Por Milena Fico espantada e percebo que ele já viu meu olhar, porque sorri, enquanto sacode a cabeça. – Desculpe… seu comentário me pegou... me pegou de surpresa! Além de ser pega babando por ele, agora tropeço nas palavras. Nossa, estou parecendo uma estúpida. Mas ele percebe minha falta de jeito e sai falando: – Eu que devo me desculpar, você estava distraída. – Não por isso, as pessoas me fascinam. É sempre bem-vindo quando algo tão inocente surge e ao mesmo tempo tão rico em seus detalhes. – Interessante, pois compartilho do seu pensamento, em um mundo onde tudo acontece rápido demais, os pequenos detalhes ainda me chamam mais atenção… a propósito, você não me disse seu nome. E me olha de forma curiosa. Mas o estranho é que está voz… este tom de voz, me é familiar, mas esquisito, olho para ele e não me lembro de ter visto ele. Será que ele esteve no armarinho?!? Acho improvável, um rosto desse, eu não iria me esquecer fácil. E por fim, não irei me prender a querer
Por Milena Gente, está parecendo natal fora de época. Aquele presente inesperado, mas sempre desejado. Pois é, ali… na minha frente! Minha massa cinzenta, onde você foi parar? Ele me pega olhando para ele e sorri, mas não diz nada. Parece já estar acostumado a ser devorado assim. – Fique à vontade. Ali é o lavabo, mas se quiser, aquela porta dá para o meu quarto. Vou pedir algumas coisas para trazerem para nós, como eu disse: a noite é uma criança! Seu olhar me devora, cheio de promessas e algo mais. Mas não me deixo intimidar, é aquela coisa: se está na chuva, é para se molhar. – Certo, vou aceitar. E dizendo isso, caminho até o lavabo. Não me sinto muito à vontade indo até seu quarto, melhor ir devagar com o gostosão. Aproveito para fazer a toalete, dar uma retocada na maquiagem, nada exagerado. E quando termino, saio do lavabo. Ele está na pequena cozinha, preparando algo. Vou até a porta balcão que dá para a varanda. Estamos em um dos últimos andares do hotel.
Por Milena Deixei o quarto do hotel antes mesmo do sol nascer, sem esperar pelo novo dia que se anunciava, o peso do momento ainda ecoando em minha mente enquanto as ruas desertas da cidade adormecida passavam pela janela do táxi. Sem esperar pelo novo amanhecer, deixando para trás uma noite que se revelara tão diferente do que imaginara. Era uma noite entre dois adultos, sem promessas, sem expectativas, além daquelas que já haviam sido saciadas.Enquanto o táxi seguia seu curso pelas ruas silenciosas, peguei meu telefone e decidi enviar uma mensagem para Letícia, minha melhor amiga, compartilhando um pouco do que acabara de acontecer. Digitando com cuidado, escrevi: "Dessa vez a lagartinha resolveu virar uma bela borboleta… voltando para o ninho agora, depois nos falamos ;) "Com um sorriso bobo nos lábios, enviei a mensagem, esperando que ela entendesse a complexidade por trás daquelas poucas palavras.A sensação que me dominava era de surpresa misturada com uma estranha sensa
Por Milena Ele adentra ao auditório com passos firmes, rosto fechado e fachada de poucos amigos. Em nada ele me lembra aquele cara gentil e amoroso daquela noite. Com quem estive conversando sobre tantas coisas. Tão solto, tão acessível, tão falante. Ele olha na minha direção, parecendo alheio à minha pessoa, o que me traz um misto de sentimentos. Não que eu esperasse um: Olá querida, como tem passado! Aquela noite foi incrível, não acha! Ora, será que seria melhor ele me reconhecer, ou é melhor assim, eu ser apenas mais uma aluna? Nossa, se eu falar para Letícia que foi com ele que perdi minha virgindade, ela não vai acreditar. Porque nem eu acredito! Ele parece outra pessoa. Rosto sério, postura dura, em nada lembra o gostosão lá do hotel. Será que é ele mesmo, ou poderia ser um irmão gêmeo? Aííí… já não sei mais de nada! Chega sinto um alívio, pois imagina passar os próximos dias com a possibilidade de ser reconhecida. – Bom dia a todos - sua voz acalma os bur
Por Milena Letícia me espera fechar a loja e como moro numa kitnet em cima da loja, não precisamos ir muito longe. Ela passou em sua rotisseria preferida e trouxe um monte de gostosuras para passarmos nosso momento de conversa, degustando as delícias.Subimos e como meu espaço é minúsculo, ela já se joga em cima da minha cama. Coloco a caixa com os quitutes no balcão da minha micro cozinha e peço para ela esperar eu tomar uma ducha.Quando volto, ela está folheando um dos livros que estou lendo.– Esse livro parece bom - me diz.– Depois mando para você. Já li outros livros e a Bhia Pear tem o talento de nos levar longe. Esse livro mesmo, "Enquanto Caminho em sua direção", te leva a lugares que você não espera ir, traz até momentos de reflexão, estou gostando.– Interessante, depois me empresta.Pego a caixa da rotisseria e coloco no meio da cama, enchendo dois copos com suco e me acomodando na cama também. O quarto está envolto em uma atmosfera tranquila e íntima, diminui um pouco
Por Milena Os dias seguem sem nenhuma novidade. Professor Donovan é de uma capacidade absurda e nos tem proporcionado momentos de grande conhecimento. Ele parece não saber de fato quem sou e estou bem com isso. Estamos já há um mês tendo aula com ele e as coisas estão seguindo de maneira tranquila. Minha amiga teve que faltar na aula hoje, ela precisou viajar com os pais. Algum evento beneficente que eles precisavam estar. Eu vim para a aula um pouco mais cedo. Não tenho corrido o risco de ser chamada atenção, quero seguir sendo mais uma até o final do curso. Professor Donovan entra ao auditório como todos os dias: sério, de cara fechada e apenas acenando para aqueles que se atravem a comprimentá-lo.Tem uma branquela entojada lá na frente que parece que está no curso só com um propósito: conquistar o professor! Se no futebol tem as Marias chuteiras, na faculdade tem as Marias apagadores! Gente, será que ela não vê que nosso professor não vê graça em suas insinuações. Que
Por Milena Me senti tão mal com a forma que o professor Donovan me tratou naquela tarde que não tive coragem de contar para a Letícia. Se antes eu já me sentia invisível em sala de aula, agora passei a ser apenas um vulto. Minha motivação para com o curso não é mais a mesma. Agora, conto no calendário os dias para isso acabar. E pior, estamos apenas começando. A manhã estava nublada, o clima sombrio refletia exatamente o que eu sentia. Entrei no auditório com o coração apertado, esperando não chamar atenção, mas era inevitável. Os olhares dos colegas pareciam pesar sobre mim, como se já soubessem o que aconteceu na sala do professor Donovan. Por mais que eu soubesse que ninguém sabia nada a nosso respeito, era como se todos soubessem. Me sentei no meu lugar de sempre, evitei olhar na direção da mesa dele. Mas logo percebi que não seria possível evitar. Ele entrou na sala com um ar de superioridade, seu olhar frio e distante como se eu não fosse mais do que um mero objet
Por Milena Estava no trabalho, imersa em minhas tarefas, quando meu telefone vibrou anunciando o recebimento de uma mensagem.Curiosa, desbloqueei o aparelho e li as palavras que apareceram na tela."Chegue mais cedo na aula, prepare o retroprojetor e pegue o pen drive que deixei em cima da minha mesa, junto com alguns livros. A partir de agora você será minha assistente quando for necessário"A mensagem era do professor Donovan, e um misto de surpresa e desânimo tomou conta de mim. Eu, assistente dele? Parecia que um urubu tinha feito ninho em minha cabeça, escolhendo-me como sua auxiliar entre tantos alunos. Era um papel que eu não esperava, e francamente, não desejava.Nos dias que se seguiram, a situação se repetiu. O professor abusava da minha ajuda, me fazendo ir e vir muitas vezes à sua sala. A cada mensagem recebida, meu desânimo crescia. Afinal, não era para isso que eu havia me matriculado para fazer o curso de neuropsicologia.“Nossa, parece que uma noite que tivem