Os dias no castelo passaram lentamente, como se o tempo tivesse congelado. E, no entanto, meu corpo continuava a se mover mecanicamente. O mesmo ar abafado daquelas paredes opressivas parecia sufocar minhas próprias emoções. O quarto em que eu me encontrava, escondida da vista de todos, estava imerso em uma calma desconcertante. O silêncio me consumia, a ansiedade, o medo, e as memórias que voltavam como sombras à noite. Eu não podia, não queria, lidar com a realidade que me aguardava quando Kael finalmente despertasse.Eu me sentia presa, como se estivesse aguardando o pior. O homem que eu amava, e ao mesmo tempo temia, ainda estava inconsciente. Kael... Eu não sabia mais o que sentir. Parte de mim desejava que ele ficasse daquele jeito, sem acordar, porque uma vez que ele abrisse os olhos, a minha vida — e todos os segredos que guardava tão profundamente dentro de mim — estariam expostos. Eu não sabia mais o que fazer com esse amor proibido, essa dor que me consumia a cada pensament
A noite estava calma, e eu estava ao lado da cama de Kael, colocando um ramo de flores frescas em um vaso. A luz suave das velas lançava sombras suaves nas paredes do quarto, criando uma atmosfera tranquila, mas algo em mim estava inquieto, como se uma tempestade estivesse prestes a desabar.Era difícil de acreditar que ele ainda estivesse ali, ainda em coma. Sua pele pálida, seus olhos fechados, sua respiração suave, tudo isso me fazia sentir como se ele fosse apenas uma sombra de quem realmente era.De repente, um movimento quase imperceptível. Kael se mexeu, e antes que eu pudesse reagir, seus olhos dourados se abriram lentamente. Ele me olhou com uma confusão palpável, e sua voz saiu rouca, fraca, mas cheia de uma ternura que me fez congelar.“Lyara?”Eu traguei a respiração, meu coração disparando. O som da minha própria respiração se misturou ao ritmo acelerado do meu peito. Não, não poderia ser ele... Ele estava... ele estava em coma! Não podia ser.Com a mente turvada, murmure
Os dias passaram em um turbilhão de acontecimentos, mas eu... eu estava em um estado constante de fuga. Fugia de tudo, fugia de mim mesma, fugia dele. De Kael.A recuperação dele foi impressionante. A cada dia que passava, ele se tornava mais forte, mais imponente. Era como se o Rei estivesse renascendo diante dos meus olhos, e, com isso, sua presença aumentava ainda mais, envolvendo o castelo e todos ao seu redor. Ele estava pronto para reassumir o controle, e sua voz, antes tão fraca, agora soava poderosa e cheia de autoridade.Mas... eu não podia lidar com isso. Eu não conseguia mais olhar para ele sem me lembrar de tudo o que eu estava escondendo. De tudo o que ele ainda não sabia.Enquanto ele se reerguia, eu me afundava em uma espiral de culpa e medo. Cada vez que ele me chamava, eu me esquivava. Cada vez que ele tentava conversar comigo, eu fugia. Eu estava me tornando especialista em evitar qualquer tipo de encontro, qualquer situação que nos colocasse a sós. Porque isso nunca
A tempestade que se formava dentro de mim não passava. Meu peito estava apertado, minha mente uma confusão de pensamentos que eu não conseguia organizar. Kael não entendia. E como poderia? Como ele poderia saber que eu não era apenas uma plebeia acolhida por sua bondade? Como poderia saber que eu carregava um passado que, se revelado, mudaria tudo?Depois de nossa discussão nos jardins, eu não o vi mais. Evitei qualquer caminho que pudesse nos colocar no mesmo ambiente. Mas, no fundo, sabia que isso não duraria muito tempo. Ele era o Rei. E eu... eu era apenas uma serviçal em seu castelo. Um erro que nunca deveria ter acontecido.Na manhã seguinte, fui surpreendida pelo burburinho nos corredores. Criadas corriam de um lado para o outro, ajustando detalhes da decoração do grande salão. A movimentação era intensa, e os olhares estavam cheios de ansiedade e reverência."O que está acontecendo?" perguntei a uma das criadas, que carregava um tecido fino nas mãos.Ela me olhou com empolgaçã
Cinco anos. Cinco longos anos com Damon, e eu ainda não havia conseguido entender o que nos mantinha unidos. O casamento era vazio. Ele era frio, distante, e, se não fosse por meu tio, Jones, talvez eu já tivesse deixado esse pesadelo. Mas o poder que Jones exercia sobre minha vida, sobre minha alcatéia, me manteve ali, suportando a dor, a solidão e a humilhação.Eu estava no corredor do castelo, as mãos firmes na madeira da porta do escritório de Damon. Algo não estava certo, e uma sensação de inquietação me dominou. Eu não sabia ao certo o que me fazia querer abrir aquela porta, mas algo em meu instinto me dizia que eu não estava mais segura naquele casamento.A porta rangeu quando a empurrei, e, ao entrar, vi uma cena que jamais imaginei presenciar: Damon estava no fundo do escritório, seus dedos entrelaçados com os de Elena, minha irmã.O choque congelou meu corpo, mas o grito foi inevitável."O quê...?" Eu mal consegui completar a frase. Meus olhos se arregalaram, tentando entend
Eu não sabia o que fazer. O frio das correntes e o peso do destino já haviam se instalado no fundo da minha alma, e, ainda assim, eu não sabia se estava viva ou já havia morrido. Meu corpo tremia de frio, mas o que mais me queimava era a vergonha, a dor e o medo. Medo de perder tudo o que me restava, de ser calada para sempre, de ver a minha vida ser destruída pelas mãos daqueles que diziam ser minha família.As correntes que me prendiam na cela da masmorra batiam nas pedras com um som monótono e gelado, mas nem isso conseguia abafar o som do meu coração partido, que batia com uma força insuportável. Eu sabia que não teria mais um futuro aqui. A minha alma já estava quebrada, e, ainda assim, havia uma faísca de esperança, uma pequena luz que se recusava a desaparecer.Foi então que a porta se abriu, e os passos de Wendy ecoaram pela sala escura. Ela apareceu diante de mim, como um anjo enviado para me salvar. A irmã de Damon, a minha melhor amiga, a única pessoa que ainda acreditava e
Eu passei os últimos quatro anos longe da minha antiga vida, vivendo nas sombras de um passado que parecia distante, mas cujas cicatrizes ainda doíam. Depois de ser expulsa da alcatéia e forçada a viver longe dos que um dia foram minha família, encontrei abrigo em uma cidade distante. A cidade de Meridia, longe de tudo o que eu conhecia. Aqui, servi uma boa família. Embora eu fosse apenas uma serva, a casa me tratava com gentileza, e isso, de certa forma, me permitia encontrar alguma paz. Hoje, estava com minha senhora no mercado da cidade, escolhendo legumes frescos para o grande jantar que ela prepararia naquela noite. O cheiro da comida misturado ao grito dos vendedores me dava uma sensação de normalidade, algo raro nos últimos anos."Lyara, você prefere as cenouras maiores ou as mais finas?" minha senhora, a Senhora Alma, perguntou, enquanto ajustava sua capa de lã. Ela era uma mulher gentil, com cabelos dourados e olhos azuis que sempre pareciam atentos a tudo ao seu redor.“Eu.
A faca deslizava sobre a cenoura, cortando fatias finas e uniformes. O cheiro das ervas frescas se misturava ao aroma da carne cozinhando lentamente, preenchendo a cozinha com um calor confortável. O vapor subia da panela, nublando minha visão por um instante, e eu fechei os olhos, respirando fundo.Por um breve momento, esqueci tudo. O encontro com o Rei. O medo que me corroía por dentro. A vontade de sumir. Aqui, entre as panelas e os temperos, eu ainda era apenas uma serviçal. Apenas Lyara."Você tem mãos habilidosas."A voz suave de Alma me fez sobressaltar.Me virei depressa, a faca ainda na mão, e encontrei sua figura delicada parada à porta. Sua expressão era serena, mas os olhos carregavam algo mais profundo. Preocupação? Curiosidade?Engoli em seco e abaixei a faca."Senhora… Não ouvi a senhora entrar.""Você estava concentrada." Alma se aproximou, sua postura elegante e gentil como sempre. "E pensando. Consigo ver isso no seu rosto."Ela parou ao meu lado, observando meu tra