Eliza saiu do restaurante ao lado de Giulio, pensativa. Procurando pela memória algo que tenha falado para que ele mudasse tão repentinamente de comportamento. Era esquisito, pois de um momento para o outro, ele mudou radicalmente sua postura e o modo como a via: não que isso fosse um problema real, mas havia algo lá que ele não disse e isso a estava intrigando, pois o homem até então, quase atencioso e preocupado, transformou-se em um grosseirão num piscar de olhos. Se não bastasse a hostilidade que ele demonstrou para com ela, o sem caráter ainda teve a ousadia de chamá-la de mal-educada. Para aumentar ainda mais a indignação de Eliza, ela o viu pegar algumas notas da carteira e sem o menor constrangimento, ele as estendeu a ela. — O que pensa que está fazendo? Não estou pedindo-lhe dinheiro. Não estou pedindo-lhe nada. — Ela acrescentou exasperada, após questioná-lo. O que o fazia agir de forma tão arrogante quando se tratava dela? Giulio sempre a tinha como uma mulher inferior.
A sensação letárgica de está mergulhando no doce acalento do sono durou pouco e o descanso de Eliza foi interrompido pelos caprichos infantis de sua colega de quarto e pelos punhos impacientes de Lúcia golpeando a porta de seu quarto.No primeiro momento, ela pensou em fingir que estava dormindo, porém conhecendo-a como era; Lúcia seria capaz pôr a porta a baixo. Desanimada, levantou-se para atendê-la.— Há algo acontecendo, Lúcia?Lúcia ignorou sua pergunta e invadiu o quarto esparramando-se em sua cama.— Já vai dormir Eliza? — Ela perguntou aparentemente esquecida da grosseria inicial.— Sim. Não sei se você esqueceu Lúcia, mas tenho trabalho, amanhã.Eliza respondeu o mais natural possível para não parecer grossa, mas dentro de si a vontade que tinha de pedir para ela se retirar era gra
Com a aproximação do evento na galeria, a manhã de Eliza começou bastante agitada. Isso de certo modo era bom, pois assim ela não teria muito tempo para pensar no jantar desastroso que tivera com Giulio — se é que ela poderia considerar aquele encontro como um jantar! Depois daquele dia não o vira mais. Pelo jeito ele fora decisivo quando disse ser o último encontro deles. Finalmente ele resolvera deixa-la em paz e teve o bom senso de compreender que era impossível qualquer aproximação entre eles.Ao mesmo tempo que Eliza ficara contente por está livre da presença perturbadora de Giulio, ela estava frustrada: era inquestionável que a presença dele estava dando um novo ânimo a sua vida, talvez seja porque, pela primeira vez há muito tempo, ela se sentiu uma mulher de verdade: desejada e bonita.Ela não podia negar que não sentia falta de seus olhares cobiçosos. De vez em quando era bom sentir-se admirada — só que no caso de Giulio, a admiração por ela passou no primeiro jantar. Pensar d
Giulio ouvia tudo no mais absoluto silêncio. Era óbvio que Giulietta e Beatrice estavam querendo constranger Eliza e o pior era que elas estavam conseguindo. Estava visível a perturbação no rosto dela e por mais que ele quisesse ir em seu auxílio, não poderia defende-la para não comprometer o emprego que ela tanto estimava. Sentindo-se de mãos atadas diante daquela situação, a única coisa que poderia fazer para livrar Eliza das investidas maldosas de Beatrice era afastá-la daquele lugar. — Vamos Beatrice; já está tarde. — O tom de voz de Giulio saiu mais rude do que o esperado e Giulietta deu-lhe um leve aceno de reprovação, no qual ele ignorou prontamente. — Se você não quiser acabar em um botequim de esquina é melhor apressar-se. — Ah, que horror! Não me ofenda dessa forma, Giulio. — Beatrice exclamou chocada. Para provocar Eliza, ela perguntou com falsa gentileza. — Almoça conosco, signorina Villar? Eliza ficou muda, contudo, pela cara cinicamente
No final do expediente Eliza foi até o escritório de Giulietta para ouvir o costumeiro discurso: muito abrigada por ter feito parte da nosso empresa e contribuído para o crescimento dela, mas infelizmente não temos como mantê-la conosco e, blá.... blá.... blá.... Isso, claro, se Giulietta estiver boazinha e não usar Giulio para lhe apontar o dedo e dizer que todos os erros que aconteceram até o momento eram dela. De qualquer forma a demissão a aguardava. Aquela não era a primeira vez que estaria diante de Giulietta, mas a apreensão que sentia todas as vezes que se deparava com ela era única: Giulietta tinha o poder de mexer com os nervos de Eliza, seja por onipotência ou fragilidade. Quando ela entrou na sala de sua chefe estava com as pernas trêmulas – parecia que a qualquer minuto um vento sorrateiro a sopraria para longe dali. O tremor pelo corpo de Eliza era visível, porém Giulietta Pallot ignorou e começou a falar sem ao menos mandá-la sentar. — Eu pense
Depois da conversa nada amigável que Eliza teve com Giulietta; ela chegou na galeria na manhã seguinte, mais cedo do que o habitual. Assim que entrou foi logo se incumbindo de seus afazeres. Aquele dia prometia ser exaustivo e corrido. Por volta das treze horas, ela deu uma pequena pausa para um lanche rápido e retornou ao trabalho com o mesmo ritmo de antes. Ao término do dia, parou para admirar vislumbrada, as belíssimas obras expostas: era tudo simplesmente encantador. Aqueles artistas entregaram sua alma em cada pedaço de tinta derramada sobre a tela; era magnífico que os resultados de todo trabalho encantaram à Itália, aqueles jovens artistas conseguiram voar alto, assim como uma águia feroz. Todos eles mereciam receber os aplausos e admirações naquela noite. Eliza suspirou: a magia de está rodeada das mais belas obras de arte a contagiou de tal forma, que momentaneamente ela fechou os olhos e se imaginou percorrendo os salões da galeria em u
Mesmo com o firme propósito de erguer a cabeça e não permitir que as palavras de Giulio a afetassem novamente; Eliza chegou em casa em frangalhos. Seu corpo e sua mente estavam esmigalhados, como se um trator de dez toneladas a tivesse esmagado.O cansaço em seu rosto era visível: as olheiras grandes, rugas finas ao lado do nariz, olhos avermelhados e sem brilho, assim como o leve tremor que a sacudia por dentro. Embora soubesse que sua condição física e emocional estava translúcida em suas feições, ela tentou escondê-las por meio de um sorriso amarelo, ao dar-se com a presença de Mirella sentada confortavelmente em uma poltrona, assistindo a um show na televisão.— Olá, querida! Chegou cedo! Sente-se aqui ao meu lado. — Mirella cumprimentou-a animada. — Não precisa responder: o coquetel de hoje à noite, certamente está deixan
Como de costume, Eliza acordou cedo, contudo, havia algo de diferente naquela manhã, não era somente a mudança de estação e a brisa levemente fria que entrava pela fresta da janela, mas sim por seus sentimentos. Ela estava sentindo-se um caco, um pedaço da destruição feita por um único homem italiano. Sua lataria não poderia ser polida tão cedo, ainda faltava concerto em seu coração. Porém, seus sonhos apaixonados tornaram-se um calabouço de memórias que a acorrentada dia e noite. Eliza gritava por socorro, mas quem abriria o caminho para sua alma? Ou lhe entregaria a chave de seu coração? Quem de vós teria coragem?Apesar do dia parecer lindo como as folhas caídas do sol de outono e convidativo para uma caminhada matinal, ela não possuía ânimo algum. A única coisa que queria era ficar enfurnada pelo resto do dia, em seu quarto, trancada a sete chaves — esquecida da vida lá fora, principalmente, de Giulio Vallone. A tentação de ficar trancafiada o domingo todo em seu aposento era des