Olivia FernandesPedir para Natália ter um pouco de senso de responsabilidade era como rezar para uma pedra. Eu poderia fingir que minhas preces adiantariam, mas no fim, todos nós sabíamos que aquilo era feito em vão. E, acredite, eu tentei. Pedi, implorei, tentei negociar e fazer trocas onde ela seria plenamente beneficiada para que eles encontrassem outro lugar para fazer essa tal festa. Porque, além de eu não querer arriscar meu cargo na reitoria, eu também não queria um monte de pessoas duvidosamente limpas sujando o carpete do lugar onde eu vivo na maior parte do mês.E eles não eram nada convincentes quanto à higiene. Eu podia ver pelo modo como se jogaram na cama de Natália assim que chegaram da rua, todos sujos pelo sei lá o que eles faziam.“Nós estávamos em uma rave,” o que me apelidou disse, como se tivesse lido meus pensamentos.“Não precisa se explicar,” falei, um tanto rude, mas esperava que ele entendesse que aquilo ali não era nada confortável para mim.“Preciso, senã
Dante SalvatoreTentei aliviar meus pensamentos antes de ir para casa. Não tinha muito o que fazer agora após assumir esse emprego na reitoria. Alguns podem achar corrido e um cargo exaustivo, e eu não poderia discordar, mas acho que meu emprego antigo me mantinha tão ocupado que nada poderia se comparar. Agora eu passava o dia todo sentado. Resolvia burocracias, mexia com papéis, conversava com alunos e pais de alunos infratores, resolvia tudo sobre bolsistas e tudo que envolve as funções de uma universidade. Porém, ao sair da sala e ir até a área de funcionários buscar um café com biscoitos, eu a via. Arrumava muitas desculpas para passar por aquela sala ao lado da minha, apenas para vê-la mais uma vez. Não sei exatamente como isso aconteceu, ou o motivo, mas Olivia me deixou encantado. Era como se agora eu fosse outro. Via tudo de um jeito diferente, enxergava coisas que antes não via. Ela me fazia querer ser melhor, e é peculiar o quanto mexeu comigo em tão pouco tempo. Em q
Olivia FernandesO curto espaço de tempo em que fiquei encarando Lucas parado bem na minha frente pareceu durar uma eternidade. Me irritava o fato de eu sentir um conforto ao vê-lo, ao sentir o cheiro do qual eu estava tão acostumada nos últimos anos, e em ter de volta a sensação boa que ele trazia quando estávamos juntos.Mas eu sabia que isso não passava de uma ilusão, uma peça que meu cérebro tentava pregar à medida que sua ausência amenizava as coisas que deveriam pesar muito mais do que o sentimento agradável que ele me fazia sentir antes de eu descobrir tudo.Descobrir que seus amigos riquinhos estavam envolvidos com o vazamento das minhas fotos íntimas, e que ele sabia. E, principalmente, descobrir que ele foi a pessoa que me fez enviar aquelas fotos.Lembro-me como se fosse hoje do momento em que conheci um garoto em uma sala de chat da faculdade. Um menino gentil que, agora, vendo tudo com plena consciência dos fatos, eu deveria ter adivinhado que era Lucas.Até a forma de fal
Dante SalvatoreEu deveria ter visto isso chegando. Enquanto caminhava para longe de Lucas, senti minhas pernas vacilarem. Cada passo parecia mais difícil que o anterior, como se meus pés estivessem presos no chão pelo fardo que carregava. Tudo se encaixava, agora. As coincidências, as olhadas furtivas, a maneira como Lucas sorria de um jeito diferente quando Olivia estava por perto. Eu tentei ignorar os sinais, talvez por covardia ou pura conveniência. Mas agora tudo estava escancarado.Lucas estava apaixonado por Olivia. Senti uma pontada no peito. Um sentimento misto de culpa, arrependimento e algo mais que não conseguia decifrar. Era como se duas forças opostas estivessem me rasgando por dentro. Eu queria ser o pai que ele precisava, o pai que colocaria seus sentimentos à frente dos meus. Mas também queria ser o homem que Olivia via, o homem que ela desejava, aquele por quem ela havia se interessado, mesmo que por pouco tempo.Eu sabia o que deveria fazer. Qualquer pai de ve
Olivia FernandesFiquei parada ali, em frente ao prédio dos dormitórios, fingindo uma paciência que não tinha, quando Lucas finalmente apareceu. Dante permaneceu lá, e tentei conter em meu rosto a ansiedade em vê-lo mais uma vez. O rosto de Lucas estava cheio de irritação e vergonha, como se soubesse que estava prestes a receber um belo de um esporro. — Isso não precisava ter virado essa confusão toda — ele murmurou ao encostar-se na parede do meu lado, tentando buscar meu olhar. Mas permaneci com os olhos fixos mais a frente, ignorando a feição pidona que sabia que ele fazia.Eu não o respondi. Estava absorta demais no turbilhão de emoções que me envolvia. Porém, havia um assunto que me interessava e apenas Lucas poderia responder. — Está tudo bem lá dentro? — fingi interesse, apenas para saber como Dante estava. Senti algo estranho entre nós, e não sei se é o fato dele ter descoberto que eu não estava doente ou de Lucas ter arrumado uma briga no meu dormitório que o chateou. De
Dante SalvatoreMesmo depois de anos separados, estar ali novamente me fazia sentir como um intruso.Lucas estava sentado entre nós, um tanto quanto retraído, evitando contato visual, com o peso da confissão que estava prestes a fazer pendendo sobre ele. Beatriz, minha ex-esposa, estava sentada ao meu lado, com uma expressão controlada, porém afiada. Sabíamos que estávamos prestes a ter uma conversa difícil, e apesar de nosso relacionamento cordial nos últimos anos, a tensão entre nós era palpável.— Então? — Beatriz quebrou o silêncio primeiro, sua voz firme, mas sem emoção. — O que exatamente aconteceu, Lucas?Lucas respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. Sua postura relaxada habitual estava ausente; ele parecia desconfortável e nervoso. Eu não sabia o que esperar, mas o incômodo já estava crescendo no meu peito. — Não fiz por mal — começou ele, com um tom hesitante. — A confusão… não foi exatamente como parece.— E como foi, então? — perguntei, minha voz mais calma do que o
Dante SalvatoreNão sei exatamente como, ou se ela sabia com exatidão o que estava acontecendo entre mim e Olivia, mas algo Beatriz sabia. Aquele olhar não mente, muito menos para mim.O instinto dela sempre foi afiado, sempre capaz de captar nuances que eu tentava esconder, tanto de mim quanto dos outros. Não era diferente agora. A verdade estava pendurada no ar, e ela, como uma sombra, parecia se deleitar com o fato de que eu não tinha controle sobre isso.
Olivia FernandesTomar decisões sábias não havia sido minha especialidade nas últimas semanas. Quebrei o padrão pacífico que comandou minha vida durante adolescência e início da juventude, caminhando para uma floresta escura e perigosa de um futuro desconhecido. Poderia minha vida ser arruinada pelas decisões que eu tomasse daquele momento em diante? Afinal, nossas ações não passam de sementes que plantamos para colher em um futuro distante, e eu sabia disso. Sabia que cada ato que eu cometesse me colocava à beira de um precipício, um dos mais altos, onde mal podia ver o final. Mesmo assim, eu continuava. Seguia cegamente na esperança de que fosse apenas uma crença limitante e que, no final das contas, eu nunca precisasse passar por nada desconfortável graças as minhas péssimas escolhas. Mas isso era uma ilusão. Quando voltei para o dormitório, Natália e os outros já haviam saído mais uma vez. Me pergunto onde eles dormiam ou passavam a maioria dos dias, pois ela apenas aparecia