Por Milena
Fico espantada e percebo que ele já viu meu olhar, porque sorri, enquanto sacode a cabeça. – Desculpe… seu comentário me pegou... me pegou de surpresa! Além de ser pega babando por ele, agora tropeço nas palavras. Nossa, estou parecendo uma estúpida. Mas ele percebe minha falta de jeito e sai falando: – Eu que devo me desculpar, você estava distraída. – Não por isso, as pessoas me fascinam. É sempre bem-vindo quando algo tão inocente surge e ao mesmo tempo tão rico em seus detalhes. – Interessante, pois compartilho do seu pensamento, em um mundo onde tudo acontece rápido demais, os pequenos detalhes ainda me chamam mais atenção… a propósito, você não me disse seu nome. E me olha de forma curiosa. Mas o estranho é que está voz… este tom de voz, me é familiar, mas esquisito, olho para ele e não me lembro de ter visto ele. Será que ele esteve no armarinho?!? Acho improvável, um rosto desse, eu não iria me esquecer fácil. E por fim, não irei me prender a querer lembrar de alguém só pela voz. Melhor deixar isso para lá. – Nem você o seu - acabo dizendo e deixando meus pensamentos de lado. Ele abre um sorriso incrível, nitidamente entendendo a brincadeira. – Sem nomes? - me pergunta. Acho que hoje não serei quem eu costumo ser, posso me permitir ser alguém diferente do que de fato sou. – Nomes são apenas rótulos e hoje acho que posso me permitir em não usá-lo. Algum problema? – Não! Nenhum, também não gosto de certas formalidades que nos são impostas. – Esse é o ponto. – Posso lhe oferecer uma bebida? – Puxa, ainda estou aproveitando a que o barman fez para mim. – O que ele lhe trouxe? – Não sei o nome, mas está uma delícia! E ele vê minha satisfação com a bebida. – Certo, vou pedir apenas um Scott, para lhe fazer companhia, se não se importar. Olho para ele descrente. Quem em seu juízo perfeito deixaria passar um homem lindo como ele? Já faz tempo que não me dou a esse desfrute, e não vejo porque não aproveitar a companhia dessa espécie interessante. – Seus pais estão na festa? - ele pergunta de forma despretensiosa. – Não, vim com uma amiga e seus pais. – Ah, então está sem toque de recolher? Olho para ele na tentativa de entender onde essa conversa irá nos levar, mas como o rosto e tudo mais estão agradando meus olhos, acho que posso seguir falando. Pois o bofe, não é de se desperdiçar, se é que me entende! – Mesmo que eles estivessem aqui, a filhinha deles sabe se comportar muito bem! Ele sorri com minhas palavras. – Isso é bom, porque caso fosse necessário, eu mesmo pediria permissão para levá-la um pouco mais tarde. Uauuu, ele quer me levar mais tarde, como assim produção? – E qual seria o motivo de me levar “um pouco mais tarde”? Seu olhar ganha uma intensidade que eu não esperava, ele sai literalmente me olhando como se eu fosse algo deliciosamente bom de se saborear. Abençoada foi a minha escolha para essa noite. Letícia tinha me dado esse vestido frente única bordô que usara apenas uma vez. Aproveitei uma sandália salto agulha com strass, cabelo em ondas grandes caindo sobre meus ombros e maquiagem um pouco mais forte do que costumo usar. Com meus um metro e sessenta e cinco, até que ganhei alguns olhares na festa e claro, não imaginava que iria conseguir um homem lindo flertando comigo de forma tão descarada. – Como sabemos, a noite é uma criança e para isso, basta saber brincar. – Humm, interessante… e se eu não quisesse brincar, como ficaríamos? - comento. – Eu faria de tudo e mais um pouco, pois desde que meus olhos caíram em você, eu comecei a desenhar uma noite incrível para nós dois. E não costumo brincar sozinho. Nossa, ele foi direto! Por essa eu não esperava. Ele me olha profundamente, deixando claro que suas palavras são reais e o convite permanece no ar. Sei muito bem o que as palavras dele trazem em suas profundezas. Letícia sempre me lembra da seriedade com que levo tudo em minha vida. Preciso mudar as coisas de lugar e por que não me deixar levar por uma noite com um homem lindo assim? E estendi minha mão para ele, que definitivamente compreendeu que poderíamos brincar, a dois! Saímos da festa e caminhamos até a recepção do hotel. – Sente-se aqui por favor, vou ali na recepção pegar as chaves do quarto. E assim, aquele homem lindo sai caminhando. Ele parece não se importar, mas é nítido, como as mulheres o devoram com os olhos. Até mesmo a simples recepcionista se pudesse, se penduraria em seu pescoço, disso não tenho dúvidas! Mas hoje, a felizarda parece que serei euzinha. Dei uma olhadinha em seus dedos enquanto conversávamos, sem marcas de aliança. Ao menos tudo indica que seja solteiro. Logo ele volta. – Vamos! Balanço minha cabeça concordando, enquanto me coloco em pé. Ele me põe para caminhar a sua frente, enquanto me apoia com seus braços. Seguimos para o elevador e adentramos. Mas quando as portas se fecham, ao som do plim, ele me empurra contra a parede do elevador e abocanha meus lábios. Eu fui pega de surpresa por seu beijo. Ele literalmente devora minha boca, algo que eu não estava esperando. Seu perfume me alcança e esse cheiro me traz a sensação de já ter sentindo em algum lugar. Mas, não me recordo onde. No entanto, não deixo que me beije sozinho e me permito ser levada por seus lábios. Nossas bocas se duelam, entre línguas e mordidas. Ele me toma em seus braços enormes e me aperta contra seu corpo, enquanto segue me beijando. Definitivamente ele não quis perder tempo! Logo o elevador dispara o sinal de que chegamos. Ele se afasta, mas a intensidade que há em seus olhos é algo que eu nunca vi. Ele me estende a mão e eu seguro nela, seguimos até o quarto que ele reservou. Entramos e sei muito bem que ele reservou uma das suítes presidenciais. Interessante! Acho justo que queria me oferecer o melhor. – Fique à vontade, vou até meu quarto e já volto. Meu quarto! Nossa, não imaginei que ele estivesse hospedado aqui. Mas que seja, já estou aqui mesmo e se algo estranho acontecer, basta eu sair. A suíte é muito ampla, há uma boa sala de estar, com uma mini cozinha acoplada. Tem uma porta no canto direito, possivelmente um lavabo. E um pequeno home office em um canto, onde vejo muitos livros bem organizados. Oras, ele gosta de ler! Que grata novidade! – Agora sim, estou à vontade. Quando me viro para olhá-lo, ele está descalço. Vestindo uma camisa preta com os botões abertos e usando uma calça de flanela bem soltinha. Sabe aquele sorvete que enche primeiro os olhos para depois você querer sair lambendo ele todinho. Isso! É isso que estou olhando, nesse exato momento!Por Milena Gente, está parecendo natal fora de época. Aquele presente inesperado, mas sempre desejado. Pois é, ali… na minha frente! Minha massa cinzenta, onde você foi parar? Ele me pega olhando para ele e sorri, mas não diz nada. Parece já estar acostumado a ser devorado assim. – Fique à vontade. Ali é o lavabo, mas se quiser, aquela porta dá para o meu quarto. Vou pedir algumas coisas para trazerem para nós, como eu disse: a noite é uma criança! Seu olhar me devora, cheio de promessas e algo mais. Mas não me deixo intimidar, é aquela coisa: se está na chuva, é para se molhar. – Certo, vou aceitar. E dizendo isso, caminho até o lavabo. Não me sinto muito à vontade indo até seu quarto, melhor ir devagar com o gostosão. Aproveito para fazer a toalete, dar uma retocada na maquiagem, nada exagerado. E quando termino, saio do lavabo. Ele está na pequena cozinha, preparando algo. Vou até a porta balcão que dá para a varanda. Estamos em um dos últimos andares do hotel.
Por Milena Deixei o quarto do hotel antes mesmo do sol nascer, sem esperar pelo novo dia que se anunciava, o peso do momento ainda ecoando em minha mente enquanto as ruas desertas da cidade adormecida passavam pela janela do táxi. Sem esperar pelo novo amanhecer, deixando para trás uma noite que se revelara tão diferente do que imaginara. Era uma noite entre dois adultos, sem promessas, sem expectativas, além daquelas que já haviam sido saciadas.Enquanto o táxi seguia seu curso pelas ruas silenciosas, peguei meu telefone e decidi enviar uma mensagem para Letícia, minha melhor amiga, compartilhando um pouco do que acabara de acontecer. Digitando com cuidado, escrevi: "Dessa vez a lagartinha resolveu virar uma bela borboleta… voltando para o ninho agora, depois nos falamos ;) "Com um sorriso bobo nos lábios, enviei a mensagem, esperando que ela entendesse a complexidade por trás daquelas poucas palavras.A sensação que me dominava era de surpresa misturada com uma estranha sensa
Por Milena Ele adentra ao auditório com passos firmes, rosto fechado e fachada de poucos amigos. Em nada ele me lembra aquele cara gentil e amoroso daquela noite. Com quem estive conversando sobre tantas coisas. Tão solto, tão acessível, tão falante. Ele olha na minha direção, parecendo alheio à minha pessoa, o que me traz um misto de sentimentos. Não que eu esperasse um: Olá querida, como tem passado! Aquela noite foi incrível, não acha! Ora, será que seria melhor ele me reconhecer, ou é melhor assim, eu ser apenas mais uma aluna? Nossa, se eu falar para Letícia que foi com ele que perdi minha virgindade, ela não vai acreditar. Porque nem eu acredito! Ele parece outra pessoa. Rosto sério, postura dura, em nada lembra o gostosão lá do hotel. Será que é ele mesmo, ou poderia ser um irmão gêmeo? Aííí… já não sei mais de nada! Chega sinto um alívio, pois imagina passar os próximos dias com a possibilidade de ser reconhecida. – Bom dia a todos - sua voz acalma os bur
Por Milena Letícia me espera fechar a loja e como moro numa kitnet em cima da loja, não precisamos ir muito longe. Ela passou em sua rotisseria preferida e trouxe um monte de gostosuras para passarmos nosso momento de conversa, degustando as delícias.Subimos e como meu espaço é minúsculo, ela já se joga em cima da minha cama. Coloco a caixa com os quitutes no balcão da minha micro cozinha e peço para ela esperar eu tomar uma ducha.Quando volto, ela está folheando um dos livros que estou lendo.– Esse livro parece bom - me diz.– Depois mando para você. Já li outros livros e a Bhia Pear tem o talento de nos levar longe. Esse livro mesmo, "Enquanto Caminho em sua direção", te leva a lugares que você não espera ir, traz até momentos de reflexão, estou gostando.– Interessante, depois me empresta.Pego a caixa da rotisseria e coloco no meio da cama, enchendo dois copos com suco e me acomodando na cama também. O quarto está envolto em uma atmosfera tranquila e íntima, diminui um pouco
Por Milena Os dias seguem sem nenhuma novidade. Professor Donovan é de uma capacidade absurda e nos tem proporcionado momentos de grande conhecimento. Ele parece não saber de fato quem sou e estou bem com isso. Estamos já há um mês tendo aula com ele e as coisas estão seguindo de maneira tranquila. Minha amiga teve que faltar na aula hoje, ela precisou viajar com os pais. Algum evento beneficente que eles precisavam estar. Eu vim para a aula um pouco mais cedo. Não tenho corrido o risco de ser chamada atenção, quero seguir sendo mais uma até o final do curso. Professor Donovan entra ao auditório como todos os dias: sério, de cara fechada e apenas acenando para aqueles que se atravem a comprimentá-lo.Tem uma branquela entojada lá na frente que parece que está no curso só com um propósito: conquistar o professor! Se no futebol tem as Marias chuteiras, na faculdade tem as Marias apagadores! Gente, será que ela não vê que nosso professor não vê graça em suas insinuações. Que
Por Milena Me senti tão mal com a forma que o professor Donovan me tratou naquela tarde que não tive coragem de contar para a Letícia. Se antes eu já me sentia invisível em sala de aula, agora passei a ser apenas um vulto. Minha motivação para com o curso não é mais a mesma. Agora, conto no calendário os dias para isso acabar. E pior, estamos apenas começando. A manhã estava nublada, o clima sombrio refletia exatamente o que eu sentia. Entrei no auditório com o coração apertado, esperando não chamar atenção, mas era inevitável. Os olhares dos colegas pareciam pesar sobre mim, como se já soubessem o que aconteceu na sala do professor Donovan. Por mais que eu soubesse que ninguém sabia nada a nosso respeito, era como se todos soubessem. Me sentei no meu lugar de sempre, evitei olhar na direção da mesa dele. Mas logo percebi que não seria possível evitar. Ele entrou na sala com um ar de superioridade, seu olhar frio e distante como se eu não fosse mais do que um mero objet
Por Milena Estava no trabalho, imersa em minhas tarefas, quando meu telefone vibrou anunciando o recebimento de uma mensagem.Curiosa, desbloqueei o aparelho e li as palavras que apareceram na tela."Chegue mais cedo na aula, prepare o retroprojetor e pegue o pen drive que deixei em cima da minha mesa, junto com alguns livros. A partir de agora você será minha assistente quando for necessário"A mensagem era do professor Donovan, e um misto de surpresa e desânimo tomou conta de mim. Eu, assistente dele? Parecia que um urubu tinha feito ninho em minha cabeça, escolhendo-me como sua auxiliar entre tantos alunos. Era um papel que eu não esperava, e francamente, não desejava.Nos dias que se seguiram, a situação se repetiu. O professor abusava da minha ajuda, me fazendo ir e vir muitas vezes à sua sala. A cada mensagem recebida, meu desânimo crescia. Afinal, não era para isso que eu havia me matriculado para fazer o curso de neuropsicologia.“Nossa, parece que uma noite que tivem
Por Milena Continuamos em nossa dinâmica de professor e aluna, realmente o tema da sua pesquisa era fascinante e a forma que ele estava conduzindo estava me levando a novos lugares de conhecimento. Era sexta-feira e eu havia pedido um dia de folga no meu trabalho no armarinho, pois queria ganhar tempo com o projeto do professor Donovan. Letícia ainda não tinha voltado de uma viagem que precisou fazer com seus pais e eu estava com tempo livre. Como o professor Donovan não voltava a sua sala depois das aulas, achei que poderia aproveitar e ganhar tempo com a pesquisa.Estou debruçada em meio a todas as anotações, livros e meu tablet. A sala do professor estava silenciosa e aconchegante, o ambiente perfeito para me concentrar. Enquanto eu mergulhava nos detalhes do estudo, tentando desvendar os mistérios da mente humana, o tempo parecia passar em um ritmo próprio.De repente, sou tirada de meus pensamentos por uma voz conhecida, mas carregada de surpresa e autoridade.– Quem autori