Por Milena Me senti tão mal com a forma que o professor Donovan me tratou naquela tarde que não tive coragem de contar para a Letícia. Se antes eu já me sentia invisível em sala de aula, agora passei a ser apenas um vulto. Minha motivação para com o curso não é mais a mesma. Agora, conto no calendário os dias para isso acabar. E pior, estamos apenas começando. A manhã estava nublada, o clima sombrio refletia exatamente o que eu sentia. Entrei no auditório com o coração apertado, esperando não chamar atenção, mas era inevitável. Os olhares dos colegas pareciam pesar sobre mim, como se já soubessem o que aconteceu na sala do professor Donovan. Por mais que eu soubesse que ninguém sabia nada a nosso respeito, era como se todos soubessem. Me sentei no meu lugar de sempre, evitei olhar na direção da mesa dele. Mas logo percebi que não seria possível evitar. Ele entrou na sala com um ar de superioridade, seu olhar frio e distante como se eu não fosse mais do que um mero objet
Por Milena Estava no trabalho, imersa em minhas tarefas, quando meu telefone vibrou anunciando o recebimento de uma mensagem.Curiosa, desbloqueei o aparelho e li as palavras que apareceram na tela."Chegue mais cedo na aula, prepare o retroprojetor e pegue o pen drive que deixei em cima da minha mesa, junto com alguns livros. A partir de agora você será minha assistente quando for necessário"A mensagem era do professor Donovan, e um misto de surpresa e desânimo tomou conta de mim. Eu, assistente dele? Parecia que um urubu tinha feito ninho em minha cabeça, escolhendo-me como sua auxiliar entre tantos alunos. Era um papel que eu não esperava, e francamente, não desejava.Nos dias que se seguiram, a situação se repetiu. O professor abusava da minha ajuda, me fazendo ir e vir muitas vezes à sua sala. A cada mensagem recebida, meu desânimo crescia. Afinal, não era para isso que eu havia me matriculado para fazer o curso de neuropsicologia.“Nossa, parece que uma noite que tivem
Por Milena Continuamos em nossa dinâmica de professor e aluna, realmente o tema da sua pesquisa era fascinante e a forma que ele estava conduzindo estava me levando a novos lugares de conhecimento. Era sexta-feira e eu havia pedido um dia de folga no meu trabalho no armarinho, pois queria ganhar tempo com o projeto do professor Donovan. Letícia ainda não tinha voltado de uma viagem que precisou fazer com seus pais e eu estava com tempo livre. Como o professor Donovan não voltava a sua sala depois das aulas, achei que poderia aproveitar e ganhar tempo com a pesquisa.Estou debruçada em meio a todas as anotações, livros e meu tablet. A sala do professor estava silenciosa e aconchegante, o ambiente perfeito para me concentrar. Enquanto eu mergulhava nos detalhes do estudo, tentando desvendar os mistérios da mente humana, o tempo parecia passar em um ritmo próprio.De repente, sou tirada de meus pensamentos por uma voz conhecida, mas carregada de surpresa e autoridade.– Quem autori
Por Milena Os dias seguiram sem grandes mudanças desde o momento em que o beijo entre o professor Donovan e eu aconteceu. Ele se manteve o mais profissional possível, e eu segui o exemplo, tentando ignorar as faíscas que ainda reverberavam entre nós. Letícia, minha melhor amiga havia retornado de viagem, estava animada ao saber que eu me tornara assistente do professor, e sua presença trouxe um pouco de normalidade para nossas vidas.Apesar do impacto do beijo, ele não falou nada sobre e eu fiz o mesmo, mantendo um silêncio constrangedor sobre o que aconteceu entre nós. Mesmo que tenha sido incrível sentir seus lábios sobre os meus, ainda assim, deveríamos seguir com a dinâmica professor-aluna.Optei por não contar nada para Letícia, preocupada com o que ela poderia pensar ou como isso poderia afetar nossa amizade e enfim, não queria mais drama para minha vida, essa era a verdade. Em um dia comum de aula, estávamos nos preparando para sair quando uma presença inesperada interromp
Por DonovanOnde diabos estava com a cabeça ao me deixar levar por um momento de fraqueza com minha aluna na faculdade? Sim, aluna! É isso que Milena é para mim, minha aluna, e sou seu professor! Havia algo inquietante naquela noite de solidão em meu hotel, enquanto meu pai persistia em seu incansável esforço para me convencer a assumir as rédeas de nossa corporação e assim, receber a herança que seu pai, meu avô, havia deixado para seu único neto. Só que detalhe: para eu recebê-la preciso me casar e me manter no casamento por no mínimo três anos. Meu pai sendo o advogado que é, tentou buscar um meio de reivindicar a herança quando percebeu que eu não tinha planos de me casar. Somos bem afortunados, mas meu avô acumulou ao longo dos anos trabalhando para o governo uma fortuna que meu pai não quer de maneira nenhuma deixar ser liquidada por outros. E assim ele vem a tempos tentando me fazer aceitar essa ideia absurda de me casar. Era como se ele fosse um carrapato, agarrando-se
Por Milena A notícia de que o professor Lucian Donovan havia tirado uma licença acadêmica se espalhou como fogo entre os corredores da universidade. Ninguém sabia exatamente o motivo, mas eu sabia. Sabia que nosso beijo, aquele momento carregado de sentimentos reprimidos e desejos ocultos, tinha algo a ver com isso. Era impossível não me sentir culpada, mesmo que uma parte de mim quisesse acreditar que ele precisava desse tempo para si mesmo.Na sua ausência, a professora Carla assumiu suas aulas. Ela era competente, sem dúvida, mas não tinha a mesma paixão pelo assunto que o professor Donovan. A matéria parecia perder um pouco do brilho sem ele. No entanto, eu tentava me concentrar e dar o meu melhor, tentando, em vão, afastar Lucian dos meus pensamentos.Sentada em meu lugar habitual, eu mal conseguia prestar atenção na explicação de Carla sobre a Neurobiologia das Emoções: Integração Neural, Psicopatologia e Terapia.Minha mente vagava constantemente para aquele dia, para o
Por Milena Eu não sabia ao certo quando comecei a me sentir mal. Tudo começou com uma leve náusea nas manhãs, algo que atribuí ao estresse dos estudos e às noites mal dormidas. Mas, à medida que os dias passavam, a náusea se intensificava, acompanhada de uma fadiga inexplicável que drenava minhas energias e dificultava até as tarefas mais simples.Tentei ignorar os sintomas, focando-me nas aulas e nos trabalhos. No entanto, a preocupação de meus amigos era visível. Letícia, minha amiga mais próxima, insistia constantemente para que eu procurasse ajuda médica.— Milena, isso não é normal. Você precisa ver um médico — Letícia dizia, sua voz carregada de preocupação.— Eu não vejo necessidade, pois possivelmente devo estar com a imunidade baixa e meu corpo não está sabendo lidar com isso. Eu sempre dava a mesma resposta, tentando parecer mais confiante do que realmente estava:— Deve ser apenas estresse. Vai passar.Mas os dias continuavam a passar, e eu não melhorava. A situação
Por Milena A tarde estava cinzenta e a chuva caía fina, criando uma atmosfera melancólica que refletia perfeitamente meu estado de espírito. Escolhi uma lanchonete discreta na cidade para encontrar Lucian. Era um lugar tranquilo, com poucas pessoas, onde poderíamos conversar sem interrupções. Meu coração batia acelerado enquanto eu me dirigia até lá, a ansiedade e o medo se misturando em um turbilhão de emoções.Quando cheguei, Lucian já estava sentado em uma mesa no canto, olhando para a chuva através da janela. Respirei fundo e me aproximei, tentando manter a calma. Ele levantou os olhos ao me ver, mas seu rosto estava impassível, sem um traço de emoção. Era como se visse qualquer pessoa, menos alguém com quem se importasse. Aquilo mexeu comigo.A expectativa de um reencontro caloroso se dissipou no instante em que me deparei com a indiferença nos olhos de Lucian. Era como se ele me visse através de um véu de gelo, sem um traço de calor ou empatia. Engoli em seco e forcei u