Giulio ouvia tudo no mais absoluto silêncio. Era óbvio que Giulietta e Beatrice estavam querendo constranger Eliza e o pior era que elas estavam conseguindo. Estava visível a perturbação no rosto dela e por mais que ele quisesse ir em seu auxílio, não poderia defende-la para não comprometer o emprego que ela tanto estimava. Sentindo-se de mãos atadas diante daquela situação, a única coisa que poderia fazer para livrar Eliza das investidas maldosas de Beatrice era afastá-la daquele lugar. — Vamos Beatrice; já está tarde. — O tom de voz de Giulio saiu mais rude do que o esperado e Giulietta deu-lhe um leve aceno de reprovação, no qual ele ignorou prontamente. — Se você não quiser acabar em um botequim de esquina é melhor apressar-se. — Ah, que horror! Não me ofenda dessa forma, Giulio. — Beatrice exclamou chocada. Para provocar Eliza, ela perguntou com falsa gentileza. — Almoça conosco, signorina Villar? Eliza ficou muda, contudo, pela cara cinicamente
No final do expediente Eliza foi até o escritório de Giulietta para ouvir o costumeiro discurso: muito abrigada por ter feito parte da nosso empresa e contribuído para o crescimento dela, mas infelizmente não temos como mantê-la conosco e, blá.... blá.... blá.... Isso, claro, se Giulietta estiver boazinha e não usar Giulio para lhe apontar o dedo e dizer que todos os erros que aconteceram até o momento eram dela. De qualquer forma a demissão a aguardava. Aquela não era a primeira vez que estaria diante de Giulietta, mas a apreensão que sentia todas as vezes que se deparava com ela era única: Giulietta tinha o poder de mexer com os nervos de Eliza, seja por onipotência ou fragilidade. Quando ela entrou na sala de sua chefe estava com as pernas trêmulas – parecia que a qualquer minuto um vento sorrateiro a sopraria para longe dali. O tremor pelo corpo de Eliza era visível, porém Giulietta Pallot ignorou e começou a falar sem ao menos mandá-la sentar. — Eu pense
Depois da conversa nada amigável que Eliza teve com Giulietta; ela chegou na galeria na manhã seguinte, mais cedo do que o habitual. Assim que entrou foi logo se incumbindo de seus afazeres. Aquele dia prometia ser exaustivo e corrido. Por volta das treze horas, ela deu uma pequena pausa para um lanche rápido e retornou ao trabalho com o mesmo ritmo de antes. Ao término do dia, parou para admirar vislumbrada, as belíssimas obras expostas: era tudo simplesmente encantador. Aqueles artistas entregaram sua alma em cada pedaço de tinta derramada sobre a tela; era magnífico que os resultados de todo trabalho encantaram à Itália, aqueles jovens artistas conseguiram voar alto, assim como uma águia feroz. Todos eles mereciam receber os aplausos e admirações naquela noite. Eliza suspirou: a magia de está rodeada das mais belas obras de arte a contagiou de tal forma, que momentaneamente ela fechou os olhos e se imaginou percorrendo os salões da galeria em u
Mesmo com o firme propósito de erguer a cabeça e não permitir que as palavras de Giulio a afetassem novamente; Eliza chegou em casa em frangalhos. Seu corpo e sua mente estavam esmigalhados, como se um trator de dez toneladas a tivesse esmagado.O cansaço em seu rosto era visível: as olheiras grandes, rugas finas ao lado do nariz, olhos avermelhados e sem brilho, assim como o leve tremor que a sacudia por dentro. Embora soubesse que sua condição física e emocional estava translúcida em suas feições, ela tentou escondê-las por meio de um sorriso amarelo, ao dar-se com a presença de Mirella sentada confortavelmente em uma poltrona, assistindo a um show na televisão.— Olá, querida! Chegou cedo! Sente-se aqui ao meu lado. — Mirella cumprimentou-a animada. — Não precisa responder: o coquetel de hoje à noite, certamente está deixan
Como de costume, Eliza acordou cedo, contudo, havia algo de diferente naquela manhã, não era somente a mudança de estação e a brisa levemente fria que entrava pela fresta da janela, mas sim por seus sentimentos. Ela estava sentindo-se um caco, um pedaço da destruição feita por um único homem italiano. Sua lataria não poderia ser polida tão cedo, ainda faltava concerto em seu coração. Porém, seus sonhos apaixonados tornaram-se um calabouço de memórias que a acorrentada dia e noite. Eliza gritava por socorro, mas quem abriria o caminho para sua alma? Ou lhe entregaria a chave de seu coração? Quem de vós teria coragem?Apesar do dia parecer lindo como as folhas caídas do sol de outono e convidativo para uma caminhada matinal, ela não possuía ânimo algum. A única coisa que queria era ficar enfurnada pelo resto do dia, em seu quarto, trancada a sete chaves — esquecida da vida lá fora, principalmente, de Giulio Vallone. A tentação de ficar trancafiada o domingo todo em seu aposento era des
Elas saíram de casa em direção a boate por volta das vinte horas. Para Mirella era uma programação como qualquer outra, já para Eliza; era uma novidade total. O único problema que ela poderia enfrentar era passar-se como a chata do grupo: sem graça, sem diálogo e introspectiva. Mas hoje, ela iria mostrar que se tornará uma nova mulher, cheia de charme e bons papos. Tão logo deixaram o prédio, os olhos atentos de Eliza percorreram o local, para ver se não tinha nenhum movimento suspeito: ultimamente ela estava com a impressão de está sendo vigiada, — talvez essa sensação fosse consequência do que estava vivendo na galeria e de certa forma, esse fato desagradável estava refletindo fora de seu ambiente de trabalho. Sentir o mal-estar de andar sozinha pelas avenidas arrepiava-lhe os pelos do braço, por sorte tinha a companhia de Mirella e se preciso fosse, ela pediria discretamente para segurar-lhe a mão. Eliza respirou e inspirou fundo deixando de lado suas paranoias infindáveis e seg
Eliza sentiu-se mais à vontade depois que Carlos foi dançar com Mirella. Mesmo a companhia dele sendo agradável, ele conseguia de certo modo deixá-la constrangida — talvez por que ela não estivesse acostumada com tantos galanteios; visto que no Brasil os homens eram mais diretos quando o assunto envolvia paquera. Assim que Mirella e Carlos retornaram para a mesa, não tardou muito para as outras integrantes do grupo chegarem. De imediato Eliza gostou delas, porém, ela notou uma pitada de ciúmes no olhar de Isabella: a bela ruivinha parecia gostar de Carlos, já ele, nitidamente não percebia esse sentimento. Analisando atentamente o grupo, eles pareciam casais. Só ela era uma figura desbotada daquele quadro. — Há quanto tempo está em Florença? — Isabella perguntou fingindo interesse. Na verdade, o que ela queria mesmo, era afastá-la de Carlos. — Há quatro anos. — Respondeu amigavelmente. — Ainda pensa em retornar para o seu país? — Ela perguntou ansiosa, como quem
Depois de Eliza conseguir despistar Geovane, ela saiu de seu esconderijo com a nítida sensação de que aquele pequeno inconveniente estava longe de acabar. Por alguma razão ela sentia que aquele encontro quase casual com Giulio, não tinha nada de casual. Pelo jeito ele sabia muito bem que a encontraria lá e, isso de certa forma era assustador para ela.Temendo ficar mais tempo naquele lugar e ser descoberta; ela decidiu que era hora de partir. Mentalmente ela se xingou por sua falta de senso. Como ela foi de carona com Mirella, não se deu ao trabalho de levar um dinheiro extra, caso surgisse algum imprevisto. Ainda se recriminando, ela abriu a bolsa para constatar o óbvio: não tinha dinheiro o suficiente para pagar um táxi. Não tinha jeito: ela teria que caminhar no mínimo três quarteirões até seu ponto de ônibus. Sobressaltada, Eliza olhou em volta e não viu o carro de Giulio. Saber disso deu a ela a segurança que precisava para ir embora. O que Giulio estava fazendo com ela?