Nossa, estou voltando bem tarde para casa. Levei mais tempo do que queria na biblioteca. Infeliz ideia de vir caminhando, agora o campus está deserto. Apenas os poucos seguranças e nada mais. A luz dos postes de iluminação se apagam bem na hora que estou passando. – Mais essa agora! – murmuro para mim mesma, tentando ignorar a sensação de inquietação que cresce dentro de mim. Mas continuo mesmo assim, pois preciso chegar em casa logo. Estou tão cansada! E de repente um carro surge do nada… E freia em cima de mim! Acabo com o susto caindo no chão. Que droga! Meu Deus… Estou parecendo um purê mole esparramado pelo prato, sentada neste chão. O coração b**e descontrolado no peito enquanto tento recuperar o fôlego. O motorista desce do carro às pressas, seus passos rápidos na direção onde estou caída. Mas espera! Eu não acredito! Ele abaixa e olha a lataria do carro. Não é possível uma coisa dessa! Estou estabacada no chão, e o homem está olhando seu carro! Eu não est
Por Milena Alguns dias depois – Letícia, olha só onde você nos meteu. – Relaxa, Milena, sair um pouco da rotina faz bem. Além disso, logo estaremos ocupadas com as aulas que começam na próxima semana. – Nem me lembre. Não sei por que inventei de fazer essa especialização. – Porque você não quer ser apenas mais uma entre tantas outras. E com isso, deixei Letícia me convencer a vir para uma festa de uns amigos dos pais dela. Algo bem formal, mas com pessoas de todas as idades. Letícia e eu nos conhecemos desde o ensino fundamental. Nos tornamos amigas desde o nosso primeiro "oi" e aqui estamos nós. Procuramos estar o mais próximas possível. Letícia é filha única e eu, bem, passei minha vida em um orfanato. Quando a família da Letícia descobriu que eu morava em um abrigo, eles fizeram questão de me deixar o mais à vontade possível. Com isso, eu passava mais tempo com eles do que no orfanato. Eles até consideraram me adotar, mas parece que havia um documento que não pe
Por Milena Fico espantada e percebo que ele já viu meu olhar, porque sorri, enquanto sacode a cabeça. – Desculpe… seu comentário me pegou... me pegou de surpresa! Além de ser pega babando por ele, agora tropeço nas palavras. Nossa, estou parecendo uma estúpida. Mas ele percebe minha falta de jeito e sai falando: – Eu que devo me desculpar, você estava distraída. – Não por isso, as pessoas me fascinam. É sempre bem-vindo quando algo tão inocente surge e ao mesmo tempo tão rico em seus detalhes. – Interessante, pois compartilho do seu pensamento, em um mundo onde tudo acontece rápido demais, os pequenos detalhes ainda me chamam mais atenção… a propósito, você não me disse seu nome. E me olha de forma curiosa. Mas o estranho é que está voz… este tom de voz, me é familiar, mas esquisito, olho para ele e não me lembro de ter visto ele. Será que ele esteve no armarinho?!? Acho improvável, um rosto desse, eu não iria me esquecer fácil. E por fim, não irei me prender a querer l
Por Milena Como assim: Se gosto do que vejo?! Gente, está parecendo natal fora de época. Aquele presente inesperado, mas sempre desejado. Pois é, ali… na minha frente! Minha massa cinzenta, onde você foi parar? Parece que está acostumado a ser devorado assim. – Fique à vontade. Ali é o lavabo, mas se quiser, aquela porta dá para o meu quarto. Vou pedir algumas coisas para trazerem para nós, como eu disse: a noite é uma criança! Seu olhar me devora, cheio de promessas e algo mais. Mas não me deixo intimidar, é aquela coisa: se está na chuva, é para se molhar. – Certo, vou aceitar. E dizendo isso, caminho até o lavabo. Não me sinto muito à vontade indo até seu quarto, melhor ir devagar com o gostosão. Aproveito para fazer a toalete, dar uma retocada na maquiagem, nada exagerado. E quando termino, saio do lavabo. Ele está na pequena cozinha, preparando algo. Vou até a porta balcão que dá para a varanda. Estamos em um dos últimos andares do hotel. A vista daqui é incrível! A
Por Milena Deixei o quarto do hotel antes mesmo do sol nascer, sem esperar pelo novo dia que se anunciava, o peso do momento ainda ecoando em minha mente enquanto as ruas desertas da cidade adormecida passavam pela janela do táxi. Sem esperar pelo novo amanhecer, deixando para trás uma noite que se revelara tão diferente do que imaginara. Era uma noite entre dois adultos, sem promessas, sem expectativas, além daquelas que já haviam sido saciadas. Enquanto o táxi seguia seu curso pelas ruas silenciosas, peguei meu telefone e decidi enviar uma mensagem para Letícia, minha melhor amiga, compartilhando um pouco do que acabara de acontecer. Digitando com cuidado, escrevi: "Dessa vez a lagartinha resolveu virar uma bela borboleta… voltando para o ninho agora, depois nos falamos ;) " Com um sorriso bobo nos lábios, enviei a mensagem, esperando que ela entendesse a complexidade por trás daquelas poucas palavras. A sensação que me dominava era de surpresa misturada com uma estranha sen
Por Milena Ele adentra ao auditório com passos firmes, rosto fechado e fachada de poucos amigos. Em nada ele me lembra aquele cara gentil e amoroso daquela noite. Com quem estive conversando sobre tantas coisas. Tão solto, tão acessível, tão falante. Ele olha na minha direção, parecendo alheio à minha pessoa, o que me traz um misto de sentimentos. Não que eu esperasse um: Olá querida, como tem passado! Aquela noite foi incrível, não acha! Ora, será que seria melhor ele me reconhecer, ou é melhor assim, eu ser apenas mais uma aluna? Nossa, se eu falar para Letícia que foi com ele que perdi minha virgindade, ela não vai acreditar. Porque nem eu acredito! Ele parece outra pessoa. Rosto sério, postura dura, em nada lembra o gostosão lá do hotel. Será que é ele mesmo, ou poderia ser um irmão gêmeo? Aííí… já não sei mais de nada! Chega sinto um alívio, pois imagina passar os próximos dias com a possibilidade de ser reconhecida. – Bom dia a todos - sua voz acalma os burb
Por Milena Ao seu término, recolho meu material, afinal, semana quem vem teremos mais. Fico insegura quanto a sair, pois espero que ele não tenha me reconhecido. Com tanta gente nesse planeta, como fui dormir com meu professor. É muito azar para uma pessoa só. Letícia desse na minha frente e seguimos até a porta. Professor Donovan está conversando com alguns alunos e mal percebe quando passamos por sua mesa. Ufa! Assim é melhor. Porque, imagina ser abordada pelo seu cara de um noite só. Eu não sei o que ele fazia naquele hotel, mas preciso esquecer dessa noite, pois agora ele é meu professor e preciso terminar essa especialização. Não dará certo se eu ficar lembrando da noite em que estivemos juntos. Caminhamos até o estacionamento, preciso ir para o trabalho. Mas a verdade é que meu cérebro está fritando, meu coração está apertado e preciso conversar com alguém antes de encarar a loja. – Letícia, consegue passar em casa mais a noite, depois do meu trabalho? Ela
Por Milena Os dias seguem sem nenhuma novidade. Professor Donovan é de uma capacidade absurda e nos tem proporcionado momentos de grande conhecimento. Ele parece não saber de fato quem sou e estou bem com isso. Estamos já há um mês tendo aula com ele e as coisas estão seguindo de maneira tranquila. Minha amiga teve que faltar na aula hoje, ela precisou viajar com os pais. Algum evento beneficente que eles precisavam estar. Eu vim para a aula um pouco mais cedo. Não tenho corrido o risco de ser chamada atenção, quero seguir sendo mais uma até o final do curso. Professor Donovan entra ao auditório como todos os dias: sério, de cara fechada e apenas acenando para aqueles que se atravem a comprimentá-lo. Tem uma branquela entojada lá na frente que parece que está no curso só com um propósito: conquistar o professor! Se no futebol tem as Marias chuteiras, na faculdade tem as Marias apagadores! Gente, será que ela não vê que nosso professor não vê graça em suas insinuaçõ