A sensação letárgica de está mergulhando no doce acalento do sono durou pouco e o descanso de Eliza foi interrompido pelos caprichos infantis de sua colega de quarto e pelos punhos impacientes de Lúcia golpeando a porta de seu quarto.
No primeiro momento, ela pensou em fingir que estava dormindo, porém conhecendo-a como era; Lúcia seria capaz pôr a porta a baixo. Desanimada, levantou-se para atendê-la.
— Há algo acontecendo, Lúcia?
Lúcia ignorou sua pergunta e invadiu o quarto esparramando-se em sua cama.
— Já vai dormir Eliza? — Ela perguntou aparentemente esquecida da grosseria inicial.
— Sim. Não sei se você esqueceu Lúcia, mas tenho trabalho, amanhã.
Eliza respondeu o mais natural possível para não parecer grossa, mas dentro de si a vontade que tinha de pedir para ela se retirar era gra
Com a aproximação do evento na galeria, a manhã de Eliza começou bastante agitada. Isso de certo modo era bom, pois assim ela não teria muito tempo para pensar no jantar desastroso que tivera com Giulio — se é que ela poderia considerar aquele encontro como um jantar! Depois daquele dia não o vira mais. Pelo jeito ele fora decisivo quando disse ser o último encontro deles. Finalmente ele resolvera deixa-la em paz e teve o bom senso de compreender que era impossível qualquer aproximação entre eles.Ao mesmo tempo que Eliza ficara contente por está livre da presença perturbadora de Giulio, ela estava frustrada: era inquestionável que a presença dele estava dando um novo ânimo a sua vida, talvez seja porque, pela primeira vez há muito tempo, ela se sentiu uma mulher de verdade: desejada e bonita.Ela não podia negar que não sentia falta de seus olhares cobiçosos. De vez em quando era bom sentir-se admirada — só que no caso de Giulio, a admiração por ela passou no primeiro jantar. Pensar d
Giulio ouvia tudo no mais absoluto silêncio. Era óbvio que Giulietta e Beatrice estavam querendo constranger Eliza e o pior era que elas estavam conseguindo. Estava visível a perturbação no rosto dela e por mais que ele quisesse ir em seu auxílio, não poderia defende-la para não comprometer o emprego que ela tanto estimava. Sentindo-se de mãos atadas diante daquela situação, a única coisa que poderia fazer para livrar Eliza das investidas maldosas de Beatrice era afastá-la daquele lugar. — Vamos Beatrice; já está tarde. — O tom de voz de Giulio saiu mais rude do que o esperado e Giulietta deu-lhe um leve aceno de reprovação, no qual ele ignorou prontamente. — Se você não quiser acabar em um botequim de esquina é melhor apressar-se. — Ah, que horror! Não me ofenda dessa forma, Giulio. — Beatrice exclamou chocada. Para provocar Eliza, ela perguntou com falsa gentileza. — Almoça conosco, signorina Villar? Eliza ficou muda, contudo, pela cara cinicamente
No final do expediente Eliza foi até o escritório de Giulietta para ouvir o costumeiro discurso: muito abrigada por ter feito parte da nosso empresa e contribuído para o crescimento dela, mas infelizmente não temos como mantê-la conosco e, blá.... blá.... blá.... Isso, claro, se Giulietta estiver boazinha e não usar Giulio para lhe apontar o dedo e dizer que todos os erros que aconteceram até o momento eram dela. De qualquer forma a demissão a aguardava. Aquela não era a primeira vez que estaria diante de Giulietta, mas a apreensão que sentia todas as vezes que se deparava com ela era única: Giulietta tinha o poder de mexer com os nervos de Eliza, seja por onipotência ou fragilidade. Quando ela entrou na sala de sua chefe estava com as pernas trêmulas – parecia que a qualquer minuto um vento sorrateiro a sopraria para longe dali. O tremor pelo corpo de Eliza era visível, porém Giulietta Pallot ignorou e começou a falar sem ao menos mandá-la sentar. — Eu pense
Depois da conversa nada amigável que Eliza teve com Giulietta; ela chegou na galeria na manhã seguinte, mais cedo do que o habitual. Assim que entrou foi logo se incumbindo de seus afazeres. Aquele dia prometia ser exaustivo e corrido. Por volta das treze horas, ela deu uma pequena pausa para um lanche rápido e retornou ao trabalho com o mesmo ritmo de antes. Ao término do dia, parou para admirar vislumbrada, as belíssimas obras expostas: era tudo simplesmente encantador. Aqueles artistas entregaram sua alma em cada pedaço de tinta derramada sobre a tela; era magnífico que os resultados de todo trabalho encantaram à Itália, aqueles jovens artistas conseguiram voar alto, assim como uma águia feroz. Todos eles mereciam receber os aplausos e admirações naquela noite. Eliza suspirou: a magia de está rodeada das mais belas obras de arte a contagiou de tal forma, que momentaneamente ela fechou os olhos e se imaginou percorrendo os salões da galeria em u
Mesmo com o firme propósito de erguer a cabeça e não permitir que as palavras de Giulio a afetassem novamente; Eliza chegou em casa em frangalhos. Seu corpo e sua mente estavam esmigalhados, como se um trator de dez toneladas a tivesse esmagado.O cansaço em seu rosto era visível: as olheiras grandes, rugas finas ao lado do nariz, olhos avermelhados e sem brilho, assim como o leve tremor que a sacudia por dentro. Embora soubesse que sua condição física e emocional estava translúcida em suas feições, ela tentou escondê-las por meio de um sorriso amarelo, ao dar-se com a presença de Mirella sentada confortavelmente em uma poltrona, assistindo a um show na televisão.— Olá, querida! Chegou cedo! Sente-se aqui ao meu lado. — Mirella cumprimentou-a animada. — Não precisa responder: o coquetel de hoje à noite, certamente está deixan
Como de costume, Eliza acordou cedo, contudo, havia algo de diferente naquela manhã, não era somente a mudança de estação e a brisa levemente fria que entrava pela fresta da janela, mas sim por seus sentimentos. Ela estava sentindo-se um caco, um pedaço da destruição feita por um único homem italiano. Sua lataria não poderia ser polida tão cedo, ainda faltava concerto em seu coração. Porém, seus sonhos apaixonados tornaram-se um calabouço de memórias que a acorrentada dia e noite. Eliza gritava por socorro, mas quem abriria o caminho para sua alma? Ou lhe entregaria a chave de seu coração? Quem de vós teria coragem?Apesar do dia parecer lindo como as folhas caídas do sol de outono e convidativo para uma caminhada matinal, ela não possuía ânimo algum. A única coisa que queria era ficar enfurnada pelo resto do dia, em seu quarto, trancada a sete chaves — esquecida da vida lá fora, principalmente, de Giulio Vallone. A tentação de ficar trancafiada o domingo todo em seu aposento era des
Elas saíram de casa em direção a boate por volta das vinte horas. Para Mirella era uma programação como qualquer outra, já para Eliza; era uma novidade total. O único problema que ela poderia enfrentar era passar-se como a chata do grupo: sem graça, sem diálogo e introspectiva. Mas hoje, ela iria mostrar que se tornará uma nova mulher, cheia de charme e bons papos. Tão logo deixaram o prédio, os olhos atentos de Eliza percorreram o local, para ver se não tinha nenhum movimento suspeito: ultimamente ela estava com a impressão de está sendo vigiada, — talvez essa sensação fosse consequência do que estava vivendo na galeria e de certa forma, esse fato desagradável estava refletindo fora de seu ambiente de trabalho. Sentir o mal-estar de andar sozinha pelas avenidas arrepiava-lhe os pelos do braço, por sorte tinha a companhia de Mirella e se preciso fosse, ela pediria discretamente para segurar-lhe a mão. Eliza respirou e inspirou fundo deixando de lado suas paranoias infindáveis e seg
Eliza sentiu-se mais à vontade depois que Carlos foi dançar com Mirella. Mesmo a companhia dele sendo agradável, ele conseguia de certo modo deixá-la constrangida — talvez por que ela não estivesse acostumada com tantos galanteios; visto que no Brasil os homens eram mais diretos quando o assunto envolvia paquera. Assim que Mirella e Carlos retornaram para a mesa, não tardou muito para as outras integrantes do grupo chegarem. De imediato Eliza gostou delas, porém, ela notou uma pitada de ciúmes no olhar de Isabella: a bela ruivinha parecia gostar de Carlos, já ele, nitidamente não percebia esse sentimento. Analisando atentamente o grupo, eles pareciam casais. Só ela era uma figura desbotada daquele quadro. — Há quanto tempo está em Florença? — Isabella perguntou fingindo interesse. Na verdade, o que ela queria mesmo, era afastá-la de Carlos. — Há quatro anos. — Respondeu amigavelmente. — Ainda pensa em retornar para o seu país? — Ela perguntou ansiosa, como quem