Camila demorou a se recompor. Encostada na parede, ela apertava o frasco de remédio e cobria o rosto com a outra mão, tentando se proteger do pólen que ainda flutuava no ar. Antes que pudesse descansar um pouco, ouviu a voz de Luís, carregada de acusação, em seu ouvido: — É assim que você trata a Eduarda? Ela acabou de nos dar essas flores, e você vai e as quebra! Logo, a voz de Bruno também se fez ouvir, impregnada de raiva: — Camila, percebo que você está se tornando cada vez mais insuportável. O que aconteceu com você? Como você chegou a esse ponto? Ao ouvir aquilo, Camila puxou uma respiração profunda. Seu corpo tremia, uma mistura de frustração e fúria a invadia. Havia tantas palavras presas em sua garganta, tantas acusações, mas no fim, o que saiu foi apenas um soluço, e seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu mudei? Foi eu que mudei ou foi vocês que mudaram? Eu tenho asma, sou alérgica ao pólen, vocês não sabem disso? Sua voz estava fraca, sem qualquer poder de a
A questão da casa finalmente foi resolvida, e Camila não pôde deixar de sentir um grande alívio. A pressão sobre seus ombros desapareceu quase que instantaneamente. Quando assinou o contrato, Camila percebeu que o dia em que formalizaria a compra da casa coincidia exatamente com o dia de sua partida. Foi uma sorte, pois assim ela não precisaria explicar nada para Luís e Bruno. No momento em que assinou seu nome, um peso enorme se dissipou. Logo, tudo estaria acabado. Agora, só restava a última coisa a ser feita. Camila foi ao shopping, fez uma escolha cuidadosa e comprou um massageador e um par de pulseiras de esmeralda. Com as compras em mãos, foi até a casa de sua tia. Mal entrou na casa, sua tia correu para abraçá-la com força. — Camila, eu realmente não consigo me acostumar com a ideia de você ir embora. Você viveu tanto tempo em Cidade H, sempre a vi como minha filha. Agora, você vai embora, e eu não sei como vou lidar com isso. Sua tia enxugou as lágrimas e segurou as mã
Camila se virou, e os dois, ao verem que ela não estava brava, finalmente puderam relaxar. Luís deu alguns passos à frente e pegou a mão dela. — Não precisa arrumar suas malas, vai ser muito cansativo. Eu vou pedir para o motorista da minha família vir buscar, e juntos vamos para o nosso novo lar. Bruno também assentiu, concordando. Naquele momento, Camila sentiu como se estivesse reencontrando, nos olhos daqueles dois, a mesma imagem de quando eram jovens e só ela parecia importar para eles. Lembrava-se de quando eram mais novos: ela adorava fazer travessuras, e eles, com sorrisos fáceis, adoravam acompanhá-la. Mas, agora, aquelas promessas de juventude já não existiam mais. Camila olhou para Eduarda e balançou a cabeça. — Não, está tudo bem. Muitas coisas eu prefiro arrumar sozinha. Dito isso, sem se preocupar com a expressão deles, se virou e saiu, sem mais palavras. De volta à sua casa, Camila arrumou suas malas por um tempo, tomou um banho e se preparou para de
Assim que as palavras saíram de seus lábios, Luís e Bruno se sentaram à mesa ao lado de Camila, com Eduarda entre eles. Os dois homens competiam para fazer a melhor escolha no cardápio, seus olhos cheios de afeto e carinho por Eduarda.Helena, ao ver essa cena, ficou tão irritada que quase destruiu o pedaço de carne que estava cortando. Mas Camila permanecia calma, como se nada estivesse acontecendo, e Helena, engolindo sua raiva, se calou, sem dizer uma palavra.Logo, os dois terminaram o jantar e partiram juntos.Camila se despediu de Helena mais uma vez antes de voltar para casa.Naquela noite, Luís e Bruno ainda não tinham retornado. Camila não se importava, estava ocupada arrumando as últimas malas.Pela manhã, ao ouvir os passos do lado de fora, soube que Luís e Bruno haviam voltado. Já era hora, afinal, hoje era o dia de se mudarem para a nova casa.No entanto, o que eles não sabiam era que a nova casa, o futuro deles, não incluía mais ela.O barulho lá fora foi aumentando, p
Camila subiu para o avião sem olhar para trás, totalmente indiferente ao que Luís e Bruno poderiam estar pensando ou sentindo.Quando o avião decolou, ela sentiu uma leveza que jamais havia experimentado.Entretanto, na Villa da Baía, em Cidade H, a atmosfera estava densa, quase opressiva.Já se passaram três horas desde que Luís e Bruno chegaram à Villa da Baía com Eduarda, mas até aquele momento, nada de Camila aparecer.Na mansão, apenas as malas de Luís, Bruno e Eduarda estavam presentes. Mas as de Camila? Nenhuma.Luís estava extremamente inquieto, como se algo imprevisível estivesse prestes a acontecer.Bruno, sentado no sofá, também estava com um semblante mais sombrio do que o habitual.Eduarda, embora soubesse exatamente o que estava acontecendo, não tinha intenção alguma de falar a respeito.Vendo que os dois permaneciam em silêncio, ela se sentou e quebrou o silêncio.— Camila provavelmente ainda não terminou de arrumar as coisas. Que tal deixarmos que o pessoal organize tud
Bruno foi lentamente relembrando tudo.Todas as estranhezas de Camila, que ele havia ignorado ou não compreendido até então, agora invadiam sua mente de uma vez só, como uma onda avassaladora.Luís também permaneceu em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos.Talvez, há mais de um mês, Camila já estivesse planejando partir.Seria possível que Eduarda tivesse tanta influência sobre ela?Mal teve esse pensamento, a chamada de Eduarda chegou.— Bruno, Luís, já estou no restaurante, esperando por vocês. Aquele jantar de celebração, lembra? Onde estão?Bruno segurou o celular, mas demorou para responder. Após um longo silêncio, sua voz soou rouca e cansada.— Eduarda, o jantar... Vamos deixar para depois. Camila não estava ali, então o que teria valor naquela celebração?Luís continuava em silêncio, seu olhar perdido no celular quebrado no chão. Ninguém sabia o que passava em sua mente.De repente, um homem familiar apareceu, acompanhado de outro homem vestindo um casaco cinza. Er
As ligações ansiosas de Eduarda, não se sabia quantos já havia feito, mas Bruno continuava sem atender. A Villa da Baía permanecia igualmente silenciosa. Parecia que nada mudava, não importava onde estivessem. Até que, já madrugada adentro, com a temperatura caindo cada vez mais, os dois finalmente não aguentaram mais e tiveram que voltar para a Villa da Baía. Quando a porta se abriu, o que apareceu à vista foi Eduarda, adormecida no sofá, dando sinais de sono. A mansão estava iluminada com uma luz amarela suave, que dava um ar de aconchego, mas, ao mesmo tempo, certa penumbra. No entanto, Luís e Bruno estavam tão fora de si que nem sequer prestaram atenção a esse ambiente acolhedor. — Você ainda não foi dormir? A voz de Bruno, cansada e com um toque de irritação, refletia seu estado de espírito. Ele simplesmente não tinha mais paciência para cuidar de outro doente. Luís, sem dizer mais nada, foi direto para seu quarto, deixando para trás uma frase fria. — Quando
Quando Bruno se aproximou, Luís rapidamente apagou o cigarro. — Chegou? Eu comprei a última passagem para Cidade J. Vamos encontrá-la. Quanto mais pessoas, mais esperança. Bruno não teve tempo de pensar em mais nada e acenou com a cabeça, concordando rapidamente. Os dois entraram no carro, e Bruno, sem se importar com a velocidade, dirigiu como se estivesse em uma corrida. Acelerando sem parar, Luís e Bruno chegaram ao aeroporto. Não levaram bagagem alguma; em seus corações, só havia um pensamento: ir para Cidade J encontrar Camila! Eles temiam que, se demorassem mais um pouco, algo que não poderiam suportar acontecesse. O avião estava prestes a decolar quando o céu ainda estava apenas começando a clarear. Ambos estavam com os nervos à flor da pele, sem conseguir se acalmar. Enquanto isso, em Cidade J, Camila também não havia conseguido dormir a noite inteira. Acordou cedo, maquiando-se e trocando de roupa. Hoje era o dia em que ela e Diogo Ribeiro iriam formalizar