Depois que Mirella a deixou, Eliza começou a refletir sobre o que aconteceu e ela descobriu que, infelizmente, Giulio Vallone não era apenas o grande responsável por sua futura demissão, mas também por derrubar as paredes sólidas que ela havia construído em torno de si mesma durante anos – algo que ela lutou muito para conseguir preservar. Desde o fatídico dia em que o encontrou na galeria, algo dentro dela a avisou aos gritos para se afastar dele. Sua intuição lhe dizia que Giulio era perigoso, astuto e cruel e que ela era apenas a parte vulnerável da história e, como toda parte fraca ela iria perder, e isso estava começando a se concretizar. Envolta em tantos pensamentos perturbadores, Eliza se esqueceu completamente do café que estava no fogo, de maneira que quando ela acordou de seu transe, era tarde demais: o líquido já havia transbordado e sujado todo o fogão. — Não acredito que fiz isso. Como posso fingir que estou calma destruindo a cozinha dessa maneira? Concentre-se, Eliza
Depois de ser ignorada por horas, Eliza entrou no escritório de Giulietta com as emoções à flor da pele. Por mais que ela tentasse permanecer firme, a verdade era que ela não estava preparada para aquele momento. Mesmo assim, depois de uma longa jornada para chegar à Itália, à galeria, ao sonho de sua infância, sua vida parecia andar em uma corda bamba. — Sente-se! — Giulietta pediu indicando-lhe a cadeira à sua frente. Extremamente ansiosa e obediente, Eliza sentou-se esperando as intervenções de sua chefe. Naquele instante ela soube que a sorte estava sendo lançada, e agora era tudo ou nada, e honestamente, ela esperava que fosse tudo. Como Giulietta não era mulher de fazer rodeios ela foi direta em sua fala. — Vejo que você não trabalhou hoje, signorina Villar. Pode me dizer o motivo? — Eu pensei que... — Você pensa demais, Eliza. Mas é compreensível dada a sua idade. Embora você não seja paga para pensar. — Giulietta a interrompeu com tanta força que suas mãos começaram a tre
Depois de sua conversa desastrosa com Giulietta, Eliza regressou as suas atividades com os ânimos abalados, pois a dura realidade sob seus olhos nublava qualquer tipo de faísca esperançosa que ela pudesse ter. O certo era que a partir daquele momento nada mais seria como antes — não para ela e nem para Giulietta. Como tudo ao redor dela parecia fora de contexto, o dia se arrastou em uma lentidão surpreendente, frente ao ar melancólico da galeria, a pressa exacerbada dos funcionários e os olhares distantes. Parecia haver algo acontecendo ali e seus instintos lhe apontavam que, provavelmente, Giulietta estava descontando seu mau humor nos empregados ao redor – se não fosse um dia tão miserável, Eliza teria sorrido para animar-se. O dia, contudo, só tendia a piorar, já que, como pensou que seria dispensada do emprego, ela não levou dinheiro para o almoço. Resultado: estava faminta! Decidida a ignorar os apelos sôfregos de seu estômago, Eliza tentou se concentrar no trabalho; uma tarefa
Livrar-se de Giulio não seria uma tarefa tão fácil como a princípio Eliza pensou e, ela descobriu isso no final do expediente, pois ao contrário de suas convicções, Giulio não pretendia deixá-la em paz. Ela não era apenas uma garota interessante; tinha algo de especial nela que o atraia como louco e isso o estava deixando impaciente e determinado a descobrir o que era. — Boa noite, Eliza. A voz rouca e sensual de Giulio penetrou em seus ouvidos, deixando-a momentaneamente apreensiva; o que a fez responder o cumprimentou polidamente e continuar seu caminho. — Precisamos conversar, Eliza. — Não temos nada a conversar, signore Vallone. — Ela rebateu ríspida e acelerou os passos enquanto fragmentos da conversa dela com Giulietta jorravam como torrentes em sua mente, por fim, quando deu por si, já estava praticamente correndo. — Eliza pare e me ouça. — Ele tentou chamá-la, mas ao contrário das outras vezes, foi ignorado. Diante da recusa de Eliza em parar para conversar, Giulio
Eliza saiu do restaurante ao lado de Giulio, pensativa. Procurando pela memória algo que tenha falado para que ele mudasse tão repentinamente de comportamento. Era esquisito, pois de um momento para o outro, ele mudou radicalmente sua postura e o modo como a via: não que isso fosse um problema real, mas havia algo lá que ele não disse e isso a estava intrigando, pois o homem até então, quase atencioso e preocupado, transformou-se em um grosseirão num piscar de olhos. Se não bastasse a hostilidade que ele demonstrou para com ela, o sem caráter ainda teve a ousadia de chamá-la de mal-educada. Para aumentar ainda mais a indignação de Eliza, ela o viu pegar algumas notas da carteira e sem o menor constrangimento, ele as estendeu a ela. — O que pensa que está fazendo? Não estou pedindo-lhe dinheiro. Não estou pedindo-lhe nada. — Ela acrescentou exasperada, após questioná-lo. O que o fazia agir de forma tão arrogante quando se tratava dela? Giulio sempre a tinha como uma mulher inferior.
A sensação letárgica de está mergulhando no doce acalento do sono durou pouco e o descanso de Eliza foi interrompido pelos caprichos infantis de sua colega de quarto e pelos punhos impacientes de Lúcia golpeando a porta de seu quarto.No primeiro momento, ela pensou em fingir que estava dormindo, porém conhecendo-a como era; Lúcia seria capaz pôr a porta a baixo. Desanimada, levantou-se para atendê-la.— Há algo acontecendo, Lúcia?Lúcia ignorou sua pergunta e invadiu o quarto esparramando-se em sua cama.— Já vai dormir Eliza? — Ela perguntou aparentemente esquecida da grosseria inicial.— Sim. Não sei se você esqueceu Lúcia, mas tenho trabalho, amanhã.Eliza respondeu o mais natural possível para não parecer grossa, mas dentro de si a vontade que tinha de pedir para ela se retirar era gra
Com a aproximação do evento na galeria, a manhã de Eliza começou bastante agitada. Isso de certo modo era bom, pois assim ela não teria muito tempo para pensar no jantar desastroso que tivera com Giulio — se é que ela poderia considerar aquele encontro como um jantar! Depois daquele dia não o vira mais. Pelo jeito ele fora decisivo quando disse ser o último encontro deles. Finalmente ele resolvera deixa-la em paz e teve o bom senso de compreender que era impossível qualquer aproximação entre eles.Ao mesmo tempo que Eliza ficara contente por está livre da presença perturbadora de Giulio, ela estava frustrada: era inquestionável que a presença dele estava dando um novo ânimo a sua vida, talvez seja porque, pela primeira vez há muito tempo, ela se sentiu uma mulher de verdade: desejada e bonita.Ela não podia negar que não sentia falta de seus olhares cobiçosos. De vez em quando era bom sentir-se admirada — só que no caso de Giulio, a admiração por ela passou no primeiro jantar. Pensar d
Giulio ouvia tudo no mais absoluto silêncio. Era óbvio que Giulietta e Beatrice estavam querendo constranger Eliza e o pior era que elas estavam conseguindo. Estava visível a perturbação no rosto dela e por mais que ele quisesse ir em seu auxílio, não poderia defende-la para não comprometer o emprego que ela tanto estimava. Sentindo-se de mãos atadas diante daquela situação, a única coisa que poderia fazer para livrar Eliza das investidas maldosas de Beatrice era afastá-la daquele lugar. — Vamos Beatrice; já está tarde. — O tom de voz de Giulio saiu mais rude do que o esperado e Giulietta deu-lhe um leve aceno de reprovação, no qual ele ignorou prontamente. — Se você não quiser acabar em um botequim de esquina é melhor apressar-se. — Ah, que horror! Não me ofenda dessa forma, Giulio. — Beatrice exclamou chocada. Para provocar Eliza, ela perguntou com falsa gentileza. — Almoça conosco, signorina Villar? Eliza ficou muda, contudo, pela cara cinicamente