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🎭 2 - Hector Bianchi. 🎭

Dias atuais.

Milão [ ITÁLIA]

28 de novembro. 09h37 A.M

Viena.

~¤~

Ao descer as escadas, posso ouvir ao longe as vozes vindas da cozinha. E a julgar pelo tom irritado da voz feminina, posso afirmar que Eleanor não estava em seu melhor humor esta manhã. Não é algo com o qual eu precise me preocupar; certamente um de seus homens fez algo que a deixou um tanto irritada.

O som dos meus saltos contra o piso de porcelanato ecoava ao longe. Ao me aproximar da sala de jantar, percebo que o tom de voz de Eleanor estava elevado. Ela estava realmente estressada esta manhã e sinceramente, mal posso esperar para descobrir o que aconteceu.

Ignoro a sala de jantar, seguindo diretamente para a cozinha onde encontro Cecília, a cozinheira da casa que preparava o café da manhã.

— Bom dia, menina. — Ela diz ao notar minha presença, esboçando um grande sorriso enquanto prepara algo no fogão, cujo cheiro estava divino.

— Bom dia, Cecília. Pelo visto, Eleanor não está no melhor dos humores esta manhã. — digo, pegando uma maçã. — Saberia dizer o que está havendo? — pergunto curiosa, e ela esboça um sorriso gentil.

— Sinto muito, Viena. Não faço a menor ideia do motivo pelo qual sua avó está tão estressada. — ela diz calmamente, me observando sempre com o mesmo olhar doce estampado em sua face.

— Estou indo descobrir, deseje-me sorte. — digo sorrindo e saindo da cozinha, seguindo novamente em direção à sala de jantar.

Antes de atravessar as grandes portas de madeira, observo quando um de seus homens sai do cômodo, com a postura rígida como sempre e o semblante frio. Contudo, pude notar a fúria estampada em seu olhar.

— Buongiorno, nonna. — digo ao adentrar no cômodo. Deposito um beijo no topo de sua testa e me sento na cadeira à sua direita.

— Espero realmente que seu segurança esteja cumprindo com o dever dele em lhe proteger, Viena. Gaspar foi contratado para fazer sua segurança e não para ser seu brinquedo sexual. — suas palavras soam frias e sem emoção como sempre.

Esboço um breve riso, antes de respondê-la. — Ele tem feito bem o seu papel, nonna, não precisa se preocupar. — digo sem muita emoção.

— Vi as marcas de disparos em seu carro esta manha Viena. — ela diz, seus olhos frios me fitando por um breve momento, antes que ela possa continuar. — Pretende contar-me a verdade ou prefere jogar comigo e ver até onde consegue sustentar toda a farsa? — ela diz friamente, tomando um gole do seu café. Ainda focando seus olhos em mim.

Reparo brevemente em sua mão direita. Eleanor é uma mulher de cerca de sessenta anos, cabelos grisalhos em um perfeito corte Chanel na altura dos ombros, olhos esverdeados e pele clara. Desde que me lembro, ela sempre gostou de usar diversos tipos de joias, muitas delas sendo peças exclusivas e feitas à mão por joalheiros renomados ao redor do mundo.

Contudo, havia uma em específico, uma aliança feita de ouro branco, que lhe foi entregue pelo meu avô no dia de seu casamento. Nunca a havia visto sem aquela peça bem, nunca até aquele momento.

— Não estive em meu carro ontem. Para falar a verdade, eu o havia enviado para a oficina, pois estava com um barulho estranho no motor e Pierre havia ficado de buscá-lo no início da noite. — digo calmamente, mantendo meu semblante fechado e esperando por uma resposta dela.

— Pierre está no hospital após ser atingido por quatro dos vinte disparos que foram efetuados contra seu carro, Viena. Avisei para não jogar com a sorte, disse-lhe para sua própria segurança para comprar um modelo preparado para esse tipo de situação. — Ela diz um pouco irritada.

Entendo sua irritação, a fortuna de minha avó nos trouxe um estilo de vida luxuoso regado a tudo aquilo que o dinheiro pode comprar. O problema é que a mesma fortuna que nos trouxe o luxo e o conforto, também nos trouxe inimigos mortais, que estariam dispostos a tudo para ter a cabeça de Eleanor Santoro exibida em uma bandeja.

— Pierre sobreviverá, caso ele venha a óbito mandaremos uma coroa de flores à família e nossas condolências. — digo normalmente, servindo-me de um pouco mais de café. — Quanto ao carro, não passa de um pedaço inútil de lata. Comprarei um melhor ainda hoje, se isso há incomoda tanto.

— Viena. — Ela diz em tom de reprovação.

— Sim, nonna.

— Descubra quem foi o mandante, e faça-o entender o motivo pelo qual nosso sobrenome é tão temido. — ela diz com firmeza, fazendo surgir um grande sorriso em meus lábios. — Não preciso repetir certo? Sem vestígios.

— Sem testemunhas. — digo calmamente. — Pode deixar, nonna.

O restante do café da manhã seguiu tranquilamente; mal pisquei os olhos e logo me vejo sentada em minha mesa, de frente para meu assistente, que me passa os compromissos e agenda do dia, quando as portas de minha sala se abrem abruptamente, revelando um dos homens que estavam sob meu comando. Vincent trazia ódio em seus olhos, algo incomum em seu comportamento.

Sendo ele um dos meus homens mais quietos, posso dizer que tal comportamento vindo dele me surpreendeu de certa forma.

— SAIA. — Ele disse em alto e bom som para Evan, meu assistente, que calmamente permaneceu parado em seu lugar listando tudo o que teria de ser feito esta manhã.

— Pode ir, Evan. — Digo, e o mesmo se retira, deixando-me a sós com Vincent, que caminha de um lado a outro no meio da sala. — Eu realmente espero que você não esteja pretendendo fazer um buraco neste piso, Vincent. — digo com firmeza e o vejo parar abruptamente em frente à minha mesa. Observo claramente a ira em seus olhos mudar para um misto de emoções, o desespero sendo o mais visível em sua face. — Conte-me.

— O carro onde minha esposa estava foi atacado esta manhã enquanto ela deixava nossa filha na escola. — ele diz, percebo em suas palavras o quanto ele está tentando ser forte ao me contar tal ação.

— Como está sua esposa?

— Marie foi baleada, mas está bem. Foi ela quem me ligou, estava no hospital.

— E quanto a sua filha?

— Ela já havia entrado na escola. — Ele diz apreensivo.

— E o que faz aqui, que ainda não foi até o hospital para ficar com sua esposa? — pergunto erguendo minhas sobrancelhas e esperando por uma resposta sua.

— Viena, eu...

— La famiglia prima di tutto. — digo firmemente, voltando minha atenção para alguns documentos à minha frente. — Agora vá e mande notícias, certo? Mais uma coisa, quando sair procure Gaspar e diga que estou pedindo-lhe para que prepare o carro. Tenho alguns assuntos a resolver esta manhã.

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Saio do elevador, avançando pelo imenso corredor espelhado em direção à sala de Hector. Passo diretamente, sem ser anunciada, pois sua secretária tem o hábito de abaixar a cabeça ao me ver. Reviro os olhos, empurrando a grande porta de madeira e entrando em seu escritório.

Um lugar tão sombrio quanto seu dono. Hector Bianchi é um homem de muitas posses, vindo de uma das famílias mais antigas da Itália, dono de um grande império com empresas espalhadas pelo mundo inteiro. Empresas que variam desde petrolíferas até empresas fantasmas, usadas para lavar dinheiro sujo.

O escritório de Hector não é tão diferente do meu: paredes escuras, móveis caros e planejados. Uma parede de vidro do chão ao teto, um pequeno bar em um canto específico e uma pequena varanda, para onde ele costuma ir quando deseja fumar ou algo relacionado a isso.

Sento-me em sua cadeira, esperando que ele volte logo. Não estou com muita paciência esta manhã e sinceramente, torço para que ele não me tire do sério.

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Narradora.

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Os passos firmes e decididos daquele homem misterioso ecoaram por todo o corredor. Trajando um terno caríssimo e exibindo em seu pulso esquerdo o relógio de ouro maciço, uma relíquia de família. Ele caminhou com determinação em direção à sua sala, após uma longa reunião com alguns investidores árabes que fora um grande desastre, e pode-se dizer que sua paciência estava próxima de se esgotar.

Ele ignorou as palavras de sua secretária sobre a mulher que o esperava dentro de seu escritório. Adentrando sua sala, deu de cara com a morena de longos cabelos cacheados, olhos esverdeados e um corpo escultural, que estava sentada em sua cadeira com um de seus charutos entre os dedos.

Hector abriu um sorriso presunçoso ao fechar a porta de sua sala, trancando-a apenas por precaução. Teriam uma longa conversa e ele gostaria de evitar que qualquer pessoa pudesse vir a interrompê-los.

— Não me avisou que vinha, querida. — Ele diz, seguindo em direção ao pequeno bar e servindo-se de um pouco de whisky. — A que devo a honra de sua visita? — Ele diz enquanto se serve.

Um breve sorriso surge no rosto de Viena, enquanto ela dá um breve trago no charuto em suas mãos. Observando o homem à sua frente, com sua silhueta perfeitamente desenhada por seu terno feito sob medida.

— Sabe, Hector, sei que suas formas de demonstrar seu amor e obsessão por mim são bem excêntricas. Mas devo dizer que pedir a seus homens para alvejarem meu carro na noite passada, e importunar a família de um deles nesta manhã é algo que eu não esperava, até mesmo de você. — Ela diz friamente.

Levantando-se com toda a classe que possui, Viena caminha em direção até onde Hector está, pegando de sua mão o copo de whisky ao qual ele havia se servido. Tomando um pouco da bebida e deixando a marca de seus lábios vermelhos sobre a borda do copo.

— Você sabe, amor, não deveria ter recusado meu convite na noite passada. — Ele diz friamente, seus olhos de um azul intenso fixos nos olhos verdes dela. — Você é minha, Viena! — Afirmou ele. — Quantas vezes terei de repetir as mesmas palavras para que entre em sua mente que nenhum homem tem o direito de tocá-la além de mim?

Ela ri de suas palavras, como se ele tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.

— Não tenho seu nome tatuado em minha pele, meu amor. Não sou e nunca serei seu objeto pessoal, achei que já soubesse disso. — Ela diz com firmeza, mantendo seus olhos fixos nos dele.

Ele sorri para ela, o mesmo sorriso presunçoso e desafiador de sempre. Puxando-a pela cintura, colando seu corpo ao dela.

— Não duvide de minhas palavras, Viena, acredite ou não. Eu sempre consigo o que quero. — Sua voz grave ecoa pelos ouvidos dela, enquanto os lábios dele deslizam por sua nuca.

Desafiar Hector Bianchi era como tirar a morte para dançar, uma dança perigosa de fato. Contudo, seu temperamento frio e postura rígida jamais assustaram a Viena, e se ela poderia dizer que tinha certeza de algo, era que Hector estava jogando com a mesma. Infelizmente para o azar dele, Ela estava pronta para mostrá-lo que duas pessoas podem jogar esse jogo.

Ela se desvencilhou de seus braços fortes, rindo de suas palavras e retornando para a cadeira dele, que estava logo atrás da mesa. Hector a observou por um momento, com as sobrancelhas arqueadas em total descrença, enquanto tentava descobrir quais seriam suas intenções.

— Espero que esteja ciente, querido, que suas ações da noite passada não ficarão impunes. Espero que esteja bem protegido, Hector. Seria uma pena receber a notícia de que você foi atingido por uma bala perdida ou algo assim. Sabe como é, eu me preocupo com o bem-estar do meu esposo. — ela disse com ternura na última parte.

Quem não os conhecesse diria que ela realmente estava preocupada com o bem-estar de Hector.

— Estou ansioso para presenciar seus próximos passos, querida — ele disse sorrindo, enquanto se aproximava da mesa, pegando um charuto e acendendo-o. — Apenas esteja preparada para quando eu finalmente revidar — disse ele antes de dar o primeiro trago.

— Enfim, o recado está dado, querido. Vejo você no fim de semana — ela disse calmamente ao se levantar, depositando um beijo em seus lábios antes de caminhar com elegância até a porta da sala.

Enquanto Viena saía da sala, Hector se perguntava internamente onde esse jogo todo iria parar. Ele sabia que suas ações teriam consequências; a questão era até onde Viena seria capaz de ir nesse jogo louco que ambos começaram ao entrarem nesse noivado.

À medida que Hector refletia sobre o iminente desdobramento desse jogo de poder entre ele e Viena, ele sentia um misto de fascínio e apreensão. Sabia que estava envolvido em algo muito maior do que o maldito contrato de casamento que ambos haviam assinado. Era uma batalha de interesses, de estratégias cuidadosamente elaboradas e de uma atração mutua e perigosa para ambos.

Enquanto acendia outro charuto, Hector pensava nas possíveis consequências de suas próximas ações. Ele estava determinado a não ceder facilmente às manipulações de Viena, mas também entendia que precisava jogar com inteligência para não ser derrotado.

Ainda sim, ele sentia-se digno de ter uma oponente a altura.

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