e procurar outra maior.

Diante disso, Luís e Bruno permaneceram em silêncio, sem mais objeções.
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App